Macroeconomia


Prévias Consolidadas 2T22

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Gabriela Joubert

Publicado 25/jul10 min de leitura

Trimestre em linha, com incertezas adiante

A temporada do 2T22 deve trazer, no geral, resultados em linha quando comparado ao 1T22, com receitas ainda em patamares elevados ou em movimento de recuperação, parcialmente compensadas por custos e inflação ainda pressionando margens. A atenção deverá se voltar para as teleconferências de resultados das companhias, em buscas de sinais sobre o que esperar para a segunda metade do ano, em virtude do cenário extremamente conturbado em nível global, com desaceleração econômica e probabilidade de recessão, bem como pressão de custos e, internamente, resultados das eleições presidenciais em outubro.

No cenário macroeconômico, o segundo trimestre deve seguir mostrando crescimento marginal da atividade, impulsionado pela normalização do consumo, pelo uso da poupança acumulada durante a pandemia e por políticas públicas de incentivo à demanda. Além disso, a forte queda recente da taxa de desemprego, que surpreendeu a expectativa de mercado ao recuar para 9,8% no trimestre terminado em maio, deve contribuir para ampliar a massa salarial e beneficiar adicionalmente o consumo, ao menos em segmentos menos sensíveis ao crédito. Prospectivamente, no curto prazo, alguns setores ainda poderão ser estimulados pelo aumento das transferências de renda recentemente aprovado no congresso.

O maior risco para a conjuntura doméstica segue sendo a inflação. Apesar da deflação esperada para a próxima leitura do IPCA, a sustentação da demanda via política fiscal e o impacto das medidas recentes nos prêmios de risco aumentam a incerteza sobre a dinâmica dos preços em 2023. Com isso, o Banco Central pode ter de prolongar a duração do ciclo de contração monetária. De acordo com o relatório Focus, espera-se que a Selic esteja em 10,75% ao final do próximo ano.

Externamente, o cenário econômico vem se mostrando cada vez mais desafiador. Após novo dado de inflação elevado, o mercado de títulos americano já precifica que o FED deve aumentar os juros para o intervalo entre 2,25% e 2,5% na próxima reunião. A partir daí, os juros devem entrar em patamar contracionista, contribuindo para um leve desaquecimento da atividade e do mercado de trabalho. Ainda no âmbito monetário, o BCE também optou por iniciar o ciclo de alta dos juros com elevação de 0,5 p.p., surpreendendo a expectativa mediana de 0,25 p.p. do mercado. Por fim, a economia chinesa também trouxe crescimento de apenas 0,4% no segundo trimestre, abaixo da expectativa, e segue mostrando desafios adiante com o surgimento de novas variantes do coronavírus e turbulência no mercado imobiliário. Em suma, o quadro prospectivo para a economia global é de forte desaceleração do crescimento, o que trará impacto para o preço das commodities e para a moeda doméstica.

Bancos

Esperamos que os resultados do 2T22 ainda sejam direcionados pela deterioração da qualidade de crédito, principalmente nas linhas de maior risco como cartão de crédito e crédito pessoal, o que deve pressionar as despesas com PDD. A dúvida ainda paira no nível de deterioração, já que não pudemos observar a evolução do cenário de crédito devido ao apagão de dados no Bacen. Mas por outro lado, a margem financeira (NII) deve compensar com o aumento da taxa de juros no mercado. Nas demais linhas do resultado, as receitas com serviços como rendas com cartões podem continuar apresentando melhores resultados com a retomada das atividades e maiores volumes transacionados e seguros vindo de melhores resultados financeiros e menor sinistralidade, principalmente em ramos de cobertura pessoal. As receitas com tarifas de conta corrente ainda podem continuar refletindo pressão negativa nos incumbentes vindo do contínuo crescimento do Pix e da competição no setor. Esperamos também um bom controle das despesas operacionais, apesar da pressão inflacionária. Por fim, destacamos o Itaú Unibanco, que deve continuar apresentando resultados sólidos, vindo de um melhor NII com a mudança do mix de crédito para linhas de maiores taxas, de uma melhor qualidade de crédito frente aos pares como observamos no 1T22 e de um controle nos demais resultados operacionais. Já o Banco do Brasil, que foi destaque no trimestre passado, pode manter uma baixa provisão como no trimestre anterior, sendo um driver de maior impacto positivo no resultado, mas ainda esperamos um NII pressionado pelo maior custo de crédito. (Matheus Amaral, especialista de Bancos e Serviços Financeiros)

