Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Rafaela Vitória

Publicado 10/jun10 min de leitura

Recession Fears

Em linha com as bolsas no ocidente, Ibovespa encerrou em queda de 5,06% a 105.481 pontos. Se por um lado as bolsas ocidentais têm mostrado maior aversão ao risco refletindo aos dados de inflação acima do esperado nos EUA e ao ritmo de aperto monetário nos bancos centrais, por outro lado, as bolsas no oriente seguem em mais uma semana em alta com dados do PMI chinês acima do esperado, mas ainda abaixo de 50 pontos e mesmo com ameaça de novo lockdown em algumas regiões do gigante asiático. Por aqui, os investidores pesaram a mão com receios dos impactos fiscais do subsídio aos combustíveis, mesmo com o IPCA trazendo sinais de desaceleração. Desta vez, nem as commodities seguraram o índice e até mesmo a Eletrobras caiu após a realização do seu follow on e as quedas foram duras, principalmente em setores voltados ao consumo doméstico, com o setor Imobiliário (IMOB) caindo -7,12%, Consumo (ICON) -6,06%, Materiais Básicos (IMAT) -5,74%, Financeiro (IFNC) -5,68%, Industrial (INDX) -5,28% e Utilities (UTIL) -3,83%. No pódio positivo da semana, as ações da Qualicorp (QUAL3) subiram 4,01%, seguidas pela CSN Mineração (CMIN3) 1,36% e JBS (JBSS3) praticamente estável em 0,14%. Na ponta negativa, Positivo (POSI3) caiu 20,3%, seguido pelas varejistas novamente, com Magazine Luiza (MGLU3) caindo 19,2% E Americanas (AMER3) caindo 17,3%.

A inflação mais alta nos EUA e o consequente receio que o Fed tenha que subir juros de maneira mais acelerada resultou em uma nova rodada de selloff pelos investidores. Nessa sexta feira, os mercados estavam todos alinhados em queda, ações, renda fixa e commodities. As bolsas nos EUA caíram cerca de 3% no dia e a taxa de juros de 10 anos chegou a 3,15% aa. O CPI de maio marcou variação de 1% no mês e não foi só a gasolina, a inflação está disseminada e os setores de serviços mostram alta persistente. A inflação cheia acumula 8,6% em 12 meses, mas o núcleo em 6,6% não fica muito atrás. Com a possibilidade de o Fed ter que ir mais longe no aperto monetário, o receio de recessão voltou a dominar os mercados. O Fomc se reúne na próxima semana e especulações de uma alta de 75 bps voltaram a ser discutidas. A decisão mais provável ainda é uma alta de 50 bps, mas deve vir acompanhada de um comunicado mais hawkish, indicando que o aperto pode ir além da taxa neutra até 2023 e poderemos ver o Fed Fund Rate acima de 3% em breve. O receio da desaceleração fez finalmente a contação das commodities cederem, o que pode ser positivo para a inflação futura.

Aqui no Brasil as boas notícias foram ofuscadas pela maior aversão a risco vinda de fora. Os dados da economia divulgados na semana foram bem melhores que o esperado. As vendas no varejo de abril surpreenderam positivamente, enquanto a inflação de maio ficou abaixo da expectativa, com IPCA em 0,47%, indicando que podemos ter finalmente passado pelo pico. Mas a notícia mais relevante da semana foi a privatização da Eletrobras. A empresa concluiu sua oferta de ações que levantou R$33 bilhões, diluindo a participação do governo para 40% e dando a maioria das ações com voto para os acionistas privados. A oferta teve demanda de cerca de R$60 bilhões e saiu a R$42,50 incluindo R$6 bi do FGTS. A empresa agora sem o controle estatal, ganha novas perspectivas de crescimento e investimento, e o governo deve receber recursos extraordinários da outorga, contribuindo para o resultado fiscal. Mas o debate fiscal também esquentou na semana com a proposta tempestiva de redução de impostos nos combustíveis. O impacto pode ser uma redução na inflação de curto prazo, mas o uso dos recursos subsidiando combustíveis nesse momento é questionável e levanta preocupações, mesmo com as contas públicas superavitárias. Todas essas informações serão importantes para o Copom que se reúne na próxima semana e deve elevar a Selic em 0,5 p.p. para 13,25%. A expectativa está em torno da comunicação sobre os próximos passos, que pode ser a manutenção da taxa a partir de junho.

