Macroeconomia


Análise | Inflação nos EUA | Fev/23

1FE74EB4-3BA2-4326-8616-33FEB07ED31F_1_201_a - cópia

André Valério

Publicado 14/mar5 min de leitura

Inflação americana avança 0,4% em fevereiro

O resultado veio em linha com a expectativa. No acumulado de 12 meses, o CPI continua seu processo de desinflação, e atinge 6%, menor valor desde novembro de 2021, portanto, anterior à guerra na Ucrânia.

Excluindo alimentos e energia do índice, a variação do núcleo veio acima do esperado, registrando alta de 0,5%. O resultado acelerou em relação ao mês anterior, mas no acumulado de 12 meses se observa a continuidade do processo de desinflação, apesar de marginal, e o núcleo atinge 5,5%.

Núcleo da inflação sugere maior persistência. Em meio à crise bancária com o fechamento do banco SVB, há a percepção de que o Fed tenha que desacelerar o aperto monetário a fim de evitar novos episódios bancários. Entretanto, os dados de fevereiro ainda não dão a tranquilidade que o Fed busca para assegurar que a inflação esteja convergindo à meta.

O Fed entre a cruz e a espada. No próximo dia 22, o Fed irá anunciar sua decisão de política monetária em uma reunião que já é amplamente antecipada devido aos acontecimentos recentes. E a decisão não será simples. De um lado, o Fedterá de sopesar os efeitos da crise bancária, que pode induzir uma recessão em maior escala. Entretanto, esses efeitos não devem aparecer imediatamente nos dados. Por outro lado, a inflação ainda se mostra persistente no curto prazo, e o Fed pode concluir que parar agora pode ser precipitado, a despeito de aprofundar uma eventual crise bancária. Portanto, a próxima reunião do Fedserá fundamental para entendermos os próximos passos.

Habitação explica a maior parte da variação do mês

Com avanço de 0,8% em fevereiro, componente respondeu por 70% da variação total do índice. O resultado veio acima do observado em janeiro, quando avançou 0,5%. Alimentação também teve contribuição importante, com destaque para alimentação fora do domicílio que avançou 0,6%. Por outro lado, o componente de energia teve deflação de 0,6%, a despeito da alta de 1% nos preços de combustíveis, que foi contrabalanceado pela deflação de 1,7% nos custos de energia elétrica. Por fim, destaca-se o comportamento do subitem de serviços de transporte, que registrou alta de 1,1%.

Excluindo habitação, o núcleo da inflação de serviços acelerou em fevereiro, alcançando 0,43%. É a maior alta desde setembro de 2022. Esse é o indicador acompanhado mais de perto pelo Fed devido a sua alta correlação com a inflação de salários. Quanto maior esse indicador, maior o indício de persistência no processo inflacionário.

Preços de bens excluindo aqueles relacionados à energia e alimentos ficaram estáveis no mês. Seguindo tendência mundial de desinflação de bens com a normalização das condições de oferta, o resultado foi influenciado pela deflação de 2,8% nos preços de carros usados, além da forte deflação de produtos de saúde, que saiu de alta de 1,1% em janeiro para alta de 0,1% em fevereiro.

Potenciais impactos para a política monetária

O resultado com o núcleo da inflação acima do esperado, sugere uma persistência da inflação, principalmente a de serviços. O processo de desinflação pode levar mais tempo que o antecipado. Entretanto, os recentes desenvolvimentos da economia americana com a quebra do Silicon Valley Bank, adicionam mais incerteza no cenário.

O episódio tem o potencial de gerar uma contração de crédito adicional. Isso seria acompanhado de uma desaceleração da economia, o que seria um fator baixista para a inflação, auxiliando o Fed em sua missão. Como a política monetária opera com defasagem, é razoável supor que o Fed irá considerar os efeitos desse episódio em sua decisão, correndo o risco de piorar ainda mais as condições financeiras com altas adicionais na taxa de juros, aprofundando uma eventual recessão.

Por outro lado, o evento do SVB parece ser contido. Até o momento, a principal consequência tem sido uma crise de confiança no sistema bancário americano, afetando principalmente bancos regionais. Entretanto, o Fed anunciou a criação de uma linha de liquidez especial, justamente por conta desse risco. Sendo assim, se o Fed considerar que o problema bancário se limita a esse risco, ele pode assumir que tem as ferramentas corretas para lidar com as eventuais rachaduras que surgirem à medida que realiza o aperto monetário.

A perspectiva para a próxima decisão do Fed está em aberto. Nesse momento, todos os cenários parecem ser prováveis, seja uma nova alta, uma manutenção da taxa de juros no atual patamar e até mesmo um corte, apesar dessa última ser a menos provável de todas. Como o evento do SVB ocorreu no período de silêncio dos membros do FOMC, não há como antecipar sobre os próximos passos. Portanto, a próxima reunião do Fed será ainda mais relevante podendo decepcionar vários participantes, uma vez que as apostas no mercado seguem dividas entre uma pausa e uma chance maior de alta de 25 bps.


Compartilhe essa notícia

Notícias Relacionadas

Receba nossas análises por e-mail