Economias fortes mantem risco de inflação alta
O Ibovespa encerrou a semana com 111.102 pontos caindo -0,75%, interrompendo uma sequência de três semanas de alta. Mais uma vez acompanhando o clima global, com bolsas em queda diante da percepção de que a economia norte-americana continua aquecida, principalmente após payroll vir acima das expectativas, preocupando investidores acerca do ciclo de aperto monetário. Por outro lado, os indicadores asiáticos fecharam a semana em alta após o afrouxamento das medidas anti-covid na China. Por aqui também pesou a agenda política, com preocupações acerca do risco fiscal após o governo cogitar implementar calamidade pública como subterfúgio para utilizar ferramentas além do teto de gastos para tentar conter a alta nos combustíveis. No desempenho setorial as ações de commodities se destacaram no campo positivo, principalmente as mineradoras e siderúrgicas, seguindo o otimismo com o afrouxamento do lockdown na China, desta forma o índice IMAT avançou 2,25% na semana, enquanto o restante seguiu o azedume no exterior com os índices ICON caindo -2,44%, IMOB -2,28%, IFNC -2,11% e UTIL -1,29%. As varejistas e companhias aéreas se destacaram no campo negativo na semana com ações da Americanas (AMER3) caindo -14,38%, Azul (AZUL4) -12,26%, Gol (GOLL4) -10,78% e Magalu (MGLU3) -10,25%. Na ponta positiva se destacaram as ações da Positivo (POSI3) +11,34%, Marfrig (MRFG3) +10,50%, CSN Mineração (CMIN3) +8,88% e Lojas Renner (LREN3) +8,05%.
A divulgação do Payroll nos EUA e do PIB no Brasil trouxeram uma semelhante avaliação do cenário: economias com forte desempenho. Lá nos EUA, o mercado de trabalho segue bastante aquecido com mais uma robusta geração de vagas, 390 mil em maio, apesar da alta no salário médio ter desacelerado de 5,5% para 5,2% a.a., permanecendo abaixo do nível de inflação. Mas a taxa de desemprego no baixo patamar histórico de 3,6% e o número de vagas aberta pelo Jolts em mais de 11 milhões ainda apontam para uma preocupação para o Fed, e as especulações de redução no ritmo de alta ou eventual parada na subida de juros mais à frente foram apagadas. A bolsa americana fechou em queda de 1,2% na semana e as taxas de juros voltaram a subir, com a treasury de 10 anos encostando novamente em 3%.
O receio de novas pressões inflacionárias foi reforçado por mais uma alta no índice de commodities, 2% na semana, novamente puxado pelo petróleo que voltou a bater US$120/barril, com uma frustrante proposta de aumento de produção pela Opec. O mercado global de energia segue com um forte desequilíbrio entre oferta e demanda que não parece ter solução no curto prazo. Pelo contrário, a reabertura de grandes cidades na China e a chegada do verão no hemisfério norte, significam aumento de demanda por transporte nas próximas semanas.
Por aqui, a atividade mais forte também surpreendeu com o PIB crescendo à taxa de 1% no trimestre. Começamos o ano com expectativa de crescimento baixo, até mesmo com receio de recessão e chegamos ao meio do ano com revisões positivas para o PIB que pode ter taxa entre 1,5% e 2% no acumulado de 2022. O mercado de trabalho também teve recuperação melhor que o esperado e a taxa de desemprego em abril caiu para 10,5%, menor patamar desde 2016. Mas a atividade mais forte mantém a pressão inflacionária acesa, e o IPCA de maio, que sai na próxima semana, pode dar o tom para a próxima reunião do Copom, permitindo ou não que o ciclo se encerre com essa última alta esperada da Selic para 13,25%.
Notícias sobre possíveis gastos fiscais para tentar amenizar a alta dos combustíveis mantiveram as taxas de juros pressionadas por aqui. Apesar do ótimo resultado fiscal apresentado pelo governo na semana, superávit primário acumulado de 1,5% do PIB, a possibilidade da criação de novos gastos e novas flexibilizações do teto ainda preocupam o mercado. O cambio, no entanto, teve modesta valorização de 1,2% na semana, para R$4,78, refletindo mais o cenário externo, com a potencial alta de juros lá fora.
