Macroeconomia


Análise | Fiscal | Junho 2025

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Rafaela Vitória

Publicado 31/jul2 min de leitura

Governo registra déficit nominal de R$101 bilhões em junho

A realidade fiscal dos dados até junho não condiz com os recentes anúncios do governo de mais estímulos e exclusão de gastos da meta.  Enquanto o resultado primário no 1º semestre apresentou uma melhora em relação ao ano passado, com menor crescimento de gasto (mesmo incluindo o pagamento de precatórios que será feito no 2º semestre), a revisão recente apresentada pelo tesouro aponta para um patamar de despesas bem maior ao final do ano, juntamente com a aprovação de mais gastos fora do cálculo da meta, o que não nos parece necessário para o seu cumprimento.  Ou seja, vemos um risco de reaceleração de gastos na segunda metade de 2025, o que pode impactar a inflação e manter a expectativa de juros elevados por mais tempo, deteriorando ainda mais a trajetória crescente da dívida.

O déficit primário consolidado no 1S25 foi de R$27 bilhões, (incluindo precatórios), bem abaixo do resultado de R$70 bilhões do mesmo período em 2024. Pela primeira vez desde 2023, o governo apresenta um crescimento real de despesa menor que o da receita, 2%  contra 3,4% nos primeiros 6 meses do ano. A menor alta foi observada tanto nas despesas obrigatórias, provável resultado de correção de irregularidades, o “pente fino”, como também nas discricionárias. Estados e munícipios também tiveram resultado melhor, superávit de R$40bi contra R$33 bilhões do ano passado. E, mesmo o inexplicável rombo das estatais, em R$6 bilhões no ano, é semelhante ao do ano passado.

Porque então o governo fez uma revisão de crescimento de despesas, excluiu novos gastos da meta e retirou o contingenciamento de R$20 bilhões na sua última revisão em julho? A impressão que passa é que o plano seria colocar o pé no acelerador ainda em 2025, e a maior disciplina fiscal observada no 1º semestre seria passageira e circunstancial. O que vemos nos dados, no entanto, é que seria sim possível controlar despesas com algum esforço político e de gestão, algo que não está presente no atual discurso do governo. Estaríamos próximos de alcançar superávit primário se realmente for esse o desejo do gestor das contas públicas.

Endividamento público sobe para 76,6% do PIB em junho

A dívida pública teve alta de 76,1% para 76,6% do PIB em resultado do elevado déficit nominal que está em cerca de 7,3% do PIB. O custo da dívida segue em alta, acompanhando a subida da Selic e aceleração da inflação. No acumulado de 12 meses até junho, as despesas com juros chegam R$912 bilhões e o custo médio das emissões já chega em 13,5%, o que deve continuar impactando nas despesas nos próximos anos.

O atual elevado patamar de juros atual reflete o risco fiscal e a inflação mais alta. Tanto a Selic a 15% como o juro real próximo de 7,5% nos títulos longos indexados ao IPCA vão continuar pressionando o custo da dívida e mantendo sua trajetória do endividamento em alta.

Projeção para 2025 e 2026

Com a aprovação do aumento do IOF e revisão das receitas incluindo maiores royaties do petróleo, revisamos nossa projeção de déficit primário de R$77 bilhões para R$54 bilhões em 2025, cerca de 0,4% do PIB, que estará em linha com o cumprimento da meta considerando a banda inferior e as despesas contabilizadas fora da meta.  No entanto, o maior risco de desaceleração global e a queda dos preços das commodities pode impactar a evolução da arrecadação nos próximos meses, o que exigirá um controle de gastos mais efetivo para o alcance da meta.

Para 2026, os desafios serão ainda maiores. Além do possível crescimento de gastos esperado em ano de eleição, a isenção de IR para rendas até R$5 mil deve também impactar a arrecadação. A elevada Selic e desaceleração do PIB também serão premissas macro que podem desapontar as receitas do governo no próximo ano, enquanto a aprovação de novos impostos segue incerta no Congresso. Mantemos nossa estimativa de déficit de R$90 bilhões em 2026, mas vemos o risco de novas exceções na contabilização de gastos para o cumprimento da meta de déficit 0 no próximo ano.


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