O PIB do primeiro trimestre surpreendeu as expectativas do mercado e cresceu mais que o esperado. A variação de 1,9% no trimestre foi puxada pelo desempenho da agricultura, com a safra recorde colhida este ano. O PIB da agricultura, que cresceu 21% no período, puxou outros setores, como transportes, e a indústria extrativa também teve um desempenho positivo com o aumento da produção de óleo e gás e mineração. Por outro lado, setores mais afetados pela política monetária restritiva, como a indústria da transformação, a construção e serviços às famílias, tiveram desempenho negativo e podemos ver nova queda no restante do ano.
O crescimento do PIB concentrado em poucos setores ligados à exportação mostra que, pelo lado da demanda doméstica, o consumo foi mais fraco. O consumo das famílias cresceu apenas 0,2% no trimestre, a terceira desaceleração consecutiva da taxa que está bem abaixo da média do crescimento trimestral de 0,8% observada entre 2021 e 2022. Isso ocorre mesmo em um trimestre marcado por aumentos de transferência de renda do governo, na previdência e no bolsa família, juntamente com a desaceleração da inflação. O investimento também teve queda pelo segundo trimestre consecutivo, refletindo o impacto da elevação dos juros e da maior incerteza no cenário. Pelo lado da demanda, o crescimento do PIB se deu praticamente pelo melhor resultado do comércio internacional, devido à maior queda nas importações.
Podemos ficar otimistas com o desempenho da economia? O crescimento ainda que setorial pode ser sim algo a se comemorar, mas para o restante do ano, devemos ver a demanda ainda fraca, resultado da maior restrição do crédito, devido à alta taxa de juros, que impacta tanto o consumo das famílias como os investimentos. Projetamos um elevação do PIB de 2% para o ano, mas é praticamente resultado já realizado e o crescimento marginal nos próximos trimestres deve ficar próximo de 0 ou até negativo.
O PIB deflacionário ajudou a reverter o cenário de juros e intensificaram as apostas de cortes na Selic no segundo semestre. A desaceleração do consumo mostrou o efeito da política monetária restritiva e reforçou as projeções de queda da inflação para o restante do ano. Esse cenário deve permitir o início do corte de juros já no segundo semestre, de maneira mais acelerada que se esperava anteriormente e assim poderemos ver a retomada do crescimento a partir de 2024. A curva de juros projeta Selic em 11,75% no fim de 2023 e 9,25% em 2024. Os juros reais também caíram com a percepção de menor risco e a taxa de 10 anos voltou para 5,5% a menor taxa desde dezembro de 2021.
O crescimento potencial no Brasil pode ser maior que as estimativas anteriores. O desempenho recente da economia brasileira mostra que o PIB potencial pode ser maior que o que se esperava anteriormente, o que leva, pelo terceiro ano consecutivo, a revisões de alta nas projeções do ano. A subestimação do crescimento econômico no Brasil pode ser efeito das reformas nos últimos anos, como a trabalhista, os marcos regulatórios e o teto de gastos que, apesar dos furos, permitiu o controle do crescimento dos gastos fiscais e resultou na estabilização da dívida entre 2017 e 2023. O novo arcabouço fiscal, se executado como previsto, pode trazer de volta uma maior previsibilidade das contas públicas, permitir juros menores e com isso, maior crescimento. No entanto, para além dos juros, avançar com a reforma tributária também pode trazer significativo ganhos de produtividade e permitir que o Brasil cresça a taxas maiores que o observado nas últimas décadas.