Brasil descola do resto do mundo
Em semana dominada pela decisão do Fed e também do Copom por aqui, o Ibovespa destoou das bolsas no exterior e fechou com alta de 2,23% na semana a 111.716 pontos. O clima dos mercados na semana foi pautado pela decisão de Fed na quarta-feira, que subiu a taxa de juros em 75 bps, em linha com as expectativas. Mas o que pesou foi o tom hawkish em falas de Jerome Powell ao longo da semana e as preocupações com o ritmo da economia global, que derrubaram as bolsas lá fora e o S&P 500 encerrou com queda de 4,65%, enquanto a Nasdaq caiu 5,07% com papéis do setor de tecnologia refletindo a alta dos juros. O dólar acabou se fortalecendo na semana com a curva de juros e o pessimismo também derrubando o petróleo com preocupações sobre a demanda fazendo os futuros do WTI atingir mínimas desde o início da guerra na Ucrânia, por sua vez os papéis da Petrobras acabaram acompanhando o movimento da commodity. Mas enquanto o mundo fala de alta nos juros, por aqui assistimos a acomodação da taxa e falamos do fim do ciclo, após o Copom manter a Selic em 13,75%, nossa bolsa se destacou perante o exterior na semana, mas na sexta-feira voltou a cair acompanhando a cautela no cenário global. Nos destaques setoriais, as ações das instituições financeiras avançaram com o IFNC subindo +4,49%, seguida pelas imobiliárias com o IMOB subindo +4,18%, utilities (UTIL) +3,98% e consumo (ICON) subindo 3,49%.
A semana foi marcada por decisões de política monetária ao redor do mundo, com a elevação dos juros em diversos países. O destaque foi a alta do Fed Fund Rate nos EUA em 75 bps e a revisão das projeções dos membros do Fomc, esperando altas ainda significativas. Devemos ter pelo menos mais uma alta de 75 e chegaremos a uma taxa terminal acima de 4,5% em 2023. Além do Fed, os bancos centrais da Suíça, Reino Unido, Suécia e Noruega também subiram os juros essa semana. O ajuste nos mercados globais foi forte, com preços tanto de renda fixa como de renda variável em queda, incorporando juros maiores por mais temo. O SP500 caiu mais de 5% na semana, e o título americano de 2 anos disparou, chegando a 4,2%, a maior taxa desde 2007. O medo de uma recessão mais forte também impactou o mercado de commodities e a cotação do barril WTI caiu para $79, a menor desde janeiro desde ano, anterior ao início da guerra na Ucrânia.
Aqui no Brasil o mercado descolou. Foi sentido o impacto da volatilidade, mas ao final da semana, o dólar fechou estável em R$5,26 e a bolsa teve alta de 2%. Mas o maior destaque foi a queda das taxas de juros. As taxas médias e longas reduziram cerca de 50 bps. A boa notícia foi a manutenção da Selic em 13,75% pelo Copom, em linha com a expectativa. O comunicado trouxe cautela, reforçando que os juros permanecerão restritivos por um período prolongado, mas as revisões de expectativas de inflação, tanto do BC como do mercado, indicam que podemos ter alívio ainda no 1º semestre de 2023. Revisamos nossas projeções e esperamos IPCA de 5,8% em 2022, incluindo nova deflação em setembro, e 4,7% em 2023. Pelo lado fiscal, tivermos a revisão bimestral do tesouro que trouxe a estimativa do governo ter o primeiro superavit primário desde 2023.
