Market Strategy
Julho trouxe o início da temporada de balanços aqui e no exterior. No Brasil, resultados em linha com o 1T23 mostram que o maior otimismo dos últimos meses ainda não se reflete nos balanços das empresas. Lá fora, as empresas de tecnologia seguem surpreendendo, mas o destaque ficou mesmo por conta dos demais setores da economia, como pode ser visto no desempenho do Dow Jones. No campo macroeconômico, iniciamos agosto com um cenário mais favorável à flexibilização da política monetária aqui no Brasil, com a expectativa de início dos cortes na Selic, uma vez que vemos melhora das pressões inflacionárias e uma economia caminhando para um patamar mais saudável, reconhecido inclusive pelas agencias de rating globais. A bolsa vem precificando este cenário mais benéfico desde maio e, em julho, apesar de quase ter fechado estável, o Ibovespa foi impulsionado no fim do mês pelas notícias de novos estímulos na China, o que levou à recuperação dos papéis das siderúrgicas e mineradoras, os quais vinham depreciados pela decepção com o processo de retomada econômica na segunda maior economia do mundo. Ainda pairam dúvidas sobre o desempenho da economia chinesa para o 2S23, mas as commodities têm se mostrado resiliente, especialmente em reflexo aos números apresentados para outras economias, como Estados Unidos. Por falar em Estados Unidos, o FED anunciou novo aumento nos juros norte-americanos, conforme o esperado, e deixou a janela aberta para mais uma alta em setembro, a depender dos dados macroeconômicos, principalmente inflação e mercado de trabalho. A economia norte-americana continua forte, com um PIB do 2T23 crescendo 2,4%, acima das expectativas, mesmo com a política monetária já em patamar contracionista. Aliás, este fica como um dos pontos de atenção nas teses de investimentos: o aperto monetário levará à uma recessão nos Estados Unidos? Dados antecedentes mostram que o país caminha para a mais antecipada das recessões que, contudo, tarda a chegar, a defasagem está maior que a usual. Economias desenvolvidas que saem de décadas de políticas monetárias frouxas lutam contra um inimigo pouco conhecido e discutem medidas contra inflação, enquanto o mundo cobra de China estímulos para o problemático setor imobiliário, apostando nos mesmos remédios que curaram feridas no passado. Entretanto, o presente mostra-se diferente. O mundo pós-pandemia mudou. É um jogo diferente com regras diferentes e talvez tomar as mesmas decisões e apertar os mesmos botões pode não surtir os mesmos efeitos observados anteriormente.
Cenário Internacional
Cenário macroeconômico internacional permanece envolto sob a neblina da incerteza
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o Fedelevou mais uma vez a taxa de juros em decisão amplamente esperada dada a comunicação dos membros do FOMC após a reunião de junho. Entretanto, apesar do ciclo de alta estar próximo do fim, ainda há muita incerteza sobre quando ele ocorrerá. Por um lado, a inflação está em tendência benigna, avançando 3% no acumulado dos últimos 12 meses, mas com o núcleo ainda pressionado, em 4,8%, apesar da tendência de queda. Por outro lado, vemos a atividade econômica ainda bastante robusta. O mercado de trabalho continua adicionando em torno de 200 mil novos empregos mensais, com a taxa de desemprego em 3,6%, e o PIB do 2º trimestre indica um forte avanço, de 2,4% na taxa anualizada. Na definição dos próximos passos da política monetária o mercado de trabalho será fundamental. Apesar de terem desacelerado consideravelmente, os salários ainda crescem acima de 4% na taxa anualizada e indica estagnação nos últimos meses. Tal patamar é inconsistente com a meta de inflação de 2% e pode deixar o Fedansioso, levando a novas altas nos juros. Até a próxima reunião de setembro teremos duas divulgações de inflação e duas divulgações sobre o mercado de trabalho, que serão fundamentais para a condução da política monetária.
Resto do mundo
Na China, os dados de atividade continuam decepcionando, o que aumenta consideravelmente a probabilidade de novos estímulos por parte do governo. Entretanto, o governo parece inclinado a fazer mais do mesmo, particularmente uma política de crédito expansionista. Os sinais vindos da economia chinesa indicam que eles estejam passando por um processo generalizado de desalavancagem. Nesse contexto, uma política creditícia expansionista não surtiria efeito, sendo a política fiscal mais indicada. De toda forma, os novos estímulos devem impactar positivamente os setores mais intimamente ligados às commodities metálicas, entretanto, no agregado, o efeito será balanceado por perdas em outros setores. Essa perspectiva de estímulos somada ao enfraquecimento do dólar, tem feito as commodities reagirem nas últimas semanas. Essa classe é a mais defasada nesse momento em que o mercado muda da narrativa de recessão para o soft landing, portanto, o ambiente de maior apetite ao risco pode dar início a um rallynas commodities..
Cenário Macro - Brasil
Início do ciclo de cortes na Selic?
