Macroeconomia


Análise | Emprego nos EUA | Mai22

Daniel_Arruda

Daniel Arruda

Publicado 03/jun3 min de leitura

Mercado de trabalho americano cria 390 mil novos empregos em maio

Indicador segue apontando para uma criação de postos de trabalho bem acima do nível de normalidade. Por outro lado, a média de três meses desacelerou para 408 mil, ante patamar de 600 mil observado até fevereiro. A taxa de desemprego, por sua vez, se manteve no nível historicamente baixo de 3,6%, refletindo também uma leve elevação da força de trabalho.

A análise por setores mostra que o avanço do emprego tem se tornado menos disseminado. Isso se atesta pelo recuo do índice de difusão para 69,3%, ante 75,5% na média dos três meses anteriores.

Em particular, o avanço do mercado de trabalho ainda é puxado pela recuperação do setor de serviços. Os segmentos de lazer e hospedagem, serviços profissionais e transportes e armazenagem contribuíram com criação de 84 mil, 75 mil e 47 mil novas vagas, respectivamente. A principal contribuição negativa, por sua vez, veio da queda de 60,7 mil vagas no varejo; esse segmento tem sido prejudicado tanto pela normalização da cesta de consumo das famílias, em direção aos serviços, quando pelo comprometimento da renda com a inflação mais elevada.

Demanda por trabalho segue forte, mas existem riscos para o médio prazo

O quadro atual do emprego nos Estados Unidos dá sinais de sobreaquecimento, com descompasso entre a demanda e a oferta. Em especial, o número de vagas abertas foi de 11,4 milhões em abril, equivalendo a mais que o dobro do número de trabalhadores desempregados no país. A análise desagregada mostra sobreaquecimento em todos os setores, embora mais intenso em serviços e menos na construção civil e na indústria extrativa. Além disso, a taxa de demissão voluntária segue em patamar historicamente alto, com destaque para a leitura de 5,6% em alojamento e alimentação, o que aponta para um poder de barganha mais elevado para os trabalhadores.

Esse quadro, no entanto, dá alguns sinais preliminares de desaceleração. Em primeiro lugar, o relatório do ISM para a indústria mostrou o emprego atingindo patamar contracionista, revertendo a tendência dos meses anteriores. Adicionalmente, o livro bege do FED mostrou que oito dos doze distritos reportaram perspectivas piores para a atividade entre seus contatos, enquanto três ressaltaram especificamente que há risco de recessão, o que pressionaria o mercado de trabalho de forma defasada. Por fim, caso a inflação se mostre persistente nos próximos meses, e especialmente caso se observe a contaminação das expectativas de longo prazo, o FED terá de elevar os juros bem acima do patamar neutro, pressionando a demanda e o emprego no médio prazo.

Oferta de trabalho mantém lenta recuperação

Taxa de participação na força de trabalho avança para 62,3%, frente a 63,4% em fevereiro de 2020. Em especial, cerca de 455 mil indivíduos foram impedidos de procurar emprego em maio, em função da pandemia, ante 586 mil no mês anterior. No cenário mais pessimista, supondo baixa incorporação desses indivíduos que devem retomar a busca por emprego nos próximos meses, a taxa de desemprego aumentaria para apenas 3,9%, o que reforça a interpretação de que ainda há um forte desbalanceamento entre oferta e demanda no quadro atual.

Salários nominais crescem 5,2% na comparação interanual

Na margem, o crescimento foi de apenas 0,3%, ou 3,8% em termos anualizados. Esse indicador pode continuar desacelerando nas próximas divulgações, por efeito composição, na medida em que o setor de serviços recupera o patamar pré-pandemia. Em geral, tomando um crescimento médio da produtividade do trabalho de 1,5% ao ano, mantemos nossa interpretação de que haja baixa probabilidade de os salários exercerem uma pressão significativa para a aceleração da inflação ao consumidor nos próximos meses.


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