3T22 ligeiramente positivo
Últimos resultados | As empresas do setor de saúde tiveram um bom desempenho operacional em 2021. Nota-se que o fluxo de pessoas em hospitais, laboratórios, clínicas e farmácias cresceu desde o segundo semestre de 2020, fruto da retomada dos procedimentos eletivos e demanda reprimida de exames que foram adiados devido à pandemia. Isso fez a receita atingir patamares elevados, entretanto, os custos e despesas também tiveram um aumento relevante em todos os segmentos, impactados pelo aumento do preço dos insumos, aluguéis e pessoal em toda a cadeia.
Resultados 3T22 | Conforme antecipamos, essa tendência de 2021 se estendeu para o primeiro semestre de 2022 e se manteve no 3T22. Outro ponto que merece destaque é o maior gasto com despesas financeiras, que tem prejudicado a lucratividade e pressionado as margens, sobretudo das empresas mais alavancadas. Como destaque do trimestre, escolhemos novamente a Hypera. A companhia tem reportado resultados muito robustos ao longo do ano, refletindo o alto crescimento orgânico do sell-out e os ganhos de sinergia dos portfólios adquiridos recentemente. Além disso, destacamos o aumento da relevância das vendas para o mercado institucional e os investimentos em P&D, que tem se mostrado bastante eficazes. As perspectivas para a Hypera são boas, com o maior ponto de atenção sendo o tamanho da dívida (2,5x DL/EBITDA 2022e). Ressaltamos que isso já foi endereçado pelo management ao destacarem que o principal foco da companhia para os próximos trimestres é a redução da alavancagem por meio de geração de caixa operacional, que por sua vez alcançou o recorde de R$ 678 mm no 3T22 (+25,5% a/a).
Cenário Macro
Cenário pós eleição e Trajetória de queda da inflação e juros
A eleição foi definida mas a incerteza sobre o cenário econômico deve permanecer até termos mais detalhes sobre como iniciará o próximo governo. O mercado aguarda a definição de nomes, principalmente para liderar a economia, e como será resolvido o imbróglio do orçamento 2023. A preocupação de curto prazo é com relação aos gastos extra- teto, principalmente para acomodar o Auxílio Brasil.
No curto prazo, o cenário permanece benigno com a queda da inflação e superavit fiscal esperado de 1,1% do PIB no ano. O Copom manteve a Selic em 13,75% na reunião de outubro, dando mais ênfase ao risco fiscal e incertezas do cenário externo. Com a indefinição sobre o arcabouço fiscal, a Selic pode permanecer elevada por mais tempo. A inflação continua dando sinais de queda, tanto pela medida de núcleos como pelos índices ao produtor, mostrando a redução de pressões inflacionárias na indústria. No entanto, propostas de novos gastos podem estimular a demanda e manter a inflação mais elevada, exigindo que o aperto monetário seja mais longo.
Taxa de desemprego em queda
Após 8a queda consecutiva no desemprego, resultado mostra robustez do mercado de trabalho brasileiro. Esse é o menor valor desde o trimestre findo em julho de 2015. Redução da taxa de desemprego no trimestre se deve exclusivamente ao mercado de trabalho formal. Enquanto o contingente de trabalhadores com carteira assinada cresceu 1,3%, a população ocupada informal recuou 0,4%. Entre os segmentos do setor privado, o ritmo de novas contratações no comércio e em alojamento e alimentação desacelera. Com arrefecimento da inflação no trimestre, o rendimento real habitual médio cresceu 3,7%.
Panorama do Setor
De volta aos 50 milhões de beneficiários
O setor continua sendo favorecido pela tendência de crescimento do número de beneficiários de planos de saúde desde o início do 3T20. A Agência Nacional de Saúde (ANS) registrou em setembro 50.199.241 (+0,42% m/m) beneficiários de planos de assistência médica – de volta à marca dos 50 mm desde o recorde em 2014 – e 30.527.249 (+0,70% m/m) beneficiários de planos exclusivamente odontológicos. Em setembro, a taxa de cobertura de planos privados atingiu 25,88% para assistência médica com ou sem odontologia. Já os planos exclusivamente odontológicos cobrem 15,74% da população.
Enquanto mulheres compõem 52,9% dos planos de saúde, homens representam em torno de 47,1%. Em relação ao crescimento de beneficiários por faixa etária, vemos que o número de adultos e crianças apresentam maior variação, uma vez a maioria destes planos são empresariais (variam de acordo com o nível de emprego no país), ao passo que grande parte dos planos contratados por idosos são individuais ou familiares.
Beneficiários por região
Quando segmentamos o número de planos de saúde reportado pela ANS por estado brasileiro, vemos que apenas 3 estados possuem taxa de cobertura acima de 30%, sendo eles São Paulo (38,82%), DF (30,55%) e Rio de Janeiro (31,30%). Por outro lado, os estados com menor taxa de cobertura são Roraima (4,43%) e Acre (4,75%), ambos localizados na região Norte.
No segundo gráfico, podemos ver a variação de planos de saúde por região desde dezembro de 2014, mês em que foi atingido o recorde de beneficiários no Brasil. Desde então, o país vem recuperando a quantidade de beneficiários perdida entre 2015-16 e atualmente está apenas 0,66% abaixo do recorde de dezembro de 2014, com destaque positivo para a região Centro- Oeste (+12,8% vs. Dez/14) e negativo para as regiões Norte (-3,1% vs. Dez/14) e Sudeste (-3,7% vs. Dez/14).
Planos de saúde coletivos e individuais
Os planos coletivos seguem sendo de longe os mais relevantes, com 41.157.226 beneficiários (representando 82,0% do total de planos). O principal motivo para o bom desempenho dos planos coletivos (+3,92% LTM) é a forte correlação com o nível de emprego formal reportado pelo CAGED (+5,99% LTM), que tem evoluído após os choques do primeiro e segundo trimestre de 2020, advindos do início da pandemia.
Já os planos individuais seguem o nível de renda real, que sofreu forte retração. Com o retorno à normalidade pós-Covid, o setor informal se recuperou com mais força, contribuindo para a queda do rendimento médio, uma vez que pessoas com emprego informal, em média, possuem renda menor. Além disso, a renda real foi consumida pelos altos níveis de inflação, principalmente em alimentos e transportes. No entanto, com os recentes dados de deflação e recorrente redução do desemprego, o atual cenário começa a se tornar favorável, fora as perspectivas de médio/longo prazo, que são positivas tendo em vista a baixíssima penetração deste tipo de plano.
Variação de Preços: Reajustes negativos em 2021 e VCMH historicamente superior ao IPCA
Hospitais e Leitos em ascensão pós-pandemia vs. Cenário desafiador para Operadoras
O impacto inflacionário nos custos e a maior utilização dos planos deixou as operadoras em uma situação delicada. Se o contexto é complicado para as grandes empresas do setor, como Hapvida e GNDI, para as pequenas e médias o diagnóstico pode ser fatal. A consequência pode ser uma tendência ainda maior de consolidação no setor, uma vez que por mais que as grandes operadoras sofram no curto prazo, a escala e facilidade de acesso à capital são determinantes para que elas, pelo menos, sobrevivam e estejam preparadas para captura de market share tanto por meio orgânico quanto inorgânico.