Macroeconomia


Análise | Atividade | Abril 2025

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André Valério

Publicado 13/jun2 min de leitura

Atividade dá sinais de arrefecimento

Apesar de apenas o varejo ter tido variação negativa no mês de abril, os dados de atividade sugerem uma perda de dinamismo nos três setores. Mesmo as altas foram marginais, com um qualitativo mais fraco, indicando que a tendência é de desaceleração da economia.

Combinado com o dado benigno de inflação de maio, pode-se argumentar que o Copom não precisaria aumentar os juros na reunião na próxima semana. Por outro lado, os dados não foram assertivos o suficiente para tirar da mesa a possibilidade de alta, considerando a atual desancoragem das expectativa, e vamos para a reunião com um mercado dividido entre a pausa e uma nova alta de 25 pontos base.

Nossa visão permanece a de que a Selic já está em patamar suficientemente restritivo e uma nova alta não seria necessária, cabendo apenas ao Copom comunicar essa decisão de maneira a não levar a precificações de cortes prematuros, afim de garantir a plena convergência das expectativas de inflação à meta.

Produção industrial varia na margem

Em abril, a produção industrial ficou próxima à estabilidade, com alta de 0,1%. Em relação a abril de 2024, houve queda de 0,3%, a primeira queda em 10 meses. Com o resultado, o setor acumula altas de 1,4% e 2,4% no ano e no acumulado em 12 meses, respectivamente, indicando tendência de desaceleração nessas métricas.

A alta no mês foi fruto de avanço em 13 dos 25 ramos industriais pesquisados. Os destaques foram as altas de 1% e 3,6% nas indústrias extrativas e de bebidas, respectivamente, com a primeira acumulando expansão de 7,5% nos últimos 3 meses. Além disso, a produção de veículos com alta de 1% também teve contribuição relevante.

Na outra ponta, os principais impactos negativos vieram dos produtos derivados de petróleo e produtos químicos, que recuaram 2.5% e 8,5%, respectivamente. Destacamos a queda de 3,1% na indústria de celulose e produtos de papel, atividade tipicamente ligada ao ciclo econômico.  Entre as grandes categorias econômicas, houve alta em 3 dos 4 grupos, com destaque para bens de capital, +11,4% no mês, mais especificamente peças agrícolas, refletindo impactos da super safra do ano. Por outro lado, os bens de consumo semiduráveis e não duráveis recuaram 1,9%, sugerindo potencial de queda de demanda discricionária na economia brasileira.

O resultado de abril constitui em boa parte uma reversão da surpresa positiva do mês anterior que foi gerada pelos setores de petróleo e farmacêuticos. A tendência de desaceleração no acumulado de 12 meses permanece, particularmente para os segmentos de veículos e alimentos, consoante com dados recentes de crédito, indicando alta da inadimplência, e redução das concessões de financiamento como decorrência da política monetária restritiva. Ainda assim, o nível de atividade industrial pode ser considerado robusto e seu esfriamento vem ocorrendo de maneira lenta e um pouco ruidosa.

Serviços em linha com o esperado

Volume de serviços registrou alta de 0,2% em abril, em linha com o esperado. Frente a abril de 2024, o setor avançou 1,8% e acumula crescimento de 2,2% no ano e de 2,7% também indicando desaceleração.

No mês, apenas o setor de transportes apresentou variação positiva de 0,5%, puxado pelo transporte aéreo, que teve alta de 6,3%. O restante das atividades teve variação negativa, com destaque para as quedas de 0,1% dos serviços prestados às famílias e 0,5% nos serviços profissionais.

Mesmo com o crescimento, o resultado de abril indica um arrefecimento do setor na margem. O resultado foi amplamente influenciado pela atividade turística, que avançou 3,2% em abril, influenciado pelos feriados de Sexta-feira Santa e Tiradentes, um fator sazonal.

Vemos perda de dinamismo tanto pelo lado da demanda quanto pelo lado da oferta. No lado da demanda observou-se os serviços às famílias recuar tanto no quesito alimentação e acomodação quanto nos outros serviços prestados às famílias, que incluem atividades mais sensíveis à demanda discricionária. No lado da oferta, nota-se uma queda intensa de 1,3% nos serviços técnico-profissionais e uma queda na margem, de 0,3% no transporte de cargas.

Vendas no varejo contraem após 3 meses

Em abril, as vendas no comércio varejista recuaram 0,4%, em linha com o esperado. Na comparação com abril de 2024, o volume varejista avançou 4,8%, enquanto no acumulado em 12 meses o volume tem  alta de 3,4%. O recuo no mês foi influenciado pela queda de 0,8% nas vendas em supermercados, de 1,7% nas vendas de combustíveis, que são as duas atividades com maior peso no índice. Além delas, tivemos recuo também em móveis e eletrodomésticos e equipamentos para escritório. No lado das altas, vimos artigos pessoais avançarem 1% e vestuário avançar 0,6%, enquanto produtos farmacêuticos avançaram apenas 0,2%, desacelerando frente a alta de 1,1% de março.

O volume de vendas no varejo ampliado, que inclui veículos e materiais para construção, recuou 1,9% em abril, enquanto avançou 0,8% frente a abril de 2024. O resultado foi puxado pela queda de 2,2% nas vendas de veículos e peças automotivas, em clara tendência de desaceleração dada a menor disponibilidade de crédito.

O resultado sugere uma desaceleração generalizada do setor. Todas as atividades desaceleraram o ritmo frente a março, com exceção de móveis e eletrodomésticos, mas que ainda assim apresentou variação negativa. E os dados sugerem desaceleração tanto pelo motivo renda quanto pelo crédito, com o varejo sensível à renda recuando 0,4% e o sensível à crédito recuando 1,4% no mês, apresentando forte desaceleração no acumulado em 12 meses. Para os próximos meses, o desempenho do setor dependerá da manutenção do mercado de trabalho em patamar robusto, que tem dado sustentação à demanda. Por outro lado, as condições financeiras mais apertadas devem continuar a restringir o crédito, prejudicando a retomada do varejo ampliado.


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