Empresas e Setores

Céu Azul. A Azul (AZUL4) reportou alta de 74% em tráfego de passageiros no comparativo anual, além disso, a companhia relatou que a taxa de ocupação de seus voos desde o início do ano foi de 77,3%, aumento de 1,5 p.p. a/a. | Investimento estratégico. A B3 (B3SA3) comunicou um investimento de R$ 8,5 mm na startup Turn2C, atuante no mercado de consórcios com o uso de dados e tecnologia. | Nova rodada de capitalização foi anunciada pela CSN Mineração (CMIN3) com a emissão de R$ 1,4 bi em debêntures, a emissão ocorrerá em duas séries com vencimentos em 10 e 15 anos. Os recursos serão utilizados para investimento e pagamento de dívidas futuras. | Plataforma de Cursos. Investindo na criação de um hub de inovação, a Cogna (COGN3) lançou o Hubble Startup Studio, que funcionará como um Venture Builder para desenvolvimento de startups. | Oferta Primária, de novo. A CVC (CVCB3) reportou por meio de fato relevante ao mercado que avalia a realização de uma nova oferta de ações, para isso já está em contato com bancos para possibilitarem a operação, que ainda não foi aprovada. | Maior demanda. A Gol (GOLL4) divulgou em sua prévia operacional um avanço de 124,5% na oferta total por voos (ASK), já a ocupação caiu 10,7 p.p para 77,3%. | Adiado sem data definida. A OI (OIBR3) adiou novamente o prazo final para a conclusão da sua recuperação judicial, desta vez, não houve nova data para o fim do processo. | Nova oferta restrita. A PetroReconcavo (RECV3) reportou o início de um projeto de oferta primária restrita de ações com o intuito de captar até R$ 2,2 bi para financiar a aquisição de ativos e fortalecer o caixa da companhia. | Investimento bilionário na perfuração de novos poços para o próximo triênio (2022-2025) foi divulgado pela 3R Petroleum (RRRP3), os projetos terão início nos polos Rio Ventura (BA) e Macau (RN). | Novo guidance de produção foi divulgado pela SLC Agrícola (SLCE3) que diante do aumento da demanda por sementes de soja pretende aumentar em 25% a produção de sacas do grão, a antiga divulgação de 800 mil sacas de sementes de soja passará à 1 milhão. | Nova fábrica na Bahia. A Unipar (UNIP6) anunciou um investimento de R$ 130 mm para a construção de uma nova fábrica de cloro e soda no Polo Petroquímico de Camaçari (BA), desta forma, espera-se atender a crescente demanda por compostos químicos derivados na região. | Vale Ventures foi anunciado Vale (VALE3), a empresa espera investir US$ 100 mm em novas oportunidades de negócios além de incentivar tecnologias de ponta.

IPOs & Afins

Durante o último final de semana, a PetroReconcavo (RECV3) informou ao mercado que fará uma oferta restrita de ações. O objetivo é captar via oferta primária R$1,2bilhões de reais e, caso haja demanda, uma oferta secundária de quase R$1,0 bilhão poderá ser realizada. Segundo a companhia os recursos captados serão utilizados para financiar futuras aquisições de ativos. A oferta deverá ser cordenada pelo Itaú BBA, Morgan Stanley, UBS, Goldman Sachs, Safra e XP. | Ainda na esteira de follow-ons, quinta-feira (09/06) a CVC (CVCB3) informou ao mercado que estuda possível oferta primária de ações. Segundo a empresa os motivadores são a gradual recuperação do setor de turismo, aumento da procura por viagens de lazer e corporativas, e a constante avaliação das fontes de capital disponíveis – bem como seus custos – para suportar o crescimento das operações. A CVC engajou o Citi e Bank of America para coordenar possível oferta restrita.

Fusões e Aquisições

Em semana amena para o mercado de M&A, tivemos na segunda–feira (06) o anúncio da Wiz (WIZS3) sobre a criação de uma joint venture em conjunto com a Polishop, com o objetivo de comercializar produtos de seguridade nos canais da varejista. A NewCo será constituída pela Polishop, no qual a Wiz pagará R$ 50 milhões para aquisição de 50% do capital social da nova companhia. | Além disso, na quarta-feira (08), a Alinasce Sonae (ALSO3) e BR Malls (BRML3) comunicaram que os acionistas das companhias aprovaram a combinação dos negócios, seguindo agora para o Cade. | Por fim, em complemento a sua recente aquisição da Fit Food, a M. Dias Branco (MDIA3) anunciou a compra de 100% da Jasmine, fabricante de alimentos saudáveis, com liderança na categoria de pães sem glúten e granolas. Segundo a companhia, a aquisição segue em linha com a sua estratégia de ampliação do portfólio com produtos de alto valor agregado e forte tendência de crescimento.

