“Boa Sorte”
A semana foi marcada por forte volatilidade aqui e lá fora e, diferentemente do que vimos nas últimas semanas, para lados opostos. Lá fora o S&P500 subiu 5,9% na semana, embalado pela inflação abaixo do esperado e expectativa que os juros subam menos. Em contraste, aqui o Ibovespa caiu 5,0% refletindo o aumento da preocupação do mercado com as políticas que serão implementadas pelo novo governo. Ainda sem a definição do ministro da Fazenda, a Pec da Transição com proposta que chega a R$175 bilhões de aumento de gastos para o próximo ano assustou pelo montante e pela ausência de contrapartidas. Os setores que mais sofreram foram o imobiliário (IMOB), financeiro (IFNC) e consumo (ICON), com respectivos -16,6%, -13,7% e -10,5%, também impactados pela forte alta na curva de juros. Enquanto o índice de utilities (UTIL) se manteve no single digit, com contração de 6,85%. Na outra ponta, o setor de materiais básicos (IMOB) se destoou dos demais, com avanço de 8,91%, em reflexo a ganhos acentuados no último pregão, após notícias de flexibilização da política Covid Zero da China.
Lá fora, a boa notícia veio dos EUA com o CPI de outubro abaixo do esperado. Não só a inflação anual desacelerou para 7,7%, mas a medida de núcleo também veio mais baixa. Os juros tiveram forte queda na semana, com a expectativa de uma menor alta na taxa do Fed nas próximas reuniões. A taxa de 10 anos caiu 35bps e voltou para 3,8% a.a. O dólar também desvalorizou 4% na semana em relação à cesta de moedas, a maior variação semanal no ano. A bolsa americana teve a melhor semana desde junho, com alta do S&P500 de 5,9% e Nasdaq em 8,1%, mas commodities ficaram estáveis mesmo com algumas notícias de que a China pode começar a flexibilizar as restrições da Covid.
Aqui no Brasil, o mercado teve desempenho inverso. As notícias da equipe de transição foram negativas, tanto pelo montante que se propõe em aumento de gastos, como pela falta da indicação das fontes de recursos. O gasto de R$175 bilhões além da PLOA que está no Congresso, possivelmente retirando o Bolsa Família do teto de gastos trouxe insegurança com relação ao comprometimento do novo governo com a responsabilidade fiscal. De fato, o montante é bastante elevado e pode levar a um déficit de 2% em 2023. Além disso, são despesas permanentes e o crescimento vai impactar também os anos seguintes, dificultando o ajuste fiscal. Além da queda na bolsa, o aumento do risco refletiu na alta de 5% do dólar aqui, contra o movimento externo. Mas o principal impacto foi na curva de juros. Os DIs tiveram alta de mais de 150 bps na semana, principalmente nas taxas longos que voltaram para o patamar de 13,5%. A curva de juros, inclusive, voltou a precificar uma nova alta da Selic pelo BC na próxima reunião, reflexo do impacto do risco fiscal nas expectativas de inflação. Um aumento de gastos sem fonte significa uma expansão fiscal que pode resultar em nova aceleração da inflação nos próximos meses, e portanto, exigir mais juros para sua convergência.
Entre as boas notícias da semana, que passaram desapercebidas, foi o maior crescimento dos setores de varejo e serviços, o último em 0,9% em setembro, o que indica que o PIB do trimestre pode vir próximo de 0,7% e confirma nossa expectativa para o ano de 3% de crescimento da economia. O IPCA ficou acima da expectativa em 0,59%, encerrando o período de 3 meses de deflação com o fim o impacto da queda dos combustíveis e um repique da alimentação. Mas a inflação de serviços teve nova desaceleração, o que seria uma boa notícia para a política monetária, não fosse as incertezas que temos para 2023.
Mercado deve seguir bastante volátil com o período de transição do governo e a ausência da definição do(s) nome(s) para a economia e como será a expectativa para o próximo orçamento. Por isso, voltamos a ressaltar a importância da carteira diversificada, principalmente com a alocação em títulos atrelados ao IPCA.
