Inflação americana surpreende com alta de 0,1% em agosto
Com o arrefecimento dos preços da gasolina, o mercado esperava uma variação de -0,1% e foi surpreendido com o dado de alta principalmente puxado pelo núcleo. O resultado excluindo alimentos e energia foi ainda mais surpreendente ao acelerar de 0,3% para 0,6%, ante a expectativa do mercado de manutenção da variação de 0,3%, indicando que o caráter inercial da inflação é mais preocupante.
Apesar de surpresa altista, no acumulado de 12 meses a inflação desacelerou de 8,5% para 8,3%, mas o núcleo da inflação acelerou de 5,9% para 6,3%, interrompendo o início tendência baixista dos últimos meses.
Serviços apresentou a maior contribuição para inflação de agosto
Resultado é explicado pela inflação de aluguel (+0,7%) e serviços de saúde (+0,8%), que atingiu o maior patamar desse último ciclo.
Inflação de serviços tem caráter mais persistente e sofre maior inércia, no entanto, os sinais de desaquecimento do mercado imobiliário americano vistos nos últimos meses indicam potencial de desaceleração da inflação dos aluguéis no médio prazo.
A inflação de bens segue em alta. O mercado contava com a normalização mais expressiva do mercado de veículos usados. Apesar de que esse item apresentou deflação de 0,1%, a redução dos preços desacelerou frente ao mês anterior, quando a deflação havia sido de 0,4%. Além disso, preços de novos veículos subiram em 0,8%, e inflação desse item ainda não apresenta sinais de desaceleração no curto prazo.
Energia teve deflação de 0,4%. A queda é justificada principalmente pelo comportamento da gasolina (-10,6%) e óleo combustível (-5,9%). Esse resultado era esperado tendo em vista a queda do preço do petróleo de cerca 5% em agosto e de 30% desde o pico no início de junho. Por outro lado, eletricidade (+1,5%) e gás natural (+3,5%) permaneceram em patamares bastante elevados, e impediram queda mais expressiva do grupo energia.
Apesar do mercado de trabalho aquecido, queda do salário real se intensifica
Crescimento da remuneração nominal defasou a inflação em 3,4% nos últimos 12 meses. Embora essa queda compense, em parte, o crescimento real também expressivo ao longo de 2020, o dado sugere baixa probabilidade de um espiral inflacionário na economia americana.
Dado de inflação reforça probabilidade de novo aumento de 0,75 p.p. na próxima reunião do FOMC
Após a divulgação da inflação, os juros americanos de dois anos avançaram cerca de 18 bps, com o mercado precificando um cenário de inércia inflacionária mais persistente. Além disso, a expectativa para os juros terminais desse ciclo de aperto monetário subiu de 4,0% para 4,2%, atingindo um patamar ainda mais contracionista para a economia americana, que conviveu com taxas abaixo de 2,5% por mais de uma década. Tal fato eleva o risco de desaceleração mais forte da atividade, na medida em que o custo do endividamento das empresas e das famílias possa gerar efeitos mais disruptivos na demanda agregada.