Empresas e Setores
Nova marca de logística. A Americanas (AMER3) lançou a Americanas Entrega visando aprimorar sua logística de entregas. A varejista também comunicou a construção de dois novos centros de distribuição no Pará e na Bahia. | Início da oferta da privatização da Eletrobras (ELET3; ELET6) se iniciou com 627,7 mm novas ações, o período de reserva dos ativos será até o dia 07 de junho deste ano. | Assembleia convocada. A GetNet (GETT11) convocou uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para votar a possível saída da Bolsa. | Proteção para doenças infecciosas. A JBS (JBSS3) firmou um acordo por meio da sua subsidiária americana a JBS Foods USA com a agência de Administração de Segurança e Saúde Ocupacional nos EUA para desenvolver e implementar um plano de controle para doenças infecciosas, protegendo os funcionários. | Emissão de debêntures I. A Qualicorp (QUAL3) comunicou a 4ª emissão de debêntures simples não conversíveis em ações no valor total de R$ 2,2 bi. | Emissão de debêntures II. A Raia Drogasil (RADL3) comunicou a emissão da sua 5ª emissão de debêntures simples no valor total de R$ 500 mm | Leilão de energia. A Suzano (SUZB3) venceu o leilão de energia nova A-4 para o fornecimento de até 50 MWm, o valor do contrato é da soma de R$ 2,8 bi.
IPOs & Afins
Nessa semana, a BRK Ambiental registrou o prospecto preliminar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para uma oferta inicial de ações (IPO). A segunda maior companhia privada de saneamento do Brasil é controlada pelo grupo canadense Brookfield Asset Management e busca capitar até R$3 bilhões. O coordenador líder da operação é o BTG Pactual, com o Itaú BBA, Caixa Econômica Federal, Santander Brasil, Bradesco BBI, Citigroup, Safra, Credit Suisse, ABC Brasil e Scotiabank Brasil completando o sindicato.
Fusões e Aquisições
Na segunda-feira (30), por meio de sua controlada Automob, a Simpar (SIMH3) anunciou a aquisição de 100% do Grupo Green por R$ 128 milhões. O grupo possui nove lojas, que englobam concessionárias da Citröen, Peugeot e Volkswagen em São Paulo, o que vem a fortalecer a atuação da Automob no segmento de veículos leves na cidade. | Além disso, na terça-feira (31) a Eneva (ENEV3), em conjunto com a New Fortress Energy e Ebrasil, assinou contrato para compra de 100% das Centrais Elétricas de Sergipe (Celse) e Cebarra, passando a deter integralmente a Porto de Sergipe, uma das maiores usinas termelétricas a gás natural da América do Sul, por um montante total de R$ 6,1 bilhões. Segundo a companhia, com a transação a Eneva dará um grande passo na expansão do seu segmento de comercialização de gás. | Por outro lado, no setor de saúde a Dasa (DASA3) comunicou o mercado sobre a compra do Lustosa, laboratório mineiro, com objetivo de impulsionar a consolidação de sua presença em Belo Horizonte. | Por fim, ainda na quarta-feira (01), a Petrobras (PETR4) anunciou a aquisição de mais 50% da sociedade Ibiritermo, o que a fará obter a totalidade do capital social da companhia.
