Macroeconomia


Análise | Atividade | Out22

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Vitor Martins Carvalho

Publicado 13/dez

Setor de serviços destoa e apresenta contração em outubro

Em outubro, apenas o setor de serviços apresentou contração na atividade. O setor recuou 0,6% após 5 meses consecutivos de expansão, período em que acumulou alta de 5,8%. Na contramão do setor de serviços, varejo e indústria apresentaram alta no mês. Com esses resultados, estimamos um crescimento nulo do PIB em outubro e mantemos nossa expectativa de um crescimento de 3% do PIB em 2022, após estagnação da atividade no último trimestre do ano, resultado bem acima da expectativa inicial, considerando o aperto monetário em curso.

Indústria recupera parcialmente perdas dos meses anteriores

Após apresentar três quedas consecutivas, a produção industrial avançou 0,3% em outubro, em linha com a expectativa do mercado. Apesar da leitura positiva no mês, a produção industrial ainda acumula perda de 1,03% em 2022. Devido à baixa base de comparação, a produção industrial cresceu 1,7% na comparação anual. Cabe relembrar que outubro de 2021 foi o pior mês para a indústria no ano passado, quando a produção de bens de consumo foi fortemente afetada pela redução da demanda.

Apenas 7 dos 26 ramos que compõem a indústria apresentaram crescimento. Esse fato indica que o fôlego da indústria observado no mês é justificado pela performance positiva de alguns dos setores chaves, como produtos alimentícios (+4,8%) e metalurgia (+4,6%). Tais segmentos, no entanto, apenas interromperam tendência de queda dos últimos meses. Na ponta contrária, máquinas e equipamentos (-9,1%) exerceu a maior influência negativa após acumular alta de 16,9% no ano, refletindo possível normalização do investimento privado no país, que foi bastante elevado nos últimos trimestres.

Produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis apresentaram as maiores quedas

Nos últimos meses, as vendas de produtos pertencentes a essas categorias foram bastante impactadas pela elevada taxa de juros, que restringe a capacidade de financiamento destinada a novos investimentos e ao consumo de bens. Ao analisar a performance desses setores desde o início da pandemia, no entanto, observa-se que a produção de bens de capital se encontra quase 10% acima do que era em fevereiro de 2020, refletindo o aumento do investimento observado nas últimas leituras do PIB, enquanto a produção de bens duráveis recuou 19% no mesmo período, refletindo o impacto da alta inflação observada a partir do último trimestre de 2020.

Vendas no varejo avança novamente em outubro, em linha com as expectativas

Após alta de 0,4%, varejo acumula crescimento de 1,7% nos últimos três meses. Na comparação anual, devido à redução no ritmo de vendas observada a partir do terceiro trimestre de 2021 e à forte queda no preço dos combustíveis, o varejo cresceu 2,7%, surpreendendo o mercado, que contava com alta de 2,3% nessa base de comparação.

Já em sua versão ampliada, o varejo avançou 0,5% no mês e 0,8% no ano. A diferença entre essas leituras pode ser majoritariamente explicada pela fraca venda de materiais para construção (-3,5% m/m e -12,7% a/a), que tem estado em tendência de queda desde setembro de 2020, quando atingiu seu maior valor para série histórica.

5 das 8 atividades que compõem o varejo apresentaram crescimento em outubro

Móveis e eletrodomésticos (+2,5%), informática e comunicação (+2,0%) e artigos de uso pessoal (+2,0%) foram os destaques positivos do mês, o que pode ser explicado em parte pelo adiantamento das estratégias de marketing e descontos para a Black Friday e pela apreciação do real em relação ao dólar nesse período, fatores que contribuíram para baratear a oferta desses produtos. Combustíveis e lubrificantes (+0,4%) mantiveram trajetória de crescimento pelo quarto mês consecutivo, e acumulam alta de quase 20% desde junho, um período marcado por correções baixistas nos preços, que levou a inflação desses itens a -20,2% na comparação anual.