Empresas e Setores
Copa, Cerveja e CADE. A Ambev (ABEV3) foi proibida de estabelecer novos contratos de exclusividade para a venda de cerveja com bares. A proibição vale até o final da Copa do Mundo do Catar, segundo o CADE. | Pré-contrato. A AES Brasil (AESB3) assinou um pré-contrato para estudos de viabilidade da produção de até 2GW de hidrogênio verde com o Complexo de Pecém em Fortaleza, CE. | Um prêmio ESG internacional foi conquistado pela Minerva (BEEF3), tornando a companhia a primeira latino-americana a vencê-lo. O prêmio do ESG Reporting Awards reconhece o relatório de sustentabilidade da companhia deste ano. | Compromisso com a inovação. A Braskem (BRKM5) anunciou a criação de um Hub para startups e para o investimento nos projetos, anunciou um caixa de US$ 150 mm. O foco da companhia são empresas voltadas à sustentabilidade e transformação digital. | Debêntures! A administração da Yduqs (YDUQ3) aprovou a sua 8ª emissão de debêntures simples, em série única. O valor total da oferta é de R$ 500 mm. | Oferta movimentada. O Iguatemi (IGTI11) anunciou que captou R$ 720 mm em sua oferta de ações realizada recentemente. Na prática, a aquisição do shopping JK Iguatemi pretendida pela companhia custará R$ 667 mm. | Mais um mês vermelho para o IRB Brasil (IRBR3) que, apesar da redução do prejuízo (R$ 58,9 mm em julho, vs. R$ 97,6 mm jul/21), ainda acumula R$ 351,7 mm de resultados negativos no ano. | Redução anunciada. A Petrobras (PETR4) anunciou a redução em 5,8% do diesel, acompanhando os preços internacionais e a prática de preços da Petrobras, na prática, o preço médio nas bombas ficou em R$ 6,84. | Alteração no capital inicial. A Unipar (UNIP6) anunciou a conversão de 2,3 mm ações preferenciais classe A (UNIP5) em 65,3 mm de ações preferenciais classe B (UNIP6).
IPOs & Afins
Nessa semana, a Vamos (VAMO3) captou R$641,4 milhões com seu follow-on. Foram emitidas 48.410 mil ações ao preço de R$13,25, elevando o capital social da companhia de R$633 milhões (divididos por 976.988 mil ações) para R$1.274 milhões (divididos por 1.025.398 mil ações). A totalidade do capital levantado será utilizado em capex de expansão orgânica. Ainda, a Iguatemi (IGTI11) também concluiu seu processo de follow-on, emitindo 36.476 mil units ao preço de R$19,74. Ao todo, foram levantados R$720 milhões que, segundo a companhia, serão utilizados para reforçar sua estrutura de capital. Em razão da emissão, o novo capital social passará a ser R$1,8 bilhões.
Fusões e Aquisições
A Ambipar (AMBP3) em conjunto com a sua controlada Environmental ESG anunciou a aquisição da Blz Recicla, líder de mercado em reciclagem de garrafas de vidro e atuante no estado de São Paulo, avaliada em R$ 68 mm. A operação segue a estratégia de verticalização e busca por soluções integradas para cadeia pela Ampibar. | Por outro lado, a BR Malls (BRML3) informou a venda integral de sua participação do Campinas Shopping para fundos administrativos da Vinci Partners (55%), XP (25%) e Guide (20%), pelo montante total de R$ 411,4 mm. (Confira nosso comentário BRML3) | Já em busca obter novos canais de distribuição e fortalecer a sua cultura digital, a CVC (CVCB3) anunciou a possível aquisição das operações do Brasil e de Portugal da startup de turismo Ōner Travel. A proposta passará pela análise remanescente da CVC Corp e autoridades competentes, caso necessário, pelo prazo de 60 dias. | No setor aéreo, a Embraer (EMBR3) comunicou a aquisição minoritária da XMobots, classificada pela empresa como líder no mercado de drones da América Latina. O aporte do valor, não divulgado, foi efetuado pela unidade de inovação EmbraerX. Segundo a companhia, a transação tem o intuito de fomentar o mercado de drones autônomos e expandir tecnologias de possível sinergia com o negócio. | Além disso, com o objetivo de se consolidar no segmento de distribuição, a Equatorial (EQTL3) anunciou acordo com a Enel para compra de 99,9% da Celg-D, pelo montante de R$ 1,57 bi. (Confira nosso comentário para EQTL3) | Não o bastante, dando o seu primeiro passo para internacionalização, a Movida (MOVI3) informou a compra de 100% da “Drive on Holidays”, companhia de Rent-a-Car (RAC) sediada em Lisboa, pelo valor de €66 mm. (Confira nosso comentário para MOVI3) | Por fim, a 3R Petroleum (RRRP3) comunicou a aquisição de 15% da 3R Offshore, detidas pela DBO. Para operação a companhia exerceu o seu direito de compra, de modo que consolidará uma participação de 85% da Offshore, assim fortalecendo o seu portfólio e aumentando a escala de produção.
