Macroeconomia


O Mercado na Semana Ed.29.22

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Rafaela Vitória

Publicado 22/jul8 min de leitura

Volatilidade nos mercados de juros

O Ibovespa encerrou a semana a 98.925 pontos com alta de 2,46% enquanto mercados globais se recuperam após Fed dar sinais de não acelerar o ritmo de alta nos juros e administrar expectativas de uma alta de 75 pontos base para a próxima decisão na semana que vem. Bolsas também vão reagindo ao início da temporada de balanços mostrando resiliência nos resultados do 2T22, com bancos no exterior superando expectativas, mas alertando para uma maior inadimplência por conta da expectativa de recessão pela frente. Por aqui, os papéis de commodities e bancos contribuíram para alta do índice na semana. A Petrobras trouxe um relatório de produção e vendas positivo, mantendo expectativas de dividendos robustos. As companhias do setor de siderurgia e mineração subiam com a recuperação do minério de ferro na semana, após dados de queda de estoques de aço na China e a Vale até chegou a apresentar queda na semana, mas se recuperou mesmo decepcionando em seu relatório de produção e vendas do 2T22. Nos indicadores setoriais da B3, destacamos o IFNC que subiu +3,77% na semana, seguido pelo IMAT +2,82%, com os demais índices acompanhando o movimento altista, INDX +1,85%, ICON +1,36% e UTIL +1,10%.

A incerteza sobre o rumo da economia - como será controlada a inflação e qual o tamanho da desaceleração na atividade - continua impactando as expectativas para os juros. Nos EUA, os dados do mercado imobiliário mostraram os primeiros sinais de desaquecimento do setor, mas foi o PMI de serviços de julho que mostrou a maior retração, com o índice em 47, além de bem abaixo dos 51 esperados, já em território que indica recessão. Como resultado, os juros dos títulos americanos caíram para 2,75%, a menor taxa desde maio. O mercado começa a rever suas apostas para as próximas altas do Fed, esperando um ciclo mais curto e menos intenso, inclusive afastando a possibilidade de alta de 100 bps na reunião na próxima semana, que chegou a ser especulada quando da divulgação do CPI uma semana atrás. A bolsa americana teve alta com a perspectiva de um aperto monetário menor, e também com os primeiros resultados das empresas relativos ao segundo semestre, mostrando ainda bons números de crescimento. Enquanto isso na Europa, o ECB surpreendeu com a elevação de 0,50 p.p. na taxa básica, a primeira em mais de 10 anos. Começou tarde, mas começou forte. Apesar das preocupantes notícias sobre possíveis restrições no fornecimento de gás da Rússia, a inflação continua elevada, chegando a 8,6% em 12 meses na zona do euro, e passa a ser a maior preocupação da autoridade monetária.

Aqui no Brasil, o destaque de mercado da semana também foi a taxa de juros, mas o sinal aqui foi o contrário. Os juros tiveram nova semana de forte alta, descolando do cenário externo, ainda pesando a incerteza política e fiscal, apesar de algum alívio observado nessa sexta feira. Títulos pré fixados de 2 anos chegam a render quase 14% a.a. e os juros reais nas NTN-Bs ultrapassam 6%, patamar que vimos pela última vez na crise em 2015. A agenda de dados da semana estava esvaziada, mas a arrecadação federal de junho foi robusta, com recorde de impostos, confirmando o crescimento econômico bastante disseminado, tanto pelo imposto de renda das empresas, como pelas receitas previdenciárias do mercado de trabalho em alta. Foram arrecadados mais de R$1 trilhão em impostos nos primeiros 6 meses do ano, alta real de 11% em relação a 2021, o que deveria afastar as preocupações com o risco fiscal. Além dos juros em alta, o dólar também valorizou 1,7% na semana e voltou para o patamar de R$5,50. A esperada deflação para julho ganhou novo impulso com o anúncio da Petrobras de redução de cerca de 5% no preço da gasolina na refinaria, que vai se somar à redução do ICMS, para o limite de 18%, conforme lei aprovada pelo Congresso. Junto com a redução no etanol, combustíveis podem ter uma queda média próxima de 10% no mês, e resultar em IPCA de -0,6% em julho, contribuindo para termos uma inflação no ano mais próxima de 7%.