Na ponta contrária, vendas de livros, jornais e papelaria recuou 3,8%. Essa é uma atividade que foi fortemente beneficiada pela retomada do ensino presencial no início deste ano, mas desde fevereiro não apresentou mais crescimento. Em seguida, vendas em vestuário, atividade cuja inflação subjacente acumulou 19% no último ano, apresentou queda de 3,0%.

Volume de serviços recua 0,6% e surpreende negativamente em outubro

Mercado contava com queda de apenas 0,2%. Além disso, a leitura do mês de setembro foi revisada de crescimento de 0,9% para 0,5%. Na comparação anual, apesar de permanecer bastante positivo, o resultado também desapontou (+9,5% vs. expectativa de +10,5%). Esse fato corrobora a desaceleração esperada para serviço devido à elevada base de comparação, tendo em vista que o volume de vendas do setor atingiu o maior valor para série histórica em setembro, após acumular alta de cerca de 9% desde o início do ano. Acomodação do crescimento também está associada ao esgotamento dos efeitos das políticas fiscais expansionistas pré- eleição e aos efeitos defasados da política monetária contracionista sobre a demanda interna.

Desempenho de transportes foi destaque negativo

Após variar -1,8%, a performance de transporte pode ser justificada principalmente por transporte aéreo para passageiros (-10,1%), que apresentou uma queda no volume de vendas em função do aumento expressivo nos preços das passagens aéreas no período (+27,38%). Após 7 altas consecutivas, serviços prestados às famílias recua 1,8% em outubro. Resultado se deve principalmente ao comportamento de alojamento e alimentação. Essa atividade foi a que mais sofreu durante a pandemia, e, apesar de registrar crescimento no volume de vendas de 162% desde abril de 2020, ainda não retomou ao patamar pré-pandemia.

Na ponta contrária, o destaque positivo ficou com outros serviços (+2,6%). Comportamento dessa categoria tem sido bastante volátil nos últimos meses, e leitura de outubro indica apenas recuperação parcial do resultado de setembro, quando seu volume de vendas havia recuado 3,1%. Por fim, informação e comunicação (+0,7%) se manteve em trajetória de crescimento pelo quarto mês consecutivo, e já acumula alta de 4,7% no período.

Indicadores antecedentes

Incerteza acerca das políticas econômicas a serem implementadas no próximo governo contribuiu para deterioração das expectativas em novembro. Segundo as sondagens realizadas pela FGV, tanto a confiança do consumidor (-3,3 pontos) quanto a confiança empresarial (-6,7 pontos) recuaram, em consequência, principalmente, do maior pessimismo com a situação econômica no médio e longo prazo. Esse pessimismo reflete na atividade à medida que as famílias e as empresas optam por reduzir seus gastos e se preparam para enfrentar um possível cenário mais adverso. No comércio e na indústria, em especial, as firmas relatam mudanças notórias no comportamento dos consumidores, que muitas vezes já estão endividados e estão sendo cada vez mais pressionados frente a taxa de juros em patamar restritivo.

Resultados dos PMIs apontam para a manutenção do processo de desaceleração da atividade no último trimestre do ano

O PMI da indústria recuou de 50,8 para 44,3 em novembro, com a produção entrando em território contracionista pela primeira vez nos últimos 9 meses. A principal novidade da pesquisa foi a forte queda dos novos pedidos domésticos diante do impacto do aumento da incerteza sobre a demanda. Além disso, a demanda externa permanece bastante reprimida, com as exportações atingindo seu menor valor dos últimos 30 meses.

Já o PMI de serviços desacelerou de 54,0 para 51,6, mas segue acima do patamar neutro (50) e da média histórica. Segundo as prestadoras de serviço, diferentemente do que ocorreu com a indústria, o maior pessimismo não impactou de forma muito significativa o comportamento dos consumidores. Por fim, o ponto mais positivo observado em ambas as pesquisas, é de que há uma percepção de melhora substancial das cadeias de suprimento, o que deverá contribuir para a manutenção do processo deflacionário em curso e, portanto, ajudar a sustentar a atividade econômica no curto prazo.


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