Entre os ruídos e sinais
A semana foi agitada nos mercados, aqui e lá fora, com diversas notícias e dados que impactaram as bolsas e os juros. Lá fora, o CPI e o varejo nos EUA mais fortes trouxeram de volta a expectativa de um Fed mais hawkish no próximo Fomc, impulsionando a queda da bolsa americana e alta do dólar. Aqui, a trégua depois de tantas críticas à política monetária trouxe alívio nos mercados, levando uma contração de 1% do câmbio, acompanhado de uma alta de 1,02% do Ibov na semana. Nos destaques setoriais, o índice imobiliário (IMOB) recebeu o primeiro lugar, com avanço de 2,88%, seguido do financeiro (IFNC) e utilities (UTIL), que apresentaram respectivas altas de 1,81% e 1,56%. O setor de materiais básicos (IMAT) sofreu nessa última sessão, após preço futuro do petróleo recuar e dados da Vale do 4T22 ficarem abaixo das expectativas, assim fechando a semana com alta de 0,52%. Na ponta negativa, o índice de consumo (ICON) ficou quase estável, com queda de 0,03%.
Nos EUA, a semana foi marcada por ajustes, ou melhor re-aujstes, nas expectativas do mercado e de grandes bancos sobre os próximos passos do Fed. Com a inflação em queda mais lenta e dados de atividade mais fortes, como o varejo em janeiro, é esperado agora 2 a 3 altas de 25 e taxa terminal que pode chegar a 5,5%. As taxas de juros de mercado também voltaram a subir, acompanhando a visão mais pessimista para a inflação e o dólar valorizou 1% na semana, frente à cesta de moedas. As commodities também reverteram a alta da semana passada, reagindo a uma expectativa maior de recessão à frente nos EUA. Apesar dos dados recentes apontarem para a economia crescendo um pouco mais, juntamente com a reabertura e estímulos na economia chinesa, a cotação do petróleo segue apática, a $83/barril, o preço está 6% abaixo da média dos últimos 6 meses.
Aqui no Brasil, passamos a semana acompanhando o noticiário, entre declarações do presidente do BC e do ministro da Fazenda. As críticas à alta taxa de juros se intensificaram, mas o BC reconhece os esforços da fazenda em promover o ajuste fiscal, o que pode contribuir para o controle da inflação e abrir espaço para os juros. Já o ministro da Fazendo divulgou que deve antecipar a apresentação do projeto da nova âncora fiscal para março, o que também animou os mercados. A âncora fiscal será um importante instrumento para balizar as expectativas de inflação, principalmente para 2024, o que pode abrir espaço para a queda dos juros. A inflação corrente contínua mostrando sinais de queda, com mais um IGP abaixo da expectativa e dados de atividade mostrando desaceleração. O IBC-Br de dezembro teve alta de 0,3%, mas não o suficiente para reverter a queda do trimestre que ficou em 1,4%. No ano, o indicador aponta para um crescimento do PIB de 2,9%.
Nós revisamos nossas projeções (aqui) e mantemos a expectativa de corte da Selic a partir de agosto, terminando o ano em 12%. A inflação deve ficar próxima de 5,5% em 2023 com pressão baixista em bens e o risco de um aperto de crédito maior no 1º trimestre, desacelerando ainda mais a atividade. Para o PIB, o crescimento de 0,8% será motivado pelo setor agro e exportações, uma vez que a demanda interna deva continuar desaquecida. Mesmo os aumentos de salários anunciados, e correção da faixa de isenção de IR para a pessoa física, não estimamos impacto significativo na demanda, considerando os juros ainda em patamar bastante restritivo. Por enquanto, mantemos nossa projeção de déficit primário em 1%, com as medidas anunciadas dentro das estimativas de despesas para o ano. Um upside, pode vir com a confirmação da volta do PIS/Cofins sobre os combustíveis em março.
Empresas e Setores
O Banco do Brasil (BBAS4) divulgou o resultado do 4T nesta semana, onde o lucro líquido e o ROE vieram acima do esperado. | Por outro lado, Vale superou as estimativas nas receitas mas decepcionou no EBITDA | No segmento de transporte, as companhias Vamos (VAMO3) e JSL (JSLG3) apresentaram bons números operacionais no 4T22 | A Hypera (HYPE3) reportou resultados sólidos no 4T22, em linha com o que esperávamos. | No varejo, Assaí (ASAI3) divulgou sólido resultado, dentro das nossas expectativas e Lojas Renner (LREN3), que divulgou resultado pressionado por eventos não recorrentes e cenário macro | Já no segmento elétrico tivemos resultados mistos, com a Engie (EGIE3), mais uma vez, surpreendeu positivamente em sua entrega e Senepar (SAPR3) com números reportados neutro. | Por meio da Medida Provisória (MP) 1.162/23, o governo federal relançou o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), em substituição ao antigo programa habitacional de mesmo propósito, o Casa Verde Amarela (PCVA), confira nosso comentário.
