Macroeconomia


Magazine Luiza | Resultado 1T22 e Revisão de Preço

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Breno de Paula

Publicado 17/mai6 min de leitura

Dinâmica macro dificulta vendas e rentabilidade

Após os últimos resultados, atualizamos nossas premissas e preço-alvo para o Magazine Luiza. Incorporando as novas perspectivas para o cenário doméstico e considerando o horizonte para final de 2022 (YE22), alteramos nossa recomendação para neutra em Magazine Luiza (MGLU3) com preço-alvo/ação de R$ 7 (R$ 13 anteriormente).

Em 2020, com a adoção do home office, as pessoas sentiram necessidade de equiparem seus lares com artigos que trouxessem mais praticidade, conforto e qualidade de vida, enquanto alternavam a vida laboral com o convívio familiar. Os recursos outrora destinados a serviços e consumo discricionário, foram boa parte alocados em móveis e eletrodomésticos. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio realizada pelo IBGE, as atividades relacionadas a móveis e eletrodomésticos cresceram 11,9% e 10%, respectivamente.

Passado o período mais turbulento da pandemia e com a retomada do fluxo de pessoas, já conseguimos observar uma volta à normalidade do trabalho presencial. Aliado a isso, reforçamos a característica intrínseca dos móveis, linha branca e eletrônicos: bens duráveis. Ou seja, seu ciclo de vida e uso é maior e dispensa reposição regular. Então, devido ao fato das pessoas já terem consumido essas categorias de produtos nos últimos meses, acreditamos que os recursos, a curto prazo, serão direcionados ao setor de serviços e mais ligados à vida social. Por último, e possivelmente mais importante, não devemos desconsiderar o efeito da inflação na renda real da população nesse momento. O aumento generalizado de preços limita as escolhas ao essencial.

Cientes disso, as Companhias de e-commerce já se movimentam em busca de outras formas de receita. Nos últimos meses acompanhamos as operações de consolidação, como forma de ampliar o sortimento de produtos e categorias na busca de um marketplace completo e que fidelize o cliente.

Nesse sentido, destacamos para Magalu, o trabalho para o crescimento expressivo das vendas 3P, através da prospecção robusta de novos parceiros. Outro ponto estratégico é a aquisição da Kabum!. A Companhia especializada em tecnologia e games apresenta um potencial interessante de crescimento, dado que esse nicho cresce de forma contundente no Brasil. Destacamos também a entrada no varejo alimentar. Através das aquisições da VIP Commerce, Aiqfome, Tonolucro e Grandchef, o Magazine Luiza ganha penetração de produtos e recorrência de compras, fortalecendo seu ecossistema. Por fim, reforçamos as iniciativas de desenvolvimento do SuperApp. Através das aquisições das plataformas Steal the Look, Canaltech e Jovem Nerd, a Companhia ingressa no mercado de publicidade digital, reduz o custo de aquisição do cliente (CAC) e aumenta seu LTV (lifetime value). Já as adições da Hub Fintech e da Bit55 tem o objetivo de ampliar os serviços financeiros para os clientes e parceiros, além de se configurar em mais uma fonte alternativa de receita.

Com isso, o e-commerce do Magazine Luiza é um dos que mais cresce no Brasil. A oferta de amplo sortimento e os serviços diferenciados, incluindo a entrega rápida, tem sido ponto de destaque na operação da Companhia.

Outro interessante canal de receita vem das “lojas virtuais”. A ideia de operar com unidades menores e sem estoque físico (exceto celulares), com o mix de produtos sendo exibidos por recursos multimídia é um conceito interessante para cidades menores. Se torna uma forma de garantir presença em localidades onde não há demanda o suficiente para abrir uma loja convencional e habitadas por relevante parte da sociedade, que ainda tem insegurança nas compras online.

Porém, nos últimos doze meses as ações de Magalu acumulam queda de 78%. Acreditamos que o racional também está relacionado com o ceticismo do mercado sobre a capacidade da Companhia em manter seu share e rentabilidade em um ambiente altamente competitivo entre os players. Aliado a isso, enxergamos um cenário desafiador em 2022 com: (i) aumento da inflação; (ii) elevação da taxa de juros; (iii) desemprego elevado e (iv) ano eleitoral. Dessa forma, essa dinâmica de curto prazo não é favorável à confiança do consumidor. Nesse momento acreditamos que o foco das pessoas está no consumo não discricionário (alimentos) e no discricionário de alta renda.

