Macroeconomia


Análise | Atividade | Ago22

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Vitor Martins Carvalho

Publicado 14/out8 min de leitura

O dinamismo do setor de serviços surpreendeu mais uma vez em agosto

As atividades de serviços seguem liderando o crescimento da economia. Em agosto, estimamos um crescimento da atividade de 0,2%, puxado pelo setor de serviços que teve um desempenho positivo de 0,7% no mês. Na comparação anual, o crescimento do setor é ainda mais surpreendente, com 8% de alta em relação ao ano anterior. Mesmo com a ligeira queda na indústria e varejo em agosto, estimamos que o PIB no trimestre cresça próximo de 0,6% em relação ao trimestre anterior.

Queda da indústria em agosto elimina avanço do mês anterior

Após alta de 0,6% em julho, a produção industrial recuou 0,6% em agosto, em linha com a expectativa. Com resultado, a produção industrial acumula perda de 0,5% no ano. Devido à baixa base de comparação, a produção industrial cresceu 2,8% no ano. Vale lembrar que, após 11 altas consecutivas, agosto do ano passado foi o mês em que a produção industrial começou a mostrar sinais de desaceleração, principalmente devido aos problemas de oferta de suprimentos.

Produção de 18 das 26 atividades apresentaram crescimento. Esse fato indica que a deterioração observada no mês é concentrada em alguns dos setores chaves, como coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,2%), produtos alimentícios (-2,6%) e indústria extrativa (-3,6%). A produção nesses segmentos estava em tendência de alta até o mês passado.

Bens duráveis e bens de capital avançaram em agosto, revertendo parcialmente quedas anteriores

Nos últimos meses, a produção dessas categorias foi impactada pelas condições de financiamento dos consumidores, que tem apresentado arrefecimento devido à alta taxa de juros e elevada inflação. Por outro lado, venda de bens de consumo e bens semi e não duráveis foram menos impactadas pelo atual cenário, apesar de terem apresentado uma correção no mês de agosto, com queda de 1% e 1,4% respectivamente.

Vendas no varejo recuam pelo terceiro mês consecutivo, em linha com as expectativas

Após queda de 0,1% em agosto, varejo já se encontra 2,5% abaixo do pico deste ano, registrado em maio. Na comparação anual, entretanto, devido à redução no ritmo de vendas observada a partir do terceiro trimestre de 2021 e à queda no preço dos combustíveis, o varejo cresceu 1,6%.

Na versão ampliada, a desaceleração do varejo em agosto foi mais significativa: -0,6% m/m e -0,7% a/a. A diferença entre essas leituras é justificada pela fraca venda de veículos que, apesar de recuperar parcialmente das perdas registradas nos meses anteriores, foi 4,1% menor do que o valor visto em agosto de 2021. A venda de materiais para construção também teve queda no mês (-0,8%) e está 7,1% abaixo do mesmo período do ano passado.

Venda de combustíveis e lubrificantes (+3,6%) é novamente destaque positivo em agosto

Beneficiado pela redução dos preços dos combustíveis, as vendas cresceram 21,9% no ano. Vestuário (+13%) também teve forte alta no mês, no entanto, tal alta representa apenas princípio de normalização das vendas, que haviam recuado quase 30% nos últimos dois meses, e ainda registra queda de 5,6% na comparação anual.

Na ponta contrária, as atividades equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-1,4%) e outros artigos de uso pessoal doméstico (-1,2%) foram os destaques negativos do mês. Já as vendas associadas ao principal item do varejo, hiper e supermercados (+0,2%), que representa cerca de 50% do índice, ficaram estáveis no mês.

Volume de serviços surpreende e avança 0,7% no mês

Resultado ficou acima das expectativas do mercado, que contava com alta marginal de 0,2% e ainda teve revisão de alta do crescimento anterior para 1,3%. Na comparação anual, o resultado foi ainda mais expressivo, com alta de 8,0% ante a expectativa de 6,8%. Essa foi a quarta leitura positiva consecutiva para o setor de serviços, que agora se encontra 10,1% acima do patamar pré-pandemia e apenas 0,8% abaixo de seu nível mais alto, registrado em novembro de 2014.

Crescimento é bastante disseminado entre as atividades que compõem o índice de serviços, corroborando a melhora estrutural do setor

O índice de difusão, que indica o percentual das atividades que apresentaram crescimento no mês, subiu para 72,7%, maior patamar desde fevereiro deste ano.

Após recuar 5% no mês anterior, o grupo “outros serviços” apresentou alta de 6,7% e foi destaque. O comportamento é explicado principalmente pela performance de serviços financeiros auxiliares e de serviços imobiliários. Em seguida, o crescimento de serviços prestados às famílias acelerou de 0,6% para 1,0% em agosto. Essa atividade apresentou crescimento de 22% apenas no último ano, o que confirma a manutenção da preferência do consumo por serviços por parte dos consumidores, mesmo após o efeito da reabertura da economia já estar próximo de ser esgotado. A última atividade que apresentou taxa positiva, informação e comunicação(+0,6%), está 57% acima do patamar pré-pandemia, e se mantém firme na forte tendência de alta iniciada há mais de dois anos.

Serviços de transporte ficou praticamente estável no mês (-0,2%). No entanto, na comparação anual, o crescimento desse grupo acelerou de 12,9% para 13,6%, por consequência de ambas as classes: transporte de passageiros (+37,6%) e transporte de carga (14,1%). Por fim, serviços profissionais, administrativos e complementares ficaram estáveis no mês, mas ainda crescem 7,3% na comparação anual.

Indicadores antecedentes

A desaceleração da inflação continua contribuindo para a melhora da expectativa. Segundo as sondagens realizadas pela FGV para o mês de setembro, a confiança dos empresários para situação atual atingiu seu maior patamar desde junho de 2013, em 102 pontos, refletindo melhores condições atreladas à redução do custo dos insumos e à demanda corrente dos consumidores.

Nesse sentido, assim como vimos para os resultados da atividade, o setor de serviços foi o destaque (+1,0 p.), apresentando a maior melhora do otimismo, com os prestadores de serviços destacando a expectativa de manutenção da forte demanda doméstica. Na ponta contrária, com a desaceleração da economia chinesa e, por conseguinte, recuo da demanda externa, a confiança da indústria (-0,8 p.) foi a única que deteriorou entre os setores que compõem a confiança empresarial.

A confiança do consumidor avançou pelo quarto mês consecutivo (+5,4 p.) e recupera patamar pré-pandemia. Esse resultado indica que os consumidores estão mais otimistas diante da desaceleração da inflação e a força do mercado de trabalho atual, o que deverá contribuir para sustentar a demanda agregada nos próximos meses.

Resultados dos PMIs mostram desaceleração da atividade, mas seguem em patamar expansionista

O PMI da indústria recuou de 51,9 para 51,1 em setembro, devido à variação no ritmo de produção de venda das empresas, refletindo a redução da demanda externa. Já o PMI de serviços desacelerou de 53,9 para 51,9, acima do patamar neutro (50) e próximo a média histórica. Segundo as prestadoras de serviço, apesar da normalização do ritmo de vendas, o sentimento permanece bastante otimista, e o índice atrelado à expectativa segue elevado.


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