Macroeconomia


O Mercado na Semana Ed.39.22

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Rafaela Vitória

Publicado 30/set14 min de leitura

Sell in May – and don’t come back in September

Os mercados globais tiveram nova queda na semana, encerrando um mês de perdas significativas, tanto na renda variável como na renda fixa. O receio de uma recessão mais severa, com a elevação dos juros pelos bancos centrais, continua preocupando os investidores, principalmente na Europa e nos EUA. Nos EUA, o SP500 caiu 3% na semana e fechou o mês com perdas de 9% o menor patamar desde novembro de 2020. O Ibovespa também refletiu o pessimismo externo e cautela diante do fim do período eleitoral no acumulado semanal, com um recuo de 1,50%, no entanto, encerrou o mês com leve alta de 0,47%, descolando dos pares internacionais. Nos destaques setoriais, com forte valorização da Vale e ações do segmento de papel e celulose, o IMAT avançou 1,64%, seguido de uma alta 0,89% do IMOB no setor imobiliário, descolando dos demais setores. Na outra ponta, utilities (UTIL) teve um forte recuo de 4,61%, acompanhado da queda de 4,00% do setor de consumo (ICON) e 2,47% do financeiro (IFNC).

As taxas de juros nos EUA tiveram novas altas na semana. A taxa de 10 anos chegou próxima de 4, mas fechou em 3,8%. Ainda assim, no mês, foi uma alta de 60 bps, o que significa um forte impacto nos portfolios de renda fixa. Os discursos dos membros do Fed ao longo da semana ainda reforçaram a preocupação com a inflação e a necessidade subir os juros e deixá-los mais elevados por mais tempo. De fato, o PCE de agosto, a medida preferida de inflação do Fed, ficou em 6,2% em 12 meses com o core em 4,9%, ambos acima da expectativa. Na Europa, a inflação do Euro também surpreendeu para cima e acumula 10% em 12 meses até setembro, mais um recorde preocupante. E no Reino Unido, a volatilidade nos títulos do governo, respondendo a políticas fiscais que podem ter impacto inflacionário ainda maior, também trouxe turbulência para os demais mercados nessa última semana de setembro. As commodities ficaram estáveis na semana, mas, no mês, a queda no índice foi de 7%, refletindo a expectativa de atividade global mais fraca. A incerteza e o risco de recessão devem seguir pressionando as bolsas internacionais e sugerimos manter a cautela nesse momento.

Aqui no Brasil, às vésperas da eleição, a volatilidade se acentuou, mesmo em meio a dados econômicos mais positivos. O mercado de trabalho trouxe nova surpresa com a forte criação de vagas pelo Caged e a taxa de desemprego da Pnad caiu para 8,9%, a menor desde 2015. Os dados fiscais vieram em linha e, mesmo com o déficit em agosto, devido a pagamentos pontuais como precatórios, no ano acumula superavit de R$120 bilhões e em 12 meses está em 2% do PIB. A dívida/PIB teve nova queda para 77,5%. E na ata do Copom e no RTI, o BC trouxe sua revisão de cenário, mais benigna para inflação, com a queda das commodities no mercado externo, mas com atenção ao crescimento maior que o esperado, incluindo o mercado de trabalho mais aquecido. O BC revisou sua projeção do PIB para 2,7% em 2022 e para 1% em 2023. Mesmo com a deflação, que pelo IPCA-15 de setembro foi maior que o esperado em -0,37%, e pelo IGPM-0,95%, o BC tentou afastar as especulações de corte de juros no curto prazo, consideraram por hora, que está confortável com o cenário base do Focus, que tem o primeiro corte em junho de 2023. Os juros tiveram ligeira alta na semana, mas no mês, a juros subiram, mas no mês, as taxas tiveram queda. O real seguiu o movimento externo e subiu 2% na semana e 4% no mês, voltando para o patamar de R$5,40.

Empresas e Setores

Entrada no mercado de carbono. O Banco do Brasil (BBAS3) anunciou o primeiro negócio de comercialização de créditos de carbono no país, com projetos mapeados para eficiência energética, reflorestamento e agricultura de baixo carbono. | Acordo rejeitado. A CVM rejeitou novamente a proposta de acordo da CSN (CSNA3) de pagamento de R$ 1,2 mm referentes ao encerramento de processo em acompanhamento pelo órgão. | Arrematado. A Engie Brasil (EGIE3) venceu o leilão PPP para iluminação pública de Curitiba com uma oferta de R$ 1,1 mm, o contrato terá 23 anos, com investimentos de até R$ 1 bi. | Nova oferta primária? A Gafisa (GFSA3) anunciou que está avaliando uma nova oferta primária de ações, a oferta estaria sujeita às condições macroeconômicas e das aprovações societárias necessárias. | Fábrica de propulsão. A americana General Motors (GMCO34) anunciou o investimento de US$ 760 mm em sua fábrica em Toledo, Ohio, EUA. A empresa pretende modificar a fábrica para produzir peças de modelos elétricos do seu portfólio. | Leilão de esgotamento. A Aegea, controlada pela Itaúsa (ITSA4), venceu dois lotes no leilão de esgotamento sanitário realizado no Ceará. Por mais de R$ 19 mm a licitante levou a concessão de 30 anos e prevê o investimento de até R$ 6,2 bi no setor. | Nova plataforma, CRI e mais! A Petrobras (PETR4) assinou um contrato que prevê a construção de uma nova plataforma em Búzios. A empresa prevê a capacidade produtiva de até 225 mil bpd. Esta semana também, a empresa registrou um prospecto para a emissão de até R$ 1,8 bi em CRIs, divididos em dois lotes de até três séries. Por fim, a petroleira reduziu o preço do querosene de aviação em 0,84%, da gasolina de aviação em 5,9% e o de asfalto em 10,5%. | Controle de Itaipu. A Prio (PRIO3) adquiriu os 40% restantes do bloco BM-C-32 em Itaipu (na Bacia de Campos) por US$ 26,9 mm em união com a Total Energies E&P Brasil. | Passos no programa de descaracterização. A Vale (VALE3) comunicou a eliminação de três novas barragens em Minas Gerais, a quinta deste ano. Desde 2019 a companhia eliminou 12 barragens, contabilizando 40% do número total previsto no Programa de Descaracterização, decorrente do rompimento da barragem de Brumadinho em 2019. | Investimento na expansão. A WEG (WEGE3) anunciou o investimento de R$ 600 mm ao longo dos próximos três anos visando a expansão de sua capacidade produtiva de motores industriais e tração elétrica no Brasil.

