Relatório Payroll indica mercado de trabalho ainda aquecido, após criação de empregos acima das expectativas
O mercado de trabalho americano registrou 261 mil vagas criadas em outubro e surpreendeu o mercado, que contava com desaceleração na quantidade de empregos criadas para 180 mil. Dessa forma, ritmo de contratação continua em patamar extremamente elevado, e acima da média da última década de 183 mil vagas criadas por mês. Com resultado, o estoque de trabalhadores formais na série sazonalmente ajustada ultrapassou em 804 mil o valor pré-pandemia, e atingiu seu maior patamar da série histórica (153,3 milhões).
Em contrapartida, após aumento de 306 mil no saldo de desempregados, a taxa de desemprego subiu de 3,5% para 3,7%
Essa leitura, aparentemente contraditória, torna-se possível em razão do fato de que o principal relatório de emprego dos EUA faz uso de duas metodologias distintas. A pesquisa denominada estabilishment é submetida a mais ajustes estatísticos a fim de estimar da forma mais precisa possível a quantidade de empregos criados no mês. Enquanto a pesquisa household é onde se extrai a taxa de desemprego e outros dados relevantes acerca da oferta da mão de obra. Essas pesquisas tendem a convergir na média, no entanto, nos últimos meses a divergência tem permanecido elevada, o que dificulta o processo de interpretação dos dados do principal relatório de emprego americano, e indica que há mais espaço para revisões nos próximos meses.
Apesar de queda em outubro, taxa de desemprego permanece significativamente baixa em termos históricos
Além disso, o recuo marginal da taxa de participação da força de trabalho de 62,3% para 62,2% indica que a oferta de mão de obra continua escassa. Esses fatores sustentam a interpretação de que o mercado de trabalho americano continua apertado, e que não houve alívio relevante nas pressões altistas que atuam sobre os salários. Portanto, o mercado permanece apostando a favor de um Fed mais hawkish. Após resultado, a taxa de juro terminal para esse ciclo de alta precificada para a federal funds rate subiu para 5,25%, bem acima da projeção mediana de setembro do FOMC de 4,6%.
Setor de serviços registra 200 mil novas contratações em outubro
Dentro do setor, novamente lazer, hospitalidade e serviços de saúde e assistência social foram destaque. Mantendo a tendência de recuperação observada nos últimos 6 meses, a atividade lazer e hospitalidade registrou a criação de 35 mil novas vagas no mês, mas ainda apresenta um déficit de 1,1 milhões de empregos em relação ao patamar pré-pandemia, indicando que nos próximos meses ainda há espaço para esse segmento de serviços presenciais sustentar o mercado de trabalho. Em seguida, serviços de saúde e assistência social registraram 71,1 mil novas vagas, com o estoque em 150 mil empregos acima do patamar pré-pandemia.
Criação de empregos relacionados à indústria mostra sinais de desaceleração. Saldo de empregos no setor de construção e na indústria extrativa ficou estagnado no mês, refletindo respectivamente a deterioração do mercado imobiliário e a redução demanda externa. Por outro lado, a indústria de transformação criou 32 mil vagas, uma quantidade um pouco superior em relação ao mês passado, quando foram criadas 23 mil vagas.
Salários sobem 0,4% em setembro
Leitura indica manutenção da desaceleração no aumento de salários, que no acumulado de 12 meses recuou de 5,0% para 4,7%. Esse é um patamar excessivamente elevado e inconsistente para o cumprimento da meta de inflação em 2% por parte da autoridade monetária. No entanto, ao considerar o núcleo da inflação americana acima de 6% nessa mesma base de comparação, constata-se que não há sinais de consolidação de uma espiral preço-salário na economia, o que é uma notícia positiva para o Fed, porém negativa para a população, que têm visto seu poder de compra ser comprimido.