Agosto começa com a expectativa do primeiro corte de juros pelo Copom. Esperamos uma redução inicial de 50bps, mas a comunicação mais conservadora do BC pode ainda fundamentar o início do ciclo com um corte de 25bps. Desde a última reunião em junho, os fundamentos evoluíram de maneira favorável para uma redução maior, com a queda da inflação além do esperado juntamente com a queda nas expectativas. O IPCA-15 de julho ficou negativo em 0,07% e, além da redução nos preços de alimentos e de energia, mostrou também uma importante desaceleração da inflação de serviços, bem como das medidas de núcleos. Como já comentamos anteriormente, o patamar de juros está bastante elevado quando consideramos a expectativa da inflação de 4% para os próximos 12 meses e, com isso, o espaço para cortes é significativo. Esperamos que a Selic termine 2023 próxima de 11,5% e que novas quedas em 2024 levem ao patamar de 9%, similar ao que está precificado no mercado. Ao longo de julho, a curva de juros apresentou queda nos vencimentos mais curtos, refletindo a expectativa de mais cortes na Selic até 2024, mas os longos voltaram a subir com a preocupação com a inflação no longo prazo, principalmente ligada à trajetória da dívida pública.
A agenda econômica em agosto também terá foco na política. O Congresso deve votar o arcabouço fiscal, enquanto o Senado analisa a reforma tributária. O governo deve enviar até o final do mês a PLOA 2024, que irá definir a meta de resultado primário, inicialmente com o objetivo de zerar o déficit no próximo ano. Mas para tanto, a necessidade de receitas extras é próxima de R$ 130 bilhões. O pacote de medidas para essa viabilização deve ser conhecido nas próximas semanas e inclui a votação do PL do Carf, a regulamentação do IR em investimentos offshore, a tributação de fundos fechados e o fim do JCP. Serão semanas importantes de discussões sobre medidas que podem significar um ajuste fiscal mais célere e permitir uma queda de juros mais acentuada.
Estratégia de Alocação
Commodities em alta e bolsas também
Em julho, a temporada de balanços nos Estados Unidos movimentou os mercados e vimos as empresas de tecnologia baterem as expectativas do consenso com receitas crescentes, principalmente de propaganda, mas decepcionando um pouco quanto aos futuros dispêndios para seus negócios de Inteligência Artificial. Por outro lado, outros segmentos entraram na tendência positiva e vimos o Dow Jones avançar 3%, impulsionado pelos balanços de farmacêuticas, bancos e da indústria automotiva, reflexo de melhora na cadeia de suprimentos global e nas projeções de menores custos e pressões inflacionárias, além do provável fim do ciclo de alta de juros pelo FED. No entanto, em virtude do avanço dos papéis de tecnologia e que puxaram o S&P500 no ano, deixamos aqui um ponto de atenção para o segundo semestre, podendo haver pressão deste setor nos índices como Nasdaq e o próprio S&P.
Na Ásia, a reunião do Politburo na China fez renascer a esperança na região. Em comunicado oficial, o governo chinês divulgou medidas para impulsionar a confiança e a demanda interna, em especial o consumo no setor automotivo, de eletrônicos, incentivo ao setor de turismo e novos estímulos ao setor imobiliário. O comunicado fez com que os ativos ligados à economia chinesa avançassem no mês, mesmo com dados macroeconômicos ainda abaixo do esperado.
Na Europa, os Bancos Centrais continuam na encruzilhada entre inflação persistente que exige uma política monetária restritiva e uma economia que caminha para a recessão. No entanto, sinais de desaceleração na inflação podem tornar o caminho das autoridades monetárias na região mais fácil, levando o BCE a encerrar o ciclo já em setembro.
Quanto ao Brasil, as apostas dão como certo o início de corte na Selic agora em agosto e a discussão fica por conta da magnitude do corte inicial e qual aceleração no ritmo veremos até dezembro. Tivemos nova revisão de rating, desta vez pela Fitch, corroborando a melhora do ambiente local. Na temporada de balanços, ainda devemos ver resultados fracos, com demanda que ainda patina e custos que seguem elevados, mas o céu está mais claro e a atmosfera positiva do início de maio deve se refletir em melhores resultados para o segundo semestre do ano.
Classe de ativos
Os mercados foram movimentados pela temporada de resultados nos Estados Unidos, pela decisão do FED sobre +25 bps nos juros norte-americanos e pelo anúncio oficial do governo chinês sobre medidas para estimular a economia local. Com isso, vimos o Ibovespa avançar mais de 3% no mês, puxada pelos papéis das exportadoras, bem como pelas empresas de Construção e pela indústria. Nos Estados Unidos, nosso callsobre o setor financeiro, indústria e construção também se mostrou correto, com estes estando entre as principais altas do mês, refletido pelo Dow Jones que subiu 3% no período. Diante deste cenário, ainda estamos olhando estes setores como os mais beneficiados com o ciclo de acomodação dos juros nos Estados Unidos, bem como com o início de queda da Selic aqui no Brasil.
Na renda fixa, mantemos nossa preferência pelos papéis atrelados à inflação, uma vez que mesmo com o cenário de desaceleração, ainda vemos o IPCA encerrando o ano em 4,6%. O início do corte na Selic em agosto traz alívio, mas ainda projetamos a taxa em 12% no fim deste ano e 9% para 2024, justificando nossa alocação em pós-fixado. Nos Estados Unidos, mantemos um portfólio com bondsde diferentes durations, buscando diversificação em um cenário volátil em relação à política monetária norte-americana.
