Ajustando as expectativas
A semana teve de foco nos debates em Davos, sobre os rumos das políticas econômicas globais, e o desdobramento do evento de default da Americanas no Brasil. Tudo isso em meio a mais comentários polêmicos do governo sobre a política monetária e o BC. Lá fora, a bolsa teve realização e o S&P500 fechou em baixa de 0,66%. Aqui no Brasil, apesar de volatilidade da bolsa estar mais elevada, o Ibovespa encerrou a semana com alta de 1,01%, aliviado pelas empresas atreladas a commodities com mais exposição no índice, que foram puxadas pela expectativa de melhora da economia Chinesa. Nos destaques setoriais, o segmento de imobiliário (IMOB) recebeu o primeiro lugar, com alta de 0,65%, seguido do financeiro (IFNC) com avanço superficial de 0,04%. Na ponta negativa, o setor de consumo (ICON), utilities (UTIL) e materiais básicos (IMOB) foram os que mais sofreram, com recuo respectivo de 0,62%, 0,49% e 0,22%.
A China divulgou o PIB do 4º trimestre com desempenho melhor que o esperado e, no ano, fechou com crescimento de 3%. Varejo e indústria em dezembro sofreram menos que a expectativa, devido ao impacto da onda de Covid, e investidores continuam apostando que a recuperação pode ser mais positiva a partir de fevereiro. O índice de commodities CRB teve alta de 1% na semana, zerando as perdas do ano, com alta no petróleo e metais, destaque para o cobre que sobe 11% no ano. Já nos EUA, dados de varejo e indústria de dezembro vieram mais fracos que o esperado, mas acabaram contribuindo para manter as expectativas de juros menores no cenário. No entanto, os dirigentes dos Bancos Centrais continuam reforçando tom mais hawkish no combate a inflação. Lagarde, presidente do BCE, chegou a alertar investidores que deveriam rever suas expectativas. Entre o crescimento melhor da China e juros menores nos EUA, o mercado segue bastante otimista com o cenário em 2023, modo risk-on de volta, o que favorece emergentes, mas requer cautela para eventos de reversão – nem tudo pode dar tão certo como esperado.
Aqui no Brasil a semana foi marcada pelas discussões sobre o evento de default da Americanas, que teve seu pedido de recuperação judicial acatado, com uma dívida total estimada em R$43 bilhões. As repercussões incluem uma desaceleração na concessão de crédito, devido ao impacto nos bancos, o que pode contribuiu para desacelerar a atividade no 1º trimestre além do esperado. A Anbima divulgou os dados do mercado de capitais de dezembro, que fechou 2022 com números bastante positivos, mas também pode sofrer com menores emissões nas próximas semanas, enquanto investidores reavaliam suas exposições a risco. Em 2022 foram R$543 bilhões em emissões, 11% menor que em 2021, mas um número ainda bastante significativo. O destaque ficou com a renda fixa, com debentures alcançado o recorde de R$271 bilhões em novas emissões, crescimento de 8% em relação a 2021.
E no debate macro, foi mais uma semana de comentários polêmicos do governo, dessa vez sobre a independência do Banco Central e a meta de inflação. O governo segue preocupado com o custo da dívida, mas com pouca boa vontade em reduzir o gasto fiscal, busca alternativas para reduzir os juros. Mercado reagiu mal e a taxa de juros pré-fixada de dois anos voltou a subir na semana, voltando para 12,7%, e o real teve queda de 2% na semana, contra o movimento lá fora que foi de estabilidade. Na nossa opinião, a melhor maneira de acelerar a queda da inflação e abrir espaço para uma Selic menor é via um alinhamento entre as políticas fiscal e monetária, o que requer que o governo reavalie seus gastos, visando reduzir o déficit primário.
Empresas e Setores
M&A virando moda: As ações da C&A (CEAB3) sofreram forte oscilação nesta semana, correm boatos sobre o interesse das Lonas Renner em adquirir a empresa. | Construindo resultados: A Gafisa (GFSA3) divulgou previa operacional nesta semana, onde declarou que atingiu R$ 1 bi em vendas em 2022 (+39% a/a). Considerando somente o 4T, o volume de vendas foi de R$ 337, aumento de 46% a/a. | Layoffs: A Méliuz (CASH3) desligou cerca de 6% de seus funcionários nesta semana, equipe que era composta por cerca de 980 pessoas, informação confirmada pelo Broadcast. | Produção a todo vapor: A Petrobras anunciou nesta semana que a produção média diária de barris em 2022 foi de 2,154 milhões, queda de 2,6% a/a. Entretanto, a produção ficou acima da meta de 2,1 milhões, onde a empresa tolera uma variação de 4% para cima ou para baixo. Dinheiro chegando. O Banco do Brasil (BBAS3) comunicou ao mercado que pretender ter um payout de 40% para 2023, entre juros sobre capital próprio e dividendos.
