Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Rafaela Vitória

Publicado 10/fev10 min de leitura

Volatilidade persistente

Entre altas e baixas, a semana foi marcada pela alta volatilidade das bolsas, em reflexo ao receio do mercado frente a direção da política monetária dos EUA, resultados corporativos, commodities e cenário político doméstico. Em resposta, em Wall Street, discursos dos dirigentes do Fed estremeceram o mercado, levando queda das bolsas na semana, com contração de 1,11% do S&P. Por aqui, o Ibovespa fechou a semana com perda suave de 0,41%, conturbado pelas críticas à independência do Banco Central e suas decisões pelo novo governo, além de correção dos papéis atrelados a commodities metálicas e resultados mistos dos bancos na temporada do 4T22. Dentre os setores, o índice imobiliário (IMOB) recebeu o destaque com alta de +0,57%, enquanto o financeiro (IFNC) ficou estável com avanço de +0,01%. Na ponta negativa, o segmento de materiais básicos (IMAT) apresentou a maior contração na semana, com queda de 3,21%, seguido de consumo (ICON) e utilities (UTIL), que indicaram perdas de 2,81% e 1,62%, respectivamente.

Tivemos mais uma semana de pressão do governo federal sobre o Banco Central. Com a elevada taxa de juros como pano de fundo, o governo pressiona para uma elevação da meta da taxa de inflação a ser perseguida pelo Banco Central, o que possibilitaria cortes na taxa de juros. Nesse sentido, surgiram relatos de que o presidente do Bacen, Campos Netos, concordaria com a elevação da meta de inflação para 3,5%. Como consequência, a curva de juros ficou mais estressada. A inflação implícita ultrapassou 7% e o juro longo passou dos 14%.

A discussão sobre a atuação do Banco Central é contraproducente. A inflação de janeiro desacelerou frente a alta inesperada de dezembro, sinalizando continuidade da tendência de desinflação. A alta de 0,53% no mês foi concentrada em reajustes extraordinários, como IPVA e planos de TV por assinatura. O resultado foi qualitativamente bom, com os preços dos bens industriais em queda e a inflação de alimentos desacelerando. Mesmo a inflação de serviços, que é mais rígida, mostra sinais de desaceleração.

Os juros elevados têm cobrado o preço na atividade econômica. A produção industrial e o varejo encerraram 2022 com crescimento de -0,7% e 1%, respectivamente. Por outro lado, o setor de serviços continua a destoar, registrando alta de 3,1% em dezembro e encerrando 2022 com crescimento de 8,3%. Porém, na comparação trimestral, a desaceleração de serviços se torna evidente: no 4o trimestre o setor apresentou crescimento de apenas 1,0%, abaixo das variações do 3o, 2o e 1o trimestre de +2,9%, +2,1% e +1,6% respectivamente. Portanto, o setor de serviços se mostra resiliente em meio ao aperto monetário, mas não imune a ele. A discussão dos juros elevados é válida e, em condições normais, já estaríamos aptos a discutir o início do ciclo de corte na taxa de juros. Se o interesse do governo é reduzir os juros, o foco deveria estar em diminuir a incerteza econômica, principalmente através de uma política fiscal crível e sustentável, criando um ambiente propício para o corte nos juros. Esse ruído com o banco central gera justamente o efeito oposto.

Empresas e Setores

Bradescão? O Bradesco (BBDC4) divulgou o resultado do 4T nesta semana, onde o lucro líquido caiu tanto no a/a quanto no t/t, repercutindo negativamente na performance das suas ações, confira analise completa. |Por outro lado, Itaú (ITUB4) apresentou excelentes resultados no fechamento de 2022, mesmo provisionando 100% de sua exposição a Americanas, confira. | A Klabin (KLBN11) também divulgou resultados operacionais nesta semana, conforme o esperado, 4T foi aquém do potencial. | Outra empresa que divulgou resultados abaixo de nossa expectativa foi BR Properties (BRPR3), decepcionando em alguns pontos, confira. | Outro resultado sob nossa cobertura nesta semana foi BB Seguridade, onde foi bem positivo. | Sem AMAR3: as ações da Marisa tiveram desempenho negativo nesta semana, com especulações de reestruturação de sua estrutura de capital. | Preço do Diesel em queda: A Petrobras (PET4) divulgou nesta semana que o preço do Diesel nas refinarias ficará 9% mais barato, também foi divulgado seu relatório de produção e vendas, onde a empresa ficou pouco acima das metas anuais.

