Semestre termina com risco de recessão em alta
Em linha com a bolsa americana, o Ibovespa encerrou o semestre em queda de 5,99% atingindo 98.954 pontos. Embora no primeiro trimestre a situação fosse outra, com valorização de 14,48% até o final de março, as quedas acumuladas do segundo trimestre mais do que compensaram o começo do ano. Dentre as 91 ações do índice Ibovespa, apenas 33 acumulam alta até agora. Nesse sentido, o setor elétrico é o maior destaque, com 10 representantes, seguidos dos setores financeiros e de commodities. Já na outra ponta, as piores performances ficaram com o setor de varejo e tecnologia.
Com relação a essa semana, o Ibovespa encerra praticamente estável, com valorização de 0,3%. Dentre os principais índices da B3, o desempenho foi misto: o setor Imobiliário (IMOB) caiu -7,12%, Consumo (ICON) 0,77%, Materiais Básicos (IMAT) -0,47%, Financeiro (IFNC) 0,76%, Industrial (INDX) 1,01% e Utilities (UTIL) 0,68%. Quando o assunto é sobre as empresas, no pódio positivo da semana as ações da Fleury (FLRY3) subiram 10,2%, puxada pelo anúncio da combinação de negócios com Hermes Pardini (PARD3). Na sequência, Petrobrás (PETR4) com 8,5% e MRV (MRVE3) com 8,0%. Na ponta negativa, CVC (CVCB3) caiu 17,9%, seguido pela varejista VIA (VIIA3), com queda de 19,2% e Qualicorp (QUAL3) caindo 13,3%.
O S&P500 teve mais uma semana de queda e fechou o semestre com -21%, o pior começo de ano desde 1970. Os dados recentes da economia americana começam a indicar uma desaceleração da economia e investidores ficam ainda mais avessos ao risco de recessão que bate à porta. Com a inflação ainda elevada, uma queda na atividade tende a pressionar os resultados das empresas nos próximos meses e ainda devemos ver reavaliações de cenário em breve. A boa notícia, se é que podemos ver um lado positivo da atividade mais fraca, é que a inflação também dá sinais de ter feito pico. O PCE, medida preferida pelo Fed para monitorar a inflação, ficou ligeiramente abaixo da expectativa e encerrou maio em 4,7%, na medida de núcleo, uma desaceleração em relação a abril que havia sido 4,9%. Como isso, reduziram as apostas de novas altas de 75 bps na taxa de juros, e a taxa dos títulos de 10 anos teve forte queda na semana, de 3,1% para 2,9%. As commodities também seguiram o mercado e o receio de recessão, mesmo com a reabertura da China e anúncios de novos estímulos. O CRB caiu 2% na semana e já acumula queda de 12% do pico em meados de junho.
Aqui no Brasil, a aversão a risco foi ampliada com a votação de mais uma Pec para aumentar gastos além do teto, passando por cima da LRF e da lei eleitoral. O impacto financeiro dos auxílios propostos é de R$40 bilhões, e deve anular o esperado superavit para o ano, mas o impacto na credibilidade da política fiscal foi bem maior e os juros das NTN-Bs mais longas ultrapassaram 6%, algo que não se via desde a crise em 2014-15. Aliás, impacto semelhante das incertezas do processo eleitoral. O dólar acompanhou o movimento lá fora e a maior aversão a risco político doméstico e fechou acima de R$5,32, maior patamar desde janeiro desse ano. A piora dos mercados acontece em meio a dados macroeconômicos melhores, como a forte queda do desemprego no país para 9,8%, menor taxa desde 2015. Os dados de confiança da indústria e serviços também tiveram alta em junho e o IGPM indica uma desaceleração da inflação ao produtor, o que pode antecipar também um arrefecimento da inflação ao consumidor, principalmente nos alimentos. Alguns estados também confirmaram a redução de ICMS na conta de luz, telefone e nos combustíveis e o IPCA de julho pode ser negativo pela primeira vez desde abril de 2020.