Empresas e Setores
Tanque meio cheio ou meio vazio? A Estapar (ALPK3) apresentou evolução nos principais segmentos da sua operação no 3T22, com receita líquida de R$ 274 mm (-3% R/E) e um EBITDA de R$ 49 mm (-9% R/E). (Comentário ALPK3) | Novos ativos trazem bons resultados. A Alupar (ALUP11) divulgou resultados fortes referentes ao 3T22, com receita líquida de R$ 757 mm (+6% a/a e igual a projeção do nosso Research). O EBITDA da companhia totalizou R$ 629 mm (+10% a/a e -0,3% R/E). (Comentário ALUP11) | Prejuízo com fluxo de caixa negativo (1). A Americanas (AMER3) divulgou resultado fraco, com receita líquida totalizando R$ 5.435 mm (-13,4% a/a) e EBITDA somando R$ 570 mm. O resultado líquido do 3T22 foi um prejuízo de R$ 352 mm (vs. -R$ 98 mm no 2T22). (Comentário AMER3) | Resultados sólidos! A B3 (B3SA3) reportou uma receita líquida de R$ 2,3 bi no 3T22, vs. R$ 2,24 bi no 2T22 e R$ 2,25 bi no 3T21. O EBITDA do período totalizou R$ 1,67 bi (-8% a/a). | Sólido e surpreendente resultado em mais um trimestre. O Banco do Brasil (BBAS3) apresentou resultados acima das nossas expectativas e do mercado, com lucro líquido de R$ 8.360 mm (+7,1% t/t e +17% R/E) e ROE de 21,8% (1,2 p.p. t/t e +3,1 p.p. R/E). (Comentário BBAS3) | Resultado fraco em diversas linhas. O resultado do 3T22 do Bradesco (BBDC4) veio abaixo das nossas expectativas e do mercado, com lucro líquido de R$ 5.223 mm (-25,8% t/t e -27,2% R/E) e ROE de 13% (-5,5 p.p. t/t e -5,5 p.p. R/E). (Comentário BBDC4) | Sólido resultado com tendência positiva para frente. A BB Seguridade (BBSE3) reportou um resultado positivo, acima das nossas expectativas e do mercado, com lucro líquido de R$ 1.653 mm (+69% a/a e +25% R/E) e ROE de 77% (+40 bps a/a e +20 bps R/E). (Comentário BBSE3) | Contínua evolução dos resultados, com EBITDA recorde. A Minerva (BEEF3) apresentou um resultado robusto, com EBITDA recorde de R$ 806 mm (-1,8% R/E, +3,6% t/t e 26,2% a/a). (Comentário BEEF3) | Resultados melhores, mas ainda em recuperação. A BRF (BRFS3) apresentou uma receita líquida de R$ 14.056 mm (+6,3% R/E, +8,6% t/t e 13,4% a/a) no 3T22, seu EBITDA, ainda baixo para o histórico, somou R$ 1.374 mm (+23,9% R/E, +53,2 % t/t e -2,6% a/a). (Comentário BRFS3) | Reversão de lucro. A Braskem (BRKM5) reportou resultados negativos, com prejuízo líquido de R$ 1,103 bi no 3T22, no 3T21 o resultado foi um lucro de R$ 3,537 bi. | Design moderno. A C&A (CEAB3) divulgou resultados mistos no 3T22, com receita líquida de R$ 1.408 mm (+5,1% a/a) e por conta do aumento das despesas com juros, reverteu o lucro líquido do mesmo período do ano passado. (Comentário CEAB3) | Expansão do atacarejo. O Carrefour Brasil (CRFB3) anunciou um projeto para expandir o número de lojas “atacarejo” até o final de 2026, almejando operar 470 estabelecimentos nesse molde, hoje, a companhia possui pouco menos de 260 do tipo. | Lucro crescendo! A Caixa Seguridade (CXSE3) divulgou resultados do 3T22. A empresa teve lucro líquido de R$ 766,2 mm (+55,7% a/a) decorrente de um acréscimo de 59,5% a/a das receitas operacionais. | Evolução de ponta a ponta. Com dados operacionais mais fortes que o esperado, a Cyrela (CYRE3) apresentou um desempenho positivo no 3T22 com VGV lançado de R$ 2.033 mm (+34% R/E) e EBITDA de R$ 350 mm (+97% t/t e +18% a/a). (Comentário CYRE3) | Eficiência nos custos se mantém, deterioração maior nas despesas. A Direcional (DIRR3) reportou um VGV de R$ 967 mm em lançamentos e totalizou um EBITDA de R$ 105 mm (-16% R/E, -10% t/t e +6% a/a) no 3T22. (Comentário DIRR3) | Forte expansão de EBITDA e margem. A Equatorial (EQTL3) divulgou um bom resultado no 3T22, com receita operacional líquida de R$ 5,3 bi (ex-construção) e uma expansão de 56% a/a do EBITDA Ajustado, que totalizou R$ 1,9 bi. (Comentário EQTL3) | Sinais de evolução; bottom line em linha. A Eztec (EZTC3) apresentou um VGV consolidado de R$ 410 mm (+2% R/E) e um EBITDA de R$ 90 mm (+15% R/E e +80% t/t) no 3T22. (Comentário