Fim do ciclo de alta da Selic à vista
Mantendo o ritmo de recuperação da semana passada, o Ibovespa encerrou em alta pela terceira semana consecutiva registrando avanço de 3,21% a 106.472 pontos. Enquanto mercados globais ponderavam risco geopolítico entre Estados Unidos e China, com a ida de Nancy Pelosi (chefe da Câmara) à Taiwan, a bolsa por aqui subia refletindo expectativas do fim do aperto monetário pelo Copom, após alta de 50 bps na quarta-feira com a ata indicando mais um aumento residual na próxima reunião e em meio a isso tudo a temporada de balanços do 2T ia precificando alguns papéis durante a semana. Falando em aperto monetário, o final da semana trouxe uma surpresa positiva para payroll (não para o Fed) indicando uma atividade ainda forte, mas que pode colocar a autoridade em ritmo de aceleração na alta dos juros para conter a inflação, com isso os mercados globais reagiram negativamente, mas ainda assim encerraram a semana em campo positivo. Por aqui, ações do setor de varejo, imobiliário e tecnologia se beneficiaram do movimento de fechamento a curva de juros e bluechips em movimento de “buy Brazil” pelos estrangeiros e afastaram o Ibovespa dos 100 mil pontos. No destaque setorial, o índice do setor imobiliário (IMOB) subiu forte com +10,27% de alta após o alívio da curva de juros com decisão do Copom, seguido pelas ações do setor financeiro (IFNC) avançando 6,20% e de varejo (ICON) subindo 4,81%.
Na quarta feira, o Copom elevou a Selic em 0,50 p.p., conforme o esperado, e deixou um pequeno espaço para uma eventual alta residual de 0,25 p.p. em setembro, caso necessário. Mas o mercado convergiu para uma expectativa de fim de ciclo. Contribuiu para essa visão os dados mais fracos de inflação, com o IGP-DI em -0,38% em julho, sendo -1,19% no IPC, e dados da indústria novamente em queda, -0,4% em junho. A queda da cotação das commodities no mercado internacional, -4% na semana no CRB, também favorece a perspectiva de menor inflação à frente, incluindo nos combustíveis. Aliás, tivemos mais um anúncio de redução de preços, agora no Diesel, pela Petrobras. A queda nas taxas de juros foi significativa, as taxas reais chegaram a cair 50 bps, e os cupons da NTN-Bs mais curtas até 5 anos voltaram a ser negociados próximo de 5,5%. As taxas pré-fixadas também tiveram queda e os juros dos títulos de dois anos reduziram de 13% para 12%, ainda patamar alto, ou seja, caso a tendencia de desaceleração da inflação se confirme e seja mais rápida, podemos continuar a vendo fechamentos dos juros.
Lá fora, os mercados ficaram estáveis na semana, mas com muita volatilidade. A semana começou com empolgação nos juros e precificação de cortes pelo Fed já no começo de 2023, mas falas de alguns diretores e os dados fortes do payroll de julho jogaram água fria nessa expectativa. O mercado de trabalho nos EUA surpreendeu com forte geração de empregos em julho, mais de 500 mil vagas, o dobro do esperado. A taxa de desemprego caiu para a mínima de 3,5% e os salários seguem em alta de 5,2% em 12 meses. Esse cenário, que é bem diferente do cenário de recessão que vimos discutindo, significa que o Fed deverá ir mais longe no aperto monetário. O dólar voltou a subir, +1% e relação à cesta de moedas, e os juros de 2 anos saltaram de 2,9% para 3,25% em uma semana.
Empresas e Setores
Bom resultado operacional, apesar de tesouraria de PDD pressionarem. O Bradesco (BBDC4) reportou resultado positivo e acima de nossas expectativas, com lucro líquido de R$ 7 bi (+3,2% t/t e +2,7% R/E). (Comentário BBDC4)
Recuperando! A Cielo (CIEL3) trouxe resultados melhores no 2T22, o lucro foi de R$ 635,3 enquanto o EBITDA somou de R$ 914,7 mm.
2T22 neutro. A Copasa (CSMG3) apresentou resultados parcialmente neutros em 2T22, na nossa opinião. A receita líquida reportada foi de R$ 1,34 bi (+2,6% a/a e +5,5% t/t), o lucro líquido do período foi de R$ 224 mm (+7% a/a). (Comentário CSMG3)
O jogo começa a virar. A ENGIE Brasil (EGIE3) apresentou resultados referentes ao 2T22 com forte crescimento anual. A receita operacional líquida da companhia foi de R$ 3 bi (-4% a/a) e redução em 25% de seus custos operacionais totais, o EBITDA Ajustado foi de R$ 1,89 bi (+24% a/a). (Comentário EGIE3)
Surpreendendo expectativas. A Embraer (EMBR3) reportou lucro líquido em 2T22, somando R$ 199,8 mm. Apesar da queda de 6% frente 2T22, as projeções da Refinitiv era na ordem dos R$ 43,3 mm em prejuízo.
