Macroeconomia


O Mercado na Semana Ed.34.22

jeFtv1X8_400x400

Rafaela Vitória

Publicado 26/ago9 min de leitura

Fed afasta especulações de cortes de juros mais cedo

Apesar da queda de 1,08% nessa sexta-feira, o Ibovespa encerrou a semana com alta acumulada de 0,72% a 112.298 pontos. Após o mercado revisar para baixo as projeções de inflação no ano, confirmou-se a expectativa de fim do ciclo de alta da Selic, o que animou o mercado local. Porém no exterior, o dia foi agitado com a repercussão do pronunciamento do presidente do Banco Central americano Jerome Powell. A sinalização de compromisso com a estabilidade de preços e por isso, da continuidade da sequência de alta dos juros, derrubou o S&P na semana. Também colaborou para uma semana positiva por aqui a recuperação dos preços do petróleo. A valorização de 4% contribuiu para o ganho semanal de 6,09% da Petrobrás, alavancando o índice da B3. Nos destaques setoriais da semana, o índice de consumo ICON foi quem puxou o desempenho positivo com 1,44%. O IFNC fechou estável com 0,06% na semana. Na ponta negativa, o índice de utilities com queda de 2,83%, seguido por IMAT -1,89% e IMOB -1,00%.

No discurso em Jackson Hole, Jay Powell foi sucinto e direto: a estabilidade de preços é a responsabilidade do Fed e um alicerce da economia. Para trazer a inflação de volta para a meta, o trabalho será longo e terá impactos na desaceleração da economia e do mercado de trabalho. As bolsas sentiram bem a força dessa mensagem com queda de quase 4% no S&P500 essa semana. Ainda deixou em aberto se a próxima alta será de 75 ou 50, o mercado voltando a precificar chances de 75, mas a mensagem para afastar as especulações de queda de juros já em 2023 foi bem clara. Os dados da economia americana contribuíram para sinalizar de fato uma desaceleração, tanto do mercado de housing, com queda de venda de imóveis, e até mesmo as medidas de inflação do PCE, que mostraram uma pequena queda na margem. Mas damos razão ao Fed, o trabalho da política monetária será longo e não sem dor para a economia e para os mercados. As preocupações no cenário externo se somaram às novas altas de preços de energia na Europa e mais sinais de atividade mais fraca na China, que já resultaram em mais estímulos do governo Chines com redução nos juros por lá. O dólar voltou a subir 0,6% na semana em relação à cesta de moedas, e os juros de 10 anos dos títulos americanos subiram para 3,05%.

Aqui no Brasil, apesar da queda do Ibovespa nessa sexta, a semana foi de saldo positivo para a bolsa e o real seguiu caminho inverso do mercado externo com valorização de quase 2% na semana, fechando em R$5,07. O cenário aqui continua com sinais de melhora tanto pela atividade em alta como pela inflação em queda. A arrecadação tributária do governo teve novo recorde e caminhamos para um superavit no ano, que será o primeiro desde 2013 para o governo central. O IPCA-15 teve nova deflação de 0,73% em agosto, mostrando também redução da pressão inflacionária nas medidas de núcleos. O INCC, índice da construção, desacelerou para 0,33%, trazendo alívio para o setor. Os reflexos da queda da inflação já podem ser sentidos na alta da confiança do consumidor em agosto em 4 pontos, o que deve manter o consumo no segundo semestre, evitando a esperada desaceleração.

Empresas e Setores

Energia renovável. A Cemig (CMIG4) anunciou o investimento de R$ 824 mm em usinas fotovoltaicas que entrarão em operação na segunda metade de 2023. | R$ 1 bi em notas comerciais. A Copel Geração e Transmissão (CPLE6) comunicou ao mercado a emissão de notas comerciais para amortização de suas três mais recentes emissões de debêntures, a soma das notas poderá ser de até R$ 1 bilhão. | Debêntures I. O Assaí (ASAI3) aprovou esta semana a emissão de até R$ 600 mm em debêntures simples, não conversíveis em ações, a emissão ocorrerá em três séries e será destinado à manutenção e expansão de sua rede de lojas. | Debêntures II. Em mesmo tom, a Raízen (RAIZ4) aprovou a emissão de até R$ 2 bi em debêntures, esta será a oitava da companhia. Os recursos serão investidos em atividades ligadas ao agronegócio. | Desenquadrado no quesito regulatório, a IRB Brasil SE (IRBR3) anunciou a realização de uma oferta pública subsequente de ações, serão ofertadas até 600 mm novas ações, totalizando até R$ 1,2 bi. | Programa de recompra anunciado pelo Itaú Unibanco (ITUB4) pretende recomprar até 75 milhões de ações preferenciais, a recompra ocorrerá entre agosto/2022 e fevereiro/2024. | Produção retomada no Campo de Frade pela PRIO (PRIO3) foi anunciada esta semana, a companhia havia interrompido as suas operações na região por conta de falhas na linha de gás.

