Setor de serviços foi o destaque em junho e deve puxar o crescimento do PIB
Industria e varejo tiveram novas quedas em junho, mas o setor de serviço continua se destacando. O varejo teve a maior queda no mês, 1,4%, e refletindo a política monetária mais restritiva, que impacta no crédito, principalmente na aquisição de bens duráveis, e a inflação mais alta no setor, reduzindo o poder de compra. O setor de serviços segue surpreendendo com crescimento acima do esperado e deve puxar para cima o crescimento do PIB no 2º trimestre, que estimamos em 0,8%.
Após 4 altas consecutivas, indústria recua 0,4% em junho
Resultado ficou um pouco abaixo da expectativa do mercado que esperava queda de 0,3%. A indústria ficou estável no segundo trimestre e acumula queda de 2,2% no semestre, principalmente devido à redução dos investimentos, o que reflete a deterioração das expectativas para o longo prazo nos últimos meses. O cenário externo de demanda em queda, principalmente da China, também contribui para a menor produção industrial nos últimos meses.
Na contramão da indústria em geral, a produção de bens de consumo duráveis acelerou 6,1% em junho. No trimestre, essa categoria também é o principal destaque positivo, apresentando crescimento de 2,8%, reflexo da elevação da normalização das cadeias de insumos.
Bens de capital apresentou a maior taxa negativa do mês. Após recuar 1,5%, a categoria acumula perda de 0,9% no segundo trimestre, e corrobora a expectativa de redução do investimento para a próxima divulgação do PIB. Produção de bens de consumo semi e não duráveis, apesar da queda no mês (-0,7%), registrou alta no segundo trimestre de 0,7%. Por fim, bens intermediários (-0,8%) manteve a tendência de queda e recuou pelo segundo mês consecutivo.
Varejo registra queda de 1,4% em junho
Resultado ficou abaixo da expectativa de retração de 1%. Além disso, a variação de maio foi revisada negativamente para -0,4%, e o resultado do trimestre foi uma queda acumulada de -1,2%, mas em cima de uma base forte, como pode-se confirmar pelo resultado anual, que apresentou alta de 3,6%. Em sua versão ampliada, o varejo caiu 2,3% em junho. A diferença para essa leitura é explicada pela queda da venda de veículos em 4,1% e material para construção de 1%.
A deterioração do varejo pode ser explicada pela inflação elevada, pelo aperto monetário em curso e pelo direcionamento de parte da demanda para serviços. O deflator do índice de varejo acumula alta de 11,9% nos 12 meses terminados em junho de 2022 ante 8,35% em junho de 2021 marcando um novo pico da inflação de bens. Apenas para automóveis novos e eletrodomésticos, itens cujas vendas sofreram de forma mais significativa, a inflação anual foi de 21% e 18% respectivamente. Além disso, a alta da Selic contribuiu para elevar o custo de financiamento dos bens, impactando a demanda dos consumidores.
Em relação a maio, sete das oito atividades do varejo apresentaram queda
Vestuário (-5,5%), após ter registrado aumento substanciais no volume de vendas nos últimos meses, voltou para patamar visto no final do primeiro trimestre. Ademais, a redução de vendas de veículos (-4,1%) de 4,5% no segundo trimestre findo em junho reflete a dificuldade dos consumidores em sustentar a demanda frente ao elevado nível de preços. Supermercados (-0,5%), que representa mais de 30% das vendas do varejo, apresentou uma queda marginal no trimestre de 0,3%. Móveis e eletrodomésticos (-0,8%), apesar de ter registrado uma recuperação nos primeiros meses do ano, reduziu 1,9% no segundo trimestre. Por fim, na ponta contrária, volume de vendas de artigos farmacêuticos (+1,3%) cresceu 6,3% no trimestre.
Volume de serviços avança 0,7% em junho
Resultado ficou acima das expectativas do mercado, que esperava alta de 0,4%. Em comparação ao mesmo mês do ano passado, o crescimento foi de 6,3%, e o volume de serviços cresceu 0,8% no segundo trimestre.
Crescimento serviços se manteve resiliente apesar da inflação elevada do setor. A diferença entre receita e volume de serviços atingiu 10% no acumulado dos últimos 12 meses em junho, puxada pela inflação de transportes (16%) e de serviços às famílias (8,2%). Apesar da retomada mobilidade desempenhar um papel fundamental, o aumento de vendas do setor em termos reais também pode ser explicado pela melhora do mercado de trabalho, que registrou o maior número de ocupados da série histórica no mês de junho, e pelo uso da poupança acumulada durante os períodos mais críticos da pandemia.
O avanço de serviços foi acompanhado por quatro das cinco atividades.
Transportes (+0,6%) apresentou segunda alta consecutiva, apesar de recuar 0,5% no trimestre. O resultado foi puxado por transporte de carga (+2,5%) que foi bastante beneficiado pelo crescimento do comércio eletrônico, e se encontra 29,4% acima de seu nível pré-pandemia. Serviços prestados às famílias (+0,8%) manteve tendência de crescimento com quarta alta consecutiva, no entanto, essa é a única atividade que compõe o índice de serviços cujo volume de vendas está abaixo do patamar pré-pandemia, o que significa que ainda há espaço para crescimento. As outras atividades que apresentaram aumento nas vendas foram administrativas (+0,7%) e outros serviços (+0,8%), ambas também encerram o trimestre com variação positiva.
Pelo lado negativo, informação e comunicação interrompeu sequências de altas com queda marginal de 0,2%. Nos últimos meses, no entanto, essa atividade vem atingindo recordes em vendas, e está 12,1% acima do registrado em fevereiro de 2020.
Expectativas para o 2º semestre
Após estimativa de crescimento do PIB de 0,8% no 2º trimestre, esperamos uma desaceleração da atividade no segundo semestre. Indicadores antecedentes de julho apontam desaceleração do crescimento da atividade, que deve seguir impactada pela política monetária extremamente contracionista e a desaceleração econômica externa.
Por outro lado, o forte crescimento do mercado de trabalho e a efetivação das transferências governamentais agendadas para início em agosto podem contribuir para sustentar a demanda agregada doméstica, ou pelo menos para reduzir a magnitude da desaceleração da atividade.
Exceto por serviços, os indicadores de confiança da FGV pelo lado da oferta reverteram otimismo dos últimos meses e tiveram queda. Esse resultado foi puxado principalmente pelo índice de expectativa, na medida em que os empresários assinalaram que esperam redução da demanda no curto e médio prazo. Pelo lado do consumidor, apesar das políticas públicas de estímulo recentemente adotadas, a confiança ficou estagnada abaixo de 80. Esse é um nível muito baixo, e é reflexo da deterioração das condições financeiras das famílias, impactada pelo ciclo de alta de juros e alta do endividamento
O PMI de julho ainda está em patamar expansionista tanto para indústria quanto para serviços
No caso da indústria, o PMI se manteve estável em 54. Já para serviços, houve desaceleração de 60,8 para 55,8, bem acima da média histórica de 49,8. Segundo as empresas que participaram da pesquisa, a demanda interna tem permanecido surpreendentemente robusta, mesmo frente ao repasse de preços. Além disso, as empresas de ambos os setores relataram desaceleração bastante expressiva no crescimento dos custos de produção, o que significa que a pressão altista nos preços gerada pelos repasses pode arrefecer nos próximos meses, contribuindo para manutenção do poder de compra dos consumidores.