Empresas e Setores
Leilão de transmissão de energia. A Aneel leiloou 13 lotes para construção e manutenção de mais de 5 mil Km de linhas de transmissão, a Agência espera R$ 15,3 bi em investimentos. | Plataforma de negociação privada. O BTG Pactual (BPAC11) lançou uma plataforma para investidores institucionais, a BLOX. O volume mínimo por operação é na ordem de 10 mil papéis. | Energia fotovoltaica. A Cemig (CMIG4) investiu R$ 100 mm na aquisição de três usinas solares, todas em Minas Gerais, o início das usinas ocorrerão entre jul/22 e fev/23. | Geração de valor aos acionistas. A Cyrela (CYRE3) comunicou ao mercado o programa de recompra de ações, o objetivo da empresa é comprar até 13 mm de ações (4,7% dos papéis em circulação). O programa de recompra terá duração de um ano. | Escola para desenvolvedores. A Cogna (COGN3) lançou a Escola T.EX, projeto de formação de profissionais de tecnologia, buscando suprir a demanda por profissionais qualificados na área. | Emissões de debêntures. (i) A BRF (BRFS3) aprovou sua quarta emissão de debêntures simples, em duas séries, na soma de R$ 1,7 bi. (ii) A Cogna (COGN3) aprovou sua oitava emissão de debêntures simples, em três séries, buscando arrecadar até R$ 500 mm. (iii) A Movida (MOVI3) anunciou sua oitava emissão de debêntures simples, em duas séries, o valor total é de R$ 1 bi. (iv) Por fim, a Telefônica Brasil (VIVT3) comunicou a emissão de R$ 3,5 bi em sua sétima emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações. | Antes tarde do que nunca. A Oi (OIBR3) registrou lucro líquido na soma de R$ 1,78 bi no 1T22, frente prejuízo de R$ 1,6 bi no trimestre anterior. A empresa atrasou a comunicação de seus resultados por conta de tardamentos relacionados à venda de ativos implicadas na RJ. | Venda de gás natural. A PetroReconcavo (RECV3) firmou um contrato para venda de gás natural para a Cegás, distribuidora cearense. O fornecimento de 30 mil m³/dia de gás canalizado será feito pelas subsidiárias SPE Miranga S.A. e Potiguar E&P. | Construção de fábrica. A Suzano (SUZB3) anunciou a construção de uma nova fábrica de papel Tissue em Aracruz, ES. O empreendimento custará R$ 600 mm à empresa. | Plano de recompra de ações. A Track & Field (TFCO4) anunciou o programa de recompra de até 2,75 mm ações preferenciais, o objetivo, segundo a empresa é maximizar a geração de valor aos acionistas.
IPOs & Afins
No final da semana passada, a Eneva (ENEV3) informou ao que o preço de R$14,00 por ação para o follow-on foi aprovado pelo conselho de administração. Segundo o fato relevante serão ofertadas 300 milhões de ações ordinárias, de modo que o capital levantado pela companhia chegará a R$4,2 bilhões. Estão coordenando a oferta o Banco BTG Pactual, Bank of America, Itaú BBA, Bradesco BBI, Citi, J.P. Morgan, UBS BB e Santander.
Fusões e Aquisições
Dando início a semana, a Omega Energia (MEGA3) anunciou a venda de 10% do seu capital social para Actis LLP, fundo global de private equity sediado no Reino Unido, por volta de R$ 770 mm. (Confira aqui nosso comentário). | Além disso, ainda na segunda-feira (27), o Banco do Brasil (BBAS3) em conjunto com o BB Mapfre, sociedade coligada indireta, anunciou a assinatura do memorando de entendimentos (MoU), para a criação de uma companhia chamada Broto. Segundo o fato relevante, o movimento foi instituto com o proposito de desenvolver a plataforma Broto, pertencente a Brasilseg, subsidiária da BB Mapfre. | Por outro lado, a Ser Educacional (SEER3) informou que pretende adquirir 100% de uma companhia que será fundada pela Educadora Sete de Setembro, que vem a ser a mantenedora da UNI7, Centro Universitário 7 de Setembro. A transação será efetuada por sua subsidiária CENESUP, no valor de R$ 10 mm, com o objetivo de criar sinergias e expandir as suas operações em Fortaleza (CE). | Já na quarta-feira (29), através de sua controlada, a Ambipar (AMBP3) comunicou a aquisição da Bionev, com o objetivo de ingressar no mercado de análises laboratoriais e expandir as suas operações. | No setor de energia, a Cemig (CMIG4) anunciou a compra de três usinas de energia solar, através de sua subsidiária Cemig SIM, por R$ 100 mm, com intuito de avançar no mercado de geração distribuída no estado de Minas Gerais. | Ademais, o Fleury (FLRY3) e Hermes Pardini (PARD3) comunicaram um acordo para combinação de negócios. Segundo as companhias, com a operação será possível gerar mais valor aos acionistas, fortalecendo as suas operações no setor de saúde e medicina diagnóstica no território brasileiro. | Por fim, em linha com a sua estratégia de redução dos custos, a Suzano (SUZB3) anunciou a compra de 100% da Caravelas Florestal, por R$ 336 mm.