Fusões e Aquisições
Após forte movimento de expansão no mercado de moda e varejo, em busca de se tornar uma das maiores “house of brands” nacionais, a Arezzo (ARZZ3)voltou a mirar no mercado de calçados com o comunicado da compra da fabricante Vicenza, por um montante de cerca de R$ 103,8 milhões e troca de ações, mas que ainda está sujeito a alterações. De acordo com a companhia, a aquisição segue com a estratégia de crescimento no mercado de calçados de classe “A” e “B”, por meio de uma empresa com mais de 30 anos história, EBITDA de R$ 13 mm e faturamento em R$ 80 mm. | No setor de saúde, o Fleury (FLRY3) anunciou a conclusão da criação da ABPF Oncologia, nova empresa feita em parceria com a Atlântica Hospitais, controlada indireta do Bradesco, e Beneficência Portuguesa de São Paulo, em continuidade com o fato relevante publicado em maio de 2022. Segundo o Fleury, a nova companhia tem como objetivo coordenar o cuidado da jornada do paciente oncológico, no qual o seu capital social será divido em 1/3 para cada integrante. | Por fim, a Orizon (ORVR3)ingressa na região Norte do Brasil com a compra de 51% da CTR Porto Velho, no estado de Rondônia. Com a transação, a companhia poderá atuar em umas das poucas capitais sem solução para lixo no território brasileiro.
Fundos Imobiliários
O IFIX encerrou a última semana no negativo, com queda de 0,43 %. Seguem os principais fatos ocorridos no período:
RBRP11: O fundo celebrou contrato de 10 anos para locação de 2.769,71 m² referentes aos 6º e 7º andares (conjuntos 61, 62, 71 e 72) do Edifício River One localizado em Pinheiros, São Paulo – SP. Essa locação representa 13,6% das lajes corporativas do imóvel, que atingiu 21% por meio da ocupação física de 4.231 m². Adicionalmente, o fundo reduzirá sua vacância física de 45% para 40% e, após o término do período de carência, a vacância financeira do fundo será reduzida para 43%. Após o período de carência e desconto, o valor de locação referente a tal contrato representará aproximadamente R$ 0,024/cota. Além disso, haverá a redução proporcional dos custos de vacância do imóvel. | ARCT11: Foi assinado pelo fundo instrumentos para aquisição haverá a redução proporcional dos custos de vacância de um imóvel localizado na Avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira, n.º 154, bairro Lageado, Votorantim/SP, com área total de 13.719.34 m². O preço total desembolsado na transação será de R$ 44 mm. O imóvel será locado para a SPLICE INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA através de uma operação de Sale & Leaseback, do qual foi firmado entre as partes um contrato de aluguel típico pelo prazo de 5 anos. Além disso, o fundo também decidiu, por deliberação própria, alterar seu código de negociação na B3 de ARCT11 para RZAT11. | RECT11: O fundo comunicou a celebração de contrato com a empresa SUNTRANS LOGÍSTICA BRASIL LTDA. para a locação de uma sala no 13º pavimento do Bloco B, do Condomínio Edifício Parque Ana Costa, situado na cidade de Santos-SP, na Avenida Dona Ana Costa, nº 433, pelo prazo de 60 meses. A locação terá vigência imediata, com área alugada correspondente a 413,80 m². Após essa locação, a taxa de vacância do portfólio será de 12,09%. | RBRL11: Foi firmado pelo fundo contrato para locação do módulo G200 do Empreendimento Logístico WT RBR Log, localizado na região imobiliária de Cajamar-SP, empreendimento do qual o fundo é proprietário da fração de 50%. O imóvel objeto do contrato de locação possui área bruta locável de 26.195,96 m², equivalente a 21% da ABL total do empreendimento logístico. O primeiro aluguel, equivalente a aproximadamente R$ 0,04 centavos por cota, será pago em agosto/2023.
Agenda da Semana
Semana que vem, no Brasil, será divulgado o resultado do IPCA-15 para o mês de janeiro. A nossa expectativa é de uma variação próxima a 0,35%, o que representa uma deflação frente ao mês de dezembro, quando a variação foi de 0,52%. O Bacen também divulgará o relatório de contas externas e o de crédito, ambos referentes ao mês de dezembro. No contexto externo, além dos indicadores de atividade antecedentes como os PMIs, estaremos de olho no resultado do PIB americano do quarto trimestre, que nos permitirá entender melhor o estado dessa economia, que muitos julgam estar próxima de uma recessão. O indicador da inflação americana calculado PCE divulgado na próxima sexta também será importante para confirmamos se o processo desinflacionário em curso será suficiente para levar ao Fed a reduzir o ritmo do aperto monetário nas próximas reuniões, confirmando a expectativa atual do mercado.
Top da Semana
A Americanas (AMER3) seguiu liderando as perdas da bolsa, com queda de -77,5% em semana de pedido de recuperação judicial e congelamento do caixa depositado nos bancos. Ainda, no campo das piores performances, a Qualicorp (QUAL3) e CVC (CVCB3) também entregaram retorno negativos de -11,3% e -9,3% respectivamente. Na ponta oposta Banco do Brasil (BBAS3), Magazine Luiza (MGLU3) e 3R Petroleum (RRRP3) lideram os ganhos, com retornos de 12,4%, 11,4% e 10,3%.