Fed mais dovish reduz a aversão a risco
Em ritmo de recuperação Ibovespa encerrou a semana com alta de 4,29% a 103.165 pontos, sendo a melhor performance semanal desde março de 2021, com uma ajuda da Petrobras e sua expressiva distribuição de dividendos, além de um mercado externo altista com balanços positivos das big techs Apple e Amazon e companhias do setor de energia, além da decisão do Fed de aumentar os juros em 75 bps como esperado e sinalizar um ritmo menos agressivo do aperto monetário. Por outro lado, a Vale reduziu perdas na semana acompanhando um mercado otimista, mas seu balanço desapontou com EBITDA reduzindo pela metade com a redução dos preços e vendas de minério pela companhia. Nos destaques setoriais da semana, as utilities lideraram com o UTIL em alta de +3,73% na semana, seguido pelo INDX com alta de +3,17%, ICON +2,75%, IMAT +2,54%, IMOB +2,53% e IFNC +2,44%.
O Fomc elevou os juros em 75 bps, mas os comentários do presidente do Fed, Jay Powell, foram lidos como mais dovish, ou seja, o ciclo de alta de juros pode ser mais curto e na próxima reunião já poderíamos ter um alta menor, de 50 bps. Os sinais da economia americana, de fato, contribuíram para essa visão. O PIB do 2º trimestre ficou abaixo do esperado, em -0,9% e já se discute se os EUA estão em recessão técnica, ou não. O mercado de trabalho ainda mostra sinais de aquecimento, mas os dados do mercado imobiliário também indicam uma desaceleração. Apesar desses fatores corroborem com a expectativa de queda da inflação, os dados do PCE ainda não trouxeram alívio, com alta do núcleo em 0,6% no mês de junho, acima da expectativa. Os juros americanos tiveram queda com o cenário de recessão à vista, mas as commodities, na contramão, recuperaram, assim como as bolsas, com o S&P em alta de 4% na semana. Na Europa, tivemos também os dados de inflação de julho, que ainda apresentaram alta, na zona do euro, o CPI acumula 8,9% em 12 meses. Já o PIB da Europa surpreendeu positivamente, com alta de 0,7% no trimestre, mas as preocupações com o fornecimento de gás ainda deixam dúvidas sobre uma potencial recessão a frente.
Aqui no Brasil, a semana foi de bons dados macroeconômicos. O destaque ficou com o mercado de trabalho, que fechou o semestre com a menor taxa de desemprego desde 2015, 9,3%. A população ocupada bateu recorde e o rendimento real começa a dar sinais de melhora na margem. O Caged também confirmou esse movimento, e vimos mais uma forte geração de empregos formais em junho, 278 mil novas vagas, acumulando 1,3 milhões no ano. A melhora no mercado de trabalho segue o crescimento da economia maior que o esperado, puxado principalmente pelos serviços, mas também indica que as recentes reformas podem estar dando novo dinamismo no setor. Tivemos também os dados fiscais de junho, do governo central, e de maio, consolidado, que também confirmam o maior crescimento da economia. O superávit primário acumulado em 12 meses segue em alta, 1,3% do PIB até maio, e os dados do governo indicam que esse número pode chegar a quase 2% em junho. A dívida bruta/PIB teve nova queda para 78% e estamos revisando nossas expectativas para o setor público e, mesmo com as recentes medidas aprovadas, ainda devemos ver um superávit primário no ano, que agora vai contar com mais um dividendo bilionário da Petrobras. Por fim, os dados de inflação também trouxeram boas notícias com a indicação de desaceleração, IPCA-15 em 0,13% e IGPM em 0,21%, ambos abaixo das expectativas. Em parte, efeito da redução dos impostos na gasolina, etanol e conta de energia. Mas podemos observar também queda da inflação ao produtor, com commodities agrícolas acomodando, o que indica que a inflação deve ser de fato menor no segundo semestre.