Construção

Em meio a um cenário macroeconômico ainda turbulento, as construtoras devem reportar novamente número mistos no 2T22. No geral, apesar do prognóstico ser positivo sob o ponto de vista operacional, como o volume acima do esperado nos lançamentos e demanda resiliente no segmento de baixa renda, as construtoras devem registrar no trimestre um pico de deterioração nas margens. Como contraponto ao bom giro nas vendas e em reflexo à defasagem do INCC em relação à alta dos custos de construção, as companhias do setor devem registrar no resultado uma maior parcela de projetos com margem mais pressionada pela alta dos materiais e salários. (Gustavo Caetano, especialista em Construção)

Elétricas & Saneamento

Para o setor elétrico, as expectativas para o segundo semestre são neutras, de forma geral. O elevado volume de chuvas proporcionado pelo último período chuvoso possibilitou uma normalização dos níveis dos reservatórios do sistema como um todo, fator que tinha sido fortemente penalizado ao longo da crise hídrica no ano passado. Sendo assim, com um despacho térmico reduzido, foi observado um PLD baixo ao longo do trimestre, que, em conjunto com uma redução dos custos médios operacionais de geração, podem beneficiar as operações de companhias que atuam no segmento, em especial as que possuem concentração em ativos hídricos. Neste quesito, levando em consideração a cobertura do Inter Research, acreditamos que ENGIE (EGIE3) será o destaque positivo do trimestre. Para as fontes de geração alternativa, em razão de algumas condições de recursos desfavoráveis no Nordeste, o trimestre deve contar com um desempenho abaixo do esperado, principalmente para as geradoras eólicas. Assim, Omega (MEGA3) deve ter um desempenho abaixo do potencial de seus ativos. No segmento de distribuição, um driver positivo para o volume consumido de energia no trimestre foi o bom desempenho do setor comercial e de serviços no país. Apesar disso, em razão do registro de menores temperaturas e com o fraco desempenho do setor industrial, o volume consolidado de consumo deve ser modesto, tornando misto o resultado das distribuidoras. Em transmissão, recentemente obtivemos o acontecimento do primeiro leilão do ano, que deve movimentar cerca de R$ 15 bi em investimentos, levando a boas expectativas para as suas companhias vencedoras, apesar de não impactar de imediato em termos de resultados operacionais. (Rafael Winalda, especialista de Utilities)

Frigoríficos

Apesar de margens mais comprimidas para o segmento de proteína bovina nos Estados Unidos, esperamos que o 2T22 continue positivo, principalmente para exportadoras. Visto que para operações de carne bovina no Brasil e arredores, a demanda ainda limitada do mercado doméstico fortaleceu o direcionamento das companhias para o mercado externo, que foi beneficiado pela desvalorização do real frente ao dólar, aumento da oferta de gado no Brasil e preços recordes no 2T22, proporcionando uma relevante evolução do total exportado em 15% t/t, segundo dados da Secex. No que tange os custos, esperamos margens similares ao trimestre anterior, contudo sutilmente suavizado pelo arrefecimento de 4,75% t/t no indicador do boi gordo da Cepea/B3. Para proteína de aves, por mais que o consumo doméstico continue prejudicado, as companhias também foram beneficiadas pelo comércio internacional aquecido, que estimulou as margens da BRF e Seara, com robusto acréscimo de 26% a/a do total exportado em dólares, acompanhado de um aumento de 18,2% nos preços comercializados, em reflexo a forte demanda externa. Por fim, para operações da JBS e Marfrig, o cenário para proteína bovina nos Estados Unidos é mais adverso, intensificado pelo avanço dos custos, com leve aumento do preço do boi vivo no trimestre, além da alta dos combustíveis e demais outros custos operacionais, que devem pressionar as margens no 2T22, voltando sequencialmente para normalidade histórica. Para o trimestre, esperamos um top line em linha com o 1T22, levando em conta a dificuldade de repasse de preço pelos varejistas, que refletiu negativamente no período do barbecue season, ao passo que também foi visto uma oferta atipicamente forte de animais, em detrimento dos efeitos negativos das secas e evolução dos custos da cadeia produtiva para os pecuaristas. (Manuela Granja, especialista em Frigoríficos)

Papel & Celulose

O segundo trimestre do ano deve consolidar o movimento de recuperação de preços de celulose nos mercados internacionais, pavimentando a rota de retomada do setor para o restante do ano, além da estabilização de alguns segmentos no setor de Papel em níveis acima do patamar histórico. No geral, devemos ver resultados positivos, especialmente das empresas expostas ao mercado externo, beneficiadas por uma demanda ainda aquecida e preços elevados por conta de choques de oferta que persistem, principalmente na Europa. Quanto aos custos, mais uma vez a pressão dos preços elevados de insumos, em especial químicos e combustível, deve pesar nas margens das companhias, mas não o suficiente para compressão. Contudo, vemos pressões seguindo ao longo de todo o ano. O destaque da temporada deve ser a Suzano, beneficiada pelo forte desempenho do segmento de celulose no período. - Veja nosso relatório de prévias do setor aqui. (Gabriela Joubert, especialista de Papel & Celulose)

