Setor de serviços deve novamente puxar a atividade em julho
A indústria reverteu a queda do mês anterior, mas o setor de serviços ainda é o destaque de crescimento em julho. Por outro lado, o varejo decepcionou com queda nas vendas, impactado pelo efeito dos juros mais altos restringindo o crédito e também pela inflação reduzindo o poder de compra. Mas com o crescimento dos setores de serviços e da indústria, estimamos uma alta da atividade agregada em 0,3% em julho, o que deve contribuir para um resultado positivo do PIB no 3o trimestre.
Após apresentar queda no mês de anterior, indústria avança 0,6% em julho
Resultado veio em linha com a expectativa do mercado. A produção industrial recupera perdas vistas nesse ano, estando apenas 0,2% abaixo de patamar de dezembro de 2021. Com o impacto da alta inflação e do ciclo de aperto monetário, indústria retraiu 0,5% na comparação anual. Cabe destacar que, no período, a taxa Selic subiu 9 p.p., passando de 4,25% para 13,25%, enquanto a inflação, medida pela variação do IPCA, acumulou alta de 10%
Categorias mais sensíveis ao crédito e ao custo de financiamento foram as que registraram pior resultado no mês
Bens de consumo duráveis (-7,8%) foi o destaque negativo, revertendo a alta de 6% observada no mês anterior. Em seguida, bens de capital (-3,7%) apresentou a segunda queda consecutiva, e se encontra 5% abaixo de valor registrado em dezembro de 2021.
Bens de consumo semi e não duráveis e bens intermediários cresceram em julho, revertendo queda do mês anterior. Na análise por item, o que contribuiu para leitura positiva no mês foi principalmente a produção petroquímica, cuja demanda aumentou devido à queda no preço dos combustíveis.
Varejo registra queda de 0,8% e surpreende negativamente
Mercado contava com estabilidade do varejo no mês. No ano, a queda também surpreendeu, -5,2% vs. -3,5% esperado. Em sua versão ampliada, o varejo recua 0,7%, e apresenta uma queda significativa na comparação anual (-6,8%). A diferença entre essas leituras é explicada pela queda no volume de vendas de veículos (-2,7% no mês e -8,5% no ano) e material para construção (-2,0% no mês e -13,7% no ano).
Vendas de combustíveis e lubrificantes apresenta crescimento expressivo (12,2%) no mês, e corrobora o impacto da inflação na demanda. Após a implementação da redução do ICMS e o arrefecimento do preço do petróleo, esse item apresentou deflação de 14,2% no IPCA de julho. Esse fato torna explícito o quanto a elevada inflação vista nos últimos meses impactou negativamente o consumo e, por conseguinte, a atividade econômica.
Vendas em tecidos, vestuário e calçados apresentaram a maior contribuição negativa para o varejo.
Apesar de ser uma atividade bastante correlacionada com a mobilidade e a volta de serviços presenciais, as vendas desse setor recuaram 17,2% no mês e 16,2% no ano, o que indica possível alteração na preferência dos consumidores, que têm optado em direcionar sua renda extra para serviços. Além disso, segundo dados do Serasa, a quantidade de inadimplentes vêm crescendo de forma expressiva, alcançando 67,6 milhões de pessoas em julho, maior patamar desde 2016, o que evidência dificuldade de manter o consumo de bens não essenciais. Móveis e eletrodomésticos (-3,0%) constitui outra atividade que apresenta dificuldade de recuperar dos efeitos da pandemia no consumo, estando 17% abaixo de valor registrado em fevereiro de 2020.
Volume de serviços avança 1,1% em julho
Resultado ficou acima das expectativas do mercado, que apontava alta de 0,6%. Após terceira leitura positiva consecutiva, serviços se encontra 9% acima do patamar pré-pandemia e apenas 1,8% abaixo de seu nível mais alto, registrado em novembro de 2014. Na comparação com julho do ano passado, o crescimento do setor foi de 6,3%.
Desempenho de transportes foi o principal responsável pelo crescimento do setor e atinge ponto mais alto da série
Após variar 2,3%, a performance de transporte pode ser justificada principalmente pelo resultado de transporte de cargas, que tem se beneficiado do escoamento das surpreendentes safras de inverno e pelo crescimento do e-commerce. Transporte de passageiro, apesar de estar aquém do seu maior patamar na série histórica, permanece em trajetória ascendente desde o início do segundo trimestre, após o fim das restrições atreladas ao combate à variante omicrôn. Por fim, espera-se que a deflação dos preços associada a transportes observada nos últimos meses contribuirá para manutenção do crescimento dessa atividade.
Serviços prestados às famílias cresce pelo quinto mês consecutivo. Após variar 0,6% em julho, setor acumula alta de 8% nesse ano. Esse resultado pode ser justificado principalmente pela performance de serviços presenciais, como hotéis, restaurantes e turismo. Por fim, outro destaque positivo foi informação e comunicação, que reverteu baixa vista no mês anterior e avança 1,1%, impulsionada pelo crescimento da oferta e demanda de serviços on-line.
Na ponta contrária, outros serviços recuaram 4,2%. Essa categoria que é composta, entre outras atividades, por serviços atreladas ao setor financeiro e ao setor imobiliário, tem sido impactada pela mudança de comportamento das famílias, que deixaram de poupar na mesma intensidade vista no período mais crítico da pandemia e têm dado preferência para o consumo de bens e serviços
Indicadores antecedentes
Desaceleração da inflação tem contribuído para melhora da expectativa. Segundo as sondagens realizadas pela FGV, tanto a confiança do consumidor (+4,1 pontos) quanto a confiança empresarial (+2,2 pontos) avançaram em agosto, em consequência, principalmente, do impacto da redução dos preços para o índice de expectativa. Os resultados do IPCA de agosto e prévias para o IGP-M de setembro mostram que ainda deveremos ver queda nos índices de preços, o que poderá contribuir ainda mais para melhora do otimismo nos próximos meses.
Resultados dos PMIs mostram normalização da atividade, mas seguem em patamar expansionista. O PMI da indústria recuou de 54 para 51,9 em agosto, principalmente devido à variação no ritmo de produção de venda das empresas, que aumentou a sua menor taxa desde o início do ano, refletindo à redução da demanda externa. Já o PMI de serviços desacelerou de 55,8 para 53,9, mas segue bem acima do patamar neutro (50) e da média histórica. Segundo as prestadoras de serviço, apesar de normalização do ritmo de vendas, o sentimento permanece bastante otimista, e o índice atrelado à expectativa de longo prazo atingiu seu maior valor para série histórica.