Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Rafaela Vitória

Publicado 06/jan

Um começo de ano de muitas emoções

2023 começou com fortes emoções no mercado. Não faltaram discursos, anúncio de medidas desmentidos, e tudo isso entre indicadores que ainda surpreendem, aqui e lá fora. A posse do novo governo foi marcada por diversas declarações que trouxeram preocupação no mercado local. Entre as principais medidas, a prorrogação da desoneração dos combustíveis teve o maior impacto no risco fiscal, pela esperada redução na arrecadação. Entre idas e vindas, o Ibovespa fechou em baixa de 0,7%, descolando da bolsa americana que teve alta de 1,4% na semana. Para os setores, o destaque ficou para o segmento de materiais básicos (IMAT), que avançou 3,07% na semana, beneficiado pela evolução da reabertura da China, assim como do índice imobiliário, que apresentou alta de 1,2%. No campo negativo, o setor de utilities (UTIL) foi o que mais sofreu, com queda de 2,92%, seguido de índice de consumo (ICON) e financeiro (IFNC), que apresentaram as respectivas quedas de 1,91% e 0,96%.

Lá fora a maior surpresa foi o mercado de trabalho nos EUA, com dados melhores que o esperado. Desde o número do Jolts, vagas abertas, que voltou a crescer em novembro para 10,5 milhões até o número de novas vagas criadas em dezembro, que foi de 223 mil e ficou acima do esperado, mostram o mercado de trabalho americano ainda bastante aquecido. Os dados, no entanto, não assustaram o mercado, que continuam apostando em um Fed mais dovish em 2023, e a expectativa para a próxima reunião em fevereiro é de chance de mais uma desaceleração de alta para 25 bps. De fato, alguns sinais já apontam para o enfraquecimento da economia, como o ISM de serviços mais fraco e a queda dos pedidos de bens duráveis. E no próprio relatório do payroll de hoje, o reajuste de salários foi menor que o esperado, em 4,6% ao ano, o que pode indicar uma menor pressão inflacionária, mesmo com a taxa de desemprego em 3,5%. Parece que o mercado ainda aposta no cenário de soft landing, e as taxas juros tiveram novo alívio no final da semana. Mas esse é um cenário para se ter cautela, pois, uma inflação mais persistente pode decepcionar, caso o Fed tenha que manter os juros elevado por mais tempo.

Aqui no Brasil a semana foi de idas e vindas, mas com um resultado negativo para o investidor. Além da bolsa em queda, os juros voltaram a subir com o receio de mais expansão fiscal que possa afetar a inflação no médio e longo prazo, mantendo o risco fiscal elevado. Entre as medidas anunciadas, a prorrogação da desoneração dos combustíveis, mudanças na política de preços da Petrobras e até mesmo mudanças em reformas que haviam sido bem aceitas pelo mercado no governo passado, como a da previdência e o marco regulatório do saneamento, foram questionáveis e trazem mais incertezas para as perspectivas que já não são positivas para 2023. Pelo lado dos indicadores, as surpresas foram mais positivas, apesar de não trazerem alívio para o mercado no curto prazo. A inflação medida pelo IGP-DI foi menor que o esperado, em 0,35%, fechando o ano em 5,03%. A produção industrial de novembro teve ligeira queda de 0,1% e a produção de veículos pela Anfavea em dezembro também mostrou queda, indicando demanda mais fraca, o que seria positivo para a inflação e para a política monetária.

A indústria de fundos encerrou 2022 com resgate líquido de R$162 bilhões, o maior da história. A aversão a risco afetou principalmente a classe de fundos multimercado, que perdeu R$88 bilhões em resgate no ano e os fundos de ações, com saídas de R$71 bilhões. A alta da Selic e a disseminação de instrumentos de renda fixa via plataformas digitais deve continuar favorecendo as aplicações dos investidores em títulos em 2023.

Empresas e Setores

Mudanças no tabuleiro e novas metas: A Petrobrás (PETR4) comunicou ao mercado que Caio Paes de Andrade não é mais o CEO da empresa, onde o mesmo também não pertencerá mais ao conselho e administração da empresa. Nesta semana também foi anunciado que a empresa assinou um acordo aderindo a Oil & Gás Parthneship, sendo uma iniciativa global da ONU, com o intuito de diminuir as emissões de metano. | Dança das cadeiras: A 3R (RRRP3) comunicou ao mercado que Matheus Dias será o novo presidente da empresa, onde este era líder das áreas Comercial e Novos Negócios. | Carne nova no pedaço: A Marfrig (MRFG3) comunicou que passou a processar carne orgânica em sua unidade localizada em Hulha Negra, no Rio Grande do Sul. A matéria-prima vem da unidade da companhia no Uruguai., sendo proveniente de animais alimentados exclusivamente a pasto, livres de fertilizantes sintéticos, hormônios anabolizantes e estimulantes de crescimento. | Dinheiro chegando: A Gafisa (GFSA3) anunciou a venda da sua participação de 80% no projeto Fasano Itaim - empreendimento que engloba o imóvel onde ficarão o hotel e o restaurante da grife, por R$ 330 mm.

