Macroeconomia


Análise | Atividade | Set22

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Vitor Martins Carvalho

Publicado 11/nov8 min de leitura

Setor de serviços lidera o crescimento no 3º trimestre e esperamos alta do PIB de 0,7%

As atividades de serviços seguem liderando o crescimento da economia com alta de 1,1% no trimestre. Na comparação anual, o crescimento do setor é ainda mais surpreendente, com alta acumulada de 8,6% no ano até setembro. Para o trimestre, estimamos que o crescimento do PIB na comparação anual seja de cerca de 3,9%, mas desacelere para cerca de 2,9% no quarto trimestre, encerrando 2022 com crescimento acumulado de 3%, resultado bem acima da expectativa inicial, considerando o aperto monetário em curso.

Produção industrial de setembro indica desaceleração generalizada do setor

Produção industrial recuou 0,7% em setembro, em linha com a expectativa. Esse é o segundo resultado negativo consecutivo para indústria, que acumula perda de 1,4% em 2022. Devido à baixa base de comparação, a produção industrial cresceu 2,4% na comparação anual, lembrando que o final do terceiro trimestre do ano passado foi marcado pela fraca produção industrial devido à falta de insumos. Na comparação trimestral, a indústria recua 0,3%, refletindo a desaceleração da demanda tanto interna como externa.

Produção industrial em todas as categorias tiveram queda em setembro. A queda mais expressiva veio de bens de consumo semi e não duráveis (-1,4%). Em seguida, em linha com a tendência dos últimos meses, a produção de bens intermediários recuou 1,1%. Bens duráveis (-0,2%) e bens de capital (-0,5%) recuaram marginalmente no mês, revertendo em parte o crescimento observado em agosto.

Na comparação trimestral a desaceleração da indústria é mais evidente.

Exceto por bens de capital, cuja produção se normalizou no terceiro trimestre após apresentar forte queda no trimestre anterior, a produção de todas as categorias que compõem a indústria recuou, com destaque àquelas relacionadas ao consumo. Esse fato corrobora o efeito limitado das políticas de transferência governamental sobre a economia em meio ao cenário de redução da demanda por bens causada pela política monetária contracionista em curso e pela desaceleração econômica internacional.

Vendas no varejo surpreendem em setembro

Volume de vendas no varejo subiu 1,1%, bem acima da expectativa do mercado que contava com alta de apenas 0,3%. O dado de agosto também foi revisado de -0,1% para crescimento de 0,1%. Assim, o resultado no trimestre foi de alta de 0,3%. A leitura anual, que tem sido impactada pela baixa base de comparação e pela forte redução no preço dos combustíveis, também surpreendeu ao registrar aumento de 3,2% (a expectativa era de alta de 1,8%).

Na versão ampliada, o resultado do varejo foi positivo tanto no mês (+1,5%) como no trimestre (+0,4%). Na comparação anual, devido à queda nas vendas de veículos (-1,2%) material de construção (-7,9%), a alta foi inferior à da versão restrita (+1,0%).

Vendas em seis das dez atividades que compõem o índice do varejo ampliado registraram alta no mês

Destaque para o comportamento de combustíveis e lubrificantes (+1,3%), cujo volume de vendas dos últimos três meses, influenciado pela queda dos preços, cresceu cerca de 18% e para hiper e supermercado, que apresentou alta de 1,2% no mês, que reflete o aumento dos auxílios pelo governo. Essas duas atividades, juntas, são responsáveis por quase metade do volume de vendas do varejo e, portanto, foram as principais contribuintes para o resultado do terceiro trimestre do setor.

Impacto da inflação é evidente nas vendas do varejo. Se por um lado a deflação contribuiu para o aumento da venda de combustíveis, por outro, o item vestuário foi o mais afetado pela variação dos preços nos últimos 12 meses (+19,5%) e apresentou a maior queda no volume de vendas (-9,5%). Em seguida, artigos de uso pessoal e móveis e eletrodomésticos também sofreram pela variação de preços de forma expressiva, registrando queda no volume de vendas em 10% e 5,9% no ano, respectivamente.

Volume de serviços surpreende e avança 0,9% no mês e bate recorde para série histórica

Resultado ficou acima das expectativas do mercado, que contava com alta marginal de 0,3%. Além disso, o resultado de agosto foi revisado positivamente, de +0,7% para +1,1%, o que levou a variação da média móvel do terceiro trimestre para +1,1%. Na comparação anual, o resultado foi ainda mais surpreendente, com alta de 9,7% ante a expectativa de 8,1%. Essa foi a quinta leitura positiva consecutiva para o setor de serviços, que agora se encontra 11,8% acima do patamar pré-pandemia e alcança o novo ponto mais alto da série, superando novembro de 2014, que agora está 0,7% abaixo do resultado de setembro de 2022.

Crescimento de 2% no setor de informação e comunicação é destaque do mês

Essa atividade, que apresentou variações positivas ao longo de todos os meses do terceiro trimestre, acumula alta de 4,1% no período. Serviços prestados às famílias (+1,0%) apresentou a segunda maior alta do mês, reduzindo o gap em relação ao patamar pré-pandemia para -3,9%. Serviços de alojamento e alimentação, são altamente dependentes do aspecto presencial e, com o fim das restrições à mobilidade, estão em tendência de recuperação pelo sétimo mês consecutivo, acumulando alta de 11,7% no período.

Transportes apresentou normalização do crescimento

Após queda marginal de 0,1%, a variação da média móvel do último trimestre dessa atividade ficou em +1,1%, o que ainda é bastante positivo. Cabe destacar que, apesar de ter ultrapassado o patamar pré-pandemia, transporte para passageiro ainda se encontra 21% abaixo de pico em fevereiro de 2014, enquanto transporte para cargas já ultrapassa em quase 20% o patamar desta mesma data, o que corrobora a mudança estrutural atrelada a essa atividade, que tem sido beneficiada pela consolidação do comércio eletrônico no país.

Indicadores antecedentes

Apesar da redução da inflação, desaceleração da demanda interna e externa contribuiu para a deterioração das expectativas. Segundo as sondagens realizadas pela FGV para o mês de outubro, a confiança dos empresários recuou 3,3 pontos. Na média móvel do trimestre, esse indicador finalmente interrompeu sequências de altas iniciada sem abril desse ano, indicando possível reversão de tendência. A perspectiva da indústria (-3,8 p.) e do comércio (-3,8 p.) permaneceram as mais negativas. Porém, prestadoras de serviços (-2,6 p.) também indicaram normalização da demanda, apesar de que o aumento da confiança daquelas que atuam com serviços prestados às famílias impediu queda mais expressiva no agregado do setor. A queda da inflação faz com que o aperto monetário seja mais percebido e contribui para as expectativas de desaceleração.

Resultados dos PMIs mostram desaceleração da atividade em outubro, mas seguem em patamar expansionista

Esse resultado fica mais evidente na média móvel trimestral dos indicadores. Para a indústria, a leitura passou de 54,1 em julho para 51,3 em outubro, enquanto, para serviços, foi de 58,4 para 53,3. Segundo empresas participantes da pesquisa, a redução da inflação e políticas fiscais expansionistas tiveram um papel fundamental em sustentar a demanda no último trimestre. No entanto, o esgotamento desses acontecimentos, somada à desaceleração global e aos efeitos defasados da política monetária contracionista, deverão resultar em estagnação da economia no último trimestre.


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