Saúde

As empresas do setor de saúde performaram razoavelmente bem em 2021, com o 1S21 positivo e o 2S21 estável. O fluxo de pessoas em hospitais, laboratórios, clínicas e farmácias vem crescendo desde o segundo semestre de 2020, fruto da retomada dos procedimentos eletivos e demanda reprimida de exames que foram adiados devido à pandemia. Isso fez a receita atingir níveis elevados, entretanto, os custos e despesas também tiveram um aumento relevante em todos os segmentos, impactados pelo aumento do preço dos insumos em toda a cadeia. Acreditamos que essa tendência de faturamentos altos acompanhados de gastos também altos se estenda para o 2T22. Já a participação das receitas e gastos com Covid-19 nos resultados das companhias deve seguir perdendo relevância, assim como vimos nos últimos trimestres (exceto 1T22, devido ao surto da variante Ômicron). Além disso, vale destacar o maior gasto com despesas financeiras, que tem prejudicado a lucratividade e se tornado um dos maiores retratores de margem, principalmente para as empresas mais alavancadas. Neste contexto, esperamos que os segmentos de farmácias e farmacêuticas figurem como destaque operacional do tri, com o faturamento sendo favorecido pelo reajuste de medicamentos de 10,9% aprovado pela CMED, que entrou em vigor em abril. (Breno de Paula, especialista de Saúde)

Seguradoras

Esperamos resultados mistos para as seguradoras no 2T22, direcionados pelo forte crescimento comercial visto no bimestre de abril e maio, onde o setor cresceu 20,5% em faturamento total (seguros, acumulação e capitalização) versus o mesmo período do ano passado. Em seguros, o setor avançou 22,4% a/a no bimestre, impulsionado pelos segmentos de automóveis e rural, além do consistente crescimento em cobertura pessoal. O cenário de alta inflação também tem implicado em maiores reajustes de apólices, atrelados à retomada da atividade e a maiores custos com sinistros. Alertamos que ainda deve ser um trimestre com pressão negativa na sinistralidade para companhias que atuam nos ramos automotivo e rural, no qual a sinistralidade continua em ritmo elevado, fator que vimos impactar no 1T a BB Seguridade, a Porto Seguro e, principalmente, a resseguradora IRB Brasil, que possui exposição ao segmento agro no país. Apesar destes segmentos, as companhias que atuam nos ramos de pessoal devem continuar colhendo benefícios da normalização da sinistralidade, após o maior controle dos óbitos por covid-19 com a vacinação. Para o 2T22 destacamos a BB Seguridade, que deve continuar mostrando bom desempenho comercial na Brasilseg e BB Corretora, mas ainda parcialmente compensados por uma pressão na Brasilprev e pelo segmento agro na seguradora. Na ponta negativa, o IRB Brasil deve sentir os efeitos da alta sinistralidade no ramo rural e continuar apresentando prejuízo, de acordo com o que foi apresentado no bimestre de abril e maio, onde a companhia somou R$ 365,8 mm de prejuízo. (Matheus Amaral, especialista de Seguradoras)

Shoppings

Esperamos que as companhias do setor de shoppings entreguem fortes resultados no 2T22, com destaques para as empresas que apresentam maior qualidade nos portfólios. Com isso, estimamos números operacionais e financeiros já superando o mesmo período do ano de 2019, ressaltando a i) quase totalidade da retirada de descontos, ii) forte evolução nos indicadores de vendas em mesmas lojas (SSS), iii) elevação nos aluguéis em mesmas lojas (SSR) sem causar um descontrole no custo de ocupação e inadimplência, iv) sinergia de fluxo com a retomada de serviços e entretenimento e v) avanço no fluxo de veículos nos estacionamentos. Por fim, esperamos que as companhias entreguem crescimento nas principais linhas de receita concomitante a um controle operacional. Clique no link para saber mais sobre nossas expectativas para o setor de shoppings. (Gustavo Caetano, especialista em Shoppings)