Fusões e Aquisições

O Banco BV anunciou a compra de cerca de 3,85% do capital social do Méliuz (CASH3), em busca de desenvolver uma aliança estratégica com a fintech. Para o MoU, também foi acordado a compra do Bankly, controlado e braço direito do Meliuz no serviço de “baking as a service” (BaaS), pelo montante de R$ 210 mm, com prazo para compra de até 90 dias. | A BlackRock expandiu a sua participação na BRF (BRFS3) para 5,3%, com a compra de 54,4 milhões de ações ordinárias da companhia e 2,7 milhões de ADRs, além de deter instrumentos financeiros derivativos referentes a cerca de 0,061% do total de ações ONs da BRF. Segundo a companhia, o objetivo das aquisições é somente para investimento. | A Smart Fit (SMFT3) comunicou a compra de 50% do Sporty por US$ 59,3 mm, assim obtendo a totalidade da companhia ao somar com a sua aquisição realizada em 2020. A transação visa continuar com o projeto de expansão orgânica da Sporty na Costa Rica e no Panamá, fomentando a sua rede de 28 academias nesses países.

Fundos Imobiliários

Em correção ao rali da semana anterior, o IFIX acumulou perdas de -0,59% no período. Seguem os principais fatos ocorridos: 

RZAK11: Foi aprovado a quarta emissão de cotas do fundo, a ser distribuído em oferta pública. O montante inicial da oferta será de R$ 300 mm, correspondente à emissão de 3.238.342 novas cotas.| RBVA11: O fundo recebeu adiantadamente o valor remanescente da venda do imóvel Ferraz de Vasconcelos, localizado no município de Ferraz de Vasconcelos/SP, que seria pago em 3 parcelas iguais e semestrais, em abril de 2023, outubro de 2023 e abril de 2024. Com esse adiantamento do pagamento dos 50% remanescentes, corrigidos pelo IPCA, o fundo auferiu um ganho de capital de R$ 1,67 milhão, cerca de R$ 0,14/cota, já no primeiro semestre de 2023. | HGRU11: O fundo firmou novo contrato para alienação de unidade locada pelas Casas Pernambucanas, dessa vez do imóvel localizado em Goioerê-PR. A alienação do imóvel se dará pelo preço total de R$ 3,98 mm. Com isso, o negócio gerará um lucro caixa próximo de R$ 0,06/cota. | BTRA11: Foi concretizado pelo fundo a alienação dos imóveis que compõem a Fazenda Vianmacel descritos nas matrículas 9.203, 9.204, 9.205 e 9.533 e que estão localizados no município de Nova Maringá-MT, pelo valor de R$ 94,5 mm, a ser pago por meio de um sinal de R$ 16,5 mm e 16 parcelas semestrais de R$ 4,875 mm.

Agenda da Semana

Semana que vem, o dado mais importante será a divulgação do IPCA na terça referente ao mês de dezembro. Esperamos uma variação de 0,43% no mês, em linha com a expectativa do mercado, o que levaria o IPCA a fechar em 5,6% em 2022, consolidando o processo de desinflação visto ao longo do ano, após a variação anual alcançar 12,1% em abril. Também será divulgado o restante dos indicadores para a atividade brasileira, a começar com varejo na quarta, seguido por serviços na quinta, ambos referentes ao mês de novembro. Por fim, no contexto externo, estaremos de olho no resultado da inflação americana (CPI) para o mês de dezembro. Assim como aqui no Brasil, o mercado espera manutenção do processo desinflacionário tanto no núcleo como no índice cheio, o que daria mais razões para o FED reduzir o ritmo de altas de juros nas próximas reuniões e contribuiria para aliviar a atual pressão sobre o dólar e sobre a bolsa de valores.

Fonte: Inter Research, Bloomberg.

Top da Semana

Impulsionada pelo processo de reopening na China a CSN (CSNA3) lidera as altas do Ibovespa na semana, apresentando retorno de 11,8%. Em seguida Lojas Americanas (AMER3) e Qualicorp (QUAL3) entregaram 7,9% e 7,7% respectivamente. Na outra ponta a Smart Fit (SMTO3) tem forte queda de -15%, seguida por Raizen (RAIZ4) com -13,9% e Alpargatas (ALPA4) com -8%.

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