Macroeconomia


Análise | Atividade | Junho 2025

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André Valério

Publicado 14/ago2 min de leitura

Atividade mais fraca em junho

Dos três setores pesquisados pelo IBGE, apenas varejo teve desempenho negativo. Entretanto, o que se nota é um enfraquecimento da atividade econômica, com os setores com desempenho positivo mascarando fragilidades, com a tendência de acomodação da atividade permanecendo. De toda forma, ainda se nota a atividade mantendo crescimento robusto, mas com sinais de fragilidade na margem para diversos segmentos da economia, particularmente os sensíveis a crédito, como veículos.

Os dados de momento sugerem que o 2º trimestre deverá ser de crescimento menor. O varejo acumula queda no 2º trimestre em conjunto com estabilidade da indústria e expansão amena nos serviços. No outro lado, a performance robusta da agropecuária deve amortecer o resultado do PIB no 2T25, embora numa magnitude bem menor do que foi observada no 1T por conta da supersafra.

Para os próximos meses esperamos a continuidade dessa tendência de acomodação. O aperto monetário empreendido pelo Copom já começa a ser transmitido para atividade real e deve começar a pesar de maneira mais significativa ao fim do 3º trimestre. Com as tarifas de 50% exercidas pelos EUA já em vigor, devemos observar alguns impactos nas exportações e na atividade industrial, embora o pacote de medidas de apoio às empresas afetadas que foi anunciado pelo governo deva compensar parte destes efeitos, ao custo de impacto fiscal e distorção creditícia, ainda que não possuam grande magnitude.

Produção industrial abaixo do esperado

Produção industrial avançou na margem em junho, em 0,1%, abaixo do esperado pelo mercado. Frente a junho de 2024 houve queda de 1,3% na produção, enquanto o acumulado no ano alcança 1,2% e nos últimos 12 meses 2,4%.

O avanço no mês foi disseminado entre 17 dos 25 ramos industriais pesquisados, com destaque para a produção de veículos, que avançou 2,4%. Na ponta negativa, o destaque foi o recuo de 1,9% nas indústrias extrativas e de 2,3% nos combustíveis e de 1,9% de produtos alimentícios, três dos ramos com maior peso sobre o índice, limitando a taxa de crescimento no mês.

Dentre as grandes categorias econômicas destacamos o avanço de 1,2% dos bens de capital, recompondo, parcialmente, a queda de 1,6% observado em maio. Entretanto, o setor continua em tendência de queda no acumulado em 12 meses, acumulando ganhos de 7%, menor valor desde novembro de 2024.

De modo geral, o resultado reafirma a tendência de desaceleração do setor industrial, que deverá ter contribuição quase nula para o PIB do 2º trimestre. De acordo com a PIM, o crescimento do setor no segundo trimestre foi de apenas 0,07%. Para os próximos meses, esperamos continuidade da atual tendência, reforçada pelos indicadores antecedentes. Mesmo com o recuo parcial das tarifas americanas, o setor ainda deverá ser o principal afetado, dado que carnes e café ainda estão sujeitos à tarifa de 50% a entrar em vigor no próximo dia 7.

Varejo surpreende negativamente

O volume de vendas no varejo restrito registrou queda de 0,1% em junho enquanto o varejo ampliado, que abrange veículos e materiais de construção, registrou queda de 2,5%, ambos ajustados sazonalmente. O resultado veio bem abaixo das expectativas e a contração ocorreu na maioria das categorias da pesquisa, com os principais impactos negativos ocorrendo nas vendas para supermercados, farmacêuticos, veículos e construção.

Os dados de junho consolidam a tendência de desaceleração mais ampla na atividade econômica, com o volume acumulado em 12 meses tendo alta de apenas 2% contra os 3,7% registrados no fim do ano passado, e demonstram a chegada das defasagens da política monetária restritiva na atividade econômica por meio do canal de crédito, particularmente no segmento de financiamento veicular como visto nas últimas leituras de concessão de crédito.

Com o varejo ampliado registrando queda de 1,67% no 2° trimestre frente o 1T25 e uma produção industrial estável com variação de apenas 0,07% no mesmo período de referência, o PIB do segundo trimestre deverá ser mais fraco do que o primeiro, e embora o mercado de trabalho ainda robusto com expansão firme da massa salarial real sinalize que a desaceleração na economia não seja brusca, as portas ficam abertas para um segundo semestre ainda mais fraco, com a possibilidade de uma recessão técnica no PIB.

Volume de serviços avança em junho

Em junho, o volume de serviços avançou 0,3% frente a maio, acima da expectativa que era uma estabilidade no mês. Com isso, o setor se encontra 18,0% acima do nível pré-pandemia e renova o ponto mais alto da série histórica. Em comparação com junho de 2024, o setor avançou 2,8%, acumulando crescimento de 2,5% no ano e de 3% nos últimos 12 meses.

Apesar do avanço no mês, apenas o grupo de Transportes apresentou variação positiva, de 1,5%, devido à melhora no transporte rodoviário de cargas e aéreo de passageiros, puxando o resultado do setor como um todo. No geral, vemos um desempenho bem negativo. Serviços prestados às famílias recuou 1,4% no mês, terceiro mês consecutivo de queda, crescendo apenas 0,4% no 2º trimestre, sugerindo uma desaceleração na demanda por serviços. Além disso, serviços de informação e comunicação recuaram 0,2%, sugerindo também uma desaceleração pelo lado da oferta, mas com o setor ainda mantendo crescimento robusto no 2º trimestre.

De modo geral, o resultado sugere que o setor ainda mantém uma robustez em seu ritmo de crescimento, devendo ser o principal fator de crescimento no resultado do PIB do 2º trimestre, tendo acumulado alta de 1,1% no período, frente ao 1º trimestre. Entretanto, a direção apontada pelo desempenho na margem é de desaceleração nos próximos meses. O resultado agregado de junho esconde um desempenho fraco generalizado, sugerindo que as condições financeiras mais adversas impactam tanto a demanda quanto a oferta de serviços. Com os resultados de junho, esperamos um crescimento do PIB de 0,4% no 2º trimestre na comparação com o 1º trimestre e de -0,2% do IBC-Br em junho.


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