Resultados em linha, apesar de mistos. O Grupo Fleury (FLRY3) reportou resultados mistos no 2T22, com receita líquida recorde de R$ 1.112 mm (+19,3% a/a). O EBITDA da empresa foi de R$ 298 mm (+35,6% a/a). (Comentário FLRY3)
Controle eficiente dos custos. A Getnet (GETT11) anunciou receita liquida de R$873 mm (+32% a/a) e lucro líquido de R$ 176 mm (+33% a/a). | Resultado positivo. Diversificação importa, sim. A Gerdau (GGBR4) trouxe resultados fortes novamente, destaque para a margem EBITDA de 33% no 2T22. O lucro líquido foi de R$ 4,3 bi (+18,9% R/E, +46,2% t/t). (Comentário GGBR4)
Salto no lucro. A Metalúrgica Gerdau (GOAU4) reportou lucro líquido 26% maior que o mesmo período do ano anterior, totalizando R$ 4,3 bi. O EBITDA Ajustado foi de R$ 6,6 bi, margem de 28,9% (-1,9 p.p. a/a)
Alta de 98%. A Grendene (GRDN3) trouxe um bottom line 98% maior que em 2T21, com lucro de R$ 65,7 mm, seu EBTIDA também cresceu comparativamente, somando R$ 28 mm.
Esperávamos resultado bom, veio muito bom. A Hypera (HYPE3) divulgou receita líquida de R$ 2,2 bi (+25,8% a/a) no 2T22, seu lucro totalizou R$ 456 mm (-5% a/a e +14,3% R/E). (Comentário HYPE3)
A cada dia melhor. Iguatemi (IGTI11) reportou resultados conforme esperávamos, totalizando um volume de vendas de R$ 4,3 bi (+6% R/E, +28% t/t e +56% a/a) e seu FFO Ajustado foi de R$ 88 mm (+8% R/E e +12% t/t). (Comentário IGTI11)
Sólidas margens, apesar da pressão de custos. A JSL (JSLG3) apresentou receita líquida de R$ 1.439 mm (+4% R/E, +11% t/t e +56% a/a), em linha com nossa projeção. O EBITDA do 2T22 foi de R$ 250 mm (+13% R/E e +15% t/t como também a/a). (Comentário JSLG3)
Cheia de estilo. A Lojas Renner (LREN3) trouxe resultados sólidos no 2T22, conforme nossas expectativas. A receita líquida de mercadorias totalizou R$ 3,2 bi (+40,6% a/a) e seu EBITDA Ajustado atingiu R$ 519 mm (+57,3% a/a). (Comentário LREN3)
Bons resultados operacionais e sólida rentabilidade. A Movida entregou no 2T22 receita líquida de R$ 2,31 bi (+2% R/E, +17% t/t e +90% a/a), EBITDA de R$ 905 mm (+2% R/E, +5% t/t e +113% a/a) e lucro operacional de R$ 664 mm (+3% R/E, +2% t/t e +111% a/a). (Comentário MOVI3) Lucro em dobro. A PetroRio (PRIO3) reportou lucro líquido de US$ 139,9 mm (+112,2% a/a), auxiliado pela alta do preço do barril Brent e reduções no seu quadro de custos.