EZTC3) | Tese mantida: resiliência, robustez e preparada para o que vier. A Gerdau trouxe resultados sólidos no 3T22, com receita líquida somando R$ 21.149 mm e lucro líquido de R$ 3.022 mm. (Comentário GGBR4) | Rural ainda impactando resultado no trimestre. O IRB Brasil RE (IRBR3) reportou um resultado abaixo das nossas expectativas, com prejuízo de R$ 299 milhões (ampliando em 91,8% a/a e +3,9% R/E). (Comentário IRBR3) | Sem crise por aqui. O resultado do Itaú Unibanco (ITUB4) foi positivo e em linha com nossas expectativas, com lucro líquido de R$ 8.360 mm (+7,1% t/t e +17% R/E) e ROE de 21,8% (1,2 p.p. t/t e +3,1 p.p. R/E). (Comentário ITUB4) | Resiliência nos resultados. A JBS (JBSS3) apresentou recorde no top line com impressionantes R$ 98.928 mm em receitas (+5,7% R/E, +7,3% t/t e +6,8% a/a). A empresa apresentou um EBITDA de R$ 9.546 mm (+47,1% R/E, -5,2% t/t e -27,6% a/a). (Comentário JBSS3) | Onze mil demissões. A Meta (M1TA34), empresa americana, anunciou a demissão de cerca de 11 mil funcionários (13% do quadro atual) depois de resultados abaixo do esperado no trimestre e um cenário mais desafiador pela frente. | Prejuízo com fluxo de caixa livre negativo (2). A Magalu (MGLU3) apresentou nos resultados do 3T22 uma receita líquida de R$ 8.807 mm (+2,3% a/a). O prejuízo financeiro de R$ 556 contribuiu para um prejuízo líquido de R$ 167 mm no período. (Comentário MGLU3) | Depreciação e margem de Seminovos atingem o resultado. A Movida (MOVI3) apresentou receita líquida de R$2.616 milhões (+0% R/E, +13 % t/t e +66% a/a) em linha com nossas expectativas no 3T22, o EBITDA no período foi de R$ 136 mm -22% R/E, -34% t/t e -27% a/a), bem abaixo de nossas expectativas. (Comentário MOVI3) | Acomodação da National Beef.A Marfrig (MRFG3), de modo geral, apresentou resultados em linha com nossas projeções no 3T22, com o avanço dos custos com matéria-prima e insumos na América do Norte, mesclado com a evolução das despesas, proporcionou um EBITDA (Ex- BRF) de R$ 2.468 mm (+12,9% R/E, -3,0% t/t e -47,0% a/a). (Comentário MRFG3) | Expansão de lojas e SSS forte.A Panvel apresentou fortes resultados no 3T22, em linha com nossas projeções. A empresa apresentou receita líquida de R$ 1.017 mm (+26,7% a/a e +1,2% vs. R/E) e um EBITDA de R$ 86 mm (+29,0% a/a e +1,4% vs. R/E) no período. (Comentário PNVL3) | Resultado mostrando inflexão no Auto. A Porto (PSSA3) reportou um resultado acima das nossas expectativas no trimestre, com lucro líquido de R$ 276 milhões (+360% a/a e +14% R/E) e ROE de 11% (+90 bps a/a e +10 bps R/E). (Comentário PSSA3) | Novas plantas e resultados! A Raízen (RAIZ4) anunciou um contrato de € 3,3bi com a Shell para fornecimento de mais de 3,3 bi L para a multinacional europeia. Além disso, a empresa reportou seus resultados do 3T22, com lucro líquido de R$ 1,1 mm e um EBITDA Ajustado de R$ 2,7 bi. | A todo vapor. A PetroReconcavo (RECV3) trouxe novamente ótimos resultados, desta vez no 3T22. A empresa consolidou um EBITDA de R$ 423 mm (+215% a/a) e um lucro líquido de R$ 212 mm (+824% a/a). (Comentário RECV3) | Mais um trimestre de faturamento recorde. A Rede D’Or (RDOR3) divulgou resultados neutros no 3T22, alinhado com nossas expectativas. A sua receita bruta atingiu R$ 6.810 mm (+15,2% a/a) enquanto seu EBITDA totalizou R$ 1.508 mm (+20% a/a e +4,9% t/t). (Comentário RDOR3) | Resultados sólidos, mesmo com peso do inorgânico. A Sinqia (SQIA3) apresentou resultados em linha com nossas projeções de top line, com receita líquida de R$ 159,5 mm (+73,3 a/a, +5,1% t/t e +0,9% R/E) e um EBITDA Ajustado de R$ 40,8 mm (+145,7% a/a, +18,9% t/t e +35,7% R/E). (Comentário SQIA3) | Reajustes ainda não compensaram alta sinistralidade, mas mostram o caminho. A Sulamérica (SULA11) reportou um resultado abaixo da nossa expectativa, com lucro líquido de R$ 49,2 mm (-82,5% a/a e -67,3% R/E). (Comentário SULA11) | Desempenho que transmite segurança. Com bons resultados no 3T22, a Taesa (TAEE11) apresentou uma receita líquida regulatória no valor de R$ 584 mm (+17% a/a e +1% R/E), enquanto o seu EBITDA foi de R$ 498 mm (+18,3% a/a e +4% R/E). (Comentário TAEE11) | Margens fortes e resultados acima do esperado. A Totvs (TOTS3) reportou resultados positivos no 3T22, com lucro líquido consolidado de R$ 155,8 mm (+75,3% a/a, +30,6% t/t e +44,3% R/E). (Comentário TOTS3) | Prejuízo com fluxo de caixa livre negativo (3). A Via (VIIA3) apresentou resultados fracos no 3T22, com uma receita líquida de R$ 7.008 mm (-1,7% a/a) e um EBITDA que atingiu R$ 356 mm no período. (Comentário VIIA3)