Apesar disso, reconhecemos que o Magazine Luiza negocia muito abaixo de seu valor justo. A empresa, focada em construir um ecossistema completo em soluções, está na vanguarda de várias iniciativas entre os peers nacionais. Nossa recomendação neutra visa proteger o investidor até que a conjuntura atual dê sinais de inflexão. A falta de interesse para as empresas mais dependentes da venda de linha branca, eletrônicos e móveis impedem o trigger de valorização.

Resultado 1T22

O Magalu divulgou resultados mistos e em linha com as nossas expectativas. Se por um lado o canal digital continua a se destacar, por outro as lojas físicas continuam com crescimento pressionado. O ganho de rentabilidade no trimestre foi compensado pelo aumento das despesas e anula parte do trabalho da Companhia. Esperamos que o Magazine Luiza continue atuando na melhoria da margem bruta, mas com atenção também nos gastos operacionais. Ademais, deve desenvolver as últimas aquisições, fortalecendo seu ecossistema, bem como evoluir seus serviços financeiros garantindo novas fontes de faturamento.

No 1T22, a receita líquida atingiu R$ 8,8 bi (+6,2% a/a), reflexo principalmente da evolução da receita de serviços (+39,1% a/a), já que a revenda de mercadorias apresentou apenas crescimento marginal (+2,6% a/a). Apesar do crescimento em serviços indicar maior penetração do marketplace (+49,9% a/a) e do Magalu Pagamentos, esperávamos uma performance melhor na venda de mercadorias em lojas físicas (+6,2% a/a) já que a base comparativa era fraca no último ano. O canal online continua se destacando com a representatividade dos sellers (180 mil), atualmente 80% dos pedidos são advindos do 3P. Com isso, o GMV totalizou R$ 10,4 bi (+13,2% a/a). A margem bruta consolidada atingiu 27,8% (+2,7 p.p. a/a), justificada por maior relevância da receita de serviços e pelo repasse da inflação de custos ao consumidor. Com relação ao último, havíamos sinalizado essa falha nos últimos resultados da Companhia. Esperamos que Magalu continue atuando nessas remarcações nos próximos trimestres, em busca de melhor rentabilidade.

As despesas operacionais totalizaram R$ 1,9 bi (+19,4% a/a), com maior representatividade em relação a receita líquida: 22,7% (+2,5 p.p. a/a). Em razão do cenário inflacionário, esperávamos esse aumento nominal, porém o efeito diluição evidencia a desalavancagem operacional das lojas físicas. Por essas razões, o EBITDA ajustado atingiu R$434,2 mm no 1T22 (+1,7% a/a), com margem de 5,0% (-0,2 p.p. a/a) - resultado do crescimento da receita, compensado pelos maiores dispêndios.

Assim, o Magazine Luiza reportou prejuízo de -R$ 161,3 mm no 1T22, revertendo um lucro de R$ 258,6 (-162% a/a) na mesma base do último ano. Ao final de março, a posição de caixa líquido ajustado foi de R$ 1,6 bi (-R$ 2,6 bi a/a). A sazonalidade do varejo e a relação entre saldos de estoques e fornecedores contribuíram para o aumento da necessidade de capital de giro, que totalizou R$ 1,2 bi (+R$ 2,1 bi a/a). O endividamento, medido pela dívida líquida/ EBITDA UDM ficou em 1,1x e reflete a excelente saúde financeira da Companhia.

Avanços em ESG

A empresa passou a ser incluída no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 em 2022. Na área ambiental, o Magalu concluiu o processo de destinação correta de resíduos em seus 26 centros de distribuição e instalou coletores de produtos eletroeletrônicos usados em 250 lojas. 51,8% dos funcionários se consideram pretos ou pardos, e desses, 41,5% ocupam cargos de liderança.

Valuation

Em nosso modelo de Magazine Luiza, utilizamos o método do fluxo de caixa descontado de dez anos, com crescimento na perpetuidade nominal de 5% e taxa de desconto (WACC) de 12,2%. Consideramos um CAGR de receita nominal de 8% entre 2022-2032.


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