Declínio da margem da National Beef dita o 4T
Apesar de já esperamos uma compressão de margens, o resultado da Marfrig ficou abaixo de nossas expectativas e do mercado, com cenário dos Estados Unidos interferindo fortemente no desempenho do trimestre, com margem EBITDA da National Beef de 4,7%, além de uma performance inferior do Brasil. Nesse cenário, a receita líquida (ex-BRF) da Marfrig ficou em R$ 22.667 mm (+2,6% R/E, +1,1% t/t e -5,3% a/a), seguido de custos elevados, pesando acentuadamente na margem bruta, que ficou em 9,8% (-1,1 p.p. R/E, -5,2 p.p. t/t e -11,2 p.p. a/a). Desse modo, a companhia divulgou um EBITDA Ajustado abaixo de nossas expectativas, de R$ 1.281 mm (-22% R/E, -49,4% t/t e -68,7% a/a) - considerando apenas as operações da Marfrig - com uma margem de 5,6% ( -1,8% p.p. R/E, -5,6 p.p. t/t e -11,4 p.p. a/a).
A sequencial queda das margens nos Estados Unidos já era esperada há um bom tempo, contudo, com resultados do 4T, o cenário de hard landing das operações dos Estados Unidos se amplificaram, o que vem a prejudicar consideravelmente o resultado da Marfrig, levando em conta a alta exposição ao país, com representatividade de cerca de 40% da receita e 70% ex-BRF. Por mais que a frigorífico tenha ampliado o seu portfólio com a incorporação da BRF, as expectativas para companhia ainda são dúbias, visto que os fracos resultados da BRF, somado à sua reestruturação, que ainda não gerou frutos evidentes (Comentário BRF 4T22), pressionam ainda mais os desempenho da Marfrig, com sinalização para sua estrutura de capital. Ainda temos muitas incógnitas na mesa, como rumo da demanda dos Estados Unidos e China, futuro da BRF e enfermidades no radar. Dessa forma, mantemos a nossa recomendação de Neutra para MRFG3, com TP YE23 em R$ 24/ação. Reforçamos que, apesar do cenário adverso, a Marfrig apresenta uma gestão de boa qualidade, que se provou robusta ao longo dos anos, além de esperarmos sequenciais ganhos de sinergias com a BRF. O perfil da National Beef, com maior share em carnes do tipo prime e choice, também podem proporcionar leve mitigação desse cenário em seu resultado.
América do Norte. Para National Beef, o 4T apresentou forte compressão das margens, em reflexo ao avanço de mais de 8% t/t do preço do gado. O top line se manteve robusto, em linha com nossas expectativas, no montante de US$ 3.056 mm (3,7% R/E, +7,4% t/t e -4,7% a/a), favorecido pelo aumento do volume, que amenizou queda de 3% do preço de venda. No entanto, com peso dos custos, o EBITDA ficou em US$ 143 mm (-10,7% R/E, -57,7% t/t e -80% a/a), com margem de 4,7% (-0,8 p.p. R/E, -7,2 p.p. t/t e -17,6 p.p. a/a). Para 2023, custos com gado irão se intensificar, com menor disponibilidade de animais no mercado, evidenciando com mais ímpeto a virada do ciclo. O questionamento fica para demanda da população americana e aceitabilidade de um aumento de preços na ponta que, dependendo da performance, pode pressionar ainda mais as margens do setor. O 1T23 já indica uma queda na oferta de animais e avanço do cutout,com demanda ainda positiva.
América do Sul. No trimestre, o segmento da América do Sul também indicou margens inferiores para o segmento, principalmente em reflexo à queda da demanda chinesa no período. A receita líquida ficou em linha com nossas expectativas, em R$ 6.610 mm (-0,1% R/E, -11,3% t/t e +9,5% a/a) com EBITDA de R$ 529 mm (-17,9% R/E, -33% t/t e 148% a/a) e margem de 8% (-0,2 p.p. R/E, -2,6 p.p. t/t e 4,5 p.p. a/a). No segmento, a atenção vai para o desenrolar do caso de vaca louca no Pará, que incidiu em uma paralisação autoimposta pelo Brasil das exportações para China. Contudo, tudo indica que o caso é atípico, com provável volta das exportações no final de março. Pontuamos que, no período, por mais que a companhia pretenda atender a China com as suas plantas do Uruguai e Argentina, ambos os países já comercializavam com os chineses, de forma que ainda veremos um gargalo nas vendas. Por outro lado, preços superiores na ponta devem mitigar queda do volume.
Endividamento e Resultados. Considerando as operações da BRF, a Marfrig reportou um resultado financeiro de -R$ 1.391 mm, sendo 32,2% inferior ao 3T22. A dívida bruta ficou em R$ 61,2 bi, enquanto a líquida atingiu R$ 38,7 bi, levando a uma alavancagem de 3,0x ante a 2,4x no 3T22. Desconsiderando a BRF, a Marfrig alcançou um indicador de 2,7x, frente a 2,1x no 3T22. A piora da saúde financeira da companhia continua no radar, principalmente levando em conta o cenário menos rentável dos Estados Unidos e recuperação ainda incerta da BRF, que devem proporcionar uma menor geração de caixa pela companhia. Por fim, na bottom line, a Marfrig apresentou um prejuízo líquido de R$ 628 mm, fechando o ano com um lucro de R$ 4.166 mm (-4,1% a/a).
Avanços em ESG
A Marfrig liderou o ranking da Fairr no setor, sendo classificada como baixo risco ao meio ambiente. A companhia também foi inclusa novamente no índice de sustentabilidade ISE da B3, além de receber a pontuação Tier 2 no Business Benchmark on Farm Animal Welfare (BBFAW).
E. Em novembro, a Marfrig em conjunto com o Itaú Unibanco, Rabobank, Santander, Suzano e Vale, anunciaram a criação de uma empresa destinada à restauração, conservação e preservação de florestas no Brasil. A Marfrig teve suas metas de redução de gases do efeito estufa (GEE) aprovadas pela SBTi (Science Based Targets Initiative).
S. Não houve menção sobre avanços sociais no período.
G. Não houve menção sobre avanços em governança no período.