Macroeconomia


Análise | Atividade | Nov22

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Vitor Martins Carvalho

Publicado 12/jan7 min de leitura

Atividade fica estável em novembro

Em novembro, estimamos que a atividade tenha tido variação de -0,1% em relação a outubro e 2,4% na comparação anual. O varejo foi destaque negativo no mês, com recuo de 0,6% em novembro enquanto a indústria variou -0,1%, ambos sentindo o impacto da política monetária mais restritiva, que afeta o crédito e a confiança do consumidor. O setor de serviços ficou estável pelo segundo mês, mas acumula crescimento de 8,5% no ano, sendo o principal destaque da alta da atividade em 2023.

Produção industrial se mantém estável em novembro

Variação de -0,1% veio em linha com a expectativa do mercado. Com resultado, a indústria acumulou perda de 1,1% até novembro de 2022 e deverá finalizar o ano em trajetória de queda. Em relação a novembro de 2021, a indústria cresceu 0,9%. Esse crescimento, no entanto, é majoritariamente explicado pela base de comparação deprimida. Cabe relembrar que em novembro de 2021, devido à elevada inflação de bens industriais e à escassez de insumos causadas pela disfunção das cadeias de suprimento, a indústria havia recuado 4,4%.

Apenas 9 dos 26 ramos que compõem a indústria apresentaram queda no mês. Esse fato indica que o fôlego da indústria observado no mês é justificado pela performance negativa de alguns dos setores chaves. A produção pela indústria extrativa (-1,5%) finalmente voltou ao campo negativo, refletindo a desaceleração da demanda externa, que deverá se exacerbar nos próximos meses com o enfraquecimento da atividade chinesa. Já a forte queda na produção de equipamentos de informática e produtos eletrônicos (-6,5%), está mais associada ao mercado doméstico, cuja demanda tem sido impactada pela elevada taxa de juros e contração no crédito.

Produção de bens de consumo, em especial de bens duráveis desacelera em novembro

Nos últimos meses, as a venda de produtos pertencente a essa categoria foi bastante impactada pelo aperto monetário em curso, que restringe a capacidade financiamento por parte dos consumidores.

Na ponta contrária, produção de bens de capital e de bens intermediários apresentou alta de 0,4% e 0,8% respectivamente. Esses são os únicos setores que se encontram acima do patamar pré-pandemia, o que corrobora a maior participação do investimento na economia: na última leitura do PIB, a taxa de investimento alcançou 19,6%, maior valor desde o terceiro trimestre de 2014.

Vendas no varejo recua 0,6% em novembro e surpreende negativamente

Mercado contava com queda de apenas 0,3%. Com resultado, varejo interrompeu tendência de crescimento iniciada em julho de 2022. Na comparação anual, devido à fraca performance no final de 2021 e à forte redução do preço do combustível observada no último ano, o varejo cresceu 1,5%, abaixo da expectativa de crescimento de 1,9%.

Já em sua versão ampliada, o varejo também recuou 0,6%, mas na comparação com novembro de 2021 apresentou uma queda significativa: -1,5%. A diferença entre essas duas leituras é explicada pela fraca venda de materiais para construção (-10,9%) e de veículos (-5,5%), setores que têm sido bastante afetados pela desaceleração do crédito e pelo aumento do endividamento das famílias.

6 das 8 atividades que compõem o varejo recuaram em novembro

Após vários meses sendo beneficiados pela queda nos preços, combustíveis e lubrificantes apresentou inflação positiva no mês, o que contribuiu para forte redução das vendas desses itens (-5,4%). Em seguida, devido à um desempenho aquém do esperado para a Black Friday, equipamento e material para escritório, informática e comunicação recuou 3,4%. Por fim, após ter apresentado crescimento ao longo da maioria dos meses em 2022, vendas por supermercados (-0,2%) ficou estagnada pelo segundo mês consecutivo, refletindo a interrupção dos aumentos no valor do Auxílio Brasil entre outubro e novembro.

Na ponta contrária, apesar terem registrado aumento de preços expressivos, artigos farmacêuticos (+1,7%) e móveis e eletrodomésticos (+2,2%) foram os únicos segmentos que apresentaram variação positiva, refletindo a maior inelasticidade da demanda para esses produtos.

Setor de serviços fica estagnado pelo segundo mês seguido

Resultado veio um pouco abaixo da expectativa do mercado, que contava com variação de 0,2%. Na comparação anual, apesar de permanecer positivo, o resultado passou de 9,7% em outubro para 6,3% em novembro, indicando uma significativa desaceleração no setor. No entanto, tal estabilização era esperada para o final do ano, tendo em vista o rápido crescimento observado ao longo do segundo e do terceiro trimestres, período em que a economia ainda passava por um processo de reabertura e as políticas fiscais expansionista pré-eleição tiveram um impacto relevante sobre o consumo.

Desempenho de informação e comunicação (-0,7%) foi destaque negativo

Esse segmento acumulou alta de 5,1% no período entre julho e outubro e se encontra 17,3% acima do patamar pré-pandemia, sendo o principal responsável pela performance do setor nos últimos dois anos. Serviços prestados às famílias recuou 0,7% e mostra dificuldade de recuperar perdas associadas à pandemia. Apesar de ter apresentado um crescimento expressivo em 2022 (7,9%), esse é o único segmento dentro de serviços cujo volume de vendas ainda se encontra abaixo do que estava em fevereiro de 2020, e resultados dos últimos dois meses sinalizam que a atual renda disponível por parte das famílias não tem sido suficiente para sustentar a retomada do setor.

Na ponta contrária, transportes (+0,3%) exerceu a principal contribuição positiva em novembro, interrompendo tendência de queda. Nos dois meses anteriores, segmento havia acumulado perda de 2,0%. O resultado de novembro é consequência principalmente do comportamento de transportes aéreos, o que reflete o arrefecimento da inflação de passagens. Por fim, serviços profissionais e administrativos variou 0,2%, recuperando parcialmente perda de 0,9% do mês anterior.

Indicadores antecedentes

Aumento de incerteza acerca das políticas econômicas a serem implementadas em 2023 prejudicam confiança dos empresários. A sondagem da FGV mostrou que a confiança empresarial caiu para o 90,7, o menor patamar desde abril de 2021. A demanda por serviços apresentou claros sinais de desaceleração no final do ano, o que corrobora o cenário de desaceleração generalizada da economia na medida em que esse foi o setor responsável pelo crescimento do PIB no terceiro trimestre. Além disso, a indústria e o comércio permaneceram bastante pessimistas, indicando estarem mais preocupadas com o impacto da taxa de juros que pode ficar elevada por um período mais prolongado, reflexo das incertezas sobre o resultado fiscal.

Resultados dos PMIs apontam para a manutenção do processo de desaceleração da atividade no último trimestre do ano

O PMI da indústria se manteve em território significativamente contracionista (44,2). A forte redução no ritmo de novas ordens está associada ao elevado nível de cancelamento e congelamento de contratos com fornecedores, indicando que muitas firmas estão preocupadas com o nível de estoque e optaram em adiar investimentos. Para serviços, apesar de as prestadoras registrarem deterioração da demanda atual e no ritmo de novas ordens, a manutenção do otimismo para o médio e longo prazo contribuiu para que PMI permanecesse em território expansionista (51,0). Pelo lado positivo, ambas as pesquisas mostraram melhoria das cadeias de suprimento, na medida que os índices subjacentes ao tempo de delivery e aos atrasos apresentaram queda, o que contribuiu para redução da inflação associada ao custo dos insumos no mês.


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