E o dado de inflação mais comportada pode ajudar na decisão do Copom na próxima semana. A expectativa é de uma alta de 0,50 p.p. na taxa, para 13,75%, mas o BC pode encerrar o ciclo de altas agora em agosto. A curva de juros teve forte queda na semana, principalmente nas taxas médias e longas, devolvendo toda alta que observamos ao longo do mês. Os juros reais também cederam, mas ainda permanecem no elevado patamar de 6%. Por fim, o dólar também teve alívio, seguindo o mercado lá fora, e voltou para R$5,19, queda de 6% na semana.
Além do Copom, estaremos de olho nos dados da produção industrial de junho, e balança comercial de julho, indicando como começa o segundo semestre em termos de atividade, e lá fora, o payroll nos EUA será o dado mais esperado na semana.
Empresas e Setores
Novo administrador. A Aliansce Sonae celebrou um contrato que garante a administração do Shopping Eldorado em São Paulo, SP, a gestão se inicia na primeira semana de setembro. | Pouso forçado. Por problemas em cadeias produtivas e falta de matéria prima, a Embraer (EMBR3) e a Boeing (BOEI34) comunicaram a falta de peças para aeronaves, além disso, a empresa americana reportou uma receita de US$ 16,68 bi no 2T22 (-2% a/a), já o lucro líquido reportado foi de US$ 160 mm (-72% a/a). | Mais barato na bomba. A Petrobras (PETR4) comunicou uma nova redução no preço da gasolina em 3,9%, a diminuição é a segunda deste mês. | Debêntures. A B3 (B3SA3) aprovou a sua 6ª emissão debêntures simples na soma de R$ 3 bi. A arrecadação será para pagamento da sua terceira emissão de debêntures de ago/2020, alongando seu passivo. | Maior volume de vendas, Brasil impulsionando. A Ambev (ABEV3) reportou seu resultado do 2T22, a empresa registrou lucro líquido de R$ 3,06 bi (+4,6% a/a), acima do consenso de mercado de R$ 2,3 bi. | Everybody loves Assaí. O Assaí (ASAI3) divulgou bons resultados no 2T22, sua receita líquida atingiu R$ 13,3 bi (+32,8% a/a) enquanto o EBITDA Ajustado totalizou R$ 978 mm (+23,3% a/a). (Comentário ASAI3) | Vendas surpreendem e atacarejo continua sólido. O Grupo Carrefour (CRFB3) seguiu seu desempenho robusto do primeiro trimestre, as vendas brutas consolidadas da varejista atingiram R$ 26,5 bi (+35,6% a/a e +4,6% R/E), o EBITDA Ajustado no 2T22 foi de R$ 1.373 mm (+24,5% a/a e +4,8% R/E). (Comentário CRFB3) | Longe das projeções. A Ecorodovias (ECOR3) divulgou resultados abaixo do consenso do mercado, revertendo o lucro do 2T21 e resultando prejuízo líquido de R$ 13 mm. O EBITDA ajustado foi de R$ 463,1 mm (-18,8% a/a). | Resultado em linha. A EDP Brasil (ENBR3) apresentou bom desempenho no 2T22, a receita operacional da companhia totalizou R$ 3,6 bi no período (+6% a/a), e lucro líquido de R$ 381 mm (-4,3 R/E, +65% a/a), ainda pressionado pela alta de indexadores como CDI e IPCA. (Comentário ENBR3) | Arremeteu. A Gol (GOLL4) divulgou prejuízo líquido de R$ 2,9 bi no 2T22, parte do resultado decorre das fortes variações cambiais do trimestre. O EBITDA divulgado totalizou R$ 439 mm, revertendo a quantia de R$ 547,4 mm negativos do mesmo período do ano anterior. | Custos avançam, mas resultado segue resiliente. Em resultado positivo para o 2T22, a Klabin (KLBN11) reportou produção de 1.002 kton, e venda de 1.009 kton em celulose (+12% t/t e +7% a/a) resultando em uma