Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Rafaela Vitória

Publicado 03/fev10 min de leitura

Never bet against America

A bolsa americana teve mais uma semana de alta e acumula ganho de 8% no ano. O Fomc, percebido pelo mercado como mais dovish, e os dados de emprego melhores reforçaram a aposta em um softlanding, com juros menores e a economia evitando a recessão. Apesar do cenário externo mais favorável, aqui no Brasil, tivemos mais uma semana tumultuada com os investidores mais focados nos riscos internos, principalmente o receio de interferência na política monetária. O Ibovespa encerrou a semana com queda de 3,38%, sobretudo em reflexo a contração dos papéis de commodities, com recuo de 2,90% do índice de materiais básicos (IMAT), visto a queda do minério de ferro, brent e oscilações do dólar no período. Os setores de consumo (ICON) e utilities (UTIL) não ficaram para trás, com respectiva baixa de 2,89% e 2,83%. Por fim, o índice imobiliário (IMOB) recuou 2,41%, seguido de uma queda de 1,99% do financeiro (IFNC).

O dado do payroll nos EUA de hoje surpreendeu com a forte geração de vagas de 517 mil em janeiro, mais que o dobro do esperado (188mil). O relatório ainda mostrou um aumento dos salários, +4,4% aa, e uma queda da taxa de desemprego para 3,4%, a menor desde 1969! Apesar do forte resultado indicar que a inflação pode demorar mais para cair e que o risco de recessão ainda é baixo, o mercado seguiu com a aposta no Fed mais dovish, e as taxas de juros terminaram a semana no mesmo patamar de 3,5% da semana passada. Na quarta feira, o Fomc havia reduzido o ritmo de alta dos juros para 25 bps, elevando a taxa básica para 4,75% e indicando que o ciclo deve terminar com mais duas altas, em março e em maio, em 5,25%. Mas o mercado também segue apostando contra, e espera mais uma alta em março e apenas 50% de chance de outra alta em maio, e ainda precifica cortes no segundo semestre. Na Europa e no Reino Unido, a elevação dos juros foi maior, 50 bps, mas por lá, as taxas estão em patamar menor, 3,5% e 4% respectivamente. O payroll mais forte teve impacto no dólar, no entanto, que subiu 1% na semana, revertendo a tendência de queda observada em janeiro e as commodities também fecharam a semana em baixa de 3%.

Aqui no Brasil a semana também foi marcada pela reunião da autoridade monetária e o Copom manteve a Selic em 13,75%, como esperado, mas endureceu no comunicado, devido ao maior risco da desancoragem da inflação esperada em 2023 e 2024. A elevação das expectativas de inflação continua sendo um dos principais riscos para a trajetória da Selic esse ano e podemos de fato ter uma taxa alta por mais tempo. Por outro lado, o governo voltou a criticar a autonomia do BC e a meta de inflação e acabou contribuindo para uma maior aversão ao risco de interferência, o que resultou em uma nova elevação dos juros no mercado. A taxa pré de dois anos teve forte alta de 50 bps na semana, para 13,3%. O dólar, que chegou na mínima da semana de R$4,94, voltou a subir para R$5,15. Os dados macro, por outro lado, reforçam o cenário de desaceleração da atividade, a indústria ficou estável em dezembro, fechando o ano em baixa de 0,7%, e a confiança do empresário teve nova queda em janeiro, o que pode contribuir para uma inflação mais baixa esse ano, como observado pela variação menor do IGPM de janeiro que acumula 3,8% em 12 meses. Entre as notícias positivas, o governo encerrou 2022 com superávit primário de 1,3%, o maior desde 2013 e a dívida publica caiu para 73,5%. Mas mesmo com o resultado melhor, a ausência da ancora fiscal deixa bastante incerteza sobre como evoluirão as contas públicas esse ano, em meio a tantas propostas de aumento de gastos.

Empresas e Setores

Uma concessão nada Light? Muitas especulações surgiram nesta semana quanto a amortização da dívida da Lght (LIGT3), uma vez que a empresa contratou a Laplace, empresa que assessorou a Oi (OIBR3) na reestruturação de sua capital, onde acabou gerando muita volatilidade no papel. | Time novo: O novo presidente da Petrobras, Jean Paul Terra Prates, indicou hoje cinco novos integrantes para compor a diretoria executiva: Claudio Schlosser, para a diretoria executiva de Comercialização e Logística; Joelson Falcão foi designado para a diretoria executiva de Exploração e Produção, Carlos Travassos para a diretoria executiva de Desenvolvimento da Produção, William França indicado para a diretoria executiva de Refino e Gás Natural e Carlos Augusto Barreto para o cargo da diretoria executiva de Transformação Digital e Inovação. | Sem ressaca: A Ambev (ABEV3) comunicou ao mercado nesta semana que as supostas acusações que circulam na mídia quanto a um possível rombo em seu balanço não são verdadeiras, onde foram promovidas de forma oportunista.