IPOs & Afins

Nessa semana, a Ambipar (AMBP3) anunciou a obtenção do registro na SEC para o IPO de unidade de negócios nos EUA. A operação se dará por meio da fusão da Ambipar Response com o fundo de propósito específico (SPAC) HPX, com consequente oferta inicial de ações do grupo. Segundo a companhia, apenas após a aprovação dos acionistas da HPX, a combinação de negócios se tornará efetiva e haverá consequente listagem das ações ordinárias classe A da Ambipar Response na NYSE sob o ticker AMBI.

Fusões e Aquisições

Inter (INBR32) expande suas operações nos EUA. O Banco anunciou a compra de 100% da YellowFi, plataforma americana de crédito imobiliário e gestora de fundos, localizada nos Estados Unidos. Segundo o grupo, a transição segue em linha com a sua estratégia de crescimento inorgânico e expansão de serviços ofertados para sua base de clientes, além de possibilitar sinergias construtivas para o seu ecossistema. | Viveo (VVEO3) dá mais um passo no direct to patient.No setor de saúde, a Viveo comunicou a compra remanescente da participação da Far.me, pioneira na distribuição de medicamentos por assinatura, com atuação na grande São Paulo e em Belo Horizonte. Em 2021, a startup mineira gerou uma receita de quase R$ 8 milhões.

Fundos Imobiliários

Em queda, IFIX teve encerrou a semana com variação de -1,07%. Seguem os principais fatos ocorridos no período: 

ALZR11: O fundo celebrou memorando de entendimento para aquisição de 2 ativos de renda urbana, localizados em São Paulo/SP e Joinville/SC HBCR11 valor total de R$ 49 mm. | RCRB11: Foi concretizado pelo fundo contrato com a Elgin S.A para locação dos conjuntos 71, 73 e 74 do Continental Square Faria Lima Imóvel. | OUJP11: O fundo informou que a Aracaju Investimentos Ltda e ACF Participações Ltda, cujas emissões de CRI representavam 0,76 % do PL do fundo, tiveram seus pedidos de recuperação judicial aceitos. | RECT11: O fundo concluiu a locação da sala 802 do Centro Empresarial Parque da Cidade, em Brasília-DF, para a Lefosse Advogados. | RECR11: Também com exposição às companhias Aracaju Investimentos Ltda e ACF Participações Ltda, que tiveram o pedido de recuperação aceito, o fundo informou ter 1,32% do patrimônio aplicado em CRIs com exposição às cedentes.

Agenda da Semana

Ao longo da próxima semana o CAGED deverá divulgar o resultado para quantidade de empregos formais criados no mês de janeiro. Na quinta, o Bacen divulgará a variação do índice de atividade no mês de dezembro e revisões dos meses anteriores, o que nos permitirá ter uma melhor noção do desempenho do PIB no 4º tri e no acumulado de 2022. Nos EUA, monitoraremos a leitura do CPI de janeiro. O mercado espera uma variação de 0,5% no índice cheio e de 0,4% no núcleo, qualquer resultado muito diferente poderá ter bastante influência na próxima decisão do Fed, que deixou claro ter adotado uma política monetária data-dependent. Por fim, também estaremos de olho na leitura revisada do PIB europeu para o 4º trimestre e dados do setor imobiliário americano de janeiro, como construção de novas casas e licenças de construção concedidas.

Fonte: Inter Research e Bloomberg.

Top da Semana

A ação que apresentou a maior alta da semana foi São Martinho (SMTO3), que teve uma alta de 10,6%. Em seguida a Cielo (CIEL3) reportou a segunda maior alta do mês de 8,3% concomitante a Petrobras (PETR3) que subiu 8,0% em decorrência a alta do petróleo. Na outra ponta, Alpargatas (ALPA4) caiu 24,6% após resultado abaixo das expectativas bem como as aéreas, Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), que caíram 22,9% e 19,2%.

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