Fundos Imobiliários
Em semana volátil, o IFIX teve variação de -0,46%. Seguem os principais fatos relevantes da semana:
RBVA11: Em sequência à alienação de dois imóveis locados para a Caixa, foram assinadas na semana a i) escritura pública de compra e venda para alienação do imóvel Uberlândia, localizado na Av. Com. Alex. Garcia, 1285 1389 - Uberlândia/MG; e ii) aditivo ao contrato de compra e venda (CCV) para alienação do imóvel Inconfidência, localizado na Rua Curitiba, nº 888 – Belo Horizonte/MG. O Imóvel Uberlândia, de 552 m² de área locável, tem o contrato de locação firmado até janeiro de 2027 e o Imóvel Inconfidência, 2.404 m², com vencimento em novembro de 2022. O valor bruto total da operação será de R$ 18 mm. | AFHI11: Foi aprovado pelo administrador a realização da 3ªemissão de cotas do fundo, as quais serão objeto de oferta pública com esforços restritos de distribuição, sob regime da Instrução CVM nº 476. O montante inicial da oferta será de até R$ 33,8 mm por meio da emissão de até 350.736 novas cotas ao preço fixo de R$ 96,41, volume que pode ser expandido em até 100%. | HGRU11: o fundo firmou um contrato para a venda de uma loja localizada na Praça Rui Barbosa, n.º 373, na cidade de Garça-SP, locada para as Casas Pernambucanas. A alienação do Imóvel se dará pelo preço total de R$ 3,25 mm. O preço a ser recebido pelo fundo em decorrência desta transação equivale a R$ 8.695,65/m², perfazendo um lucro caixa próximo de R$ 0,05/cota e TIR anualizada de 26,1%.
Agenda da Semana
A agenda da próxima semana trará, principalmente, a divulgação do IPCA relativo ao mês de junho. Em particular, esperamos pressão de alta relativa ao reajuste autorizado de até 15,5% para planos de saúde, além de uma variação elevada para os alimentos em domicílio e para o grupo de vestuário. Adicionalmente, será conhecido o desempenho da produção industrial de maio, além da produção de veículos de junho, que trará sinais a respeito da evolução prospectiva da atividade econômica no setor. Para os Estados Unidos, espera-se nova criação significativa de empregos em junho, com manutenção da taxa de desemprego em 3,6%, o que sugere que ainda há um descasamento significativo entre a oferta e a demanda por trabalho no mercado americano. Vale acompanhar também a divulgação da ata do FOMC, que permitirá conhecer a perspectiva da autoridade monetária para o ritmo de normalização da taxa de juros nos próximos meses.
Top da Semana
A Fleury (FLRY3) apresentou uma alta de 10,2% após anúncio de operação de fusão com o laboratório Hermes Pardine. Após a comunicação de pagamento de dividendos os papeis da Petrobras (PETR4 e PETR4) subiram 8,4% e 7,6% respectivamente, seguida pela alta de 8% MRV (MRVE3), que fortaleceu seu caixa com a venda de R$ 350 milhões em CRIs. Em contrapartida, a CVC (CVCB3) teve a maior queda da semana de 17,9%, depois que o Ministério da Justiça e Segurança Pública abiu um processo administrativo contra a companhia. Diante de um cenário inflacionário a empresa Via (VIIA3) teve a segunda maior queda, concomitante a queda de 13,3% da Qualicorp (QUAL3).