IPOs & Afins

O CEO da B3, Gilson Finkelsztain, anunciou nessa semana que a companhia realizará ao longo do ano estudos regulatórios para a realização de IPOs de clubes. A ideia seria gerar uma alternativa à SAF, permitindo que a agremiação seja vendida para acionistas sem que haja a perda do controle majoritário. Atualmente diverso times no exterior já possuem ações listadas em bolsa, tais como Juventus, Manchester United, Benfica, Lyon e Ajax.

Fusões e Aquisições

Alliar (AALR3) compra ProEcho, companhia carioca atuante com serviços de diagnósticos médicos por imagem e análises clínicas, com o objetivo de expandir as suas operações no território brasileiro. | Minerva (BEEF3) expande ainda mais as suas operações no Uruguai. O frigorífico anunciou a compra integral do Breeders and Packers Uruguai (BPU) por US$ 40 mm, em continuidade ao comunicado feito em novembro de 2022. Segundo a Minerva, o frigorífico adquirido é um dos mais modernos da América do Sul, com acesso a países que consomem produtos de característica mais premium, o que favorece o seu mix de receita. | Stone (STOC31) liquida ações do Inter (INBR31). A instituição zerou a sua participação no banco, com a venda de 16,8 milhões de BDRs, o que equivalente a R$ 217 milhões, ou uma média de 4% do capital do banco. | XP (XPBR31) Asset adquiriu uma participação minoritária da One7, companhia de serviços financeiros com foco em crédito para PJs. Para operação, a XP fará um aporte de R$ 110 milhões.

Fundos Imobiliários

Em leve alta, IFIX teve encerrou a semana com ganhos de 0,22%. Seguem os principais fatos ocorridos no período:  

PVBI11: O fundo concluiu a aquisição dos imóveis localizados na Rua Fidêncio Ramos na Vila Olímpia, sendo alguns conjuntos que integram do 7º ao 12º pavimento da Torre B do Condomínio Vila Olímpia Corporate. O preço envolvido na transação foi de R$ 202,2 mm. O incremento previsto na receita imobiliária do fundo será de aproximadamente R$ 0,09/ cota. | HGRU11: O fundo concretizou a cessão dos direitos aquisitivos da loja localizada na Rodovia Governador Mário Covas, lado par, nº 4.284, km 267, Planalto de Carapina, na cidade de Serra-ES. Em decorrência disso, o fundo deixará de fazer jus ao recebimento da receita da locação do Imóvel, equivalente a R$ 0,01 por cota. | RECT11: Foi celebrado pelo fundo junto à empresa Harapay Instituição de Pagamentos o contrato para locação de 50% do 16º andar da Torre Norte, Bloco B, no Edifício Canopus Corporate Alphaville, situado na cidade de Barueri-SP, pelo prazo de 60 meses. O contrato de locação terá vigência a partir da presente data, com área alugada correspondente a 568,61m². Após essa locação, a taxa de vacância do portfólio será de 11,48%, sem resultar em impactos imediatos na distribuição de rendimentos do veículo. | ALZR11: O fundo adquiriu, através de novo leilão realizado na B3, mais 121.797 cotas do fundo TSER11 através do investimento de R$ 12,2 mm. Essa quantidade de cotas representa aproximadamente 10% do total de cotas do TSER11, que quando somadas às já adquiridas no dia 11 de janeiro de 2023 pelo ALZR11, equivalem a uma participação total de cerca de 98% do fundo adquirido. O fundo espera que a transação gere um impacto positivo mensal de aproximadamente R$ 0,02/cota para o veículo no primeiro ano. | HOFC11: Foi firmado pela gestão um terceiro aditivo ao contrato referente à locação total do Edifício Alamedas, localizado na Alameda Santos, 1.039, na cidade de São Paulo-SP, com a finalidade de estender a vigência do referido contrato pelo prazo adicional de 84 meses, com novo término, portanto, em 19 de dezembro de 2029. O ativo representa 5,76% da área locável do fundo, sendo o novo valor locado 6,85% superior ao valor praticado na data de encerramento do contrato, em 19 de dezembro de 2022.

Agenda da Semana

Na próxima semana, a divulgação mais importante será o IPCA na quinta feira. Esperamos uma variação de 0,5% no mês e 5,74% no ano. Uma leitura acima do esperado pode interferir no curso de ação do Bacen, que poderá optar em manter a taxa Selic em patamar contracionista por mais tempo com o objetivo de evitar desancoragem das expectativas, saberemos melhor após a divulgação da ata do copom na terça feira. Semana que vem também será divulgado os principais indicadores de atividade do IBGE, como vendas do varejo e volume de serviços referentes a dezembro de 2022. Por fim, lá fora estaremos de olho no resultado do CPI chinês, que nos trará mais clareza acerca dos impactos da reabertura econômica no país.

Fonte: Inter Research, Bloomberg.

Top da Semana

Petz (PETZ3) teve a maior alta na semana de 10,5% seguida pela Natura (NTCO3) que apresentou um alta de 8,2% após a notícia que LVMH e L’Oréal estão interessadas na Aesop. Na outra ponta, CVC (CVCB3) caiu 15,2% após uma forte alta na semana passada, seguida pela Raízen (RAIZ4) e Assaí Atacadista (ASAI3) que caíram 9,6% e 9,0%.

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