Apesar do lucro, ambiente de alta sinistralidade no rural pressionou operacional
O IRB Brasil (IRBR3) reportou um resultado em linha com a nossa expectativa, com lucro líquido de R$ 81 milhões (+58,3% a/a e +3,2% vs. Inter Research). O resultado no período foi beneficiado pelo efeito não recorrente de ganhos em ações judiciais, que totalizaram o acréscimo de R$ 150,2 milhões no resultado financeiro. Desta forma, excluindo os efeitos não recorrentes, o IRB Brasil teria apresentado um prejuízo de R$ 54,5 milhões no 1T22, ante um lucro de R$ 51 mm no 1T21. O resultado recorrente foi impactado principalmente pelo avanço da sinistralidade no ramo rural e vida, com efeitos climáticos afetando o setor no período, o que pudemos constatar em outras companhias e também pelos efeitos da covid-19 no período, o que consideramos atípicos. Apesar disso, vimos a estratégia de reestruturação sendo mantida e pela primeira vez desde a restruturação o IRB mostrou avanço no total de prêmios emitidos na comparação a/a, ainda assim, a retenção de prêmios segue pressionada por maiores despesas com retrocessão, que foram pressionadas pelo uso de LPT no período. Entendemos que não fossem efeitos pontuais no ramo rural e vida no Brasil, o resultado seguiria o ritmo de melhoria nos indicadores operacionais, que inclusive já foram constatados em algumas linhas, principalmente no exterior, onde a companhia mostra efeitos positivos da estratégia de re-underwritining. Reiteramos nossa recomendação Neutra para os papéis de IRBR3, com preço-alvo de R$ 3 (FY22).
Prêmios seguem a estratégia de re-underwriting e voltam a avançar desde o início da reestruturação. Os prêmios emitidos registraram R$ 2.004,9 milhões, alta de 3,9% a/a, refletindo o avanço de 18,8% a/a dos prêmios no Brasil, com os prêmios no exterior seguindo a reestruturação da companhia e caindo 13,7% a/a. Desta forma, os prêmios no Brasil representaram 62% do total, em linha com a estratégia de 2/3 na relação Brasil x Exterior. Destacamos o avanço dos prêmios no Brasil nos ramos Patrimonial (+23,4% a/a), Vida (+30,8% a/a) e Rural (+54,5% a/a), com efeitos de renovações de contrato relevante no Patrimonial, efeitos de ajustes de preços de commodities e riscos no ramo Rural e maior originação das seguradoras parceiras no ramo de Vida. Por outro lado, vimos quedas nos ramos de Riscos Especiais (-52,1% a/a) e Aviação (-50,9% a/a), refletindo efeitos não recorrentes no ramo de Riscos Especiais e a estratégia de diminuição de exposição no ramo de aviação.
Retrocessões com LPT ainda pressionam retenção de prêmios. Os prêmios retidos caíram 8,9% a/a, registrando R$ 1.398,2 milhões, reflexo do incremento de 53,1% das despesas com Prêmios Retrocedidos, que totalizaram R$ 606,7 milhões no 1T22. O avanço é explicado pela operação de LPT (Loss Portfólio Transfer) especificamente no segmento internacional de cerca de R$ 218,8 milhões. Com isso, o índice de retrocessão aumentou de 20,5% no 1T21 para 30,3% no atual trimestre e desconsiderando os efeitos da LPT (ainda necessários), o índice de retrocessão teria melhorado de 20,5% para 19,3%, proporcionando maior retenção de prêmios no período com uma alta de 5,4% a/a.
Rural pressiona sinistralidade na carteira doméstica e no exterior indicador melhora com estratégia de re-underwriting e LPT. As despesas com sinistros retidos registraram R$ 933,0 milhões, uma queda de 11% a/a, porém o índice de sinistralidade registrou taxa de 81%, uma piora de 8,9 p.p. a/a, que é reflexo principalmente do aumento da sinistralidade no ramo Rural no Brasil e maiores sinistros de vida por conta da Covid-19 no período. O índice de sinistralidade no Brasil totalizou 91% no 1T22, uma piora relevante contra os 68% registrados no 1T21, vindo do ramo rural que acompanhou perdas com o cultivo de soja, ocorridas principalmente na região sul e centro-sul do Mato Grosso do Sul, aumentando em 81% o volume dos sinistros no período, computando uma sinistralidade de 111,7%, com aumento de 38,4 p.p. a/a. Destacamos que o momento do segmento rural é pontual e reflete contratos de 2021 e o período de maiores secas naquele período. Para 2022, há um efeito positivo de renovações a maiores precificações e por um período climático com menores secas. Por outro lado, vimos redução nos segmentos de Riscos Especiais, Aviação e um controle na sinistralidade no ramo Patrimonial. No exterior a taxa de sinistralidade reduziu de 75,7% no 1T21 para 59,6% no 1T22, refletindo efeitos positivos da estratégia de re-underwriting e a operação de LPT, que impactou positivamente os sinistros no ramo Patrimonial em cerca de R$ 200,8 milhões. Com isso, a companhia reportou um resultado de underwriting negativo em R$ 96,4 milhões (piora de 229,9% contra o 1T21).
Resultado financeiro . O resultado financeiro registrou R$ 259,6 milhões, uma alta de 150,6% a/a causada principalmente pelo efeito não-recorrente no ganho de duas ações judiciais no valor de R$ 150,2 milhões. Excluindo esse valor, o resultado seria 5,6% superior que o ano passado, refletindo efeitos de rendimentos da carteira com a evolução do CDI no período, mas compensados pela redução do estoque de investimentos no exterior devido à variação cambial negativa no período e ao cumprimento de obrigações pela companhia. A Carteira da companhia registrou uma relação de 37% de ativos pós-fixados e 41% em dólar, com um aumento de 50 bps a/a na exposição em dólar causado pela constituição de Reinsurance Trust Agreements (RTA’s).
Solvência estabilizou, mas em níveis ainda sensíveis. Os indicadores regulatórios da companhia mostraram estabilidade na comparação com o trimestre ligeiramente anterior, com a solvência de patrimônio líquido ajustado reportando 105% (-10 bps t/t). Já a solvência total reportou 231%, também estável versus o 4T21. A companhia reforçou que avalia as alternativas para otimizar sua estrutura de capital e elevar os indicadores regulatórios e no trimestre houve aprovação da contratação de assessores financeiros para avaliação de algumas opções, incluindo aumento de capital. Adicionalmente, também foi aprovada em reforma estatutária uma proposta da Administração de aumento de capital de R$ 1,2 bilhão.