Macroeconomia


Market Strategy | Julho 2023

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Gabriela Joubert

Publicado 03/jul10 min de leitura

Market Strategy

Passado já um semestre do ano, a lição que tiramos é a importância da alocação estratégica visando não só o objetivo do investimento, mas também o prazo e a mitigação do risco. E esta é apenas possível via diversificação. Enquanto só se falava em Renda Fixa, a inflação desacelerou, o cenário de juros mudou, os fundos imobiliários dispararam, o câmbio valorizou e agora em junho a bolsa subiu quase 9%. Iniciando em abril e ganhando força a partir de meados de maio, as expectativas quanto ao ciclo de corte de juros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos convergiram para um cenário mais benéfico à Renda Variável, via redução de prêmio de risco, impulsionando a bolsa brasileira em bloco, independente do setor. Consolidadas as expectativas, poderemos ver realização no curto prazo para então reavaliarmos até onde irá o ciclo e os segmentos e ativos que se fortalecerão neste novo cenário.

Na Renda Fixa, ativos voltados à inflação seguem como preferência (mas, afinal, quando defender de inflação não foi?), e uma de nossas principais recomendações do ano, o IMAB, foi o destaque no semestre, com alta acumulada de 11%, contra 6,6% do CDI. Obviamente, mantemos também posição no pós-fixado, uma vez que apesar do cenário de cortes na Selic, ainda estamos falando de juros em patamar elevado. Quanto à bolsa brasileira, as ações voltadas à economia local devem seguir se recuperando, beneficiadas pela expectativa de queda de juros, inflação em desaceleração e revisões positivas para o PIB. No entanto, ainda mantemos a cautela com as exportadoras, mais dependentes de China, com limitações esperadas nos preços das commodities nos mercados internacionais.

Lá fora, mercados seguem atentos às falas das autoridades monetárias sobre inflação e juros, mas nos Estados Unidos, mesmo após novos sinais de resiliência da economia americana, as apostas de que o ciclo de altas nos juros esteja próximo do fim crescem. Movimento interessante, porém, vimos ao longo das últimas semanas de junho, com recuperação forte de setores como a Indústria, Transportes e Real Estate, antecipando um provável cenário mais favorável de pausa no ciclo altista dos juros, juntamente com uma economia ainda resiliente e colocando à prova os sinais de uma recessão que teima em chegar. Com isso, seguimos com um portfólio ajustado com renda fixa de diferentes durations, exposição na bolsa a setores mais resilientes, bem como outros que se beneficiem de cenário de política monetária mais flexível. Por fim, a temporada de balanços bate à porta e mais que os números, estaremos atentos ao sentimento das empresas, dos clientes e de toda a cadeia quanto ao 2S23, uma vez que sentimento determina ações futuras.

Cenário Internacional

FED mantém tom hawkish sinalizando taxa terminal em 5,6%

Estados Unidos

O mês de junho foi marcado pela reunião do Fed que manteve a taxa de juros inalterada, mas surpreendeu com a revisão nas expectativas dos membros do FOMC para 2023. Tais expectativas sugerem que eles esperam pelo menos mais duas altas de 25bps na taxa de juros até o fim do ano, levando os juros a 5,60%, uma revisão significativa frente às últimas expectativas que anteviam uma taxa de 5,10% ao fim de 2023. Portanto, a tão esperada pausa pode ser apenas momentânea, com o Fed devendo retomar o ciclo de alta na reunião de julho. Entretanto, o mercado não parece ter comprado essa narrativa. O S&P 500 subiu mais de 3%, em movimento em bloco, com o S&P 500 com pesos iguais subindo mais de 4% no mês. E há motivos para o mercado não acreditar no discurso do Fed, o principal deles sendo o fato de que a inflação anualizada deve cair aceleradamente no segundo semestre por conta da desinflação de bens e de aluguéis. Por outro lado, a atividade continua resiliente com o PIB americano crescendo 2% a.ano primeiro trimestre e o mercado de trabalho ainda bastante apertado. Além disso, o discurso do Fed é bem enfático no fato de que uma política mais restritiva é necessária. Portanto, nessas horas convém escutar quem dita as regras do jogo e, como sempre, don’t fight the Fed!

Resto do mundo

Na China, a reabertura continua decepcionando. Os dados de atividade continuam vindo abaixo do esperado, indicando a grande dificuldade em retomar o ciclo de crescimento. A economia chinesa parece estar em meio a um processo de desalavancagem que pode gerar uma recessão significativa nos próximos anos, à medida que empresas e famílias parecem preferir utilizar seus recursos para diminuírem suas dívidas. Com isso, o governo chinês se mostra inclinado em estimular ainda mais a economia, principalmente via política monetária, se aproveitando do fato de que por lá a inflação está bem controlada. Entretanto, se o cenário de desalavancagem se confirmar, uma política monetária mais frouxa não terá o impacto desejado. Nesse caso, o governo chinês deveria implementar uma política fiscal expansionista, algo que não aparenta estar no radar.

