Macroeconomia


O Mercado na Semana

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Rafaela Vitória

Publicado 25/nov10 min de leitura

Mercados no Brasil novamente descolam do exterior

Enquanto lá fora foi mais uma semana de recuperação das bolsas, com expectativa mais dovish do Fed após a ata do Fomc, aqui no Brasil a tensão contínua em torno da Pec da Transição. Nesse cenário, o Ibovespa encerrou a semana praticamente no zero a zero, com alta acumulada de 0,10%, aos 108.977 pts, machucado pela sensibilidade do mercado ante a maré de incertezas do próximo governo. Nos destaques setoriais da semana, os índices de utilities (UTIL) e imobiliário ampararam o desempenho do Ibovespa, com alta de 3,44% e 1,88%, respectivamente. Na ponta negativa, os demais setores apresentaram queda suave, com destaque para o recuo de 0,61% do índice de consumo (ICON), seguido de -0,32% do financeiro (IFNC) e -0,04% de materiais básicos (IMAT).

A bolsa nos EUA teve alta de 1,5% na semana e o S&P500 voltou a superar os 4 mil pontos pela primeira vez desde setembro. A ata do último Fomc foi considerada mais dovish e consolidou a expectativa de uma desaceleração no ritmo de elevações dos juros pelo Fed e, para dezembro, é esperado uma alta menor, de 50 bps. Os juros de 10 anos do tesouro americano tiveram nova queda e a taxa voltou para 3,7%, também o menor patamar desde setembro. Além de dados mais fracos do setor imobiliário, a China também volta a preocupar com o aumento de casos de Covid e novas medidas de restrições. Petróleo teve nova queda na semana e o Brent voltou para $83/barril.

Aqui no Brasil, os sinais de inflação também foram mais benignos. O IPCA-15 de novembro em 0,53% ficou abaixo do esperado mostrando a inflação de serviços desacelerando. A surpresa de alta em bens industriais deve ser pontual, considerando o cenário de commodities em queda e o IPA negativo nos últimos meses. Mas os juros continuaram a subir, mesmo com o cenário externo mais tranquilo e sem surpresas da inflação corrente aqui. A preocupação com a Pec da Transição continua a pesando nos mercados de juros futuros que já precificam Selic chegando a 15% em 2023. A desaceleração da economia nesse cenário pode ser mais forte que o esperado, principalmente pelo encarecimento do crédito. De fato, a confiança do consumidor em novembro já apresenta queda, antecipando uma demanda mais fraca devido ao elevado custo do crédito. O cambio voltou a subir e o dólar fechou a semana em R$5,41. Contribuindo para um cenário menos positivo para o cambio, o balanço de pagamentos de outubro mostrou novo déficit de US$4,6 bilhões, além de uma revisão dos dados anteriores que resultou em um déficit acumulado de US$60 bilhões em 12 meses, ou 3,3% do PIB. O aumento dos dividendos, da importação de serviços e das importações de pequenos valores, que não são capturadas na balança comercial da Secex e já somam US$10 bilhões no ano, vem pressionando o balanço de pagamentos. Por outro lado, o IDP segue forte e em outubro foi US$5,5 bilhões, acumulando US$74 bilhões no ano.

Empresas e Setores

Investimentos em energia solar. A Cemig (CMIG4) anunciou o investimento de R$ 500 mi na construção de até 20 usinas fotovoltaicas em Minas Gerais. Apenas no 3T22, o investimento feito pela empresa passou a ordem do R$ 1 bi. | A Arsea-MG aprovou o reajuste de tarifas da Copasa (CSMG3), em média, em 15,7%. A decisão passará a valer em janeiro de 2023. | Debêntures 1. A Rede D’Or (RDOR3) aprovou sua 26ª emissão de debêntures simples na soma de até R$ 900 milhões. A empresa anunciou que pretende, com a arrecadação, pagar despesas de aluguéis e empreendimentos ligados à expansão. | Debêntures 2. A Enauta (ENAT3) aprovou sua primeira emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, no valor de R$ 2 bi. A empresa pretende, com a arrecadação, financiar a implementação e desenvolvimento do Campo de Atlanta. | Reajuste de salários em discussão. A Eletrobras (ELET3) anunciou a proposta de reajuste em 1,3X da remuneração da equipe administrativa da companhia, a proposta vai à votação na Assembleia Geral. | Modernização. A Petrobras (PETR4) comunicou ao mercado o investimento de R$ 260 mm na Revap, localizada em São José dos Campos, SP. A modernização vem aliada ao projeto da empresa para dobrar o fornecimento de diesel S-10, produto mais moderno e sustentável.

