Macroeconomia


Inter Setores | Saúde | Out.22

Captura de Tela 2023-03-23 às 10.08.27

Breno de Paula

Publicado 18/out4 min de leitura

Setor de saúde aponta crescimento

Últimos resultados | As empresas do setor de saúde tiveram boa performance operacional em 2021. Nota-se que o fluxo de pessoas em hospitais, laboratórios, clínicas e farmácias cresceu desde o segundo semestre de 2020, fruto da retomada dos procedimentos eletivos e demanda reprimida de exames que foram adiados devido à pandemia. Isso fez a receita atingir patamares elevados, entretanto, os custos e despesas também tiveram um aumento relevante em todos os segmentos, impactados pelo impacto inflacionário no preço dos insumos, aluguéis e pessoal em toda a cadeia.

Prévias 3T22 | Acreditamos que essa tendência de faturamentos altos acompanhados de gastos também elevados se estenda para o 3T22. Já a participação das receitas e gastos com Covid-19 nos resultados das companhias deve seguir perdendo relevância, assim como vimos nos últimos trimestres (exceto 1T22, devido ao surto da variante Ômicron). Além disso, vale destacar que a pressão dos gastos com despesas financeiras deve continuar relevante, prejudicando a lucratividade e se tornado um dos maiores detratores de margem, principalmente para as empresas mais alavancadas. Neste contexto, esperamos que os segmentos de farmácias e farmacêuticas sigam figurando como destaque operacional neste trimestre, assim como vimos no 2T22, com o faturamento ainda sendo favorecido pelo reajuste de medicamentos de 10,9% aprovado pela CMED, que entrou em vigor em abril.

Cenário macro

Selic em 13,75% até 1T23 e âncora fiscal permitindo redução a partir do 2T23

Esperamos que a Selic permaneça em 13,75% até o fim do primeiro trimestre de 2023. A dissidência do voto de dois membros do comitê, por uma alta residual de 0,25 p.p., não deve alterar a expectativa de manutenção da taxa nas próximas reuniões. Historicamente, a Selic permanece no topo do ciclo por uma media de 3 meses e, somente em 2016, essa duração se estendeu por 14 meses. Com uma inflação projetada à frente de cerca de 4,8%, a taxa de juros real ex-ante está em torno de 9%, bastante restritiva.

Mesmo iniciando a redução dos juros entre março e maio do próximo ano, ainda teremos juros contracionistas por um longo período. O principal fator que permitirá o inicio da redução dos juros será́ a política fiscal adotada pelo próximo governo, a partir de 2023, mantendo o controle dos gastos públicos e trazendo previsibilidade sobre a trajetória da divida. Uma eventual expansão de gastos, sem a definição de uma âncora fiscal crível, pode desancorar as expectativas de inflação, tornando o trabalho da política monetária mais difícil, resultando na Selic em patamar elevado por um prazo mais longo.

Taxa de desemprego em queda

Após 7a queda consecutiva no desemprego, a taxa já se encontra em 8,7% (-0,9 p.p. t/t e -4,2 p.p. a/a), menor valor desde o trimestre visto em julho de 2015. Com o aumento do rendimento e do número de ocupados, a massa real de rendimentos habituais cresceu 4,7% no último trimestre, ultrapassando patamar pré-pandemia. O aumento da renda agregada irá contribuir para sustentar a demanda interna nos próximos meses, bem como para sustentar a arrecadação do governo, o que contribui para reduzir a expectativa de deterioração do âmbito fiscal e da atividade econômica em 2023.

Panorama do Setor

Planos privados de saúde

O setor continua sendo favorecido pela tendência de crescimento do número de beneficiários de planos de saúde desde o início do 3T20. A Agência Nacional de Saúde (ANS) registrou em agosto 49.912.645 (+0,23% m/m) beneficiários de planos de assistência médica e 30.357.386 (+1,04% m/m) beneficiários de planos exclusivamente odontológicos. Em agosto, a taxa de cobertura de planos privados atingiu 25,73% para assistência médica com ou sem odontologia. Já os planos exclusivamente odontológicos cobrem 15,65% da população.

Enquanto mulheres compõem 52,9% dos planos de saúde, homens representam em torno de 47,1%. Em relação ao crescimento de beneficiários por faixa etária, vemos que o número de adultos e crianças apresentam maior variação, uma vez a maioria destes planos são empresariais (variam de acordo com o nível de emprego no país), ao passo que grande parte dos planos contratados por idosos são individuais ou familiares.

Beneficiários por região

Quando segmentamos o número de planos de saúde reportado pela ANS por estado brasileiro, vemos que apenas 3 estados possuem taxa de cobertura acima de 30%, sendo eles São Paulo (38,65%), DF (30,37%) e Rio de Janeiro (31,03%). Por outro lado, os estados com menor taxa de cobertura são Acre (4,76%) e Roraima (4,81%), ambos localizados na região Norte.

No segundo gráfico, podemos ver a variação de planos de saúde por região desde dezembro de 2014, mês em que foi atingido o recorde de beneficiários no Brasil. Desde então, o país vem recuperando a quantidade de beneficiários perdida entre 2015-16 e atualmente está apenas 1,2% abaixo do recorde de dezembro de 2014, com destaque positivo para a região Centro-Oeste (+12,2% vs. Dez/14) e negativo para as regiões Norte (- 3,4% vs. Dez/14) e Sudeste (-4,0% vs. Dez/14).

Planos de saúde coletivos e individuais

Os planos coletivos seguem sendo de longe os mais relevantes, com 40.879.671 beneficiários (representando 81,9% do total de planos). O principal motivo para o bom desempenho dos planos coletivos (+3,53% LTM) é a forte correlação com o nível de emprego formal reportado pelo CAGED (+6,11% LTM), que tem evoluído após os choques do primeiro e segundo trimestre de 2020, advindos do início da pandemia.

Já os planos individuais seguem o nível de renda real, que sofreu forte retração. Com o retorno à normalidade pós-Covid, o setor informal se recuperou com mais força, contribuindo para a queda do rendimento médio, uma vez que pessoas com emprego informal, em média, possuem renda menor. Além disso, a renda real foi consumida pelos altos níveis de inflação, principalmente em alimentos e transportes. No entanto, com os recentes dados de deflação e recorrente redução do desemprego, o atual cenário começa a se tornar favorável, fora as perspectivas de médio/longo prazo, que são positivas tendo em vista a baixíssima penetração deste tipo de plano.

Variação de Preços: Reajustes negativos em 2021 e VCMH historicamente superior ao IPCA

Hospitais e Leitos em ascensão pós-pandemia vs. Cenário desafiador para Operadoras

O impacto inflacionário nos custos e a maior utilização dos planos deixou as operadoras em uma situação delicada. Se o contexto é complicado para as grandes empresas do setor, como Hapvida e GNDI, para as pequenas e médias o diagnóstico pode ser fatal. A consequência pode ser uma tendência ainda maior de consolidação no setor, uma vez que por mais que as grandes operadoras sofram no curto prazo, a escala e facilidade de acesso à capital são determinantes para que elas, pelo menos, sobrevivam e estejam preparadas para captura de market share tanto por meio orgânico quanto inorgânico.

Receba nossas análises por e-mail