No Japão, a inflação continua bastante pressionada, mas o banco central não dá sinais de mudança na política monetária, mantendo em patamar acomodativo. Com isso, as stock japonesas estão performando muito bem, enquanto o iene enfraquece. Em declarações recentes, o banco central japonês não se mostra preocupado com esse cenário, indicando continuidade dessa tendência nos próximos meses. Por fim, o Banco Central Europeu indica que vai contrair ainda mais a política monetária em momento em que o crédito já se mostra bastante escasso para empresas e famílias. Com isso, aumenta a probabilidade do BCE errar a mão e fabricar uma recessão pior que o esperado.

Cenário Macro - Brasil

Um segundo semestre menos pessimista

Chegamos à metade do ano com inflação menor que o esperado, crescimento do PIB maior e expectativa de corte de juros no segundo semestre. A mudança de humor também pode ser observada na valorização do real em 8% no ano, fechando o semestre em R$4,85, na queda dos juros reais e na melhora nos índices de confiança do consumidor e do empresário.

Começamos o ano com expectativa de crescimento do PIB de 1% e devemos ver um resultado no ano mais próximo de 2%, não só puxado pelo agro, mas também pelo setor de serviços, que segue mais resiliente e mantém o mercado de trabalho aquecido. A geração de empregos formais até maio foi de 865 mil novas vagas, número robusto, ainda que uma desaceleração em relação ao ano passado e a taxa de desemprego se mantém no baixo patamar de 8,3%. O PIB mais forte tem contribuição do bom desempenho da balança comercial, que deve ter superávit recorde de US$75 bilhões esse ano, o que, juntamente com o investimento direto que estimamos em US$70 bilhões, devem manter o fluxo cambial positivo e o patamar de cambio próximo a R$4,90.

Também chegamos ao fim do semestre com a boa notícia da queda da inflação. O IGPM está negativo em 6,8% em 12 meses até junho e o IPCA deve acumular 3,1% no mesmo período. As expectativas de inflação também tiveram queda nas últimas semanas e, com a manutenção da meta pelo CMN em 3% até 2026, mantendo o atual intervalo e mudando para um horizonte contínuo, a tendência de reancoragem das expectativas mais longas deve continuar nas próximas semanas. Esse cenário de menor incerteza e retomada da credibilidade da política monetária deve abrir espaço para mais cortes de juros nos próximos meses. Mantemos nossa expectativa de início da redução da Selic na reunião de agosto com a taxa terminando o ano em 12% e 2024 em 9,5%.

Estratégia de Alocação

Risk on nos mercados

Junho deu ímpeto a um cenário mais favorável aos ativos de renda variável, que ganham força seguindo expectativas de fim de ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos, mesmo com o tom mais incisivo do Fedsinalizando mais novas altas até o fim do ano. Reflexo disso foi a forte recuperação de setores mais sensíveis aos juros ao longo do mês, como Construção, Indústria e Transportes, compensando correção que vimos nos papéis de algumas empresas de tecnologia, grande destaque do primeiro semestre. No que tange aos juros, o fim do ciclo pode estar próximo e o mercado passa a aceitar que o patamar deverá seguir mais elevado por mais tempo, o que favorece ainda a exposição a essa classe de ativos no país.

Na Ásia, tivemos mais um mês de decepção com a China e surpresa positiva com o Japão. Entretanto, apesar dos números negativos, as apostas de novos estímulos por parte do governo chinês têm dado fôlego aos papéis e a algumas commodities, mas mantemos a visão cautelosa com a região, ainda descrentes em um avanço significativo da segunda maior potência global.

Na Europa, os Bancos Centrais elevam o tom diante de uma inflação persistente e sinalizam que o pico dos juros ainda deve demorar. Enquanto isso, o PMI na região segue em nível contracionista e desacelerando, colocando as autoridades monetárias em uma situação delicada.

Quanto ao Brasil, a mudança em relação às perspectivas de inflação e crescimento do PIB trouxe um tom mais amigável à bolsa, que teve um importante avanço no mês, beneficiada pelos setores voltados à economia interna, como Construção, bancos e Utilities. Por outro lado, os papéis das exportadoras seguiram pressionados pela China e pela desaceleração global, o que prejudicou as cotações do petróleo e, em parte, das commodities metálicas.

IMAB é destaque no primeiro semestre

Uma de nossas principais recomendações no ano avançou 11,3% no 1S23

Com a redução na percepção de risco, a queda dos juros ao longo das últimas semanas proporcionou significativo ganho de capital para as carteiras de renda fixa indexadas à inflação, uma das nossas principais recomendações do ano.

O índice IMAB, que mede a performance média dos títulos indexados, as NTNBs, teve rendimento de 2,4% em junho e acumula ganho de 11,3% no ano, contra 6,6% do CDI. Mesmo com a boa performance, a rentabilidade atual dos papéis ainda é atrativa, com a taxa referência de 10 anos em 5,2% ao ano além da correção pela inflação. Nossa estimativa para o IPCA no curto prazo é de desaceleração, projetamos variação de 4,7% em 2023 e 4% em 2024.