Fundos Imobiliários

Em semana de nova correção, o IFIX teve variação de -0,6%. Seguem os principais fatos relevantes da semana:

GGRC11: O fundo vem, por meio deste fato relevante, informar aos cotistas e ao mercado em geral que a 5a emissão de cotas foi cancelada, em decisão conjunta da administradora, da gestora e do coordenador líder da oferta restrita, em virtude das atuais condições adversas do mercado. | ARCT11: Em complemento aos fatos relevantes divulgados nos dias 21/12/2021 e 04/02/2022, nos quais foram informados que o fundo havia firmado um instrumento particular de compromisso de compra e venda de bem imóvel e outras avenças visando a aquisição de imóvel localizado em Frutal - MG, com área total de 464.958,17m2, locado para a Cervejaria Cidade Imperial S.A., através de uma operação de Sale & Leaseback pelo valor de R$ 150.000.000,00. 1) O fundo assinou a escritura pública de compra e venda do imóvel mediante o desembolso do saldo residual de R$ 39.000.000,00, dos quais, R$ 18.000.000,00 serão retidos em Conta Escrow a titulo de garantia locatícia no âmbito do contrato de locação, sendo liberados para a vendedora ao final do prazo da locação 2) Com o pagamento da parcela final, o fundo fará jus ao recebimento de aluguel no valor de R$ 1.125.000,00 por mês, que representa o impacto de, aproximadamente, R$ 0,39 por cota ao mês na distribuição de rendimentos. | XPIN11: neste ato comunica aos seus cotistas e ao mercado em geral que celebrou o de contrato de locação com a G Tech Soluções Ambientais Exportadora e Importadora LTDA., relativo ao módulo A1, do Empreendimento BBP Jundiaí I, localizado em Jundiaí/SP, com área bruta locável de 1.108,63 m², com vigência a partir de 01 de junho de 2022. A receita acumulada bruta do contrato, considerando a soma dos recebíveis relativos aos 24 meses de competência contados da data de início do prazo locatício, sem considerar a incidência de atualização monetária prevista no contrato, é estimada em R$ 0,05 por cota. A receita mensal bruta é estimada em R$ 0,0026 por cota. Com este novo contrato, considerando o último relatório gerencial publicado na CVM, a vacância física dos imóveis do fundo será reduzida de 17,3% para 16,9%. | RBVA11: O fundo celebrou um contrato de locação com o Itaú Unibanco S.A. para ocupar a totalidade do imóvel localizado na Avenida Afrânio de Melo Franco, 131–Rio de Janeiro/RJ, com área locável de 917 m². O modelo de operação do locatário será focado em investimentos, aproveitando a excelente localização do imóvel, em um dos bairros mais nobres do país. O contrato é típico e tem prazo de vigência de 7 anos, a partir de 01/06/2022 e término em 31/05/2029. Os reajustes contratuais seguirão a variação positiva do IGP-M. O Contrato prevê uma carência que se encerra ainda no segundo semestre de 2022, e não prevê incidência de descontos. Com a nova locação, a vacância do Fundo passa a ser de apenas 0,2%.

Agenda da Semana

A próxima semana trará decisões de taxas de juros no Brasil e no exterior. Internamente, esperamos que o Banco Central eleve a Selic em 0,5 p.p., para 13,25%, colocando o juro real em patamar ainda mais contracionista. Para as reuniões seguintes, o cenário ainda é bastante incerto, dependendo amplamente da evolução dos dados divulgados nos próximos meses. Além da Selic, também conheceremos o desempenho do setor de serviços em abril, que pode puxar o crescimento do PIB ao longo do segundo trimestre. Nos Estados Unidos, o FED também deverá aumentar a taxa de juros em 0,5 p.p., para o intervalo entre 1,25% e 1,5%, com os núcleos de inflação em patamar bastante elevado. Esperamos que a autoridade monetária siga elevando os juros nesse ritmo ao menos até atingir o juro neutro. Na China, vale acompanhar a divulgação dos dados de atividade no varejo e na indústria relativos a maio, que devem seguir mostrando retração na comparação interanual, apontando riscos para a economia global.

Top da Semana

Na semana, apenas três empresas ficaram no positivo, com destaque para o papel da Qualicorp (QUAL3), que refletiu decisões do STF e encerrou com alta acumulada de 4,0%. Em seguida, a CSN Mineração (CMIN3) e JBS (JBSS3) incluiram as últimas altas da semana com um retorno positivo de 1,4% e 0,1%, consecutivamente. Na outra ponta, as expectativas de alta da taxas de juros dos EUA machucaram os papéis das techs, com destaque para Positivo (POSI3), que caiu 20,3%. Além disso, a inflação também afetou negativamente as varejistas, com Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3), que caíram 19,2% e 17,3% na semana.

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