Clima não favorável.
O IRB Brasil (IRBR3) reportou um resultado abaixo da nossa expectativa, com prejuízo de R$ 373 milhões, piora de 80% a/a e 9x acima da nossa estimativa. O resultado negativo foi impactado principalmente pela alta sinistralidade, que reportou 124,2% no trimestre, aumentando 27 p.p. a/a, influenciada pelo segmento agro que passa por um momento setorial de safras prejudicadas por fatores climáticos. Além disso, a companhia também reportou queda dos prêmios emitidos e prêmios ganhos, seguindo sua estratégia de redução do portfólio em contratos não-rentáveis, que tem refletido em redução da sinistralidade (ex-pontualidade no rural). Em consequência ao prejuízo, a companhia reportou uma baixa suficiência regulatória e deve anunciar alguma solução à Susep até outubro, o que consiste em algumas alternativas como aumento de capital, venda de imóveis e participações societárias e operações estruturadas de retrocessão. Reiteramos nossa recomendação Neutra para os papéis de IRBR3, com preço-alvo de R$ 3/ação (FY22).
Prêmios ainda em reajustes de contratos seguindo a estratégia de re-underwriting. Os prêmios emitidos totalizaram R$ 1.685 mm, com queda de 22% a/a, com as operações no Brasil representando 68% e no Exterior, 32%, já com uma distribuição geográfica linha com o nível esperado pela administração de 70/30. Os prêmios no Brasil caíram 7% a/a por conta de não-renovação em algumas contas em condição de menor rentabilidade como nos segmentos Patrimonial e Rural. No exterior, a forte redução de 42% a/a continua refletindo a estratégia de re-underwriting, com maiores reduções em segmentos como Rural e Aviação, além de ajustes no ramo Patrimonial.
Prêmios ganhos refletindo menor retrocessão, porém mais fracos com queda na emissão. Os prêmios ganhos totalizaram R$ 1.340 mm (-22,6% a/a), refletindo menor volume de prêmios emitidos, mas mantendo o mesmo nível de 80% dos prêmios emitidos no 2T21. O menor nível de retrocessão em 24,6% (-1,8 p.p. a/a) contribuiu para manter o nível de prêmios ganhos, mas foi compensado pela maior provisão técnica no período. A companhia reduziu o custo de retrocessão no ramo rural, doméstico e internacional, por conta de uma renegociação na renovação do contrato de proteção para esses riscos, o que pode causar um deslocamento dos custos para os próximos trimestres, devendo cobrir todo o ano de subscrição e não apenas sinistros individuais.
Rural domina sinistralidade. As despesas com sinistros foram o destaque negativo do resultado e totalizaram R$ 1.663,7 mm (+0,3% a/a e +78,3% t/t) com aumento de +37,3% a/a no Brasil causado principalmente pela alta de 186% a/a no ramo rural, enquanto os demais ramos melhoravam o desempenho de sinistros. Por outro lado, as despesas com sinistros no exterior caíram 31,7% a/a, refletindo boa redução nos ramos de vida, rural, aviação e outros. A sinistralidade total foi de 124,2% (piora de 28,5 p.p a/a), causada pelo forte avanço do indicador no Brasil, com sinistralidade 144% (piora de 52 p.p. a/a) devido ao impacto do rural que registrou elevado índice de 259% (+184 p.p. a/a) em razão das perdas com cultivo de grãos ocorridas na região Sul e parte do Mato Grosso do Sul por efeitos climáticos adversos. Por outro lado, no exterior, a sinistralidade reportou índice de 100%, piorando apenas 1 p.p. a/a, mas ainda elevada, com alto índice nos ramos de Vida e Aviação, refletindo efeitos de covid-19 no Peru e efeitos de cauda em contratos descontinuados no ramo de aviação.
Resultado financeiro poderia ter sido melhor. O IRB reportou um resultado financeiro com alta de 17% a/a totalizando R$ 104,3 mm, que poderia ter sido melhor não fosse o recálculo em passivos com efeito negativo de R$ 65,1 mm, que compensaram o bom crescimento do rendimento de títulos públicos e ativos atrelados ao CDI, no qual a carteira performou a 107% do CDI no trimestre.
Solvência. Em consequência ao prejuízo no período, a companhia reportou um índice de suficiência de patrimônio líquido total de 64% em relação ao capital mínimo requerido, ante ao índice já apertado de 105% reportado no 1T22. Com isso, a resseguradora apresentou um plano de regularização de cobertura (PRC) à Susep para sanar a insuficiência regulatória. Desta forma, a companhia como já havia mencionado, possui algumas alternativas como: i) aumento de capital de cerca de R$ 1,2 bilhão, ii) operações estruturadas de retrocessão ou transferência de carteiras em run-off e iii) vendas de participações imobiliárias e societárias. A companhia deve apresentar adequação até o prazo de 31 de outubro de 2022. Em nossa visão, como o cenário se mostrou mais adverso com impactos do segmento agro e efeitos run-off de cauda ainda afetando a sinistralidade, mesmo com o trabalho de reestruturação sendo bem tocado, uma emissão de novas ações poderia ser uma solução mais rápida e menos custosa para a companhia, porém não favorável aos atuais acionistas, que devem ter diluição de capital. Mas a companhia ainda deve determinar qual será a devida solução nos próximos meses.