Empresas e Setores

Top-line forte, bottom-line fraco. A Weg (WEGE3) anunciou uma parceria com o Grupo Cevita para produção e venda de motores elétricos na Argélia, com início da produção previsto para o 4T22. Ademais, a companhia divulgou seus resultados do 2T22, com aumento de 25% a/a na receita ofuscado pela queda de 19,5% a/a no lucro líquido. | Gasolina mais barata. A Petrobras (PETR4) anunciou redução do preço da gasolina nas refinarias em aproximadamente 5%, a partir de quarta-feira (20). Este movimento ocorreu devido as recentes quedas do preço internacional do petróleo. Além disso, a companhia divulgou os números operacionais do 2T22, com produção de petróleo e gás de 2,65 milhões boe/d, em linha com a expectativa do mercado, uma vez que os dados já haviam sido divulgados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo). | Perda de assinantes. A Netflix (NFLX34) informou que irá começar a cobrar um valor adicional para os usuários que acessam suas contas em mais de uma residência. A decisão, anunciada na segunda-feira (18) ocorreu um dia antes da divulgação de resultados da companhia, na qual foi registrada uma perda de 970 mil assinantes. Apesar da redução, a companhia já havia divulgado que esperava uma perda de até 2 milhões de assinantes entre abril e junho. | Proteínas para cima, grãos para baixo. A valorização das ações do setor de frigoríficos foi um dos destaques da semana. Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3) subiram +8,2%, +2,3% e +3,4%, respectivamente. Já Minerva (BEEF3) foi a única que fechou a semana no negativo (-1,6%). As valorizações refletem o sentimento positivo do mercado para com os dados da Secex (Secretaria Especial do comércio Exterior e Assuntos Internacionais) de julho, que evidenciaram um aumento de preços, somados às quedas recentes dos preços dos grãos, que representam grande parte dos custos da companhia. | Não ESTAPARada. As ações da Estapar (ALPK3) subiram 58,3% nessa semana, seguindo os bons números reportados nas prévias operacionais do 2T22. A companhia registrou uma receita liquida de R$ 273 mm, já superando o resultado observado no mesmo período de 2019. O segmento digital teve 15,5% de participação na receita total, demonstrando o empenho da companhia na estratégia AutoTech. Olhando para a evolução de vagas, a companhia teve uma adição de 67,6 mil vagas nas operações de Zona Azul oriundo da aquisição da Zul Digital. | Pedidos feitos. A Embraer (EMBR3) anunciou a encomenda feita pela Porter Airlines de 20 aeronaves e pela Alaska Air de 8 jatos. Ademais, a companhia comunicou que, a partir de um estudo anual divulgado, espera que a demanda mundial por viagens aéreas cresça 3,2% a.a. ao longo dos próximos 20 anos. | Desacelerando. A Vale (VALE3) divulgou os dados operacionais do 2T22, com diminuição do guidance de produção de minério de ferro para 310-320 mm/t em 2022.

IPOs & Afins

A elevação das taxas de juros no Brasil e no mundo, somada ao temor de uma recessão global, vem contribuído com um mercado menos receptivo a IPOs e Follow-ons. Semana passada comentamos a respeito de uma desistência de listagem aqui no Brasil. Já essa semana, comentaremos sobre uma que aconteceu no exterior. Na quinta feira (21/07), a Hyundai Oilbank, o braço de petróleo e refino do grupo Hyundai, anunciou ao mercado que cancelou a aplicação para uma oferta inicial de ações. A decisão foi tomada após uma avaliação, por parte da companhia, de que as atuais tendências dos pares listados e as condições de mercado não permitiriam avaliação apropriada de seus negócios, mesmo com a sólida performance de resultados.

