IGP-M tem variação de 1,83% em fevereiro
Resultado veio ligeiramente abaixo da expectativa do mercado, de 1,86%. Em 12 meses, a inflação medida pelo IGP-M avança 16,1%, mostrando uma queda lenta em relação à leitura de 16,9% até o mês anterior.
Pressão de commodities continua, e o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) sobe 2,36%
De forma geral, o dado elevado para o IPA foi puxado por itens de maior volatilidade. Dentro do estágio de bens finais, o componente de alimentos in natura acelerou para 6,89%, frente a 1,11% no mês anterior. Essa alta reflete o regime de chuvas disfuncional, que tem afetado a produção agrícola nas últimas semanas, devido ao excesso de chuvas na região Nordeste e estiagem no Sul. Além disso, sob a ótica da origem da produção, os produtos agropecuários mostraram alta de 4,18%, em linha com o avanço dos preços internacionais de algumas commodities, como a soja. Para os próximos meses, pode-se esperar que os preços de alimentos continuem em alta, tendo em vista a expectativa de problemas de oferta relacionados ao conflito geopolítico na Europa e a continuidade do regime de chuvas adverso.
Entre os bens intermediários, que respondem por cerca de um terço do IPA, segue forte pressão de combustíveis. Esse grupo teve alta de 5,4% no mês, com destaque para o óleo diesel. Assim como no caso dos alimentos, o diesel também deve ser pressionado no curto prazo, dada a alta recente do preço do barril de petróleo e a incerteza para a evolução dos estoques dessa commodity nos próximos meses. Vale citar, ainda, que esse combustível possui participação relevante na estrutura produtiva da indústria, de forma que a elevação do seu preço tende a ser repassada ao longo da cadeia produtiva para bens diversos.
Itens menos voláteis, por outro lado, desaceleraram no mês. A inflação de bens finais exceto alimentos in natura e combustíveis recuou para 0,69%, em relação a 0,9% no mês anterior. Além disso, o índice de bens intermediários exceto combustíveis e lubrificantes também desacelerou para 0,85%, ante 1,26% em janeiro.
Índice de Preços ao Consumidor (IPC) desacelerou para 0,33%
Resultado recuou em relação à leitura de 0,42% no mês anterior. Além disso, mesmo ajustado por diferenças metodológicas e de período de coleta, o indicador da FGV segue com leituras bem inferiores às obtidas pelo IBGE, cuja medição do IPCA-15 divulgada recentemente foi de 0,99%.
Na análise por grupos, maior pressão é proveniente dos preços ligados à alimentação. Conforme explicado, esse movimento reflete o regime climático e os preços de commodities, e deve seguir pressionado adiante. O segundo grupo de maior elevação foi o de comunicação, impactado pela elevação de tarifas de telefone residencial em 1,28%. Demais grupos mostraram variações mais brandas e compatíveis com a meta de inflação, em termos anualizados.
Inflação dos custos da construção desacelerou para 0,48%
Em especial, essa queda foi puxada pelo grupo de materiais e equipamentos, que recuou para 0,56% ante 1,05% no mês anterior. Importantes contribuições negativas vieram de itens à base de aço, como vergalhões, arames e tubos. Mão de obra e serviços, por outro lado, aceleraram para 0,19% e 1,69%, respectivamente, tendo o segundo grupo sido impactado por taxas de serviços e licenciamentos e aluguel de máquinas e equipamentos.
Apesar da apreciação cambial recente, expectativa para o IGP-M para 2022 teve alta significativa
Segundo o Relatório Focus, a projeção do indicador era de 5,5% ao final de 2021. Esse número, por sua vez, sofreu sucessivas correções, e a mediana já supera hoje o patamar de 8,0%, com as expectativas mais pessimistas apontando para IGP-M de dois dígitos no ano.
Mas por que o câmbio não tem afetado a expectativa de inflação da forma esperada? Em primeiro lugar, o fortalecimento da moeda doméstica nas últimas semanas representa a outra face do aumento do preço internacional das commodities. Dessa forma, a taxa de câmbio mais baixa acaba apenas compensando, em alguma medida, o aumento nos custos de insumos produtivos e bens comercializáveis no mercado global. Ademais, o impacto de uma queda da taxa de câmbio tende a ser bem mais lento do que o resultante de um aumento equivalente. Por fim, alguns agentes ainda veem com desconfiança a manutenção da taxa de câmbio em patamar mais baixo. Embora os fundamentos econômicos apontem nessa direção, os eventos geopolíticos atuais, além da proximidade das eleições, podem se sobrepor a esses fundamentos e levar a um aumento da volatilidade da moeda doméstica nos próximos meses.