Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Rafaela Vitória

Publicado 29/dez

Adeus ano velho

Sem rally de final de ano, a última semana de 2022 foi de estabilidade nas bolsas globais e o S&P fechou o mês em queda de 5,7%, acumulando um retorno negativo de 19,8% em 2022. O Ibovespa também ficou estável, avançando 0,16% na semana, com o mercado digerindo os últimos anúncios do novo governo e aguardando a posse do novo presidente na próxima semana. O destaque na bolsa foi para o setor imobiliário (IMOB), que avançou 2,43%, seguido de uma alta de 2,33% do índice financeiro (IFNC) e +1,70% do consumo (ICON). Dentre os demais segmentos, o setor de materiais básicos (IMAT) avançou 1,31%, enquanto utilities teve uma valorização mais tímida de 0,82% na semana. No ano, o Ibovespa apresentou uma alta de 5,59%, beneficiado principalmente pelo segmento de utilities (UTIL), com avanço acumulado de 12%, bem como pela valorização de 11,4% do setor financeiro (IFNC).

Lá fora foi uma semana de poucas notícias e os principais mercados globais ficaram estáveis, mas amargando perdas no mês de dezembro. O dólar perdeu força e teve desvalorização de 2% no mês, mesmo com a alta dos juros dos títulos americanos. Os sinais de desaceleração da economia americana continuam com a contração do Índice Shiller de imóveis e a forte queda de 38% na venda de casas em novembro. O preço do petróleo teve leve recuo na semana e fechou dezembro com variação negativa de 3,7%. No ano, a commodity que bateu a máxima de $128/barril, fechou praticamente estável em $82 e traz menos preocupação para 2023 pelo lado da inflação. A China segue lidando com a forte onda de Covid e pode ter uma recuperação econômica mais forte a partir de fevereiro do próximo ano, o que poderia trazer pressão de alta para o petróleo novamente.

Com juros que devem permanecer mais elevados em 2023, a probabilidade de recessão nos EUA ainda é elevada, com risco de impacto negativo nos resultados das grandes empresas. Nossa visão é de cautela para o S&P500 com um upside de 8%. Veja mais detalhes nas expectativas para a bolsa americana aqui no relatório Global Markets que divulgamos essa semana.

Aqui no Brasil, a última semana do ano foi mais movimentada com a divulgação de novos membros do novo governo, incluindo a senadora Tebet para ocupar o cargo de Ministra do Planejamento, o que pode fazer um bom contraponto com a equipe de Haddad, notícia que foi bem recebida pelo mercado. Juntamente com dados mais positivos da inflação, com o IGPM menor que o esperado, e o fim da isenção do Pis/Cofins sobre combustíveis, o mercado de juros teve forte alívio na semana e a curva DI voltou a precificar redução da Selic a partir de junho. O IGPM de dezembro variou 0,45% e fechou o ano em 5,45%, uma forte queda em relação aos 17,8% de 2021. A inflação de bens não deve ser problema em 2023. A volta da cobrança dos impostos federais sobre a gasolina em janeiro deve resultar em alta dos combustíveis próxima de 10% e elevar o IPCA em 0,70 p.p. No entanto, como a expectativa já estava incorporada nas avaliações do BC e de boa parte do mercado, essa alta não impacta a política monetária. Pelo contrário, o efeito positivo na arrecadação, +R$52 bilhões, reduz o déficit primário esperado para o ano e reduz o risco fiscal no médio prazo. Nossa expectativa é que o IPCA de 2023 fique próximo de 5,2%, já incluindo a elevação da gasolina com a volta dos impostos, e o déficit primário deve ficar em cerca de 1,5%, abaixo do orçamento do governo em 2,1%, e bem inferior ao resultado de 2022, que até novembro acumulava superávit de 1,4%. Aliás, a divulgação dos dados fiscais de novembro mostrou nova surpresa positiva com queda da dívida bruta para 74,5%, o que ameniza, em parte, o impacto negativo que teremos no próximo ano.

Para 2023, entre as expectativas mais otimistas para a economia brasileira está a aprovação da reforma tributária, que pode reduzir subsídios tributários e simplificar a cobrança de impostos no país, trazendo ganhos futuros de produtividade. Em conjunto, a elaboração do novo arcabouço fiscal mostrando o caminho para o controle da dívida pública pode reduzir o risco país e abrir espaço para uma queda mais rápida na taxa de juros. Pelo lado mais negativo, o crescimento de gastos maior, pressionando a inflação e mantendo a Selic elevada por mais tempo, pode impactar ainda mais a confiança do setor privado e levar a uma recessão, o que pressionaria ainda mais o governo por políticas populistas. As sinalizações do governo de transição foram mais negativas, mas o pragmatismo costuma predominar no Brasil e entramos em 2023 com uma visão de cautela, atentos aos riscos, mas sem deixar de avaliar oportunidades de melhoras nas expectativas.