IPOs & Afins
Nessa semana, em meio as discussões do COP27, a petroleira Ithaca Energy emplacou o maior IPO do ano, levantando cerca de £262,5 milhões por aproximadamente 10,4% da companhia. No Brasil, apesar das condições de mercado ruins, algumas empresas mantêm planos de listagem em bolsa para o ano que vem. Dentre elas vale destacar o Madero, que segundo o fundador Junior Durski busca um IPO entre 2023 e 2024, e a Oliveira Trust, companhia responsável por prestar serviços ao mercado de capitais (ex: agente fiduciário, custódia e administração de ativos financeiros).
Fusões e Aquisições
Em busca de expandir suas atividades de dados e analytics, a B3 (B3SA3)anunciou a compra da Neurotech, companhia de tecnologia voltada para soluções de inteligência artificial, machine learning e big data, por um montante inicial de R$ 569 mm, podendo chegar a R$ 1,14 bi. | A BrasilAgro (AGRO3)anunciou a venda de 863 hectares da fazenda Morotí, localizada no Paraguai, pelo valor de US$ 1,5 bilhões. | O Grupo GPS (GGPS3) comunicou a aquisição da Engie Serviços e Facilities, companhia prestadora de serviços voltados para serviços de manutenção, sistemas de automação e eficiência energética, com presença em 21 estados. | A Itaúsa (ITSA3) efetuou a liquidação de mais 15 milhões de ações de classe A da XP, o que representa uma participação de 2,79% da companhia, pelo total de cerca de R$ 1,5 bi. | A Sabesp (SBSP3) anunciou a compra de 20% da URE-BA, subsidiária da Orizon, pelo montante de R$ 40 mm. | Por fim, a Wiz (WIZS3) informou o mercado sobre a aquisição de 100% da Promotiva, companhia responsável pela gestão do Canal Correspondente da Rede Mais BB, em busca de expandir a sua atuação com Crédito Pessoa Física. A Wiz pagará um valor no range de R$ 75 a R$ 85 mm.
Fundos Imobiliários
Seguindo a deterioração do mercado doméstico, o IFIX oscilou -2,1% na última semana. Seguem os principais fatos ocorridos no período: GALG11: Foi lavrada a escritura para venda definitiva do ativo situado na Rua Emílio Barbosa da Silva, 173 – Jardim Alvorada, Jandira, SP, atualmente locado para a Almanara Restaurante e Lanchonete Ltda. Na transação, foi acordado o valor de R$ 38 mm para alienação do imóvel, sendo que R$ 3 mm já foram previamente pagos, R$ 30 mm a liquidados no ato lavratura, sendo que os valores remanescentes serão pagos em duas parcelas adicionais, com vencimentos respectivos para jan/22 e jul/22.
Agenda da Semana
A agenda da próxima semana está mais leve aqui, teremos a divulgação do IBC-br de setembro e do IGP-DI no final da semana. Lá fora teremos os dados de produção industrial e varejo na China, importantes para analisar a evolução da economia e os impactos das flexibilizações. Nos EUA, será divulgado a inflação ao produtor e também os dados de varejo e industrial, que devem mostrar uma desaceleração da economia. Por fim, os dados do setor imobiliário, construção de novas casas também será relevante para a análise do cenário prospectivo da atividade econômica por lá.
Top da Semana
Com uma semana difícil, as empresas ligadas as comodities tiveram uma boa semana, com aVale (VALE3), CSN Mineração (CMIN3) e Gerdau (GGBR4) subiram 15,4%, 14,7% e 13,9% respectivamente. Na outra ponta, as varejistas tiveram uma semana complicada, com a queda de 28,4% da Magazine Luiza (MGLU3) e 26,8% da Americanas (AMER3), bem como uma forte queda de 26,0% da Positivo (POSI3).