Fusões e Aquisições

Na terça-feira (19) a Ambipar (AMBP3) anunciou mais uma aquisição, dessa vez com a compra da Blue Ambiental, indústria de trituração de pneus e borrachas inservíveis localizada no Ceará. Segundo a companhia, a compra segue a estratégia de expandir as suas operações no Nordeste, ao passo que ampliará as suas soluções para gerenciamento de resíduos. | Além disso, na quarta-feira (20) o TC (TRAD3) comunicou ao mercado a compra de uma parcela da Galícia Educação por R$ 2,0 mm. A operação tem como objetivo o desenvolvimento do seu segmento educacional, assim possivelmente expandir o seu número de clientes. | Por outro lado, a Mills (MILS3) informou a aquisição Triengel por R$ 133,7 mm. Com a transação a companhia irá agilizar o seu processo de ingresso no mercado de equipamentos de LA, assim como consolidará a sua presença no setor, incorporando a expertise dos associados da Triengel nas suas operações. | Por fim, ainda na quinta-feira (21), a Aliansce Sonae (ALSO3) anunciou a venda total de sua participação no Uberlândia Shopping pelo montante de R$ 195 mm.

Fundos Imobiliários

Em recuperação, o IFIX avançou 0,50% na semana. Seguem os principais fatos relevantes da semana: 

RECT11: O fundo comunicou a celebração do primeiro aditamento ao contrato de locação junto à Companhia Nilza Cordeiro Herdy de Educação e Cultura, razão social da Unigranrio e integrante do Grupo Afya Educacional, para a locação adicional de uma área equivalente à 433,77m² no térreo do edifício Barra da Tijuca Corporate, situado na cidade do Rio de Janeiro-RJ, pelo mesmo prazo do contrato de locação, ou seja, até 18 de outubro de 2031. A área alugada, considerando a área original e a adicional, passou a corresponder a 9.875,06 m², o que resultará em uma redução da taxa de vacância do portfólio para 10,59%. | TORD11: De forma a cumprir com o art. 10, p.u., da Lei 8.668/03, o fundo informou que realizará um complemento positivo na distribuição de proventos no valor de R$ 0,0665 por cota, que serão pagos aos titulares de cotas na data “com” direito a provento (07/07/2022), a ser creditado em 26/07/2022.

Agenda da Semana

A próxima semana trará diversos indicadores importantes para a conjuntura doméstica e internacional. No cenário interno, conheceremos os dados do balanço de pagamentos e de crédito, em atraso desde o início da greve do Banco Central. Além disso, serão divulgados o resultado fiscal do setor público de maio e o IPCA-15 do mês de julho, para o qual esperamos alta de 0,16%. Por fim, o IGP-M de julho deve desacelerar para 0,33%, enquanto a taxa de desemprego deve seguir recuando para 9,3%. Externamente, o FED deve elevar os juros adicionalmente para o intervalo entre 2,25% e 2,5%, após os dados recentes de inflação acima da expectativa, enquanto o PIB americano no segundo trimestre deve mostrar alta de apenas 0,5% na comparação interanual.

Top da Semana

Com perspectivas positivas para o balanço, Locaweb (LWSA3) subiu 17,8%, seguida pela alta de 15,7% da Positivo Tecnologia (POSI3). A Alpargatas (ALPA4) apresentou a terceira maior alta, de 14,7%, podendo ser explicada pela estabilização do preço do petróleo, um importante derivado da principal matéria prima da companhia. Na outra ponta, Cogna (COGN3) caiu 8,3% com cenário desafiador pela frente. Em seguida, as empresas Fleury (FLRY3) e IRB Brasil (IRBR3) caíram 6,6% e 5,7% consecutivamente.

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