Fundos Imobiliários
Em semana de nova correção, o IFIX teve alta de 0,85%. Seguem os principais fatos relevantes da semana: HCTR11: O fundo informou que o investimento no Serra Verde Fundo de Investimento Imobiliário, sofreu uma reavaliação dentro da carteira, conduzida por um terceiro independente, a qual, com base na variação do valor justo do Fundo Investido, resultou em um impacto positivo de 1,18% na cota do Fundo na data de 31 de maio de 2022. | RBRS11: No âmbito da 3ª emissão de cotas do fundo, acontecerá a 2ª chamada de capital. Por meio dessa 2ª chamada, deverão ser integralizadas 114.833 cotas, perfazendo o valor total de R$ 8.408.072,26, já considerando o custo unitário, as quais correspondem a 33,3% das cotas subscritas da emissão. A liquidação da 2ª chamada de capital está prevista para ocorrer no dia 6 de junho de 2022. | BTCR11: O fundo comunicou que na oferta pública de distribuição primária de cotas da 5ª emissão não houve atualização do preço de subscrição e integralização, permanecendo no valor de 98,83, dos quais R$ 95,86 equivalem ao preço de emissão e R$ 2,97 ao custo unitário de distribuição | HGRU11: O fundo vem informar aos cotistas e ao mercado em geral que, firmou um instrumento particular de promessa de cessão de direitos e outras avenças por meio do qual se comprometeu a ceder ao promitente cessionário, interessado na aquisição, desde que cumpridas determinadas condições precedentes, dos direitos e obrigações hoje detidos pelo fundo sobre o imóvel localizado na Rodovia Governador Mário Covas, lado par, nº 4.324, km 267, Planalto de Carapina, na cidade de Serra, estado do Espírito Santo, de propriedade da empresa Makro Atacadista S.A., inscrita no CNPJ sob o nº 47.427.653/0001-15, e atualmente locado para a DMA Distribuidora S/A. Quando cumpridas determinadas condições precedentes específicas negociadas com o vendedor, ocorreria pelo valor total de R$ 20.808.634,22, sendo agora cedido por R$ 14.191.365,78.
Agenda da Semana
A agenda da próxima semana trará dados importantes para a conjuntura econômica doméstica. No âmbito da inflação, o IBGE divulgará o IPCA relativo ao mês de maio, para o qual projetamos leitura de 0,63%, ligeiramente acima da mediana do mercado. Em particular, esperamos pressões de alta de serviços de transportes, combustíveis e alguns alimentos em domicílio. Outro indicador relevante será o IGP-DI de maio, com expectativa mediana do mercado de 0,78%. Vale lembrar que surpresas nesses indicadores podem influenciar a próxima decisão de taxa Selic pelo Banco Central, que ocorrerá em 14 e 15 de junho. Adicionalmente, conheceremos o desempenho do setor de varejo ampliado em abril, que deve trazer crescimento significativo na comparação ao mês anterior. Externamente, vale acompanhar a decisão de taxa de juros pelo Banco Central Europeu, além da inflação ao consumidor de maio nos Estados Unidos, cuja métrica de núcleo em 12 meses deve desacelerar para 5,9%.
Top da Semana
Nessa semana, a Positivo (POSI3) teve destaque com uma alta de 11,3%. Em segundo lugar, a Marfrig (MRFG3) fechou com um avanço de 10,5%, em reflexo a aquisição de 50% dos papéis pela MMS, holding da companhia. Por outro lado, com aumento no preço do minério, a CSN Mineração (CMIN3) subiu 8,9%. Fechando as maiores altas, vimos a Lojas Renner (LREN3), Rumo Log (RAIL3), Braskem (BRKM5), Hypera (HYPE3), Bradespar (BRAP3), Totvs (TOTS3) e Qualicorp (QUAL3). Já, na outra ponta, a Americanas (AMER3) entrou novamente no ranking, mas dessa vez recebeu o primeiro lugar com uma queda de 14,4%. Ademais, as ações da Azul (AZUL3) e Gol (GOLL4) incorporaram os riscos diante do avanço do preço dos combustíveis, fechando a semana com perda de 12,3% e 10,8%, respectivamente. No setor de saúde, Hapvida (HAPV3) e Rede D’OR (RDOR3) terminaram a semana no vermelho. Completando as moires quedas temos o Banco Inter (BIDI11), Magazine Luiza (MGLU3), Estácio Part (YDUQ3), Alpargatas (ALPA4) e Méliuz (CASH3).