Quanto às outras classes, elevamos nossa percepção com as commodities no curto prazo, em razão principalmente do lagdentre as demais classes, apesar de ainda mantermos a cautela com China. Na classe de FIIs, seguimos posicionados nos ativos high-grade e ainda otimistas com a recuperação dos fundos imobiliários de tijolos.
Desempenho das Bolsas Globais
Maior apetite ao risco beneficia índices globais
Estados Unidos
Os índices norte-americanos refletiram mais a temporada de balanços que o cenário macro, uma vez que a decisão de aumento de 25 bps nos juros pelo FED já estava precificada. Com isso, o que vimos foi novamente o Nasdaq avançando com os balanços das Big Techssuperando as expectativas, principalmente de receitas de propaganda (que vinha como ponto de atenção nos trimestres anteriores) e pelos negócios de nuvem. No entanto, preocupações com o montante de investimentos para rentabilizar o segmento de Inteligência Artificial ficaram no radar e decepcionaram um pouco.
Por outro lado, outros setores além das techs mostraram bom desempenho tanto nas telas quanto dos balanços do 2T23. A economia mais resiliente permitiu que as empresas reportassem receitas melhores que o projetado e custos mais brandos, beneficiando margens e permitindo revisão de guidance e projeções para cima para o fim do ano.
Resto do Mundo
O maior apetite ao risco também se espalhou pelo restante do globo, beneficiado mais ao fim do mês por notícias de que o governo chinês traria uma agenda de estímulos à economia o que beneficiou setores atrelados à economia chinesa, como commodities, varejo de luxo e seguradoras, que puxaram os índices europeus.
As bolsas asiáticas recuperaram e o índice de Hong-Kong foi o destaque de alta, beneficiado duas vezes pelo movimento das techse pelo movimento de alta advindo de China.
Desempenho Ibovespa
Commodities avançam com China e Utilities
Julho manteve o otimismo local com os setores sensíveis aos juros e o setor de Construção esteve entre as maiores altas, novamente, também impulsionado pela divulgação das prévias operacionais das empresas do setor, que vieram muito acima do esperado. Contudo, revertendo o observado nos últimos meses, o IMAT (Materiais Básicos) teve avanço de mais de 8%, beneficiado pelas renovadas perspectivas com relação ao crescimento econômico chinês. Também em movimento de reversão, o INDX, índice das indústrias, avançou mais de 5%, com a temporada de balanços sinalizando que o pior em termos de custos pode ter ficado para trás.
Na outra ponta, desempenhando abaixo do Ibovespa, tivemos o UTIL e o IEE, subíndices que representam as empresas de Utilities e Eletricas, respectivamente. O setor, fortemente beneficiado pela inflação alta nos últimos meses, acabou sentindo o impacto do IGP-M negativo, mais uma vez, além das discussões sobre os preços da energia elétrica. As aéreas também foram prejudicadas pela alta de mais de 15% do barril de petróleo.
Fundos Imobiliários
Expectativas de cortes na Selic seguem impulsionando o setor
O IFIX teve alta de 1,3% em julho, impulsionado pela expectativas positivas para o inicio dos cortes na taxa de juros. O segmento de papel apresentou uma alta de 1,7% no mês, junto com a alta de 5,9% nos ativos de tijolo. Com forte retomada , o segmento já acumula alta de 14,7%, fechando o gap observado em relação ao IMA-B. Já os fundos de papel registram alta de 5,3%, ainda sofrendo forte impacto da série de defaults realizados nos últimos meses. Já nossa carteira apresentou um desempenho positivo de 1,9%, ganhando mais uma vez do benchmark em 0,6 p.p, puxado pela alocação no segmento de tijolo (logístico, shoppings e lajes) e FOF’s.
Apesar de observamos uma desinflação, a exposição ao segmento de papel continua taticamente importante, uma vez que os fundos de recebíveis seguem com eficiente indexação à inflação e juros no longo prazo. Em função da expectativa de arrefecimento da atividade em 2023 e eventuais riscos de cauda, continuamos com nossa sobre-exposição ao perfil de crédito high grade e/ou com elevado colateral, bem como maior equilíbrio da carteira em termos de indexadores.
Em meio à volatilidade registrada no segmento de tijolo, os fundos ligados a essa categoria são negociados a múltiplos atrativos, o que eleva as oportunidades de ganhos de capital no longo prazo. No curto prazo, adotamos um tom mais otimista para o setor, com a possível queda nos juros e priorizando veículos com bons fundamentos e segmentos com maior solidez operacional. Além disso, acreditamos que o setor tende a se beneficiar com o possível início do corte nos juros no mês de agosto.
No segmento de FoFs, mantemos nossa exposição à potencial recuperação da classe de tijolo, a ser desencadeado diante de uma eventual melhora do cenário top-down podendo apresentar o ganho do duplo desconto apresentado na classe.
Carteiras Recomendadas
Confira cada uma das nossas carteiras recomendadas para o mês de Agosto!