Crescimento das receitas nas verticais. A Porto apresentou resultado abaixo da expectativa do nosso Research, com lucro líquido de R$ 131 mm (-80% a/a e -59% Inter Research) e ROAE de 5,6% (-23,6 p.p. a/a e -7,5 p.p. R/E). (Comentário PSSA3)
Resultado forte e margens surpreendem. A Raia Drogasil (RADL3) divulgou resultados fortes no 2T22, o top-line veio em linha com nossas projeções, mas as margens foram acima das nossas expectativas. A receita líquida do período foi de R$ 7.179 mm (+23% a/a) e seu lucro líquido ficou em R$ 363 mm (+43,2% a/a). (Comentário RADL3)
Resultados sólidos, mas rentabilidade abaixo do esperado por nós para os resultados do Grupo SBF (SBFG3) no 2T22. A receita da companhia atingiu R$ 1,46 bi (+31,2% a/a) e seu EBITDA consolidado foi de R$ 154,7 mm (+3,3% a/a). (Comentário SBFG3)
Sólidos resultados operacionais da Simpar (SIMH3) que divulgou receita líquida de R$ 5.463 mm (+1% R/E, +19% t/t e +33% a/a) no 2T22 e R$ 213 mm de lucro líquido (-9% R/E, -35% t/t e -46% a/a). (Comentário SIMH3)
Novo revés nos custos. A Tenda apresentou receita líquida em linha com nossas projeções na ordem dos R$ 627 mm (-1% R/E, +8% t/t e -10% a/a), o EBITDA da companhia foi negativo, na soma de R$ 61 mm. Os lançamentos (VGV) do período totalizaram R$ 769 mm. (Comentário TEND3)
Resultados mistos após compra da Oi. A Tim Brasil (TIMS3) reportou, no 2T22, receita líquida de R$ 5.368 mm, crescimento de 21,8% a/a e 13,6% t/t, entretanto, o lucro líquido da telecom foi 53,2% menor no comparativo anual e 31% contra o 1T22, somando R$ 280 mm.
Resiliência em TechFin e Gestão. A Totvs (TOTS3) apresentou resultados em linha com nossas projeções no 2T22, com receita líquida consolidada de R$ 1.008,5 mm (vs. R$ 1.004,3 mm Inter Research) e lucro líquido 17,8% acima de nossas expectativas na ordem dos R$ 129,1 mm. (Comentário TOTS3)
Bom resultado operacional faz balanço. A Tupy (TUPY3) reportou receita líquida de R$ 2,5 bi (+53,7% a/a), seu EBITDA foi de R$ 332 mm (+ 134,6% a/a).
Prejuízo revertido pela Ultrapar (UGPA3) que divulgou R$ 459,9 mm de lucro no bottom line no 2T22 (vs. R$ 18,2 mm 2T21). O EBITDA Ajustado totalizou R$ 1,5 bi (+197% a/a).
IPOs & Afins
Essa semana, a Urca, gestora carioca do fundo imobiliário Urca Prime Renda (URPR11), anunciou a intenção de captar R$ 500 milhões em IPO na B3 via BDR. Os Brazilian Depositary Receipts, representarão ações da Urca Real State Holding Company, empresa listada na bolsa de Bermudas. A intenção é realizar a operação entre o primeiro e segundo turno das eleições aqui no Brasil. Segundo apurou o Broadcast, o capital levantado deve ser utilizado para bancar a construção de empreendimentos nos EUA.
Fusões e Aquisições
Dando início a semana, a Weg (WEGE3) assinou contrato para compra da italiana Gefran, fabricante de equipamentos destinados a indústria de automação e inovação tecnológica, pelo montante de € 23,0 milhões. A companhia é listada na bolsa italiana com o ticker GE, possui fabricas na Itália, Alemanha, China e Índia, atendendo clientes de 70 países, com uma top line de € 44,8 milhões em 2021, o que vem a impulsionar as operações da Weg no mercado externo. | No setor de saúde, por meio de sua controlada, a Kora (KORA3) anunciou a aquisição de 89% da Gastroclínica Diagnóstico por Imagem (GDI), localizada em Fortaleza no Ceará, pelo total de R$ 2,7 milhões. Segundo a companhia, a operação tem como objetivo a ampliação dos serviços oferecidos a seus pacientes, dando prioridade ao apoio ao diagnóstico terapêutico (“SADT”). | Além disso, a Ambipar (AMBP3) deu mais um passo para sua consolidação na América do Norte, com a compra da canadense Ridgeline, sendo a décima terceira aquisição no continente. Em 2021, a adquirida obteve um EBITDA de C$ 4,2 milhões, com operações voltadas para o atendimento de emergências e serviços ambientais para os setores de óleo e gás, utilities, mineração e construção. | Por outro lado, a Braskem (BRKM5) comunicou a compra de 61,1% da participação acionária da Wise Plásticos pelo valor de R$ 121 milhões, com o intuito de expandir as suas atividades ligadas a economia circular, por meio das operações de reciclagem mecânica da adquirida. | Já, a controlada da Totvs (TOTS3) celebrou a aquisição da startup Tallos por R$ 6,7 milhões, dando um grande passo no mercado de “conversational commerce”. (Confira nosso comentário) | Encerrando a movimentada terça-feira, Multiplan (MULT3) informou a aquisição remanescente de 49,9% do shopping DiamondMall pelo total de R$ 340 milhões. | Por fim, nessa sexta-feira (5), a Locaweb (LWSA3) anunciou a compra da Síntese Soluções, plataforma especializada em omnicanalidade para o varejo, por um montante aproximado de R$ 35,2 milhões, além do direito de earnout para os vendedores. A operação está em linha com a estratégia da Locaweb de fortalecimento do seu portfólio de e-commerce e consolidação de alternativas para digitalização do varejo físico.
