IGP-M desacelera para 1,41% em abril
Apesar de ainda elevado, o indicador surpreendeu a expectativa do mercado, que projetava alta de 1,7%. Em 12 meses, o IGP-M se manteve estável, acumulando 14,7%. De forma geral, a leitura atual reflete pressões heterogêneas sobre os preços ao produtor, que concilia queda das commodities agrícolas em reais e aumento dos custos com combustíveis e fertilizantes. Além disso, a inflação ao consumidor segue em patamar bastante elevado, enquanto os materiais de construção também aceleraram. Prospectivamente, vale acompanhar o impacto da contração monetária nos países desenvolvidos e da desaceleração da China na atividade global, com efeito potencialmente benigno sobre os preços das commodities e na inflação doméstica.
Inflação ao produtor (IPA) recua para 1,45%
Indicador teve forte queda na comparação à leitura de 2,81% do IGP-10. Essa retração, entre duas coletas de preços distantes em apenas 10 dias, sugere uma rápida desaceleração da inflação no atacado. Em particular, os preços de matérias primas brutas tiveram queda de 1,82% em abril. Por outro lado, a inflação em estágios de produção mais avançados acelerou, com as pressões da gasolina (+11,3%), do diesel (+14,7%) e de adubos e fertilizantes (+10,4%) sobre os custos das empresas, ainda gerando risco de repasse para o consumidor.
Por outro lado, surgem sinais de desaceleração da inflação de alimentos nos próximos meses.
Na divisão por origem do IPA, os produtos agropecuários tiveram queda de 1,36%, arrefecendo uma alta que acumula 17,5% em 12 meses. Esse recuo, que decorre principalmente da evolução dos preços em reais da soja, do milho e do café, deve permitir uma retração também relevante nos preços de alimentos semielaborados no IPCA dos próximos meses, contribuindo para a reversão da tendência de alta da inflação ao consumidor.
À médio prazo, no entanto, ainda existe o risco de a escassez de adubos e fertilizantes afetar os preços de alimentos.
Embora a importação desse insumo da Rússia ainda seja possível, gargalos logísticos e de pagamento decorrentes das sanções econômicas impostas ao país dificultam as transações. Dados de março mostram forte retração nas importações de fertilizantes, principalmente nitrogenados e fosfatados. Não obstante, essa queda também pode estar relacionada à dinâmica das safras em cada ano, de forma que os próximos dados de balança comercial serão determinantes para avaliar uma possível escassez de fertilizantes, além do recente encarecimento de custos ao produtor também adicionar pressão nos preços dos alimentos nas próximas safras.
Inflação ao consumidor acelera para 1,53% e acumula 10,4% em 12 meses
Embora alto, o número veio abaixo da leitura mais recente de 1,73% para o IPCA-15. As principais pressões de preços ao consumidor seguem decorrentes de combustíveis, alimentos em domicílio e reajustes regionais na energia elétrica. Esses agrupamentos devem desacelerar nas próximas divulgações, com a incorporação da bandeira tarifária verde, a estabilização dos combustíveis e a atenuação da inflação de alimentos.
Por outro lado, vale citar outras fontes inflacionárias mais persistentes na divulgação atual. Em particular, a inflação de aluguel residencial acelerou para 2,76%, recompondo a elevada inflação dos últimos meses. Outros grupos, como educação e despesas diversas, tiveram altas relevantes de 1,57% e 0,84%, respectivamente.
Custos na construção civil tiveram alta de 0,87% em abril
Indicador também acelerou ante a divulgação passada, quando mostrou leitura de 0,73%. Apesar do recuo na inflação da mão de obra, que cresceu 0,46% no mês, os preços de materiais, equipamentos e serviços voltaram a ter forte alta, com destaque para materiais de aço e para cimento e concreto, o que deve seguir pressionando os custos no setor de construção civil.
Riscos para a atividade global podem beneficiar a inflação doméstica
De acordo com projeções recentes, o PIB da China deve crescer apenas 4,9% em 2022, abaixo da expectativa anterior e da meta de 5,5%. O desempenho da indústria também foi revisado para baixo, assim como a expectativa para o volume de importações. Apesar disso, o consenso aponta para manutenção da taxa básica de juros no patamar atual, com medidas estimulativas apenas via redução do compulsório, embora também menos expressivas do que o anteriormente esperado.
Soma-se a isso, a contração inesperada de 1,4% (anualizado) do PIB americano no primeiro trimestre. Com a inflação mostrando caráter bastante persistente, o FED deverá seguir com as altas de juros nas próximas reuniões, até atingir um nível real ex-ante contracionista. Em consequência, aumenta a probabilidade de a atividade mostrar desempenho fraco no médio prazo, contribuindo com a desaceleração da economia global.
Esses dois fatores, embora aumentem o desafio para a exportação e a atividade domésticas, podem contribuir para o controle da inflação. Caso a perspectiva de atividade mais fraca se verifique, os preços de diversas commodities podem sofrer uma reversão nos próximos meses. Nesse cenário, ganhará relevância a dinâmica da taxa de câmbio. Caso fatores domésticos favoráveis (como juros altos e manutenção da melhora fiscal) se mostrem preponderantes frente a uma possível piora das exportações, a depreciação cambial pode ser atenuada, permitindo um recuo das commodities em reais e queda da inflação ao consumidor.