No cenário de retomada da credibilidade da política monetária, a inflação tende a convergir para a meta, reafirmada em 3%. Nesse cenário, as taxas reais podem cair ainda mais com a redução do prêmio de risco, gerando ganhos de capital. No cenário alternativo, IPCA mais persistente ou até mesmo acelerando, o investidor fica protegido no longo prazo pela correção da inflação. Como diversificação e proteção da carteira, mantemos nossa recomendação em ativos indexados mesmo com a redução recente das taxas.

Classe de ativos

A mudança e consolidação das perspectivas de inflação em queda e PIB em alta permitiram uma recuperação dos ativos de renda variável, o que levou o Ibovespa a uma alta de 9% no mês. Apesar de ainda vermos espaço para alguns setores da bolsa brasileira avançarem, como Construção, Varejo & Consumo e SmallCaps, vemos as exportadoras limitando o avanço do índice, devido ao cenário ainda turvo para a China. Nos Estados Unidos, as apostas de fim de ciclo de alta dos juros abrem espaço para setores como Indústria, Real Estate e Consumo avançarem, o que pode ajudar a manter o índice em recuperação, apesar da possível correção de algumas empresas de tecnologia. O setor financeiro também pode avançar, após queda significativa no primeiro semestre, beneficiado pelo alívio trazido pelo teste de estresse do Fed.

Na renda fixa, mesmo com o cenário de desaceleração das pressões inflacionárias, seguimos com preferência pelos papéis atrelados à inflação, que funcionam como defesa ao contínuo aumento de preços. Continuamos também com exposição pós-fixada, uma vez que, mesmo com a esperada queda nos juros, ainda projetamos Selic em 9% no próximo ano. Nos Estados Unidos, mantemos um portfólio com bonds de diferentes durations, buscando diversificação em um cenário volátil em relação à política monetária norte-americana.

Quanto às outras classes, seguimos reticentes com commodities, mas mantemos o otimismo em relação aos FIIs high-grade e ainda otimistas com a recuperação dos fundos imobiliários de tijolos.

Desempenho das Bolsas Globais

Bolsas no positivo com expectativas de fim do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos

Estados Unidos

Os índices globais tiveram um mês de menor aversão ao risco, reforçando a trajetória de alta, mesmo com os discursos mais ácidos das principais autoridades monetárias globais sobre a necessidade de mais juros até o fim do ano. Fato é que com sinais claros de desaceleração na inflação, mercados estão apostando no fim do ciclo de alta dos juros norte-americanos e, no mês, vimos outros setores se juntarem às Big Techs, como Industrials, Real Estatee Transportes e avançarem.

O S&P500 e o Nasdaq subiram cerca de 7%, impulsionados ainda pelo setor de tecnologia e pelas empresas de AI, mas também vimos o setor financeiro recuperar parte das perdas do ano após alívio com o teste de estresse do FED.

Resto do Mundo

Na Europa, os índices foram impulsionados pela melhora do humor global, apesar das expectativas de mais juros no Velho Continente. A temporada de balanços tem ajudado, conforme os resultados se mostram melhores que as expectativas, com surpresas positivas inclusive no Varejo.

Na Ásia, dados de China mais fracos pesaram por um lado, mas a esperança de novos estímulos por parte do governo ajudaram a segurar os ânimos e os índices também fecharam no azul. O Nikkei foi a maior alta dentre os índices globais, ficando atrás apenas do Ibovespa.

Desempenho Ibovespa

Junho mantém tom otimista para os ativos voltados à economia interna

Junho seguiu com o tom otimista de maio sobre as apostas de corte nos juros no segundo semestre e os destaques positivos ficaram por conta dos ativos voltados à economia local e, geralmente, mais sensíveis aos juros. Nos destaques de alta, vimos o IFNC e o UTIL avançarem mais de 10% cada, refletindo a ancoragem da inflação e revisões positivas para o PIB, o que traz alívio aos custos e à inadimplência. Vimos também o IMOB e o ICON subirem além do Ibovespa, beneficiados pelo cenário de início de corte dos juros.

Não tão bem foram o IMAT e o INDX. O primeiro pressionado pelo desempenho aquém do esperado da economia chinesa e o segundo ainda pressionado pela fraqueza da indústria local que não acompanha o bom momento do restante da economia.

Fundos Imobiliários

Bons ventos seguem para o setor

Com mais um mês nas alturas, o IFIX teve alta de 4,7% em junho, impulsionado com o fechamento das curvas de juros e maior otimismo para o setor. O segmento de papel apresentou uma alta de 1,7% no mês, junto com a alta de 5,9% nos ativos de tijolo. Com forte retomada, o segmento já acumula alta de 14,7%, fechando o gap observado em relação ao IMA-B. Já os fundos de papel registram alta de 5,3%, ainda sofrendo forte impacto da série de defaults realizados nos últimos meses. Já nossa carteira apresentou um desempenho positivo de 5,28%, ganhando do benchmark em 0,57 p.p, puxado pela alocação no segmento de tijolo (logístico, shoppings e lajes) e FOF’s.

Carteiras Recomendadas

Confira cada uma das nossas carteiras recomendadas para o mês de Julho!

Carteira Retorno

Carteira Dividendos

Carteira FIIs

Carteira BDRs

Carteira ETFs Índices Globais

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