IPOs & Afins

Nessa semana, em continuidade aos estudos anunciados pela IRB Brasil Resseguros (IRBR3) na semana passada, a companhia informou ao mercado que aprovou no conselho de administração a oferta pública primária de 597 milhões ações ordinárias. O follow-on está planejado para acontecer no dia primeiro de setembro e um lote adicional de até 200% pode ser ofertado. O objetivo da IRB Brasil Resseguros (IRBR3) é levantar R$1,2 bilhões para reforçar a posição financeira da companhia, de forma a se adequar as exigências regulatórias do setor.

Fusões e Aquisições

Dando impulso a expansão da Wiz Conseg, na segunda-feira (22) a Wiz (WIZS3) comunicou a aquisição de 50,1% da Primavera Seguros e Trombini, comercializadora de produtos do Grupo Le Lac. Segundo a companhia, a operação consolidada agregará cerca de 39 concessionárias de veículos em mais de 6 estados do Brasil, no qual ampliará a rentabilidade do negócio por meio do cross selling com seguros auto e prestamista, além de diversificar a sua atuação. | No mesmo dia, a Viveo (VVEO3) anunciou a compra da Neve e Nutrifica pelo montante de R$ 110 mm, o que gera, quando agrupado, o total anual de R$ 22 mm de EBITDA e uma receita de R$ 122 mm. A Neve desenvolve produtos hospitalares para quatro linhas do setor, com uma clientela de mais de 1.500 hospitais, o que fortalecerá esse canal para Viveo. Em complemento, a transação da Nutrifica segue com o objetivo de ampliar os serviços destinados para manipulação de soluções estéreis da companhia. | Já na quarta-feira (24), em busca de desenvolver uma nova gestora de investimento em parceria com o Banco Votorantin, o Bradesco (BBDC4) informou ao mercado a aquisição de 51% do BV DTVM, por meio de sua controlada. A adquirida detém R$ 41 bi de ativos sob gestão e R$ 22 bi sob custódia no private banking, o que conciliará, junto ao forte posicionamento do Bradesco, a nova Sociedade. | No setor alimentício, a Camil (CAML3) ingressa no mercado de biscoitos com o anúncio da compra da Mabel, controlada da Pepsico, assim como receberá o direito de uso da marca Toddy para cookies por 10 anos, no qual a operação totalizará o valor de R$ 152,8 mm. Com a compra a Camil almeja estabelecer sinergias com as recentes adquiridas e expandir a sua linha de produtos.

Fundos Imobiliários

Seguindo sua tendência de alta, o IFIX acumulou ganhos de 0,54% na semana. Seguem os principais fatos ocorridos no período: BCRI11: Por meio da Bari Securitizadora, emissora de CRIs detidos pelo fundo em carteira, este comunicou ter tomado conhecimento de que a Vibra Energia S.A. ingressou com pedido de arbitragem contratual na Corte Internacional de Arbitragem para discutir as condições contratuais do contrato a típico de locação firmado entre a locatária a Confidere OGB Imobiliária e Incorporada Ltda., em 14 de abril de 2011. Maiores esclarecimentos sobre o fato serão divulgados à medida que as informações forem apresentadas pela emissora. | IRDM11: Após o exercício do direito de subscrição das sobras e montante adicional, o fundo comunicou a captação de R$ 208,8 mm na sua 12ª emissão de cotas sob esforços restritos. As 496.483 cotas remanescentes serão objeto de distribuição pública a ser efetuada pelo coordenador da oferta.

Agenda da Semana

A agenda da próxima semana está carregada. Aqui no Brasil, a maior expectativa está na divulgação do PIB do 2º trimestre que deve ter uma alta forte de 3% na comparação com o mesmo trimestre no ano anterior, puxada principalmente pelo setor de serviços. Mas estaremos de olho nos dados de investimento e voltaremos a ver uma discussão sobre um PIB potencial maior no Brasil. Teremos também os dados de emprego, tanto da Caged como da PNAD e novamente veremos números positivos mostrando a continuidade da melhora no mercado de trabalho. A taxa de desemprego pode cair abaixo de 9% no trimestre findo em julho. O BC deve divulgar os dados de crédito até maio, ainda defasados pela greve, e vamos ver uma desaceleração no crescimento e também alta da inadimplência, pontos de atenção no setor bancário. Por fim, teremos os dados fiscais consolidados, que devem indicar o forte superavit primário de 2% do PIB até Jun/22, afastando o risco fiscal e o temor maior sobre o impacto das desonerações recentes no resultado das contas públicas. Lá fora, toda atenção estará voltada para o payroll nos EUA, com os números de agosto que podem contribuir para consolidar a expectativa de uma alta de 75 bps pelo Fed na reunião de setembro.

Top da Semana

Com novo CEO, Sergio Rial, e arrefecimento inflacionário a Americanas (AMER3) subiu 38,91%, seguida pelas companheiras do setor, Magazine Luiza (MGLU3) e Alpargatas (ALPA4), que apresentaram um retorno positivo de 21,16% e 16,06%. Na contramão, IRB (IRBR3) caiu 10,45%, diante de uma oferta de ações com forte desconto e alto número de investidores vendidos, seguida pela Suzano (SUZB3) e Ez Tec (EZTC3) que apresentaram queda de 9,25% e 7,78% consecutivamente.

Receba nossas análises por e-mail