Macroeconomia


Análise | IGP-M | Mar22

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Mário Corrêa

Publicado 31/mar10 min de leitura

IGP-M tem alta de 1,74% em março

Indicador superou a projeção mediana do mercado de 1,47%. Além disso, houve aceleração em relação ao último IGP-10 que havia apontado inflação de 1,18%. O número atual já começa a sofrer influência dos impactos inflacionários da guerra no leste europeu, tanto na cadeia produtiva quanto nos preços ao consumidor. No ano, o IGP-M acumula 5,5% e 14,8% em 12 meses. Prospectivamente, a apreciação cambial em curso, com fundamentos ainda otimistas, pode contribuir para reverter parte da pressão sobre as commodities em moeda local, o que apontaria para novas leituras do IGP-M marginalmente mais baixas e queda das expectativas de inflação para o ano.

Preços ao produtor (IPA) desaceleram para 2,1%, mas mostram fortes pressões na cadeia produtiva

Na análise por estágios de processamento, os bens finais tiveram alta de 2,8%, ante 1,2% no mês anterior. Em particular, o subgrupo de alimentos processados, que responde por pouco menos de um terço dos bens finais, acelerou para 2,5% em março. Vale citar que essa categoria pode seguir pressionada no curto prazo, tendo em vista as condições climáticas ainda adversas afetando os insumos e o nível de capacidade instalada na indústria alimentícia em torno de 79,6%, acima da média de 76,8% entre 2017 e 2019.

Entre os bens intermediários, houve aceleração da inflação de 1,5% em fevereiro para 2,1% em março. Nessa etapa do ciclo produtivo, a principal pressão decorre da alta dos preços dos combustíveis, que já reflete o movimento de alta do petróleo após o início da guerra na Ucrânia. O aumento de 8,89% no preço do diesel, item que corresponde a cerca de 9,0% dos custos com bens intermediários e pode gerar repasses para diversos preços na cadeia produtiva.

Por fim, as matérias-primas brutas recuaram para 1,5% em março, ante 4,2% no mês anterior. Esse movimento está associado à queda de 1,2% no minério de ferro, que pode contribuir positivamente para arrefecer as pressões de custos na construção e na indústria. Não obstante, os itens de origem agropecuária seguem pressionados, com destaque para o aumento de 7,3% para a soja em grão no mês.

Inflação ao consumidor (IPC) acelera para 0,86% em março

Índice mostrou forte alta em relação a fevereiro, quando registrou 0,33%, mas segue abaixo das leituras do IBGE, cujo IPCA-15 mostrou inflação de 0,95%. Em 12 meses, a inflação medida pela FGV acumula 9,2%. Conforme esperado, o grupo de transportes mostrou alta significativa de 1,15%, contribuindo com cerca de 0,21 p.p. para o indicador cheio, refletindo o impacto inicial do aumento do preço da gasolina nas refinarias. O IPC de abril também deve ser influenciada pela coleta de preços da gasolina mais altos. No entanto, a normalização parcial do preço internacional do petróleo, somada da apreciação cambial de 15% desde o início do ano, colocam o preço da gasolina nas refinarias próximo da paridade internacional, o que desestimula novas revisões no curto prazo.

Para além dos combustíveis, os alimentos tiveram alta de 1,73% em março. Preços de hortaliças e legumes seguem acelerando, registrando 13,8% no mês, o que ainda aponta para desajustes na oferta de alimentos. A pressão crescente de preços observada na indústria dificulta o arrefecimento dos preços ao consumidor no curto prazo.

Outras elevações relevantes vieram dos grupos de vestuário e habitação. Vale destacar o aumento de preços da energia elétrica de 0,67%, em função de revisões tarifárias em algumas regiões, e a alta de 1,44% nos preços de aluguéis, ambos itens que atestam o caráter inercial da inflação corrente.

INCC varia 0,73% em março

Resultado mostra aceleração em relação à leitura de 0,48% em fevereiro. Essa alta está ligada à elevação para 1,12% do custo com mão de obra, ao passo que materiais e serviços recuaram para 0,29%.

Apreciação cambial pode contribuir para queda dos preços de matérias primas

Após a forte alta no início de março, com a deflagração do conflito na Europa, algumas commodities importantes tem mostrado tendência de normalização de preço. Esse movimento está associado tanto a uma queda dos preços em dólares, quanto à expressiva apreciação cambial observada, que possui ancoragem nos fundamentos da economia doméstica.

Vale destacar, em primeiro lugar, o comportamento do trigo. Esse item chegou a se elevar em 79% no início de março, com impactos que já se observam nos preços da farinha de trigo e de pães e bolos industrializados. No entanto, desde o pico recente, a commodity já recuou em cerca de 32,3%, o que deve reverter, em parte, as pressões ao longo do mês de abril.

O petróleo também observou tendência similar ao longo do mês. Após um pico de 32,4% no início de março, o que levou a Petrobrás a corrigir o preço de combustíveis na refinaria, a commodity recuou em cerca de 16,3%. Embora os preços internos atuais estejam em linha com os internacionais, uma continuidade da normalização do preço do petróleo em reais pode criar alguma pressão por reajustes baixistas nos combustíveis, o que reduziria a inflação ao consumidor e limitaria os repasses de custos ao longo das cadeias produtivas.


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