Fundos Imobiliários
Sustentado pelo bom desempenho dos fundos de tijolo, o IFIX variou +0,20% na semana. Seguem os principais fatos ocorridos no período: XPML11: O fundo assinou um memorando de entendimentos vinculante com a administradora brMalls para aquisição direta de 25% do Campinas Shopping-SP. O valor estabelecido para alienação de 100% do ativo foi de R$ 411,4 mm. Logo, o fundo arcará com um custo de R$ 102,8 mm referente à sua fatia. | MALL11: Ainda referente à transação do Campinas Shopping-SP, o fundo comunicou a aquisição de 20% do ativo pelo montante de R$ 82,3 mm, valor que será pago por meio da 4ª emissão de cotas anunciada, onde o fundo espera captar até R$ 200 mm. | VISC11: Outro participante na aquisição do Campinas Shopping-SP, o fundo também anunciou a compra de 55% do ativo pelo valor total de R$ 226,7 mm. | VGIR11: Foi aprovado em assembleia a 6ª emissão de cotas do fundo, o qual será realizado por meio de uma oferta pública nos termos da Instrução CVM nº 400. A oferta compreenderá uma captação inicial de até R$ 350 mm, sem considerar o lote adicional, por meio da emissão de até 36.269.431 novas cotas a um preço unitário de R$ 9,65. | HGRU11: Foi recebido pelo fundo o valor de R$ 6 mm para alienação do imóvel locado pela Casas Pernambucanas, dessa vez referente à localizada em Lapa-PR. Diante dos valore envolvidos, o fundo estima um lucro em regime de caixa próximo de R$ 0,15/cota. | TRXR11: Em continuidade ao fato relevante divulgado em 26/05/22, o fundo, concluiu a aquisição do imóvel localizado em Piracicaba-SP. O referido imóvel é objeto do contrato de locação tipo BTS junto à companhia BMB Material de Construção S.A., que tem a Leroy Merlin como fiadora. O valor total estimado para aquisição do ativo e posterior construção e desenvolvimento é de R$ 27,5 mm. | SDIL11: Foi celebrado entre fundo e a locatária “Cartint Indústria e Comércio de Tintas Ltda” o segundo aditamento do contrato de locação, onde foi regrado a entrega substancial das obras e início da vigência do contrato de locação, a partir desta semana, com prazo de duração de 20 anos (240 meses) e período de carência de 2 meses, no Galpão “Guarulhos”. | GGRC11: Nos termos do fato relevante divulgado em 26/08/22, o fundo recebeu nesta semana o valor de R$ 71 mm referente à 1ª parcela da venda dos imóveis “Nissei” e “Copobras”, celebrando assim a escritura definitiva de venda. | LVBI11: Em complemento ao fato relevante de 25/03/22, fundo se comprometeu a realizar o pagamento complementar de R$ 7,5 mm referente à aquisição do ativo logístico, dado que as condições acordadas para sua realização foram cumpridas. | XPLG11: Foi assinado entre o fundo e a companhia “Vitrine Direta Ltda” o contrato para locação do módulo B5 do condomínio logístico Syslog Galeão, localizado em Duque de Caxias/RJ, com área bruta locável total de 1.943,91 m² e prazo de vigência de 60 meses a partir de 01/10/2022. Com impacto positivo de R$ 0,0230 por cota, a taxa de vacância do fundo será reduzida de 9,0% para 8,8%. | RECT11: O fundo recebeu da BR Properties a diferença devida da garantia de aluguel mínimo mensal, fazendo com que a contraparte se torne adimplente com relação às suas obrigações contratuais, sem resultar em impactos imediatos na distribuição de rendimentos do fundo.
Agenda da Semana
A agenda da próxima semana trará vários dados de atividade, com destaque para os dados de emprego, pelo Caged e PNAD e esperamos nova melhora no mercado de trabalho. O Banco Central também deve divulgar os dados do balanço de pagamentos e do crédito bancário, que podem apontar o ritmo de crescimento de atividade no começo desse segundo semestre. Por fim, teremos dados de inflação, o IPCA-15 de setembro, que esperamos ser novamente negativo, próximo de 0,25% e o IGPM que pode ficar em -0,9% em setembro.
Top da Semana
O destaque positivo da semana foi para as companhias do setor de educação, com destaque positivo para a Yduqs (YDUQ3) que subiu 27,3%, seguida pela Cogna (COGN3) que apresentou um retorno de 17,6%. Após a aquisição da Celg-D, distribuidora de energia de Goiás, a Equatorial (EQTL3)teve um alta de 11,4%. Na outra ponta, o setor de frigoríficos apresentou um desempenho negativo, com Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3) caindo 8,5% e 7,9% respectivamente. Com a notícia de prejuízo no mês de julho o IRB (IRBR3)apresentou uma queda de 8,5%.