Via de mão dupla
Após os últimos resultados, atualizamos nossas premissas e preço- alvo para o Via. Incorporando as novas perspectivas para o cenário doméstico e considerando o horizonte para final de 2022 (YE22), alteramos nossa recomendação para neutra em Via (VIIA3) com preço- alvo/ação de R$ 4 (R$ 7 anteriormente).
Em 2020, com a adoção do home office, as pessoas sentiram necessidade de equiparem seus lares com artigos que trouxessem mais praticidade, conforto e qualidade de vida, enquanto alternavam a vida laboral com o convívio familiar. Os recursos outrora destinados a serviços e consumo discricionário, foram boa parte alocados em móveis e eletrodomésticos. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio realizada pelo IBGE, as atividades relacionadas a móveis e eletrodomésticos cresceram 11,9% e 10%, respectivamente.
Passado o período mais turbulento da pandemia e com a retomada do fluxo de pessoas, já conseguimos observar uma volta à normalidade do trabalho presencial. Aliado a isso, reforçamos a característica intrínseca dos móveis, linha branca e eletrônicos: bens duráveis. Ou seja, seu ciclo de vida e uso é maior e dispensa reposição regular. Então, devido ao fato das pessoas já terem consumido essas categorias de produtos nos últimos meses, acreditamos que os recursos, a curto prazo, serão direcionados ao setor de serviços e mais ligados à vida social. Por último, e possivelmente mais importante, não devemos desconsiderar o efeito da inflação na renda real da população nesse momento. O aumento generalizado de preços limita as escolhas ao essencial.
Cientes disso, as Companhias de e-commerce já se movimentam em busca de outras formas de receita. Nos últimos meses acompanhamos as operações de consolidação, como forma de ampliar o sortimento de produtos e categorias na busca de um marketplace completo e que fidelize o cliente.
Ao focar no cliente como “centro do negócio”, a Via visa alargar sua base de clientes, incrementar sua fidelização com menor custo e na melhor experiência dos usuários. Dessa forma acompanhamos as parcerias dentro do nicho de e-sports para atração de público-alvo, além do programa de fidelidade VIP Casas Bahia, com benefícios mensais e sem assinatura.
A Via também procura integrar ainda mais seus canais online e físico. O guidance de abertura de novas lojas está correlacionado com o mapeamento estratégico da Companhia de criar novos hubs logísticos capazes de atender as demandas online. Com isso, a omnicanalidade e velocidade de entrega seguem como pilares. Por último, destacamos as soluções financeiras. Seguindo a tendência dos concorrentes, a Via também visa fontes alternativas de receita vinculadas as atividades financeiras. A banQi já possui licença do Bacen para ofertar crediário aos clientes, além das operações de empréstimo e financiamento aos parceiros do marketplace.
Porém, nos últimos doze meses as ações da Via acumulam queda de 78%. Acreditamos que o racional também está relacionado com o ceticismo do mercado sobre a capacidade da Companhia em manter seu share e rentabilidade em um ambiente altamente competitivo entre os players. Aliado a isso, enxergamos um cenário desafiador em 2022 com: (i)aumento da inflação; (ii) elevação da taxa de juros; (iii) desemprego elevado e; (iv) ano eleitoral. Dessa forma, essa dinâmica de curto prazo não é favorável à confiança do consumidor. Nesse momento acreditamos que o foco das pessoas está no consumo não discricionário (alimentos) e no discricionário de alta renda.
Apesar disso, reconhecemos que a Via negocia muito abaixo de seu valor justo. A empresa, líder absoluta do canal físico, adota uma estratégia diferente dos peers, mas igualmente interessante. Nossa recomendação neutra visa proteger o investidor até que a conjuntura atual dê sinais de inflexão. A falta de interesse para as empresas mais dependentes da venda de linha branca, eletrônicos e móveis impedem o trigger de valorização.
Resultado 1T22
A Via divulgou resultados mistos no trimestre, mas em trajetória evolutiva. Destacamos primeiramente que o crescimento do GMV não foi capaz de se traduzir em ganhos de receita. O canal online obteve crescimento, mas dado a evolução do número de sellers e demais iniciativas, acreditamos que o resultado deveria ter sido melhor. O canal de lojas físicas continua demonstrando dificuldades para performar, muito motivado pelo cenário macroeconômico adverso, que corrói a renda da população. Por outro lado, o controle das despesas operacionais e o ganho de produtividade surpreenderam. Mesmo em cenário inflacionário, a Via conseguiu gerir com excelência os dispêndios. Acreditamos que a Companhia fez uma série de alterações importantes nos últimos meses, mas que ainda não foram capazes de escalonar receitas e margens. Destacamos também que a competição entre os peers está longe do fim. Nesse caso, a Via precisa demonstrar eficiência com mais intensidade nos próximos resultados, sobretudo no canal físico, onde tem mais representatividade.
No 1T22, a Via divulgou receita bruta consolidada de R$ 8,7 bi (-1,0% a/a) com leve recuo frente a mesma base no ano passado. Entre os canais, houve retração na receita bruta de lojas físicas que totalizou R$ 5,0 bi (-3,5% a/a), entretanto parte foi compensada no canal online, que houve evolução da receita chegando a R$ 3,6 bi (+2,8% a/a). Apesar do crescimento do GMV e dos números reportados virem em linha com as nossas expectativas, julgamos a evolução de receita como fraca. Embora parte do 1T22 tenha sido impactado por aumentos de casos de Covid, na mesma base do ano passado o cenário era pior. Além disso, pela expressiva evolução do número de sellers no GMV 3P, o resultado deveria ter sido mais significativo no online. Com relação a margem bruta, no 1T22 foi registrado 31,2% (-0,2 p.p. a/a) em linha com o último ano. Essa estabilidade é considerada positiva, fruto do controle de estoques e de negociações comerciais.
As despesas operacionais sofreram um impacto de R$ 1,6 bi (-9,9% a/a) no 1T22. No efeito diluição, as despesas totalizaram 22,5% (-2,0 p.p. a/a) da receitalíquida, reflexo do aumento de produtividade dado os ajustes com pessoal. Com isso, o EBITDA ajustado seguiu a mesma linha, encerrando o trimestre com R$ 758 mm (+29,8% a/a). Já a margem do EBITDA ajustado atingiu 10,2% (+2,5 p.p. a/a). Em nossa visão, o destaque do resultado fica nessa linha. A eficiência operacional atingida no trimestre foi acima do consenso de mercado e das nossas expectativas.
A Via gerou R$ 508 mm nas atividades operacionais do 1T22, revertendo um consumo de R$ 1 bi em relação a mesma base no ano passado. Contudo, os investimentos em expansão/reformas e as atividades de financiamento compensaram a receita gerada no core business. Com isso, o consumo de caixa foi de R$ 495 mm no 1T22, frente ao dispêndio de R$ 1,5 bi no 1T21. O indicador de alavancagem financeira, medido pelo caixa líquido/EBITDA ajustado dos últimos 12 meses ficou em 0,4x deixando a Companhia em situação confortável no momento.
Avanços em ESG
Os principais destaque da agenda ESG no trimestre foram: (i) integração a Rede Brasil do Pacto Global, que engaja empresas aos objetivos do desenvolvimentosustentável e; (ii) eleição da primeira mulher a ocupar o Conselho de Administração da Via desde que virou uma Companhia sem controlador.
Valuation
Em nosso modelo de Via, utilizamos o método do fluxo de caixa descontado de dez anos, com crescimento na perpetuidade nominal de 5% e taxa de desconto (WACC) de 12,4%. Consideramos um CAGR de receita nominal de 7% entre 2022-2032.