Macroeconomia


Análise | Inflação nos EUA | Mar/22

Daniel_Arruda

Daniel Arruda

Publicado 12/abr

Inflação ao consumidor nos Estados Unidos acelera para 1,2% em março

Historicamente elevada, a variação já incorpora os efeitos da guerra na Ucrânia. Em particular, grande parte da pressão no mês decorre da alta da gasolina, com o aumento do preço internacional do petróleo. O núcleo de inflação ficou em 0,3%, abaixo da expectativa de 0,5%. Essa surpresa foi percebida de forma positiva pelo mercado, com os juros de 2 anos recuando cerca de 0,1 p.p. após a divulgação. Apesar desse ajuste na margem, espera-se que o FED proponha um ritmo de contração monetária mais intenso nas próximas reuniões, visando evitar uma contaminação das expectativas de inflação de longo prazo. Em 12 meses, a inflação americana acumula 8,5%, leitura que pode se mostrar o ápice do indicador antes de iniciar um movimento de desaceleração nos próximos meses.

Maior contribuição para inflação vem dos preços de energia

Em março, a gasolina teve alta de 18,3%, contribuindo com 0,71 p.p. para o indicador agregado. Dados de alta frequência, no entanto, apontam para leve queda do preço do combustível em abril, o que já deve trazer alguma pressão negativa na inflação desse mês.

Outra pressão importante no mês veio dos preços de alimentos. Esse grupo, que mostra alta persistente desde meados do último ano, contribuiu com 0,13 p.p. para a inflação de março. Em particular, a elevação de preços foi mais significativa na alimentação em domicílio, que teve alta de 1,5% generalizada entre diversos produtos, ao passo que a alimentação fora do domicílio teve elevação bem mais moderada de 0,3%.

Vale destacar também a tendência recente para a inflação do núcleo serviços. Em termos anualizados e com ajuste sazonal, essa categoria teve alta de 7,4% em março, acima da média de 5,5% dos últimos três meses. Em particular, o grupo de habitação mostra alta persistente, com elevação mensal de 0,4% para o aluguel residencial, enquanto os serviços de saúde aceleraram para 0,6% no mês. Conforme se nota, a inflação do núcleo de serviços tem se mostrado sensivelmente superior ao observado no pré-pandemia, o que aumenta o risco da elevação da inércia inflacionária na economia americana.

Por fim, a inflação de bens, exceto alimentos e energia, mostrou alguma reversão em março. Essa categoria teve contribuição negativa de 0,09 p.p. no mês; esse dado reforça a narrativa do FED de que ao menos parte da inflação que se observa é transitória, com expectativa de reversão dos preços à média na medida em que os gargalos de oferta são solucionados e a demanda dos consumidores retoma os padrões de normalidade. Em especial, vale citar o recuo de 3,8% nos preços de veículos usados, após salto expressivo nos últimos meses.

Apesar do mercado de trabalho aquecido, salários ainda recuam em termos reais

Nos 12 meses até março, o salário nominal avançou apenas 5,6%. Ainda que essa variação seja historicamente alta, o número defasa de forma relevante a inflação de 8,5%. Mesmo expurgando os impactos extraordinários de commoditiesagropecuárias e energéticas, o crescimento das remunerações ainda fica aquém da inflação em cerca de 0,85%. No entanto, com a escassez de mão de obra ainda vigente na economia americana, deve-se esperar um avanço dos salários nominais acima da inflação nos próximos meses, refletindo o maior poder barganha dos trabalhadores na relação com as firmas.

Com a inflação projetada para se manter acima da meta por algum tempo, o FED deve intensificar a contração monetária

Na ata da última reunião, o FED destacou que a demanda forte, os preços de energia e os gargalos de oferta ainda devem pressionar a inflação nos próximos meses. Com isso, ganha materialidade o risco de contágio das expectativas, o que traria caráter mais inercial ao processo inflacionário. Nesse cenário, o banco central deve intensificar a contração monetária, com alta de 0,5 p.p. na próxima reunião. Até o início do próximo ano, o mercado precifica que a taxa básica de juros deve convergir para o intervalo entre 2,5% e 2,75%, o que contribuirá para desacelerar a demanda e a pressão sobre o mercado de trabalho.

Simultaneamente, o FED também pode iniciar o taper já a partir da próxima reunião, em maio. Conforme sinalizado na ata, o banco central deverá reduzir seu balanço mais rápido do que o observado entre 2017 e 2019, ao ritmo de US$ 60 bilhões para títulos do governo e US$ 35 bilhões para hipotecas. Vale citar que essa medida deve impactar a liquidez no mercado financeiro e as taxas de juros de diversos instrumentos e prazos, influenciando o desempenho dos ativos ao redor do mundo nos próximos meses.


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