O “rei Midas” da bolsa
Após os últimos resultados, atualizamos nossas premissas e preço-alvo para a Vivara. Incorporando as novas perspectivas para o cenário doméstico e considerando o horizonte para final de 2022 (YE22), mantemos nossa recomendação de compra em Vivara (VIVA3) com preço-alvo/ação de R$ 31 (R$ 34 anteriormente).
Desde os princípios da humanidade, joias são símbolos carregados de significados. Alguns a utilizam para proteção, outros para destacar sua posição social, temos ainda os que as exibem para representar crenças ou grupos, etc. Com propósitos diversos, mas com um objetivo em comum, as peças são carregadas de apelo afetivo e, geralmente, ligadas a ocasiões especiais.
Inclusive, muitas dessas datas comemorativas foram “adiadas” em 2020 com o desabrochar da pandemia. O número de casamentos, por exemplo, passou pela maior queda desde a década de 70. As orientações sanitárias de distanciamento social fizeram com que muitos noivos resolvessem adiar a realização das cerimônias. Outro evento importante para as joalherias é o nascimento de bebês. É usual que crianças e mães recebam mimos com o acontecimento. Porém, em 2020, o número de nascimentos também teve trajetória descendente, parte motivada pela insegurança sanitária relacionada à Covid.
Acreditamos que a volta à normalidade, com o fim da pandemia, tenha retomado os planos de matrimônio e maternidade. Essa demanda reprimida compensa em algum grau o cenário macroeconômico adverso. No entanto, mais um componente pesa a favor das joalherias: o fato das famílias com maior renda, justamente o maior público dessas empresas, serem as menos afetadas nessa conjuntura econômica.
Dito isso, destacamos que a Vivara é maior rede de joalherias do Brasil e, mesmo com a pandemia, vem apresentando resultados sólidos nos últimos trimestres. O plano de expansão orgânica, além do aumento do mix de produtos vem contribuindo para o ganho de fatia de mercado, tanto no online quanto nas lojas físicas. Para efeito de comparação, o market share do e-commerce é algo próximo a 50% e o das lojas físicas supera os 15%.
Outro ponto positivo é a operação ser verticalizada, ou seja, não apenas comercializa, mas fabrica as joias. Atualmente, cerca de 80% da produção é própria, fator importante, em nossa opinião, uma vez que a Companhia consegue gerir melhor os insumos (ouro, prata, pedras preciosas) e atuar na eficiência do mix de produtos.
Aliás, falar sobre insumos aqui é imprescindível. Desde 2020, as pedras e metais preciosos enfrentam disparada de preços. No entanto, a Vivara possui mais resiliência frente aos peers dada sua capacidade produtiva. Como possui estoque de insumos elevado, o grupo se dá ao luxo de realizar compras oportunísticas, abaixando o custo médio de estoque em um momento onde as concorrentes sofrem com o repasse de preços. Além disso, a Vivara pode derreter as peças de menor aceitação, refazendo-as de acordo com às tendências da moda.
Sobre o plano de expansão da Companhia, acreditamos na força da marca. O mercado brasileiro é fragmentado, com inúmeros concorrentes informais e poucas joalherias com escala. Nesse cenário, a presença de Vivara é soberana frente aos pares, alcançado quase um triplo de lojas a mais sobre a segunda maior joalheria. Com presença em mais de um terço dos shoppings, a Companhia se aproveitou da pandemia para se reposicionar melhor dentro dos pisos. A troca por espaços mais bem localizados, e/ou maiores, ainda não capturou todo o potencial de crescimento de receita, em nossa visão.
A Vivara poderia se aproveitar ainda de um crescimento inorgânico. O cenário mais desafiador para as concorrentes pode enfraquecê-las perante a Companhia. Com isso, a empresa poderia atuar com estratégias de M&A, buscando tanto um posicionamento de alto luxo, quanto um mais popular. Embora, reconheçamos essa possibilidade, hoje ela não es’t’á incorporada em nossos modelos. Portanto, um movimento nesse sentindo exigiria uma revisão de case, com possibilidade de valorização extra.
