Mercado no Brasil volta a divergir do internacional
A semana foi de alívio nos mercados globais, mas não aqui no Brasil, que teve nova queda com o noticiário doméstico. Lá fora, vimos uma acomodação das expectativas para os juros nos EUA, suficiente para as bolsas recuperarem, o S&P fechou a semana em alta de 1,5%. Já o Ibovespa teve a segunda semana seguida de baixa, com -1,83%, e acumula queda de 5% no ano. Nem o lucro recorde da Petrobras e notícias de melhora na economia Chinesa foram suficientes para amenizar o risco político no radar. Nos destaques setoriais, o índice de materiais básicos (IMAT) foi o único que fechou no positivo, com alta de 5,01%, em reflexo a dados econômicos positivos da China. Na outra ponta, o índice de consumo (ICON) apresentou queda de 6,57%, seguido do imobiliário (IMOB), financeiro (IFNC) e utilities (UTIL), com as respectivas quedas de 4,96%, 3,53% e 1,94%.
A semana foi de poucos dados lá fora e os indicadores confirmam a tendência de uma desaceleração moderada da economia americana, mas ainda insuficiente para a necessária queda da inflação. Os juros tiveram nova alta e a taxa de 10 anos voltou a superar 4%, mas as expectativas para o Fed estabilizaram em 3 altas de 25 bps nas próximas reuniões. Na Europa, a inflação também voltou a subir em fevereiro, marcando 8,5% em doze meses, acima do esperado, indicando que o processo de desinflação será mesmo mais lento, e por lá, também se consolida um cenário de juros maiores, o “higher for longer”. A boa notícia veio da China, com PMIs melhores que o esperado, indicando que a recuperação econômica por lá está em curso. As commodities reagiram e tiveram alta de 2% na semana, mas dentro da tendência de acomodação, em patamar que não indica pressão inflacionária adicional.
Aqui no Brasil, o governo confirmou a reoneração da gasolina, mas apenas parcialmente, anunciando em complemento a um imposto sobre a exportação de petróleo cru, o que trouxe nova preocupação para o mercado, uma vez que se trata de um imposto bastante ineficiente e preocupante para os setores exportadores no longo prazo. O lucro recorde da Petrobras também não foi suficiente para animar os mercados, uma vez que o risco de interferência nas estatais aumentou, com declarações do governo sobre mudanças nas políticas de preços e de dividendos da empresa. O IBGE divulgou o PIB do 4º trimestre e confirmou a expectativa de desaceleração da economia, que teve queda de 0,2% no final do ano passado, mas ainda fechou o ano com desempenho positivo de +2,9%. Os setores mais sensíveis à política monetária restritiva tiveram as maiores quedas, construção, indústria e comércio. Já os setores voltados para exportação tiveram recuperação, como mineração e petróleo e o agro. Para 2023, esperamos que a tendência de enfraquecimento da atividade continue e o PIB deve crescer apenas 0,8% no ano. O governo também divulgou o resultado primário de janeiro, com superavit primário de R$99 bilhões, melhor que o esperado, devido à arrecadação ainda robusta, mas com preocupante crescimento das despesas de 6% acima da inflação. Depois do elevado IPCA-15 na semana passada, o IGPM mostrou o inverso, uma deflação de 0,06%, puxada pela queda de matérias primas, principalmente agrícolas. A boa notícia não foi suficiente para trazer alívio para o mercado de juros, que seguiu em alta com o noticiário político mais negativo. Na semana que vem, talvez possamos ver uma reversão desse quadro de elevada incerteza e aversão a risco, caso a apresentação da proposta do novo arcabouço fiscal, que irá substituir o teto de gastos, seja bem recebido pelo mercado.