receita consolidada de R$ 5.039 mm (+4,6% R/E e +14% t/t). (Comentário KLBN11) | Não recorrentes atrapalham resultado. A Multiplan divulgou resultados mistos com um volume de vendas totais (VGV) de R$ 4,9 bi (+8,2% R/E) e um FFO gerado de R$ 228 mm (-4,3% R/E). (Comentário MULT3) | Resultado levemente positivo, com adição de 170 mil beneficiários. Odontoprev (ODPV3) trouxe resultados ligeiramente positivos no 2T22, apesar da leve alta da sinistralidade. A receita líquida reportada foi de R$ 481 mm (+5,8% a/a e -0,1% R/E). (Comentário ODPV3) | Pão de Açúcar com gosto amargo, mas Êxito segue bem. O Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) divulgou resultados mistos no 2T22, a receita líquida da companhia atingiu R$ 10,1 bi (+9,3% a/a e –1,6% R/E) enquanto sua margem EBITDA de 7,8% reduziu 2,7 p.p. no comparativo anual. (Comentário PCAR3) | Brent disparou, e a Petro? A Petrobras (PETR4) reportou lucro líquido no 2T22 de R$ 54,3 bi (+26,8% a/a e +21,9% t/t), o EBITDA Ajustado da companhia foi de R$ 98,2 bi (+26,4% t/t e +58,6% a/a) | NII fraco, NPL estável. O Santander (SANB11) reportou resultado acima da nossa expectativa, com um lucro líquido de R$ 4,1 bi (+2% t/t e +5% Inter Research). (Comentário e Revisão de Preços SANB11) | Top line surpreende e compensa alta dos custos. A Suzano (SUZB3) surpreendeu positivamente com receita líquida de R$ 11.520 mm (+10% R/E) no 2T22, a empresa também reportou EBITDA no de R$ 6.303 mm no período (+10% R/E e +23% a/a). (Comentário SUZB3) | Desempenho financeiro penaliza resultado do trimestre. A ISA CTEEP (TRPL4) reportou resultados do 2T22 abaixo do esperado. Com queda na sua receita líquida, o EBITDA totalizou R$ 555 mm (-12% a/a) e o lucro ajustado pelas variações monetárias foi R$ 74,1 mm (vs. R$ 248,1 mm 2T21). (Comentário TRPL4) | Receitas avançam e compensam custos. Os resultados da Usiminas (USIM5) do 2T22 vieram em linha com nossas projeções. A receita líquida somou R$ 8.531 mm (+5,2% R/E, +8,8% t/t, mas -11,1% a/a) enquanto seu EBITDA ajustado foi na ordem dos R$ 1.930 mm (+23,7% t/t). (Comentário USIM5) | Receitas em linha, mas EBITDA fica aquém. A Vale (VALE3) reportou resultados levemente abaixo das nossas expectativas, a receita líquida consolidada da companhia totalizou US$ 11.157 mm (-2,7% R/E, -3,2% t/t e -33% a/a). (Comentário VALE3) | Robusto crescimento e rentabilidade, como esperado. A Vamos encerrou o segundo trimestre do ano com receita líquida de R$1.199 mm (+27% t/t e +75% a/a) e EBITDA de R$450 mm (+25% t/t e +76% a/a) foi em linha com a expectativa do nosso Research. (Comentário VAMO3) | Resultados mistos, custos pressionam. A Telefônica Brasil (VIVT3) reportou queda de 44,6% no lucro no comparativo anual, encerrando o exercício na ordem dos R$ 746 mm. O EBITDA também reduziu, este em 4,4% e somou R$ 4.569 mm. | Lucro bilionário e alta no after-market. A gigante Alphabet (GOGL34) obteve lucro líquido de US$ 16 bi (-13,6% a/a), com destaque para as linhas de Cloud e Search. A receita apresentada pela companhia totalizou US$ 69,7 bi, frente US$ 61,9 bi no mesmo período de 2021. | Crescimento lento, mas alta no top line. A Microsoft (MSFT34) comunicou uma alta em 12,3% a/a de sua receita líquida, totalizando R$ 51,9 bi, além disso, o lucro reportado foi de US$ 16,7 bi (+1,7% a/a).