Por outro lado, apesar de resiliente, o cenário macroeconômico adverso é um vento contra a Companhia. O fato de sofrer menos que as concorrentes, por todos os motivos citados, não exclui a dificuldade de se gerir uma empresa de consumo discricionário nesse momento. Com isso, uma piora nos dados econômicos podem enfraquecer as margens e a capacidade de faturamento. Ademais, a pressão inflacionária nos aluguéis e despesas com pessoal também podem impactar a capacidade de expansão de Vivara.
Resultado 1T22
A Vivara divulgou ótimo resultado no trimestre, impulsionada pela forte recuperação de vendas. A Companhia apresentou forte aceleração nas vendas em mesmas lojas SSS (+41,7% a/a), graças ao excelente mix de produtos, aproveitando outros metais e, principalmente, ao desempenho da Life. A Vivara segue se consolidando, sem rivais à altura, no mercado de joias brasileiro e isso culmina em resiliência aos resultados da Companhia mesmo em cenário macroeconômico adverso.
No 1T22, a receita bruta, líquida de devoluções, atingiu R$ 410,8 mm (+50,3% a/a). O canal físico contribuiu com R$ 356,0 mm (+67,1% a/a), aproveitando os efeitos de uma base comparativa fraca no último ano, além da expansão da rede de lojas. As vendas digitais mantiveram a penetração acima dos níveis pré-pandemia, porém com uma queda marginal em relação ao último ano. No 1T22, as vendas digitais foram responsáveis por 12,5% da receita total, chegando a R$ 51,6 mm (-10,9% a/a). A margem bruta do trimestre atingiu 67,6% (+2,1 p.p. a/a), alinhada aos patamares saudáveis de rentabilidade da Companhia, sobretudo se considerarmos o contexto de valorização das pedras e metais preciosos nos últimos dois anos. Em nossa visão, a eficiência em custos é reflexo de um excelente mix de produtos, aliado à adequação de estoques entre as categorias. Esse impulso pode ser obtido graças a produção interna e de alto volume, fator que a difere entre os peers.
No 1T22, as despesas operacionais totalizaram R$ 156,1 mm (+32,9% a/a), o equivalente a 46,3% da receita líquida, (+7,7 p.p. a/a). O aumento nominal das despesas se deu, principalmente, pela maior alavancagem operacional e efeitos inflacionários, mas a retomada do faturamento mais do que compensou, diminuindo a diluição. Como consequência do bom ritmo de vendas, a Companhia registrou R$ 51,2 mm de EBITDA Ajustado (+388,3% a/a) e margem de 15,2% (+10,4 p.p. a/a). Em nossa visão, o desempenho tem sido bom no controle de custos e despesas, sobretudo se levarmos em conta a valorização dos aluguéis e despesas com pessoal no último ano.
A Vivara consumiu R$ 68,8 mm de caixa livre no 1T22, revertendo a geração de R$ 3,0 mm ante o ano passado. Fato explicado pela retomada da operação (e consequente aumento da alocação em capital de giro), além da retomada do plano de expansão orgânico da Companhia. O índice de dívida líquida/ EBITDA ajustado dos últimos doze meses foi de -0,9x e reflete a boa saúde financeira da Vivara no momento.
Avanços em ESG
A Companhia possui 87% de colaboradoras e líderes do sexo feminino, sendo contemplada com o Selo Women on Board (WOB), que reconhece a existência de ambientes corporativos com a presença de pelo menos duas mulheres em conselhos administrativos ou conselhos consultivos para valorizar a diversidade nos negócios e na sociedade. A Vivara pretende evoluir na agenda ESG, aplicando e publicando suas metas nos próximos meses.
Valuation
Em nosso modelo de Vivara, utilizamos o método do fluxo de caixa descontado de dez anos, com crescimento na perpetuidade nominal de 5% e taxa de desconto (WACC) de 12,4%. Consideramos um CAGR de receita nominal de 11% entre 2022-2032.