Setor de serviços destoa e apresenta forte crescimento em dezembro
As atividades de serviços seguem liderando o crescimento da economia com alta de 3,1% em dezembro. Com esse resultado, o setor cresceu 8,3% em 2022, destoando da indústria e do varejo, que cresceram -0,7% e 1%, respectivamente, em 2022. Resultado de dezembro mostra a resiliência do setor de serviços em meio ao aperto monetário. Mudanças comportamentais pós-pandemia podem ser a explicação. De fato, o setor de serviços está 14,4% acima do nível de fevereiro de 2020, em patamar recorde na série histórica.
Produção industrial ficou estável em dezembro e fecha 2022 em queda de 0,7%
Variação veio em linha com a expectativa do mercado. Na comparação com dezembro de 2021, o indicador recuou 1,3%. Diante de uma taxa de juros em patamar bastante restritivo e desaceleração da demanda externa, o setor industrial brasileiro perdeu força a partir do segundo semestre do ano, e, após recuar 0,3% no terceiro trimestre, apresentou uma queda de 0,5% no quarto trimestre. Dessa forma, apesar de todas as políticas fiscais anticíclicas adotadas nos últimos dois anos, como o Auxílio- Brasil, a produção industrial ainda se encontra 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia.
Desaceleração da indústria atingiu todas as quatro grandes categorias econômicas. Em 2022, a queda mais intensa veio de bens de consumo duráveis (- 3,3%), seguido por bens intermediários (-0,7%) e por bens de capital (-0,5%), esses são os segmentos mais sensíveis às condições de financiamento e ao nível de endividamento das famílias, que subiu de forma expressiva no último ano. Na comparação trimestral, o quadro geral da indústria é bastante parecido, com produção de bens duráveis e intermediários registrando as maiores quedas, enquanto produção de bens de consumo semi e não duráveis apresentou leve alta.
Resultado corrobora expectativa de desaceleração do investimento no 4o trimestre. A redução de vendas de bens de capital na indústria somada à estagnação nas vendas de materiais de construção observada pela pesquisa mensal do comércio indica que, após três trimestres de crescimento consecutivos, deveremos observar uma variação negativa na conta investimento do PIB no último trimestre do ano.
Após queda de 2,6% em dezembro, varejo surpreende negativamente, mas fecha o ano com alta de 1,0%
Mercado esperava queda de apenas 0,8% no volume de vendas do varejo em dezembro. A variação de novembro também foi revisada de -0,4% para -0,6%. Assim, o resultado no trimestre foi de queda de 1,1%. Na leitura anual o resultado surpreendeu ainda mais (+0,4% vs. +2,7% esperado). O mercado contava com um crescimento maior devido à baixa base de comparação, dado que no último trimestre de 2021 o varejo havia sofrido perdas significativas.
Na versão ampliada, o resultado do varejo foi positivo no mês (+0,4%), mas negativo no trimestre (-0,6%). Para o acumulado de 2022, no entanto, o resultado foi muito inferior à versão restrita (-0,6%), o que é consequência da redução do volume de vendas de veículos (-1,7%) e de materiais para construção (- 8,7%).
Volume de vendas em sete das oito atividades que compõem o varejo apresentaram queda em dezembro. Destaque para o comportamento de combustíveis e lubrificantes (-1,6%), cujo crescimento expressivo observado ao longo de 2022 (+16,6%) mostrou sinais de normalização no quarto trimestre do ano, um processo que deverá se intensificar nos próximos meses caso haja reincorporação dos impostos sobre o consumo dos produtos que compõem esse segmento. Em seguida, vestuário (-6,1%) mostrou novamente queda no volume de vendas, refletindo o impacto do elevado nível de preços. Vale destacar, porém, que na leitura de janeiro do IPCA o grupo vestuário apresentou deflação. Essa tendência, caso se consolide, deverá contribuir para normalização da variação das vendas do setor.