IPOs & Afins
O grupo Alibaba, colosso chinês de e-commerce (B2B e varejo), anunciou intenções de realizar uma oferta primária de ações em Hong Kong. Na terça-feira, 26 de julho, o conselho de administração da empresa autorizou a diretoria executiva a seguir com o processo de listagem que, segundo a companhia, deve ser finalizado antes do final do ano. Após a oferta Alibaba permanecerá sendo negociada em Nova York, porém na forma de ADRs (American Depositary Receipt). Segundo apuração do Broadcast o conglomerado não está sozinho. As divergências entre os Estados Unidos e a China sobre auditoria das empresas asiáticas listadas na américa vem incrementando as pressões regulatórias. De modo que outras companhias vêm levando em consideração a listagem na Asia e consequente fechamento de capital nos EUA.
Fusões e Aquisições
Em semana ofuscada pelo início da temporada de resultados, vimos na terça-feira (26), a Log (LOGG3) anunciar a venda de galpões para o CSHG Logística (HGLG11), fundo gerido pelo Credit Suisse, pelo montante de R$425 mm. Segundo a companhia, a operação está em linha com a estratégia de reciclagem do seu portfólio, em busca de gerar mais valor aos acionistas. | Além disso, a Kora (KRSA3) comunicou a realização de um contrato para compra de 100% do Centro de Cardiologia e Radiologia Intervencionista (CCRI), através de sua subsidiária Ilha do Boi. O CCRI detém o Hospital Encore, localizado em Goáis, sendo referência na área de cardiologia do estado. | Por fim, nessa sexta-feira (29), a CSN (CSNA3) por meio de sua controlada, Companhia Florestal do Brasil, anunciou a aquisição de 66,23% da CEEE-G, pelo montante de R$ 928 mm. A operação tem o objetivo de fortalecer e expandir os negócios da companhia, com foco em projetos que ampliem a sua autossuficiência em energia elétrica.
Fundos Imobiliários
Em continuidade à tendência de alta, o IFIX acumulou ganhos de 0,66% na semana. Seguem os principais fatos relevantes da semana:
HGLG11: O fundo firmou contrato junto à LOG Commercial Properties para aquisição de dois ativos logísticos localizados em Betim-MG, pelo valor total de R$ 453,4 mm, o que gerará um aumento próximo de 150.000 m² de ABL própria para o fundo. O primeiro ativo adquirido – LOG Betim II – tem característica monousuária, atualmente em construção na modalidade Built-To-Suit, com área bruta locável de 95.730 m² e integralmente locado para uma empresa de grande porte, com previsão de conclusão de construção no 3º trimestre de 2022. Já a segunda operação será realizada por meio da aquisição de 47,88% de ações da SPE que detém o segundo ativo – o Parque Torino –, um condomínio logístico multiusuário com 8 galpões construídos, com área bruta locável de 137.929 m², 99% locados para empresas de grande e médio porte. | HGRU11: Foi concluído pelo fundo a venda da loja detida em Garça-SP e atualmente locada para as Casas Pernambucanas. Com a conclusão da venda pelo montante de R$ 3,25 mm, o fundo gerou um lucro caixa equivalente a R$ 0,05/cota com a operação. | IRDM11: Foi aprovado via AGE a realização da 12ª emissão de cotas do fundo com esforços restritos de distribuição, nos termos da Instrução CVM nº 476. O valor total previsto da oferta é de R$ 300 mm, a ser captado por meio da emissão de 3 milhões de novas cotas pelo valor unitário de R$ 99,42, montante que pode ser acrescido em até 20% caso haja demanda.
Agenda da Semana
Top da Semana
Diante de um robusto resultado e distribuição de dividendos recorde, as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 16,4% e 15,8% consecutivamente, puxando a sua concorrente do setor, 3R Petroleum (RRRP3), que apresentou uma performance positiva de 15,6%. Carrefour (CRFB3) também se destacou nos resultados e acelerando uma alta de 10% na semana. Na contramão, com cautela para os resultados, Americanas (AMER3) e Magazine Luiza (MGLU3) caíram 12,1% e 9,8%, seguida pela queda de 6,2% do Banco Pan (BPAN4).