Fundos Imobiliários
Em estabilidade, o IFIX variou de 0,05% na semana. Seguem os principais fatos ocorridos no período:
RCRB11: Foi assinado pelo fundo o aditamento do contrato de cessão de direitos de compromisso de venda para a alienação do 10º andar do Edifício “Bravo!”, localizado em São Paulo-SP e com área BOMA de 359 m², pelo valor aproximado de R$ 9 mm a ser pago em quatro parcelas iguais até dez/2022. De acordo com o fundo, a transação gerou um ganho de capital equivalente a R$ 0,72/cota, com TIR próxima de 18,3% a.a.
RECT11: O fundo comunicou a celebração de um contrato com o Instituto de Tecnologia e Inovação para a Transição Energética, associação fundada pela ENEL BRASIL S.A., para a locação de uma sala no 8º andar do Centro Empresarial Parque da Cidade, situado em Brasília/DF. O contrato tem vigência desde 1º de agosto de 2022, com área alugada correspondente a 465,28m². Após essa locação, a totalidade das unidades de propriedade do Fundo no Centro Empresarial Parque da Cidade encontra-se ocupada e a taxa de vacância do portfólio será de 10,09%, sem resultar em impactos imediatos na distribuição de rendimentos do fundo.
RBRY11: No âmbito da oferta pública de distribuição primária de cotas da sua 5ª emissão, o fundo comunicou a atualização do preço de emissão de R$104,96 para R$101,86, nível condizente com o valor patrimonial das Cotas em 30 de junho de 2022 acrescido da taxa de distribuição.
TEPP11: Foi celebrado um contrato entre o fundo e a companhia Alliar S.A. para locação dos conjuntos nºs 92, 93 e 94 do Edifício Passarelli e o conjunto nº 111 do condomínio Edifício São Luiz. A locação no Ed. Passarelli corresponde a 509,73m² de área BOMA e a locação no condomínio Ed. São Luiz perfaz 945,46m² de área BOMA. Ambos os contratos têm vigência a partir de 15.07.2022 e tem duração prevista de 60 (sessenta) meses. Dessa forma, o fundo estima que a locação impactará positivamente o fundo, ao término do período de carência dos contratos, de 06 meses para o Ed. Passarelli e de 08 meses para o Condomínio Ed. São Luiz, em R$ 0,03/cota na distribuição mensal de rendimentos. Ainda como resultado da locação, a vacância física nestes dois ativos do fundo fica zerada e a taxa de vacância física do portfólio passa de 8,16% para 4,31%.
Agenda da Semana
Na próxima semana, nosso foco será nos dados de inflação, com as importantes divulgações do CPI nos EUA e do IPCA aqui. Esperamos uma deflação de 0,6% aqui no Brasil em julho, impactada pela redução dos impostos sobre energia elétrica e combustíveis, mas os preços de serviços e núcleos, podem indicar o comportamento mais benigno também. Sobre a atividade, teremos também os dados de varejo e serviços de junho, para o varejo, é esperada uma estabilidade, mas em serviços ainda devemos ver um forte crescimento em relação ao mesmo mês no ano passado. Com esses dados, fecharemos nossa projeção para o PIB do 2º trimestre, preliminarmente, esperamos uma alta de 0,7%. Por fim, a ata do Copom pode trazer mais detalhes sobre as discussões da política monetária e o que monitorar para o próxima reunião em setembro.
Top da Semana
Diante da boa percepção do mercado com posicionamento considerado “dovish” feito pelo copom, empresas que vinham sofrendo fortes quedas tiveram uma retomada na semana, com destaque para Locaweb (LWSA3), MRV (MRVE3) e Méliuz (CASH3), que subiram 31,8%, 24,3% e 23,8% consecutivamente. Mesmo com uma boa semana para as ações brasileiras, Alpargatas (ALPA4) caiu 12% com desempenho abaixo do esperado concomitante a Fleury (FLRY3) caiu 4,5% que após divulgação dos resultados. A Braskem (BRKM5) apresentou a terceira maior queda de 3,9%, após mudanças na alíquota de importação de produtos vendidos pela companhia.