O caso Americanas e possíveis impactos no setor bancário
Acompanhamos nesta semana o fato relevante divulgado pela Americanas (AMER3) sobre inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões no balanço da companhia. O Sr. Sérgio Rial, que havia assumido há apenas nove dias como CEO deixou o cargo e deve assessorar no desenrolar do caso, que ainda está sob auditoria e deve trazer futuramente os reais impactos de uma contabilização que, segundo Rial, deveria ser contabilizada como dívida em seu balanço. A inconsistência se deu na contabilização de contratos conhecidos como risco sacado, uma linha de crédito concedida a fornecedores de uma companhia, que possibilita a antecipação de recebíveis, onde quem arca com o pagamento é a companhia.
Desta forma, há uma dívida da Americanas de cerca de R$ 20 bilhões que não foi reconhecida por eles, mas segundo Rial, os fluxos eram pagos, apesar de não reconhecidos devidamente. Com toda a repercussão do estresse e o tamanho de uma dívida que futuramente ao ser reconhecida colocaria em xeque a situação de capital da Americanas elevando consideravelmente seu endividamento, os bancos consequentemente precisariam reavaliar os riscos da companhia e revisar seus contratos de empréstimo junto à Americanas.
Segundo Rial, 90% da dívida não teria covenants e em caso de os bancos anteciparem a dívida ou cortarem o rating de crédito da Americanas, a companhia teria dificuldades no pagamento de curto prazo desta dívida, o que traz uma prospecção para possíveis provisões para perdas dos bancos expostos à companhia.
Dado que não possuímos a abertura de quais bancos estão expostos à companhia, não está claro como os bancos seriam efetivamente impactados e precisamos aguardar os desdobramentos do caso. O ideal seria conhecermos as exposições específicas de cada banco, mas levando um estudo de impactos ao extremo, realizamos um teste de stress em que consideramos uma baixa de toda a carteira dos bancos que cobrimos exposta ao setor de varejo e uma baixa total limitada de R$ 20 bilhões para cada um, a fim de resultar hipoteticamente o limite de uma redução de equity nos bancos.
Os bancos de maior exposição ao setor de varejo no universo da nossa cobertura seriam o Santander e Bradesco, sendo também os mais impactados em uma redução total de PL em uma hipotética baixa de carteira no setor e obtendo o mesmo resultado quando limitamos o impacto ao total de R$ 20 bilhões.
No cenário em que rateamos o valor de R$ 20 bilhões para o total da nossa cobertura, o impacto representaria 0,6% da carteira total dos bancos que cobrimos e esse valor impactaria 3,6% do PL total dos bancos da nossa cobertura. Lembramos que a melhor forma de observarmos esses impactos seria detalhadamente por exposição e que ainda falta maior visibilidade para avaliarmos os impactos efetivos do caso.