Inflação nos EUA surpreende com alta de 1,0% em maio
Divulgação superou a expectativa mediana do mercado de 0,7%. Além disso, o dado acelerou fortemente ante a leitura de 0,3% em abril, o que está associado aos choques em energia e alimentos e aos itens de maior inércia. O núcleo de inflação veio em 0,6%, ou 7,8% em termos anualizados, o que aponta que o FED deverá seguir com o aperto monetário no ritmo de 0,50 p.p. nas próximas reuniões.
Commodities voltam a pressionar inflação ao consumidor
Em maio, o grupo de alimentos em domicílio variou 1,4%, na série com ajuste sazonal. Esse número representa uma aceleração na comparação à leitura já elevada de 1,0% no mês de abril. Por outro lado, o preço das commodities agrícolas mostra alguma desaceleração na margem, o que pode contribuir para queda da inflação de alimentos em junho.
Os preços de energia também tiveram alta forte de 3,9%. Em primeiro lugar, a gasolina avançou 4,1%, acumulando alta de 48,7% em 12 meses. Apesar de ainda haver pressões de curto prazo, com o barril de petróleo próximo de US$ 120, vale avaliar o potencial de reversão à média nos próximos meses. Tomando por base as projeções para o petróleo até o final de 2023 do Short Term Energy Outlook, é possível esperar uma tendência benigna para a gasolina, que acumularia retração de 3,8% entre junho de 2022 e dezembro de 2023, contribuindo com queda de 0,2 p.p. para a inflação americana no período.
Reversão de bens industriais para serviços continua
Primeiramente, vale destacar que alguns bens industriais apresentaram nova pressão de alta em maio. Em particular, veículos novos registraram alta de 1,0%, similar à do mês anterior, enquanto os usados aceleraram para 1,8%. Esse movimento ainda se associa aos gargalos de oferta na economia mundial, estimulados pelo lockdown chinês vigente em maio. No entanto, o agrupamento de bens duráveis avançou apenas 0,1% na margem, e mostrou deflação no acumulado de três meses, sugerindo que a normalização das cadeias produtivas eventualmente trará a reversão à média dos itens dessa categoria.
Por outro lado, o núcleo de serviços segue mostrando leituras elevadas. Apesar de leve queda ante o mês anterior, o indicador registra 7,6%, enquanto a média de três meses acelerou para 7,4%, com ambos os indicadores em termos anualizados. Na comparação ao mês anterior, o avanço de 0,6% no preço do aluguel residencial e de 0,4% para serviços de saúde ainda estão em patamar incompatível com o cumprimento da meta de inflação de 2,0%.
Salário médio recua 3,0% em termos reais na comparação interanual
Leitura é composta por avanço de 5,2% do salário nominal, ante inflação acumulada de 8,5% no período. No entanto, esse número não ilustra bem a dinâmica dos salários desde o início da pandemia. Tomando a evolução desde janeiro de 2019, vê-se que o salário nominal acompanhou a inflação no acumulado do período, com ganhos reais ao longo de 2020 compensados por perdas reais em 2021 e 2022. Essa leitura, somada da ociosidade historicamente baixa no mercado de trabalho, implica que o consumo das famílias pode seguir robusto por alguns trimestres, dificultando o trabalho do FED de controlar a alta inflacionária.
FED deverá manter ritmo de alta na reunião da próxima semana
Apesar de uma possível normalização dos preços de commodities e bens industriais nos próximos meses, o cenário inflacionário segue deteriorado. Isso se deve, principalmente, à inflação de serviços em patamar elevado, além da pressão da taxa de desemprego historicamente baixa sobre os salários.
Com isso, mantemos a interpretação de que o FED deverá seguir com o ritmo de alta de 0,5 p.p. nas próximas reuniões. Na medida em que os juros se aproximem do patamar neutro, de 2,5%, a autoridade monetária reavaliará a evolução do cenário. Caso os núcleos de inflação sigam elevados e as expectativas de médio e longo prazo mostrem deterioração, o FED deverá seguir com altas adicionais, alcançando patamares mais contracionistas e contribuindo para o arrefecimento da atividade econômica.