Empresas e Setores

Tchau tchau Oak Enclave. A MRV (MRVE3) comunicou ao mercado que vendeu o empreendimento que ficava localizado na Florida, Oak Enclave, por cerca de US$ 113 mm. | Vende, vende e vende! A Petrobras iniciou a fase vinculante para a venda de sua rede de fibra óptica onshore. O ativo tem cerca de 8 mil km em extensão, abrangendo todas as regiões do Brasil. | Carne Salgada: A Controladoria-Geral da União (CGU) anunciou o acordo de leniência assinado pela BRF (BRFS3). As negociações se estendiam desde 2018, e a empresa se comprometeu a pagar R$ 583 mm ao Tesouro e a aperfeiçoar o programa interno de conformidade. | Acendendo a luz: O Governo de Minas Gerais espera discutir uma possível privatização da Cemig (CMIG4), pleiteado neste segundo mandato do governador Romeu Zema (Novo). A operação poderia ocorrer tornando a empresa uma “Corporation”, companhia de capital pulverizado. | Dando um gás na privatização? A Compagas, distribuidora de gás do Paraná, assinou a renovação da concessão por mais 30 anos, abrindo espaço para uma possível privatização. A Copel, atual controladora do ativo, que pertence ao Governo do Paraná, tenciona alienar a Compagas, que agora ficou facilitado. | Dinheiro verde? O Banco Mundial e o Banco do Brasil (BBAS3) criarão um balcão único para financiar ações voltadas a sustentabilidade e ao mercado de Carbono.

IPOs & Afins

Nesse último Mercado da Semana do ano, seguimos sem novas notícias de ofertas públicas de ações. Com incertezas no horizonte e elevação da taxa básica de juros, a bolsa de valores de São Paulo perdeu 14 empresas em 2022 e não ganhou nenhuma. Pela primeira vez desde 1998 não foi registrado nenhum IPO no ano. Apesar da seca de ofertas iniciais tivemos algumas importantes emissões que resguardaram o mercado de ECM. Dentre elas vale destacar a privatização da Eletrobras, responsável por movimentar cerca de R$30 bilhões, e follow-ons da Eneva e Assaí.

Fusões e Aquisições

Em busca de potencializar as suas operações no segmento de agronegócio, a Alper (APER3) informou o mercado sobre a compra total da Me Sinto Seguro, startup de tecnologia voltada para setor de seguros agrícolas. | A CCR (CCRO3) anunciou a venda de sua controlada Samm, companhia de serviços de comunicação e multimidia, para Luna Fibra, por R$ 245 mm. | No setor de óleo e gás, a PetroReconcavo (RECV3) comunicou a aquisição de 100% da Maha Brasil por cerca de US$ 138 mm. A adquirida possui participação em seis contratos de concessão, o que facilitará o processo de sinergias com as operações da PetroReconcavo, principalmente as localizadas na Bahia.

Fundos Imobiliários

HLOG11: comunicou aos cotistas que, em cumprimento ao disposto na Instrução CVM nº 516, os imóveis do Fundo foram avaliados a mercado (valor justo) pela empresa CBRE Consultoria do Brasil, resultando em valor 3,94% superior ao valor contábil atual de referidos imóveis, o que representa uma variação positiva de aproximadamente 5,13% no valor patrimonial da cota do Fundo nesta data. PATL11: Informou aos cotistas do fundo e ao mercado em geral a rescisão do contrato firmado com a XP Investimentos Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários S.A para exercer a função de formador de mercado das cotas.

Agenda da Semana

Na semana que vem, para o Brasil, estaremos de olho no resultado da balança comercial para o mês de dezembro, bem como a produção industrial referente ao mês de novembro, que deverá mostrar manutenção da tendência de desaceleração do crescimento e, possivelmente, uma variação negativa no mês. No contexto externo, teremos as principais divulgações acerca do mercado de trabalho americano, a começar pelo relatório JOLTS para estoque de vagas abertas, seguido pelo relatório ADP para criação de empregos privados não agrícolas e, por fim, o relatório Payroll na sexta, que deverá mostrar leve desaceleração no ritmo de vagas criadas e na variação dos salários. Esses dados serão acompanhados de perto pelo mercado devido à influência que deverão exercer na próxima decisão do FED em relação a uma possível redução no ritmo de altas da taxa de juros.

Fonte: Inter Research e Bloomberg.

Top da Semana

No setor de frigoríficos, o otimismo se instaurou na última semana do mês, com alta de 10,1% da BRF (BRFS3), seguido da Marfrig (MRFG3), que ficou praticamente pareada, com avanço de 10%. Em terceiro lugar, a CSN (CSNA3) apresentou uma valorização de 7,9%. Na outra ponta, com queda de 8,4%, o Pão de Açúcar (PCAR3) recebeu o destaque negativo na semana, acompanhado da Petz (PETZ3), que recuou 7,5%.

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