IPOs & Afins

Nessa semana, a G2G (G2DI33), anunciou que está avaliando a possibilidade de uma oferta pública de BDRs. Apesar de nenhuma decisão ter sido tomada ainda, a oferta primária contribuiria com maior liquidez e visibilidade da companhia. Ainda, vale ficar de olho no grupo Casino que, apesar do momento menos propício do mercado atual, possui planos para vender suas ações do Assaí (ASAI3)até o final do ano. A oferta secundária poderia movimentar até R$3 bilhões.

Fusões e Aquisições

Em semana amena para operações de M&A, a Ultrapar (UGPA3) deu um grande passo para o seu ingresso no setor de distribuição de gás, com o anúncio da compra da NEOgás pela sua subsidiária Ultragaz. O valor da transação será de R$ 165 milhões, de modo que a aquisição fomentará o seu portfólio e abrirá portas para distribuição de biometano. | O Banco Safra comunicou o mercado sobre a compra do Banco Alfa por R$ 1,03 bilhões, com intuito de ampliar o seu atendimento às empresas, assim como fortalecer as suas operações com varejo e investimentos.

Fundos Imobiliários

Seguindo a tendência de queda, o IFIX recuou -0,9% na semana. Seguem os principais fatos ocorridos no período: RTZR11: Foi aprovado pelo administrador do fundo a aprovação da oferta primária da 3ª emissão de cotas, onde se espera captar cerca de R$ 250 mm caso sejam subscritas 310.303 novas cotas, com preço unitário de R$ 100,61, incluído da taxa de distribuição.| CARE11: O fundo informou que a SPE Cortel SP S.A, no qual o fundo detém participação de 40%, efetuou a assinatura definitiva do contrato de concessão (“Contrato”) com o município de São Paulo referente à sua proposta para adjudicação do Bloco 02, composto pelos cemitérios do Araçá, Dom Bosco, Santo Amaro, São Paulo e Vila Nova Cachoeirinha. | RCRB11: O fundo celebrou contrato com a Eletrunuclear S.A. para locação dos andares 16º e 17º do Edifício Candelária Corporate Imóvel, correspondente a 1.296,77m² e 100% da área BOMA própria do imóvel. O contrato terá prazo de 60 meses tendo o IPCA com indexador. A nova locação do imóvel impactará positivamente o resultado do fundo em, aproximadamente, R$ 0,15/cota ao fim do período de carência e reduzirá a vacância do fundo para 23,3%.

Agenda da Semana

Na agenda da próxima semana teremos a divulgação do IGPM de novembro, que ainda deve mostrar deflação no IPA, e a divulgação das contas fiscais, com forte superávit em outubro, mas que não deve impactar o mercado com as preocupações sobre o aumento de gastos propostos pela Pec, que também pode ser divulgada na próxima semana. Teremos também o resultado do PIB do 3º trimestre, que deve mostrar crescimento de 0,6%, mas já indicando uma desaceleração em relação ao primeiro semestre. Serão também divulgados os dados de mercado de trabalho da Pnad e Caged, que ainda devem ser positivos, mas devem mostrar perda de força nas novas contratações. Por fim, estaremos de olho nos dados de crédito de outubro, que já podem apontar uma desaceleração no ritmo de concessões pelo setor bancário.

Fonte: Bloomberg, Inter Research.

Top da Semana

Após sinal de privatização, a Copel (CPLE6) apresentou uma alta de 18,3% que, também impactou a Sabesp (SBSP3), que apresentou uma alta de 8,8%. Fechando o top 3 da semana apareceu a Magalu (MGLU3) com alta de 8,5%. Na contramão, a CVC (CVCB3) apresentou a maior queda de 10,8% concomitante a 3R Petroleum (RRRP3) e o Grupo Natura (NTCO3), que caíram 7,8% e 6,9% respetivamente.

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