Em 2022, o varejo foi fortemente impactado pela política monetária restritiva. Esse fato se torna claro ao notar que 3 das 4 atividades que apresentaram queda no volume de vendas no acumulado do ano são altamente sensíveis às condições de financiamento e de liquidez: material para construção (-8,7%), móveis e eletrodomésticos (-7,2%) e veículos (-1,6%). Por fim, vale ressaltar o comportamento de papelaria, que, apesar de apresentar crescimento de 15% após a retomada do ensino presencial, deverá retomar a sua tendência de longo prazo de redução de participação do setor no varejo, à medida que o uso de aparelhos eletrônicos e o processo de digitalização resultam na redução da demanda pelos principais itens que constituem esse segmento.
Volume de serviços surpreende e avança 3,1% no mês, batendo recorde para série histórica
Mercado contava com uma variação de apenas +1,3% em dezembro. A consolidação do processo de reabertura econômica em 2022 contribuiu para que o volume de vendas de serviço registrasse alta de 8,3% no acumulado do ano. Entretanto, os fatores por trás desse crescimento não se restringem apenas àqueles associados à mobilidade, tendo em vista que o volume de vendas do setor ultrapassou em 14,4% o patamar pré-pandemia. Acreditamos que a maior flexibilização no mercado de trabalho somada à mudança do comportamento dos consumidores, que têm direcionado uma parcela cada vez maior de sua renda para o consumo de serviços em vez de bens, explica grande parte desse comportamento.
Na série sem ajuste sazonal, o resultado em relação a dezembro de 2021 também surpreendeu (+6,0% vs. +4,0% esperado). Porém, na comparação trimestral, a desaceleração de serviços se torna evidente: no 4o trimestre o setor apresentou crescimento de apenas 1,0%, abaixo das variações do 3o, 2o e 1o trimestre de +2,9%, +2,1% e +1,6% respectivamente.
No ano, crescimento de serviços prestados às famílias e transporte são destaques. Essas atividades, que são as mais correlacionadas com a mobilidade urbana, registraram alta de 24% e 13,4% respectivamente. Com o esgotamento dos efeitos das políticas fiscais expansionistas, essa tendência de recuperação perdeu fôlego no último trimestre do ano, e o volume de vendas desses setores ficou estagnado. Vale ressaltar que serviços prestados às famílias se encontra 4,2% abaixo do patamar pré- pandemia, sendo a única categoria de serviços que não recuperou as perdas do período.
Por outro lado, volume de vendas de transportes se encontra 37,2% acima do volume visto em fevereiro de 2020, devido, principalmente, ao comportamento de transporte de cargas, que foi altamente beneficiado pela ascensão do e-commerce após o fechamento das lojas físicas, enquanto a recuperação de transporte de passageiro só foi plenamente consolidada em 2022, período em que apresentou crescimento de 30%.
Na ponta contrária, impactado pela redução da demanda por serviços financeiros e imobiliários, outros serviços foi a única categoria que compõe o setor que fechou 2022 em território negativo (-2,1%).
Indicadores antecedentes
Incerteza fiscal e perspectiva de manutenção da taxa de juros em um patamar restritivo por mais tempo contribuem para deterioração da confiança. Segundo as sondagens realizadas pela FGV para o mês de janeiro, a confiança dos empresários recuou 2,1 pontos. O maior pessimismo de serviços (-2,7 pontos) chama atenção, pois indica que o principal motor por trás do crescimento da atividade em 2022 pode estar perdendo força. Além disso, a perda de confiança dos empresários que atuam no comércio (- 4,4 p.) corrobora a desaceleração da demanda e reflete o elevado nível de endividamento das famílias, que apresentam cada vez mais dificuldade em sustentar o consumo apesar do arrefecimento da inflação que observado recentemente.
Resultados dos PMIs de janeiro mostram manutenção da tendência de desaceleração da atividade. Esse resultado fica mais evidente na média móvel trimestral dos indicadores. Para a indústria, a leitura passou de 46,4 em dezembro para 45,3 em janeiro, enquanto, para serviços, foi de 52,2 para 51,1. Os efeitos contracionistas da política monetária estão se tornando cada vez mais evidentes ao analisar a natureza dos principais empecilhos para o crescimento de acordo com os relatos das empresas. Tal fato indica que, mesmo caso o governo recorra a políticas fiscais expansionistas para sustentar a atividade, não deverá ser bem-sucedido, e a expectativa de estagnação da economia em 2023 permanece sendo o cenário mais provável.