Fusões e Aquisições
Dando mais um passo em sua expansão global. A Fras-le anunciou a compra das operações da AML Juratek, atuante no mercado de reposição de autopeças na Europa, com sede no Reino Unido, pelo montante de £18,22 milhões. A AML apresentou uma receita de £25 milhões em 2022, com margem EBITDA ajustada de 10%. | Vittia (VITT3) adquire start-up Agro21. A companhia anunciou a compra de 90% da Agro21, empresa embrionária voltada para prestação de serviços de agricultura de precisão, pela parcela única de R$ 3,4 mm. Segundo a Vittia, a atuação com liberação de agentes microbiológicos por meio de drones da adquirida, que gerou um faturamento de cerca de R$ 1,8 milhão em 2022, deve impulsionar as suas operações no segmento, ao mesmo tempo que ampliará o serviço de aplicação ao agricultor.
Fundos Imobiliários
Em leve alta, IFIX teve encerrou a semana com ganhos de 0,43%. Seguem os principais fatos ocorridos no período:
MAXR11: O fundo informou que a locatária Americanas S.A, responsável por 61,66% da receita mensal do fundo, não efetuou o pagamento integral do aluguel referente a janeiro. | XPML11: Foi realizado pelo fundo o pagamento antecipado parcial de R$ 20 mm do CRI emitido na aquisição dos shoppings Cidade Jardim e Catarina Fashion Oultlet. | VILG11 O fundo ajuizou ação de despejo por falta de pagamento varejista Tok&Stok, em razão do inadimplemento no pagamento do aluguel com vencimento em fevereiro de 2023. | XPLG11: O fundo afirmou ter recebido da Americanas S.A. apenas parte do aluguel do mês de de janeiro/23. O fundo também celebrou contrato de locação uma varejista de nome não revelado. | ARRI11: O fundo anunciou sua 5ª emissão de novas cotas, a serem distribuídas por meio de oferta pública com esforços restritos de colocação. | LVBI11: fundo também informou que a Americanas S.A. não efetuou o pagamento integral do seu aluguel com o veículo. | SDIL11: Foi celebrado pelo fundo a renovação de seu contrato com a locatária Almaviva do Brasil Telemarketing e Informática S.A.
Agenda da Semana
Na próxima semana, o dado mais importante que monitoraremos será o resultado do IPCA-15 para o mês de fevereiro. Esperamos uma variação próxima de 0,6% no mês, o que resultaria na manutenção da tendência de desaceleração do resultado acumulado de 12 meses de 5,87% para 5,46%. Além disso, a receita federal divulgará a arrecadação tributária de janeiro e o Bacen divulgará estatísticas do setor externo, como saldo em transações correntes e investimento direto estrangeiro referente ao mês de fevereiro, um importante indicador para medirmos o apetite do investidor internacional às oportunidades oferecidas no Brasil. Por fim, lá fora, o FOMC divulgará a sua ata, que nos dará um embasamento mais completo acerca de sua política monetária e de sua percepção em relação ao estado da economia americana. Também saberemos o resultado do PCE referente ao mês de janeiro, índice preferido do Fed para monitorar o comportamento da inflação. O mercado espera que, com o fim da contribuição negativa do grupo energia, haja uma leve aceleração da inflação frente a dezembro. No entanto, qualquer surpresa nessa divulgação deverá gerar um impacto expressivo no mercado, tendo em vista à dependência do curso de ação do Fed para os dados mais recentes.
Top da Semana
A ação que apresentou a maior alta da semana foi Hapvida (HAPV3), que teve uma alta de 12,11% após apresentar bons resultados. Em seguida, Via (VIIA3) e Banco do Brasil (BBAS3) reportaram a segunda e terceira maior alta de 10,2% e 10% respectivamente. Na outra ponta, Azul (AAZUL4) caiu 11,5% concomitante as petroleiras Prio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) que caíram 10,6%.