IPOs & Afins

Em meio a escassez de ofertas públicas a Porshe, marca de carro pertencente a Volkswagen, captou € 9,4 bilhões em seu IPO. Foi a maior oferta inicial de ações da Europa desde 2011 e foi coordenada pelo Bank of America, Citigroup, Goldman Sachs e JPMorgan. No Brasil, a Gafisa (GFSA3), informou ao mercado que analisa a possibilidade de um follow-on via oferta restrita (CVM 476). Entretanto, não há nenhuma data definida ou aprovação formal.

Fusões e Aquisições

Com o objetivo de ampliar o seu ecossistema e expandir os serviços oftalmológicos, o Fleury (FLRY3) anunciou a compra das unidades de São Paulo da Retina Clinic, pelo montante de R$ 21 mm. Segundo a companhia, a sociedade apresentou uma receita bruta de R$ 23,4 mm em 2021. | Ainda no setor de saúde, a Hermes Pardini (PARD3) comunicou a aquisição de 99% da Central Sorológica de Vitoria, pelo valor de R$ 17,8 mm. A CSV é referência na realização de exames e análises clínicas, biologia molecular e toxicologia para outros laboratórios no estado do Espírito Santo, o que se encaixa com a estratégia de descentralização do modelo produtivo e de ampliação da base de clientes da Pardini. | Por fim, a Prio (PRIO3) assinou contrato com a Total Energies E&P para compra dos 40% restantes da participação do Campo de Itaipu, pelo total inicial de US$ 75 mm, além do embolso de US$ 26,9 mm após a definição do destino do ativo.

Fundos Imobiliários

Praticamente estável frente à anterior, o IFIX oscilou +0,0% na semana. Seguem os principais fatos ocorridos no período: 

TGAR11: Conforme permitido em regulamento, o fundo realizará sua 11ª emissão de cotas com esforços restritos de colocação, nos termos da Instrução CVM nº 476. Nesta oferta, o fundo espera captar entre R$ 30 mm e R$ 480 mm. | VISC11: Em desdobramento aos recentes movimentos de M&A, o fundo celebrou um memorando de entendimentos para venda de 9,14% de sua participação no Minas Shopping por R$ 78,2 mm, equivalente a um cap rate de 6,8%. Além disso, foi comunicado pelo fundo a realização da distribuição pública primária de cotas da 8ª emissão e com esforços restritos de colocação (CVM 476), onde se espera captar cerca de R$ 105 mm por meio da emissão de 907.050 novas cotas a um preço unitário de R$ 115,76. | XPLG11: Foi celebrado entre o fundo e a empresa ID DO BRASIL LOGÍSTICA LTDA um contrato para locação por 63 meses de 23.405,93 m² em ABL do complexo logístico “Especulativo Extrema”, ativo no qual o fundo detém 64,2% de participação. Esta locação representa 30,26% da ABL total do empreendimento, sendo certo que a ABL objeto da locação será entregue em 1º de outubro de 2022, enquanto restante do empreendimento deve ser concluído até o final do 1T23. | HGLG11: Após firmar a escritura do ativo junto à LOG Commercial Properties, o fundo concluiu a aquisição do ativo logístico monousuário localizado na Rua Cássia, 1.305, Lote 7-A, Quadra 27, no loteamento Parque Industrial de Betim-MG e de natureza BTS. | BTLG11: Foi confirmada a incorporação do fundo VVPR11 junto ao patrimônio do fundo, onde cada cota do fundo incorporado foi substituída e convertida em R$ 0,995. | ARRI11: O fundo obteve a aprovação para realização da sua 4ª emissão de cotas, a serem distribuídas sob esforços restritos de colocação de acordo com a Instrução CVM nº 476. O montante total da oferta é de R$ 30 mm, que será captado através da emissão de 3.329.634 novas cotas.

Agenda da Semana

Outubro começa com eleições em todo país, e estaremos de olho na composição do Congresso, novos governos estaduais e federal. A semana que vem será cheia, digerindo os resultados das urnas e possíveis consequências econômicas. Mas teremos também a divulgação de dados importantes de atividade aqui, como a produção industrial de agosto e lá fora o importante relatório de payroll, o mercado de trabalho americano.

Top da Semana

O destaque positivo da semana foi para a Cyrela (CYRE3) que subiu 9,5%, em seguida, a segunda maior alta foi a da Sabesp (SBSP3) que apresentou uma alta de 6,9%. Fechando as maiores com a Yduqs (YDUQ3) e WEG (WEGE3) que encerraram a semana com um retorno positivo de 5,3%. Na outra ponta o destaque negativo ficou para a Rede D’or (RDOR3) que deve apresentar maiores pressões no ticket médio, seguida pelas companhias SulAmérica (SULA11) e Marfrig (MRFG3) que caíram 13,7% e 12,3% respectivamente.

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