Siderurgia & Mineração

No geral, devemos ver resultados mistos para o setor de Siderurgia e Mineração. Por um lado, após um trimestre impactado por chuvas fortes na região Sudeste do país, devemos ver recuperação da produção e das vendas das companhias, mas com receitas limitadas por preços realizados menores em razão dos menores preços do minério de ferro nos mercados internacionais. Com os custos ainda pressionando, especialmente de minério de ferro de terceiros e combustíveis, devemos ver consequente pressão de margens no segmento. Já na Siderurgia, as receitas devem refletir recuperação de volumes no mercado interno e exportações ainda em linha, além de preços realizados acima, quando comparados ao 1T22, refletindo a implementação dos anúncios feitos ao longo do 1T22, especialmente no setor automotivo. Obviamente, devemos ver continuidade na pressão de custos e inflação, o que deve limitar a expansão de margens no mesmo ritmo do top line. Destaque no trimestre para Gerdau, mais uma vez, beneficiada pela recuperação da ON Brasil, bem como pelo forte desempenho da ON América do Norte. (Gabriela Joubert, especialista de Siderurgia & Mineração)

Tecnologia

Em desempenho semelhante ao do trimestre anterior, esperamos resultados positivos para as empresas do setor, entretanto com margens apertadas se considerarmos o aumento inflacionário. É importante ressaltar que contamos com a manutenção da previsibilidade das receitas tanto da Sinqia quanto da Totvs, reforçada pelas altas taxas de renovação de contrato de 97% e 98%, respectivamente. O poder de repasse de custos nos seus contratos é significativo, mantendo os índices de recorrência de receita em 90% e 82%, respectivamente. Outro ponto importante que dita o tom do setor para as empresas de nossa cobertura é a consolidação das aquisições e parcerias. O desafio se intensifica com o cenário de alta de taxas de juros onde a busca por novos clientes se torna mais difícil, mas não impossível - como vemos a JV do Itaú com a Totvs (especificamente a linha de TechFin) tem alto potencial de crescimento com a união destas marcas. O desafio se mantém para a Sinqia, entretanto não observamos por parte deles a busca por novas carteiras, seguindo o que a empresa vem comunicando de um foco maior no cross-sell e up-sell para sua base de clientes já existentes, além do ramp up das sinergias entre as companhias anteriormente adquiridas e a otimização de suas margens no processo. (Matheus Amaral, especialista de Tecnologia).

Transporte & Logística

Para o trimestre encerrado em junho de 2022 esperamos que as companhias de transporte continuem a apresentar bons resultados operacionais. No Rent-a-Car a aquecida demanda deve manter as taxas de ocupação e preço das diárias em patamares elevados, todavia pode haver alguma compressão de margem quando comparado ao trimestre anterior, haja vista a sazonalidade das tarifas. Já para o GTF (Gestão e Terceirização de Frotas) de veículos leves e pesados nossa expectativa é de continuidade do crescimento recente, que é suportada pela subpenetração e resiliência do modelo de negócio. Quanto as companhias de logística, a pressão nos custos com combustíveis deve ser destaque negativo responsável por reduzir margens e impactar os resultados operacionais. No que tange a desmobilização e compra de ativos das empresas de transporte e logística entendemos que o tema de escassez de veículos começa a ficar para trás, embora alguns riscos ainda permaneçam. Projetamos arrefecimento na evolução dos preços e as margens de seminovos devem apresentar sinais de normalização nesse trimestre. Por fim, a continuidade do ciclo de alta de juros deve ampliar o serviço da dívida e prejudicar os bons resultados operacionais. (Diego Bellico, especialista em Transporte e Logística).

Varejo & Consumo

O segundo trimestre, assim como o primeiro, foi um período adverso para o varejo. O cenário macroeconômico ainda é ofuscado por diversos indicadores negativos: inflação e desemprego altos e; renda disponível e crédito comprimidos. Sentindo no bolso a corrosão de sua renda, o consumidor ficou mais cauteloso e menos confiante, escolhendo melhor o que comprar. Ao mesmo tempo, a trajetória ascendente da taxa de juros eleva o custo de capital das Companhias, afetando negativamente as precificações. Por esses motivos, mesmo com a retomada no fluxo de pessoas nos shoppings e ruas, vemos as Companhias apresentarem dificuldades nas vendas. Esperamos que as pressões de custos e despesas sigam afetando as margens das empresas, em geral, ainda abaixo dos níveis históricos. Entre os segmentos, esperamos que o varejo alimentar continue sendo resiliente no repasse de preços, com momento mais favorável no formato de atacarejo. Para o consumo discricionário, acreditamos que as Companhias focadas nas classes A e B tendem a performarem melhor devido a elasticidade do consumidor. (Breno de Paula, especialista de Varejo e Consumo)

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