Empresas e Setores
Surpresa no papel. A Suzano (SUZB3) apresentou resultados acima do esperado, com a forte demanda do mercado interno compensando a queda nas exportações, confira o relatório completo. | Trimestre fraco, ano forte. A Gerdau (GGBR4), apesar de fechar o ano com avanços, apresentou resultados fracos no 4T22, em razão do momento sazonal mais comedido no final de ano, confira o relatório completo. | Resultado sinistro. A Hapvida (HAPV3) divulgou resultados bastante negativos no 4T22, com sinistralidade muito acima da expectativa do mercado e rentabilidade pressionada pelo aumento das despesas financeiras, confira o relatório completo. | OPA, vale a pena? A Energias do Brasil (ENBR3) recebeu uma Oferta Pública de Aquisição pelo seu atual controlador no valor de R$24/ação, confira o relatório completo. | Cadê a picanha? O resultado da Marfrig (MRFG3) ficou abaixo do consenso de mercado, com cenário dos EUA interferindo fortemente no desempenho do trimestre, confira o relatório completo. | Novamente bons resultados. A Petrobras (PETR4) divulgou fortes resultados operacionais no 4T22, sustentados pela cotação do petróleo e alto patamar de preços dos derivados, que contribuíram para forte geração de caixa, confira o relatório completo. | 4T22 ruim e boas expectativas para 2023. O resultado da PetroRio (PRIO3) foi ruim, marcado pelo menor volume de vendas, que minou o desempenho operacional do trimestre. Porém, com Albacora Leste compondo o portfólio em 2023, a companhia deve experimentar alavancagem operacional, confira o relatório completo.
IPOs & Afins
Nessa semana, a Energias do Brasil (ENBR3) anunciou que o controlador (EDP – Energias de Portugal) realizou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) ao preço de R$24 por ação, prêmio de 22% O que fez com que o ativo se deslocasse do patamar de R$20 para próximo dos R$23. A concretização da oferta está condicionada ao aceite de pelo menos 2/3 do free float. Confira nosso relatório sobre o assunto.
Fusões e Aquisições
JSL (JSLG3) amplia a sua posição em transporte de gases, combustíveis, químicos e agronegócio. A companhia anunciou a compra de 100% da IC Transportes por R$ 587 mm, em busca de gerar sinergias comerciais e operacionais, além de expandir os setores e geografias que a companhia atua, com ampliação da oferta de serviços para o Brasil e alguns países da América do Sul. A IC obteve uma receita de R$ 1,4 bilhões em 2022. (Confira nosso comentário)
Fundos Imobiliários
Em recuperação, IFIX oscilou +0,65% na semana. Seguem os principais fatos ocorridos no período:
OUJP11: Os CRIs da 25ª e 28ª séries de 1ª emissão, no qual o fundo detém exposição de 6,51%, não tiveram a remuneração mensal de fevereiro/2023efetuadas. | TRXR11: O fundo celebrou contrato BTS para aquisição, desenvolvimento, construção e locação de imóvel à Obramax, bandeira pertencente ao grupo Leroy Merlin. | GGRC11: O fundo vendeu 100% do imóvel objeto da matrícula nº 106.956 e 75,46% do imóvel objeto da matrícula nº 91.963, localizados em Betim-MG, para a Jefer Produtos Siderúrgicos por R$ 45 mm.
Agenda da Semana
Na próxima semana, estaremos atentos aos indicadores de preços relevantes para monitorar o comportamento da inflação. Na terça-feira, a FGV divulgará o IGP-DI e na sexta-feira, o IBGE divulgará o IPCA, ambos referentes ao mês de fevereiro. No caso do IPCA, devido à elevada influência do grupo educação e de serviços em geral que já observamos na última leitura do IPCA-15, esperamos uma aceleração da inflação de 0,58% para 0,7%. Após adiar a divulgação que estava marcada para última semana, o ministério do trabalho divulgará o resultado do Caged para o mês de janeiro, que nos permitirá analisar o estado do mercado de trabalho formal e captar possíveis sinais de desaceleração da atividade econômica. Tratando-se do contexto internacional, a próxima semana será marcada pela divulgação de importantes indicadores acerca do mercado de trabalho dos EUA, a começar pelo relatório ADP para variação de empregos no setor privado, seguido pelo JOLTs para a oferta de emprego e, por fim, o payroll. A preocupação do mercado é de que uma nova alta nos salários possa impactar o curso de ação do Fed, que poderá precisar atuar de forma mais hawkish para realmente desacelerar o mercado de trabalho e trazer a inflação para baixo.
Top da Semana
Com a divulgação da OPA acima do preço do mercado, EDP Brasil (ENBR3) apresentou uma forte alta de 12,6% concomitante a alta de 11,6% da Embraer (EMBR3) e 10,4% da CSN (CSNA3). Já a Hapvida (HAPV3), apresentou um resultado desastroso chegando a uma queda de 43,6% junto com a baixa da CVC Brasil (CVCB3)e Magazine Luiza (MGLU3) de 17,6% e 16,3% respectivamente.